sábado, 4 de outubro de 2008

A reconstrução do professor


Todo mundo fala, todo mundo sabe: a educação é um dos meios mais importantes para o avanço da sociedade. Fiz o curso primário ouvindo isso. O ginasial, acreditando nisso. O secundário, publicizando isso. O curso superior me formando a favor disso. Já nos primeiros anos de prática de magistério, compreendi, com autoridade etnográfica, que politicamente a educação não era levada a sério no Brasil, que existiam dois sistemas educacionais brasileiros: um era o oficial, a escola pública pronta a formar mão-de-obra servil, disponível aos cargos de subserviência nas relações de trabalho, ou seja, a massa formada para a prática dos serviços braçais e de menores remunerações. O outro sistema, o privado, abrigava os educandos que ocupariam os cargos mais destacados e bem remunerados, os filhos da classe média brasileira, aprontando-os para ocupações de comando, para o exercício das atividades intelectuais.

Nessa relação de profunda desigualdade, que ainda não ficou para trás, a profissão do magistério, repetidamente uma das mais nobres na construção de uma nação, foi sendo desgastada e desacreditada pela falta de qualidade a este difícil ofício: ensinar. O descontentamento era generalizado entre os professores, que, na maioria das vezes, como no meu caso, trabalhavam nas duas redes, e funcionavam com mais qualidade na particular, por questões infra-estruturais, salariais e pela patrulha das coordenadoras das empresas educacionais, validando ou não o nosso serviço prestado. Hoje, o governo Lula aponta para novos tempos da educação no Brasil. Fala em piso salarial, que deve atingir a base dos R$ 900 até 2010 para todos os educadores brasileiros. Recebe apoio de empresários como Antônio Hermírio de Moraes (e eu suspeito disso), fala de inclusão digital total, da construção de novas escolas, etc.

E como se reconstroem nossos professores no mercado há mais de 10 anos? Com esse piso salarial daria para se fazer as contínuas qualificações necessárias ao tão sonhado aperfeiçoamento dos professores da rede pública no Brasil? E como estão sendo formados os novos mestres no emaranhado de faculdades particulares que assolou o País? E as licenciaturas nas universidades públicas? Difícil se acreditar em mudanças reais, sem valorizar integralmente os maiores responsáveis pela nossa educação: os professores.
Não adianta afirmar que queremos um ensino público de qualidade, e continuarmos a titubear quanto à remuneração dos profissionais do magistério. Quem ensina é entendido como um profissionalsacerdote, mas não se sabe de padres nem pastores vivendo com os salários de professores no Brasil. Como oferecer esperança e perspectivas a estudantes se nós, educadores, não as temos verd adeiramente? Nosso País busca seriedade, não é? E, nesse ínterim, um deputado federal gasta em torno de R$ 200 mil redecorando seu gabinete.
(Publicado no Opinião do ATarde em 08 de maio de 2007)

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