quarta-feira, 18 de maio de 2011

Callas e chuva


A arte empurrando pra debaixo da chuva. Acho que nasci assim: água caindo do céu, agitando o mar e os peixes, dando frio, recolhendo pessoas; introspecção ensaiando-se já que a vida, pra mim, tem que ser solar. Nem que seja o sol sobre a tristeza - o sol à vista brilhando no canto de Callas.
Chuva numa quarta-feira; deveria ter raios e trovões, batidas na minha imaginação querendo ver Iansã dançar. O cenário greco-africano de Ópera me levando a esgotar o raciocínio e a ser só sensação, sentimento, emoção em estado bruto, confusa intelecção do que não se entende mas se sabe. Callas cantando.
É quarta-feira: a poesia me desalinha entre o vermelho e o branco. Soletro mis-té-rio e pouso os olhos na imagem da estúpida cantora. Ali, a mãe já é morta e todas as dores de amor me são passado. Não revivo nada. Só assisto nessa íntima chuvosa quarta-feira do mês de maio, pertinho do aniversário, quando eu não poderei sair de perto de mim: jamais. Não quero.
Ouço o melhor pra ouvir. Em Callas Billie Bethânia. Iansã no céu da minha imaginação: colosso da saudade que me habita. Me dói a duração desta escrita; logo depois, sou todo alívio e resolução.
Chove como poderia. Outono é a reunião dos temas que vinculo: de dentro para fora, num quarto escuro, eu nascendo por paixão.
O rosto da mulher me fascina tal igual a sua voz.

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