sexta-feira, 7 de agosto de 2020

O maior expoente da canção em mim faz 78 anos



Escrever solto e agora, em verves da vontade e do sonho, para celebrar a vida em vida de Caetano Veloso, me dá uma alegria há meses não sentida. As canções que me ergueram, me apanharam para o entendimento de mim, me levaram aos livros, ao cinema, teatros, outros discos, ao sentido de querer viver com liberdade.


Caetano salvaguarda o alumbramento das canções, perfila no seu canto as possibilidades enormes da beleza do homem cantando: o ritmo e a clareza – molhados vezes na doçura, vezes na violência criativa do artista. Um trabalho da multiplicidade perceptiva de uma mente genial a tratar do mais necessário como o direito ao amor das sexualidades dissidentes, até os exercícios preconceituosos e vazios de defender a imobilidade da língua em nome das normas cultas que sustentam os idiomas: coisas de poeta endinheirado.


Não se pode pensar a cultura deste país sem sua presença marcada em grandes feitos. O homem que tem para o Brasil, o mesmo valor que Jean-Paul Sartre tem para a França. E Caetano, entre nós e no mundo, não precisou escrever livros para nos mostrar o seu lugar de pensador e a força do seu querer para interferir na realidade social brasileira. Fraturou a nossa cultura várias vezes para colocar nossa audição contra padrões comportamentais perversos e enfrentou com o corpo e a poesia a estruturalidade do racismo e da lgbtfobia.

Erra como todos e todas, pequenos e grandes, famosos e anônimos. Quando acerta, e faz mais, nos leva para dentro deste orgulho infinito de tê-lo vivo, atuante, inventivo, contemporâneo deste país que precisa dele vivo e com saúde, se fora das denúncias e combates, dentro das possibilidades de embalar sonhos amores utopias, ou tão somente cantar o repertório que desagua rios de beleza no melhor do cancioneiro existente em todos os tempos de música popular no Brasil.


Ê Caetano,

Eu sinto frio nordestino no Brasil,

Sinto medo ao sair de casa,

Medo de morrer sem envelhecer,

A cara comum da minha existência

Sem despertar saudades na massa.


Ê Caetano

Saudade de lhe ouvir referendar o Balancê de Gal

De reinventar The Beatles

E posar nu na janela na piscina margarina

Enganando entre a dor e o prazer.


Você,

Remate deste meu viver ao vento

Poeta máximo da minha erudição

Meu país mais que divino

Feminino, masculino e Plural.

Porto alegre do meu coração de menino.


Parabéns, paixão da minha vida!

sexta-feira, 31 de julho de 2020

...




Ah, quase tudo apagado defronte meus olhos acesos
Quase todo mundo com medo e eu tendo que ter coragem
Todos se delatando e eu obrigado a fazer segredo.

domingo, 26 de julho de 2020

Cenas quentes de um poeta



Um livro com cheiro e cara de desabrochar... Novamente pela Pinaúna ... Novamente sobre afetos e afetações... Meu livro jeito de homem maduro querendo mais.

sem dormir






e volto aqui como se sonhando
vagando entre traças e beleza
no que leio em livros malditos.

volto chorando às gargalhadas
no texto de miller e bataille
sem sentir salvação.

o mundo acabou
mas eu estou respirando
entre as árvores que enfeitam a casa.

terça-feira, 11 de abril de 2017

Sereia

(Foto: Claudio Pereira)

As sereias são seres de mim e em mim...Alimentam minha criatividade e me deslocam da vida real que não quero ter... As sereias são a alma do meu melhor - afã de proteção e esforço das águas em seus comandos - paisagem da eternidade que nunca será minha, mas estou contido nela... Eternidade pássaro marinho - feiticeira!
As sereias me salvam da racionalidade potente dos sabidos...Mergulham-me. Entre Abeokutá e Dinamarca - o sangue Noruega circulando mares da veia...
Transmuta-se brilhante negritude no ponto exato da maravilha. A sereia me é milagre. Acolhimento no frio. Calor baiano. Amor.

A sereia é a filha feminino de Ogunté.
( Foto da sereia dinamarquesa retirada do blog maravilhoso do antropólogo Claudio Luiz Pereira)

quinta-feira, 6 de outubro de 2016

Perto do coração de Clarice



E ela sabe porque estou aqui... Sabe como se a mim tivesse desinventado - para que eu livre de mim mesmo a encontrasse solto na cidade que me anima, fascina e expulsa.
Ela não. Ela me integra a partículas de suas sensações literárias e eu rareando como leitor especialista, me fundindo feito grão de areia ao mar da sua escrita.
Ela no meu todo seu: o calor do Rio no Leme da sua vida.
Eu no todo dela: fonte inesgotável para a pesquisa minha que, quando ela, estará sempre inacabada. Mas, continuamente apaixonada.

Rio, Leme, 28/09/2016

sexta-feira, 20 de maio de 2016

Oyá-Bethânia: os mitos de um Orixá nos ritos de uma Estrela



Entre tantas promessas que me fiz e acontecimentos inesperados em minha vida, este livro é fruto de uma grande vontade e força que exerci para pesquisar o tema e viabilizá-lo como resultado de uma pesquisa acadêmica.

Tem a feição da minha alma e é fruto da paixão que sinto por Oyá e Maria Bethânia. Também é o brado da minha insistência de como quero me expressar para o mundo, ocupando um espaço tão hostil, a academia, sem sair das verdades e das dúvidas que me impulsionam a pesquisar. Apanhei e bati demais. Fui ridicularizado por colegas que estavam do meu lado, fui tratado como um arremedo de artista e poeta querendo ser cientista, um antropólogo, pesquisando temas "menores" que não caberiam no universo da intelectualidade - assim alguns me disseram.

Mas o vento e a paixão me guiaram: lembro-me de Queila Oliveira, Paula Janaína e Carlos Barros, me incentivando numa empreitada que não foi nada fácil.

Mas eu consegui cumprir minha promessa de antropologia e homenagem a Oyá e a Bethânia. Encontrei amigos como Fabricio Mota atestando meu escrito e alguns professores de suma importância para esta efetivação... O projeto Sons da Bahia me chamou a fazer parte da coleção com o meu Oyá-Bethânia: os mitos de um Orixá nos ritos de uma Estrela e o FazCultura do Governo da Bahia patrocinou a obra através da investida luxuosa e de qualidade da Editora Pinaúna.

Não é fácil viver nesse instante brasileiro, estamos perdidinhos e mergulhados em nossas feiuras, agindo mais para desqualificar do que incentivar e isso em todos os lados e direções, o que faz com que tudo piore ainda mais.

A poesia é minha ponte levadiça, meu espelho e reflexão, minha vontade de ser, minha inserção no mundo da beleza e meu desaforo. Cansado das ordens estruturadas e estruturantes que não permitem a respiração e a transformação de seja lá o que for. A arte é tão importante quanto o conhecimento científico ( em mim, ela é muito mais significado), ela me mantém vivo como consumidor e criador de dizeres que desenho da maneira que aprendi e escolhi desenhar. Tem a ver com respeito. E é multiplicidade, contudo.

A poesia é a minha maneira de experimentar - é o meu modo desigual e tosco, muito confuso às vezes, mas sou-me na imperfeição.

Este livro é à beleza como busco, de maneiras toscas, vicejar a favor de uma vida mais expressiva para mim e para quem desejar.


Meu jeito de ser imperfeitamente delicado. Desde a ciência antropológica até o espraiar do que me convida como Arte. 

quarta-feira, 20 de abril de 2016

Em acordo com Gil e Caetano


A história é a face incógnita da coletividade. Mas, também fragmenta e visibiliza exemplos e dar nomes, às vezes, a quem merece ser nomeado. Pensando na história social da Música Popular Brasileira, me pergunto da longevidade e dos efeitos das carreiras de Gil e Caetano. Dos impactos estéticos, comportamentais e políticos. É claro que discordo de muitas posturas de ambos. Contudo, mais forte em mim é a força transformadora e educativa, poética e literal, das canções que nos impulsionaram a um Brasil mais astuto, mais diverso, mais exigente, pena que não menos desigual.

Talvez, ao envelhecer, Caetano seja um senhor do Leblon, em muitos aspectos, no Rio de Janeiro, e Gil o dono do Camarote – em dicotomias sociais no Carnaval da Bahia. Mas nem aí eles deixam de ser monumento indestrutível do poder criativo que nossa música popular, configurada neles, teve e ainda tem. Nem o topo do conforto que o lucro capitalista engendra e paga (no caso deles) acertadamente, esvazia suas trajetórias que esparramam luz, reflexão, prazer, silêncio, orgulho, vontade de ser, luta para amar, solidão, turbas ardentes, encontro de raças e coisas que até, novamente, às vezes, não compreendemos.

Em Gil e Caetano, a mulher faria uma revolução para salvar a ela e ao homem. A palavra seria para todos espada e ungüento, alívio e torpor, seria este movimento que eles deram e dão à vida racional e sentimental de todos nós. Seríamos um país pela inteligência a cavoucar nossos defeitos e destacar as qualidades. Faríamos a nossa universalidade sem sair de nossas cidades, entre os espectros da pobreza e a beleza da criatividade.

Em Gil e Caetano, o tempo funcionaria pra permitir a vida. Teríamos o mais que humano em nós porque já saberíamos, mesmo em contrastes, a ter humanidade. E Lá no fundo, cheios de fé, diríamos: mistério sempre há de pintar por aí. E por aqui.

Marlon Marcos é jornalista e antropólogo  email: ogunte21@yahoo.com.br

(Publicado em 09/04/2016, no Opinião do Jornal A Tarde, p.02)

Páscoa

Que se possa sempre renascer à luz do desejo de se tornar um ser melhor. Do nosso jeito, aproximemo-nos da poesia que nos fascina e impele. Sejamos clareza sem apartar as dúvidas; tenhamos ternura pelo mundo e encontremos o amor que nos constrói para além da noção de sorte.
{ tomo uma imagem como se fosse a pintura de um sonho: idealizo tinta e palavras, dando o colorido que me cabe, navegando a Páscoa que devo almejar. pinto fora da linguagem, rabisco em imitações minhas daquilo que nunca saberei imitar. seguro um livro, visto versículo, da profeta hilda hilst celebrando o encontro. quase azul na palavra sem desgaste, esta, toda poesia rastreia o nome de alguém que se quer amar.}
MM

Poema madrugado

P/ F. O.

chega em oculto
sem pele sem corpo
n'alma...

toca via celular
desperta para o sonho
a doce espera sem caminho.

um visgo juvenil
vindo de cachoeira
um poema feito lobo
que não come a presa...

real espada que afunda
só deixa saudade
fome minha na cama
e na mesa.