quarta-feira, 20 de abril de 2016

Em acordo com Gil e Caetano


A história é a face incógnita da coletividade. Mas, também fragmenta e visibiliza exemplos e dar nomes, às vezes, a quem merece ser nomeado. Pensando na história social da Música Popular Brasileira, me pergunto da longevidade e dos efeitos das carreiras de Gil e Caetano. Dos impactos estéticos, comportamentais e políticos. É claro que discordo de muitas posturas de ambos. Contudo, mais forte em mim é a força transformadora e educativa, poética e literal, das canções que nos impulsionaram a um Brasil mais astuto, mais diverso, mais exigente, pena que não menos desigual.

Talvez, ao envelhecer, Caetano seja um senhor do Leblon, em muitos aspectos, no Rio de Janeiro, e Gil o dono do Camarote – em dicotomias sociais no Carnaval da Bahia. Mas nem aí eles deixam de ser monumento indestrutível do poder criativo que nossa música popular, configurada neles, teve e ainda tem. Nem o topo do conforto que o lucro capitalista engendra e paga (no caso deles) acertadamente, esvazia suas trajetórias que esparramam luz, reflexão, prazer, silêncio, orgulho, vontade de ser, luta para amar, solidão, turbas ardentes, encontro de raças e coisas que até, novamente, às vezes, não compreendemos.

Em Gil e Caetano, a mulher faria uma revolução para salvar a ela e ao homem. A palavra seria para todos espada e ungüento, alívio e torpor, seria este movimento que eles deram e dão à vida racional e sentimental de todos nós. Seríamos um país pela inteligência a cavoucar nossos defeitos e destacar as qualidades. Faríamos a nossa universalidade sem sair de nossas cidades, entre os espectros da pobreza e a beleza da criatividade.

Em Gil e Caetano, o tempo funcionaria pra permitir a vida. Teríamos o mais que humano em nós porque já saberíamos, mesmo em contrastes, a ter humanidade. E Lá no fundo, cheios de fé, diríamos: mistério sempre há de pintar por aí. E por aqui.

Marlon Marcos é jornalista e antropólogo  email: ogunte21@yahoo.com.br

(Publicado em 09/04/2016, no Opinião do Jornal A Tarde, p.02)

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