terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Estranhamento

trago-me de longe para o lugar que nunca é perto.
sugo de mim mesmo todo o estranhamento.
e surto de velocidade  e medo
na desesperança de encontrar algo familiar.
 
 sigo sem caminho sem destino.
me faltam asas e imaginação.
ao espelho o monstro não sou eu.
belo mulato baiano.
essa vida que sempre diz não.
 
ainda assim: estranho.

domingo, 27 de janeiro de 2013

Arnaldo Antunes

O silêncio é o começo do papo

Poesia


A substância da vida

Não que seja o querer dizer, consolidar palavras. Não que tenha a meta das redondilhas da forma. Ou que queira marcar-se na língua culta de uma pátria. Ou que busque o poder do bendizer, do maldizer, da chatice das regras gramaticais, ou do sentido que só têm os que vivem de corrigir os outros.

Sim. Para o que é. O encantamento como suporte contra o peso cotidiano. O deslumbramento pelo simples de todo dia na vida, visto com alegria e surpresa e brisa e fantasia. É a respiração da imaginação que faz nascer a poesia. Na fala ou na escrita. A imaginação respira e nasce a substância da vida. O puro movimento. Mais o silêncio que equilibra e nos obriga a gritar poemas no jeito de amar palavras como se amando pessoas. Ao contrário também.

A poesia é o Sim que não se cala na integração absoluta do humano à natureza. É o Sim que de tanto sim sabe bem dizer não. Ventila. Inventa novas vidas para uma vida qualquer. Ama com a gente, desfaz-se com a gente, até odeia conosco. Mas sempre salva até depois do suicídio.

Não pagaria as minhas contas, mas eu nada seria sem a força artística das palavras, de mim menos saberia sem o circular da poesia que me norteia. Esta energia que me faz gostar de gostar e de ter às minhas mãos sonhos a cultivar.

 

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Poeminha obtuso

Me demoro muito:
pergunto pergunto,
nada acho.

Física da palavra,
cálculo errado:
sobra fumaça.

Queimei mundos.
Combati silêncios.
Me arrependi.

Eu não sei,
o que esperar?

Pra falar

É uma intrigação comovente. Mistério da gente.

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Billie,


Em azulzinho. Linda!

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

O dia


Alguma coisa reza dentro de mim. Traços sonoros da Deusa marítima em outra língua que não o iorubá. Visita de anjos cabalísticos na morada da desarrumação. Um barco singrando o pensamento feito céu diurno no verão de Salvador. Palavras aos olhos como saudação e um percurso a desconsiderar.

Imagética azulada e o coração em silêncio. Minha voz é do mar – não chama mais, mas lembra- batendo na pedra feito desejo. Aprendi que a beleza desgasta quando é mera convenção. Este dia traz o susto. E eu danço a leveza que mora comigo. Encontro rosas, uso perfume, visto-me de branco, tiro a roupa, danço de novo, medito, bebo água; encontro gente, olho na boca, beijo delicadamente... Mergulho.
Moro nessa mistura de mim: estou no sal da água que me limpa e tudo que imagino vem daí. Desaprendi o nome, mas tenho o rosto que me fita. Vivo do querer gostar, mas não sei se permito. A brisa é fresca como o meu lamento. Não sujarei este texto com a palavra saudade. Eu nado dançando n’água e por dentro. Converso com pedras e peixes, deixo a sereia não se mostrar, sonho pelo avesso; ainda pelo avesso, aqueço-me no mar da esperança que não me deixa... E hoje, apesar de triste, muitas coisas rezam dentro de mim.  Compartilho-as com o mundo

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Luiz Melodia



Por puro encantamento: visual, sonoro, racial. Para que eu me faça companhia e, junto a mim mesmo, desfrute o desenho de vida que eu quis pra mim.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Possibilidade

Reflete no intervalo de mim,
tudo que poderia saciar-me.

No entanto,
no exagero daqui,
não passa de saudade.

Viro borboleta,
acendo candeeiros,
desconverso ao espelho,
e saio.

Talvez,
num segundo sem susto,
ainda haja possibilidade.

Cinemão!


Gustavo Jahn é adorável!

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Se não consigo esquecer

Se não consigo esquecer, que eu lembre pela eternidade. Seja eu essa saudade, ou essa vontade de segurar nos braços. De tocar e sentir no dia a dia que trago a arte pra mim. De assistir num livro, me perder sem destino à luz daqueles olhos que não sei apagar. Ler num filme em trilhas do encantamento. Bater imagens como se fossem tambores e ter-me naquela cor espelhando a minha alma.
 
Se não consigo esquecer, que eu me cale. E siga numa espécie de vazio preenchido. Pois o sentimento é meu, a lacuna é minha, e neste movimento:  a ânsia pode virar inspiração.
 
Se não consigo esquecer, seja-me a lembrança a salvação. Que ela não me dê falsas esperanças, mas que eu saiba seguir, compreendendo os limites entre o meu querer longínquo e o querer convenção do outro.
 
Se não consigo esquecer, ao menos eu saiba existir, e por dádiva, alguém também , às vezes, lembre-se de mim.

Maria Bethânia




Maria em:

Texto de Luiz Carlos Lacerda

"Mora comigo na minha casa
Um rapaz que eu amo
Aquilo que ele não me diz porque não sabe
Vai me dizendo com o seu corpo
Que dança pra mim
Ele me adora e eu vejo através de seus olhos
O menino que aperta o gatilho do coração
Sem saber o nome do que pratica
Ele me adora e eu gratifico
Só com olhos que eu vejo
Corto todas as cebolas da casa
Arrasto os móveis, incenso
Ele tem um medo de dizer que me ama
E me aperta a mão
E me chama de amiga."

Extraído do show Drama 3°Ato - 1973

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Resposta a Fernando


"Tenho amor a isto, talvez porque não tenha mais nada que amar - ou talvez, também, porque nada valha o amor de uma alma, e, se temos por sentimento que o dar, tanto vale dá-lo ao pequeno aspecto do meu tinteiro como à grande indiferença das estrelas."

- Fernando, melhor rodar no vazio que é menos indiferente que a indiferença. Eu nos aconselho: é tempo de calar...

Eterno


 
Eu só consigo sentir o mundo à maneira dos românticos. Meu tempo se guia numa constante adolescência que azuleja noites e dias. Tenho a tristeza que cria buscando a alegria vital. Sorrio para o mundo e traço admirações por gente, e no mais: idolatro o mar.

Longe do carnaval. Quero o panorama do silêncio me vendo em outro olhar. Minha procura é infinita. Finda-se quando não há em quem pensar. E penso noite e dia quase sem dormir; se durmo, penso ao sonhar... Meu tempo é vácuo vazio, o significado são poemas alheios marcando a pele da dicção que não tenho.
Liberto-me  na palavra. Vou até a inutilidade da palavra para me sentir preciso. Quero a precisão dos que creem; quero o impasse dos que creem. Também quero a atitude dos descrentes, já que a esperança também me dói. O amor é o compasso que me restou. E escrevo de amor, respiro amor, sobro por amor...
Ao vento.
Ouço a música dos gênios. Existem vozes de mulheres que sou eu ecoando: a arte compensa esse meu instante  à vida de tanto pesar. Existem vozes de mulheres que são a minha leveza. Apesar de tanto desconforto – eu sei onde a beleza está. Contamino sua nascente com perguntas. Na beleza não há certezas, só possibilidades.

Sem mais esperar, toco estrelas na oração que nasce e como síntese de tudo que fui: me guardo à memória  aquática de um blog que ninguém lê.

Mas já aprendi a ser eterno.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

do seu olhar

Deixarei morando em mim o cheiro que colhi, em tardinhas de frio, do seu olhar.

Poemática

E quase que não sei dizer
do desalento da minha fala.
Reparo no barulho da
minha porta fechando.
O que ansiava dizer
me escapa disforme,
sorrateiro,
sem nome.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Ouvindo Maria Bethânia



Um dia ensolarado, eu em círculos pela ruas sujas da cidade, silêncio obrigatório, puxando para fora a voz de Maria; dali, uma presença morena rodando na vitrola da minha espera, nessas vias da tristeza, no estado da paixão.

Mirando-me



Tem que ser e ter gente. Por mais difícil que seja: gente para outra transcendência, outra desobediência, outro encontro, consolo, seguimento, permanência. Gente para aceitar na roda a ideia de amor que me compõe.

Gente em sombra e luz. Alegria ou agonia, gente para abraçar, comover, sonhar... Todos  loucos, perdidos, sozinhos, mas como agora aqui, precisando se sentir feliz.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Do gostar

Não há nada mais intenso, mais legítimo,mais vibrante, mais sereno, mais gratificante, mais ilusório, mais real, mais invulgar, do que inteiramente gostar de alguém.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Pela delicadeza que há



De alguma delicadeza  preciso, mesmo aparando arestas, expurgando sentimentos, sofrendo fome e sede, calando verdades, mentindo... Alguma delicadeza somada à libido, ao desejo desconcertante, à volúpia desimpedida e, ainda em alta temperatura, ao silêncio.

A delicadeza refrescando feridas, guiando no escuro, convidando esperança, inspirando... A delicadeza maior que os sentidos movendo para o encontro. Esse alinhamento da transgressão e da beleza é a delicadeza em projeção.

Preciso tocar-me com palavras e com as mãos para acessar o abraço mais sonhado.  Ver nascer e morrer o sol; ter chuva no amanhecer. Rastrear marcas do amor pulsando em livros, discos, filmes, camisetas, esportes, consultórios, facebook...

Rastrear sem por que, só coragem... Sem ter o que saber: rastrear para ver as superfícies da imagem amada diluída em tudo que é, mas que não é seu, não está em você.

E assim, até na mais doída das faltas: eu careço desta delicadeza vertendo poesia.

Das janelas

Sentir dor nas costas e temer a morte. Lançar-se a loucuras, correr riscos bobos e infantis para perceber-se vivo, se amedrontar como criança com um pouco mais de quarenta, sentir febre num calor de 32 graus, tontura como charme, esvaziando à força o peito gritando sentimento, sombrear-se, sobrar, vagar e ir, pela reta da solidão.

Preferir o vazio do não sentir para ter a paz que derruba ao chão. Descaminhar o desenho sem sentido, externando a história de uma vida. Ser pura entrega frente ao constante e contínuo não promulgado pelo mundo; pura entrega e perguntas para respostas em não. O estar neste mundo.

Cena de cinema. O olhar profundo arquejando um coração. Boca agressiva a outra boca do não; procuras dentro do silêncio empurrado ao romantismo ou fanatismo ou insatisfação. Cores crepusculares. Invulgares no dizer do querer que vive aqui. Romântico para um amor que ainda dorme noutro país, à luz da lua, rodando no espaço da querência, incerto; soturno, amor amedrontado, dormindo o profundo sono da grande confusão.

E os olhos o assistindo do lado de fora da janela.




quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Gato que brincas na rua


Gato que brincas na rua
Como se fosse na cama,
Invejo a sorte que é tua
Porque nem sorte se chama.

Bom servo das leis fatais
Que regem pedras e gentes,
Que tens instintos gerais
E sentes só o que sentes.

És feliz porque és assim,
Todo o nada que és é teu.
Eu vejo-me e estou sem mim,
Conheço-me e não sou eu.


FERNANDO PESSOA