Sacode-se em mim
aquele segredo
que não se quer
guardar.
segunda-feira, 29 de abril de 2013
domingo, 28 de abril de 2013
segunda-feira, 22 de abril de 2013
Arritmia
silencia o
dia entre o frio da alma e o de Deus.
Concordata
dos projetos da humanidade,
sob as
incertezas do tempo dançando.
O que vejo
não é espelho para mim,
pois realiza
o contrário do que sonho.
Ver deixa de
ser sentir,
E a frase só
se sabe em dificuldades.
Nada fala,
tudo falta
ao desenho
do coração sem sangue.
Mas não há
morte ainda.
domingo, 21 de abril de 2013
Domingo cinza
Domingo cinza: um drama a ser encenado pelas ruas vazias do meu pensamento. Fantasmas, soluços, choro, risada... Cinza como alvorada? A beleza desliza para ser beleza também. Almoço e faíscas da voz, ao longe, de uma mulher cantando... Cinza para presumir solidão contra a alegria: mas não, é alegria pura como abraço de amigo, celebração como saúde... A busca é azulada nesse instante da vida que traça penumbras, traz frio e viagens imaginadas. Livros.
Às ruas povoadas, vestir camisa clara e amalgamar-se à alma que não cessa de sonhar.
Às ruas povoadas, vestir camisa clara e amalgamar-se à alma que não cessa de sonhar.
quinta-feira, 18 de abril de 2013
Esse zinho
Meu coração - esse zinho -,
cingido de azul turquesa,
livre à mesa de quem o queira,
fruto das besteiras que me fazem sonhar.
Meu coração - monstrinho -,
me nega a inteligência,
meio arte meio demência,
este coração não me cabe.
Espreita a paisagem
das gentes que vivem a passar;
coração desertor e estertor
dos sonhos que plantei em mim.
Mágoa e serenidade,
àvida vontade do sim.
Senil adolescência em ausências
que jamais estariam aqui.
cingido de azul turquesa,
livre à mesa de quem o queira,
fruto das besteiras que me fazem sonhar.
Meu coração - monstrinho -,
me nega a inteligência,
meio arte meio demência,
este coração não me cabe.
Espreita a paisagem
das gentes que vivem a passar;
coração desertor e estertor
dos sonhos que plantei em mim.
Mágoa e serenidade,
àvida vontade do sim.
Senil adolescência em ausências
que jamais estariam aqui.
Pertencer, Clarice Lispector
Um amigo meu, médico, assegurou-me que desde o berço a criança sente o ambiente, a criança quer: nela o ser humano, no berço mesmo, já começou.
Tenho certeza de que no berço a minha primeira vontade foi a de pertencer. Por motivos que aqui não importam, eu de algum modo devia estar sentindo que não pertencia a nada e a ninguém. Nasci de graça.
Se no berço experimentei esta fome humana, ela continua a me acompanhar pela vida afora, como se fosse um destino. A ponto de meu coração se contrair de inveja e desejo quando vejo uma freira: ela pertence a Deus.
Exatamente porque é tão forte em mim a fome de me dar a algo ou a alguém, é que me tornei bastante arisca: tenho medo de revelar de quanto preciso e de como sou pobre. Sou, sim. Muito pobre. Só tenho um corpo e uma alma. E preciso de mais do que isso.
Com o tempo, sobretudo os últimos anos, perdi o jeito de ser gente. Não sei mais como se é. E uma espécie toda nova de "solidão de não pertencer" começou a me invadir como heras num muro.
Se meu desejo mais antigo é o de pertencer, por que então nunca fiz parte de clubes ou de associações? Porque não é isso que eu chamo de pertencer. O que eu queria, e não posso, é por exemplo que tudo o que me viesse de bom de dentro de mim eu pudesse dar àquilo que eu pertenço.
Mesmo minhas alegrias, como são solitárias às vezes. E uma alegria solitária pode se tornar patética. É como ficar com um presente todo embrulhado em papel enfeitado de presente nas mãos - e não ter a quem dizer: tome, é seu, abra-o! Não querendo me ver em situações patéticas e, por uma espécie de contenção, evitando o tom de tragédia, raramente embrulho com papel de presente os meus sentimentos.
Pertencer não vem apenas de ser fraca e precisar unir-se a algo ou a alguém mais forte. Muitas vezes a vontade intensa de pertencer vem em mim de minha própria força - eu quero pertencer para que minha força não seja inútil e fortifique uma pessoa ou uma coisa.
Quase consigo me visualizar no berço, quase consigo reproduzir em mim a vaga e no entanto premente sensação de precisar pertencer. Por motivos que nem minha mãe nem meu pai podiam controlar, eu nasci e fiquei apenas: nascida.
No entanto fui preparada para ser dada à luz de um modo tão bonito. Minha mãe já estava doente, e, por uma superstição bastante espalhada, acreditava-se que ter um filho curava uma mulher de uma doença. Então fui deliberadamente criada: com amor e esperança. Só que não curei minha mãe. E sinto até hoje essa carga de culpa: fizeram-me para uma missão determinada e eu falhei. Como se contassem comigo nas trincheiras de uma guerra e eu tivesse desertado. Sei que meus pais me perdoaram por eu ter nascido em vão e tê-los traído na grande esperança.
Mas eu, eu não me perdôo. Quereria que simplesmente se tivesse feito um milagre: eu nascer e curar minha mãe. Então, sim: eu teria pertencido a meu pai e a minha mãe. Eu nem podia confiar a alguém essa espécie de solidão de não pertencer porque, como desertor, eu tinha o segredo da fuga que por vergonha não podia ser conhecido.
A vida me fez de vez em quando pertencer, como se fosse para me dar a medida do que eu perco não pertencendo. E então eu soube: pertencer é viver. Experimentei-o com a sede de quem está no deserto e bebe sôfrego os últimos goles de água de um cantil. E depois a sede volta e é no deserto mesmo que caminho!
Tenho certeza de que no berço a minha primeira vontade foi a de pertencer. Por motivos que aqui não importam, eu de algum modo devia estar sentindo que não pertencia a nada e a ninguém. Nasci de graça.
Se no berço experimentei esta fome humana, ela continua a me acompanhar pela vida afora, como se fosse um destino. A ponto de meu coração se contrair de inveja e desejo quando vejo uma freira: ela pertence a Deus.
Exatamente porque é tão forte em mim a fome de me dar a algo ou a alguém, é que me tornei bastante arisca: tenho medo de revelar de quanto preciso e de como sou pobre. Sou, sim. Muito pobre. Só tenho um corpo e uma alma. E preciso de mais do que isso.
Com o tempo, sobretudo os últimos anos, perdi o jeito de ser gente. Não sei mais como se é. E uma espécie toda nova de "solidão de não pertencer" começou a me invadir como heras num muro.
Se meu desejo mais antigo é o de pertencer, por que então nunca fiz parte de clubes ou de associações? Porque não é isso que eu chamo de pertencer. O que eu queria, e não posso, é por exemplo que tudo o que me viesse de bom de dentro de mim eu pudesse dar àquilo que eu pertenço.
Mesmo minhas alegrias, como são solitárias às vezes. E uma alegria solitária pode se tornar patética. É como ficar com um presente todo embrulhado em papel enfeitado de presente nas mãos - e não ter a quem dizer: tome, é seu, abra-o! Não querendo me ver em situações patéticas e, por uma espécie de contenção, evitando o tom de tragédia, raramente embrulho com papel de presente os meus sentimentos.
Pertencer não vem apenas de ser fraca e precisar unir-se a algo ou a alguém mais forte. Muitas vezes a vontade intensa de pertencer vem em mim de minha própria força - eu quero pertencer para que minha força não seja inútil e fortifique uma pessoa ou uma coisa.
Quase consigo me visualizar no berço, quase consigo reproduzir em mim a vaga e no entanto premente sensação de precisar pertencer. Por motivos que nem minha mãe nem meu pai podiam controlar, eu nasci e fiquei apenas: nascida.
No entanto fui preparada para ser dada à luz de um modo tão bonito. Minha mãe já estava doente, e, por uma superstição bastante espalhada, acreditava-se que ter um filho curava uma mulher de uma doença. Então fui deliberadamente criada: com amor e esperança. Só que não curei minha mãe. E sinto até hoje essa carga de culpa: fizeram-me para uma missão determinada e eu falhei. Como se contassem comigo nas trincheiras de uma guerra e eu tivesse desertado. Sei que meus pais me perdoaram por eu ter nascido em vão e tê-los traído na grande esperança.
Mas eu, eu não me perdôo. Quereria que simplesmente se tivesse feito um milagre: eu nascer e curar minha mãe. Então, sim: eu teria pertencido a meu pai e a minha mãe. Eu nem podia confiar a alguém essa espécie de solidão de não pertencer porque, como desertor, eu tinha o segredo da fuga que por vergonha não podia ser conhecido.
A vida me fez de vez em quando pertencer, como se fosse para me dar a medida do que eu perco não pertencendo. E então eu soube: pertencer é viver. Experimentei-o com a sede de quem está no deserto e bebe sôfrego os últimos goles de água de um cantil. E depois a sede volta e é no deserto mesmo que caminho!
domingo, 14 de abril de 2013
Gal voltou...
Ela voltou...
E estou em lágrimas marcado de memória e alegria. Pertenço a este país, pertenço a esta cidade. Ela voltou no inclassificável da sua voz - a mais bela do mundo -, para dizer que veio ao mundo para cantar.
Sou lágrimas, orgulho , alegria...Esta senhora arrebatou a Concha Acústica para ser maestra do canto, o canto dela, saído do instrumento que é ela, tomou conta da minha emoção e reacendeu minha esperança na arte deste Brasil. A MPB faz isso.
Gal - eu queria ter as palavras! Minha alma te agradece em nome de D. Diva, em meu nome, em nome da Bahia. Foi maravilhoso e choro lotado de amor evonatde: obrigado, mãe do canto doce dos ventos; obrigado, pelo sentimento esvaindo e me tornando triste e feliz, porque um artista da sua estatura faz o paradoxo em nós.
Choro e calo e clamo e vibro e agradeço por estar vivo e poder ter visto, de novo, sem medidas, a enormidade da sua musicalidade, a raridade do seu talento.
Brava Gal - musa inventora das estações, cantora interplanetária, baiana para a felicidade da minha terra.
E estou em lágrimas marcado de memória e alegria. Pertenço a este país, pertenço a esta cidade. Ela voltou no inclassificável da sua voz - a mais bela do mundo -, para dizer que veio ao mundo para cantar.
Sou lágrimas, orgulho , alegria...Esta senhora arrebatou a Concha Acústica para ser maestra do canto, o canto dela, saído do instrumento que é ela, tomou conta da minha emoção e reacendeu minha esperança na arte deste Brasil. A MPB faz isso.
Gal - eu queria ter as palavras! Minha alma te agradece em nome de D. Diva, em meu nome, em nome da Bahia. Foi maravilhoso e choro lotado de amor evonatde: obrigado, mãe do canto doce dos ventos; obrigado, pelo sentimento esvaindo e me tornando triste e feliz, porque um artista da sua estatura faz o paradoxo em nós.
Choro e calo e clamo e vibro e agradeço por estar vivo e poder ter visto, de novo, sem medidas, a enormidade da sua musicalidade, a raridade do seu talento.
Brava Gal - musa inventora das estações, cantora interplanetária, baiana para a felicidade da minha terra.
sexta-feira, 12 de abril de 2013
Deixar, seguir
Sorrindo para esta vontade de querer estar na vida, dialogar com as formas de arte, sonhar diuturnamente com a possibilidade do encontro, com desenhos azulados, com a fala e a escrita construindo, seguindo, mas deixando.
segunda-feira, 8 de abril de 2013
domingo, 7 de abril de 2013
Billie Holiday, 98 anos!
A imagem já diz tudo.
Desavisa-me da beleza,
por ser a pura realidade.
Navega meu sangue,
habita minha memória,
transmuta meus sonhos,
é quando eu sofro,
é quando eu sou feliz.
A música é ali,
e palavras para quê?
Contundente negritude
perfilando minha alma.
Canto a sua eternidade,
morro na saudade do
que não vivi.
sábado, 6 de abril de 2013
...
Não tenho nada.
Isso pode ser estendido
ao que trago de mais profundo.
O que eu subentendo
é amor.
O que mais procuro
sem redes de proteção.
Isso pode ser estendido
ao que trago de mais profundo.
O que eu subentendo
é amor.
O que mais procuro
sem redes de proteção.
segunda-feira, 1 de abril de 2013
Em Sampa
(Marlon Marcos)
"Deixe o TEMPO resolver, o que tem que acontecer,livre"
Parece-me que, em mim, a vida é só pensamento. Quando descanso, penso sobre as coisas que dão descanso, e assim me inscrevo numa espécie de devaneio que não tem fim.
Parece-me que na mente inventei a eternidade e que eu nunca acabarei. Até o cansaço é infinito, o riso, a visão, o choro, a saudade... Tudo coisa solta na imensidão. Como a cidade de São Paulo.
Parece-me a existência, dentro aqui, não ter lugar nem pertença... Vivo por onde à espera de alcançar. Sou-me mais que o silêncio, e é nisso que me doou... Sangra retina, escapulo, escrevo bobagens, invado filmes, respiro poesia, uso contas e tenho fé.
Parece-me e é: minha única morada, o mar. Vivo de enchentes e vazantes que a solidão arranjou para mim.
São Paulo é outra saída?