sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Arthur Rimbaud: estrela supernova


Arthur Rimbaud, grande paixão de Verlaine, segue sendo o poeta francês mais lido. Entenda por quê:
Por Thereza Pires ( Retirado do site MixBrasil)
Em dezembro de 2008, ao visitar um antiquário para buscar material para documentário sobre a vida do poeta francês Arthur Rimbaud (1854-1891), o jovem cineasta francês Patrick Taliercio fez uma importante constatação. Ficou comprovado que Rimbaud foi também jornalista, tendo enviado vários artigos a um jornal, quando adolescente.Os especialistas e biógrafos sabiam desse material jornalístico e da colaboração para um outro jornal, “O Parnaso Contemporâneo”, mas acreditavam que nenhum documento tinha resistido ao tempo.O exemplar estava guardado no cofre do antiquário e existem ainda cerca de quinze cópias de artigos publicados, na biblioteca da cidade natal do poeta.O pequeno texto "Le Rêve de Bismarck" (O sonho de Bismarck, 25 de novembro de 1870) saiu no jornal "Le Progrès des Ardennes", na cidade natal Charleville-Mézières, sob o pseudônimo Jean Baudry, bem conhecido dos estudiosos. Rimbaud tinha 16 anos e iniciava sua meteórica carreira literária."Le Rêve de Bismarck" é um texto sobre a guerra entre a França de Napoleão III e a Prússia de Bismarck.
A vitória alemã e o Tratado de Frankfurt, resultaram na anexação das províncias de Alsácia e Lorena, que, mais tarde, voltariam para a França.Menino prodígioJean-Nicolas Arthur Rimbaud nasceu a 20 de outubro de 1854, em Charleville - nordeste da França - filho de camponeses humildes. Foi um aluno extraordinário. Supriu as deficiências do meio ambiente com talento incomum. Começou a escrever muito cedo, em latim. Somente em 1869, produziu o primeiro poema em francês. Seu professor e mentor Georges Izambard animou-o a escrever 22 poemas. Rimbaud conheceu Paris em 1870, a convite de Verlaine, depois de uma troca de correspondências. Suas primeiras experiências sexuais aconteceram nas tendas de soldados que lutavam na Comuna de Paris contra os jacobinos e socialistas.O poema “O coração roubado” costuma ser interpretado como descrição de uma iniciação sexual. Entre os quinze e dezenove anos (quando abandonou a literatura) escreveu a obra que o imortalizou, regada a absinto e outras drogas.
Protagonizou um caso rumoroso com o também poeta Paul Verlaine, que abandonou mulher e filhos para seguir seu amor bandido .Amor Bandido Verlaine, muito respeitado em sua roda literária, era sempre procurado por jovens poetas para avaliação de manuscritos.Cartas chegaram com as primeiras produções do jovem Rimbaud (17 anos), considerado o caso mais fantástico de talento juvenil na literatura francesa. A atração entre os dois poetas foi imediata. A esposa de Verlaine, Mathilde, adolescente e grávida, perdeu lugar para ao belo efebo que pretendia “descobrir o desconhecido através da desordem em todos os sentidos”.EscândaloA união de Verlaine e Rimbaud escandalizou a sociedade, o círculo literário e os pais de Mathilde.O casamento começa a se desagregar com os maus tratos, os espancamentos e nem mesmo o bebê George escapou das ressacas e das bad trips do pai.Os dois formaram e lideraram o grupo “Les Vilains Bonhommes” (Jovens Cafajestes). Os poemas escatológicos ali criados são reunidos no Album Zutique. Um poema escrito a quatro mãos - Verlaine se encarregou dos quartetos e Rimbaud dos tercetos - "Le sonnet du trou du cul", faz a elegia do ânus.Em um primeiro momento, Verlaine tenta uma reconciliação com Mathilde, em encontro amoroso em um hotel belga e um acerto de retomada da relação conjugal não concretizada.Tempos depois, na mesma Bruxelas, Verlaine perde o controle e atinge Rimbaud com dois tiros - é condenado a dois anos de prisão.Durante o processo, Mathilde pede o divórcio, alegando conduta sexual imprópria e Verlaine é declarado culpado, depois de submetido a um humilhante exame proctológico na presença de juízes.Após cumprir a sentença, Verlaine morou na Inglaterra até 1877. Voltou à vida desregrada da bebida e das drogas.“Je est un autre” (eu é um outro)A obra poética de Rimbaud, um ícone da poesia gay, foi produzida praticamente durante o período de seu tumultuado romance com Verlaine.Criador de um mundo de símbolos, alucinações e visões, escreveu duas “Cartas-Manifesto” em que define cada poeta como clarividente, mágico e artista.Rimbaud poderia ter sido um ator premiado. Atuando como artista em sua obra literária, assume diversas personalidades, masculinas e femininas.Em sua carta para o mentor Izambard (13/5/1871) declara “Je est un autre” [ eu é um outro (sic)] e continua a criar suas “Iluminações” – na forma de autobiografia em prosa e verso, entrelaçando sonhos adolescentes com alquimia, história com ficção, coração e razão, idéias com objetos, humano e sobrenatural.MochileiroDepois da separação, Rimbaud vaga durante seis anos sem destino pela Europa. Cruza países com uma mochila nas costas, para realizar seu sonho de andarilho. Chega a se alistar no exército holandês, mas logo pede dispensa.
Finalmente, se estabelece na Etiópia como comerciante de café, vendedor de armas e camelos, como o que se chamaria hoje um freelancer ou, para usar linguagem mais popular: um biscateiro, vivendo de “bicos”.Pouco antes de completar 37 anos, já com a perna direita amputada em virtude de um ferimento, morre em Marselha - 10 de novembro de 1891 - em tempo de se reconciliar com a família, segundo cartas da irmã.Depois de conhecer Rimbaud, a poesia e a forma de ver o mundo nunca mais poderão ser as mesmas.
Na sinopse bilíngue de Poesia Completa – Rimbaud: Encarnação da Poesia e do próprio Pathos do Homem (Editora Topbooks- 2007) tradução de Ivo Barroso, o tradutor explica: "Arthur Rimbaud é um mistério humano e um enigma literário ainda não inteiramente decifrado, muito embora a indústria Rimbaud continue em grande atividade. Situar sua figura e sua obra no contexto da literatura francesa moderna tem sido a profissão da vida inteira de estudiosos”O filme Eclipse de uma Paixão(Total Eclipse, Inglaterra, França, Bélgica, Itália, 1995), drama com direção de Agnieszka Holland para roteiro de Christopher Hampton e Leonardo DiCaprio como Rimbaud mostra a trajetória dessa verdadeira supernova literária.Supernova, em astronomia, é a estrela em que ocorreram explosões internas e, em consequência disso, a luminosidade aumentou bruscamente.
(De super-+nova): "Uma supernova marca a morte de uma estrela numa explosão espetacular. Os cientistas dizem que esses eventos têm um papel crucial na criação de elementos pesados, por meio da fusão e síntese nuclear, e posterior lançamento no espaço, semeando o cosmo com metais."Rimbaud lançou criatividade e semeou o cosmo com sua genialidade.Foi o precursor do modernismo, do dadaísmo de Tristan Tzara, do surrealismo de André Breton e influenciou gerações e gerações. De Mário de Sá-Carneiro aos beatnicks e Bob Dylan, que se reconheceram no seu inconformismo juvenil.Cento e dezoito anos depois de sua morte, continua sendo o poeta francês mais lido no mundo.

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