quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

Lindeza de mim



bem estar da fala
todo canto abriga
e sigo mudo
flanando sob
a cena assistida
enxuta do sangue.

O sem lugar

(Ponta de Areia - Itaparica)



P/ Beto Heráclito


O vento arrasta as ondas para dentro do meu pensamento, o mundo imenso que me engole torna-se, neste instante, marulhos noturnos e a lógica de existir serena frente ao ato delicado de sentir a vida em silêncio. Eu de onda em ondas salinas do mar que me assiste sentir...

Parece que busquei outra forma de poder. O Tempo que me ensina também me esvazia de tudo que aprendi. Minhas mãos vazias, o peito calado, falta de medo e de sonhos... Marulho dentro e fora: meu pensamento como a mais real das realidades em que tombo sobre o mar.

Estou molhado numa noite de vento sem frio – cato seres celestes no horizonte sem luz. Meia noite do dia da festa do Natal e nada me é nascimento. O mar marulhando minha cabeça sem sonhos, portanto, sem pedidos. Aperto-me para a escrita e tudo que me liberta é grito... Eu em silêncio. Notívago. Vivo na paisagem mais linda frente ao lugar mais límpido porque o lugar do meu nascimento.

Então houve aqui um nascimento: o meu na cidade que me aborta, fecha a porta, delimita e a chamam de salvador. Limiar da minha história de conquistas e dor... O arranque que me expulsa para o “não sei aonde ir” e o “ como falarei com os meus superiores estrangeiros?”.

Não tenho perguntas. Tenho noite, vento, ondas e silêncio. Meu não pensamento é estar pensando na falta de luz que me fascina mesmo que ela esconda o mar. 

Vejo o mar com a audição: ele ali, intenso, em movimento, me aguardando para uma manhãzinha em que saberei, talvez, nadar.
Tantos livros para duas pequenas mãos, dois olhos e uma única vida. Eu sem libertação. Arrependido, mas com coragem para terminar. O vento me inclina. 

O mundo menor dorme e o maior vigia... Por onde anda a sorte?

Qual o portal de Deus? Bate bate bate bate bate... Tantas batidas de águas em pedra : o furo da imprecisão e da resistência do nada. Minha língua sartreana e a aura católica...

Eu sou um sem lugar.


Itaparica, 24 de dezembro de 2015 ( 00: 45)

Salvador - 2016


queria para além desta imagem,

onde fosse melhor que linda,

um lugar mais humano e equânime,

menos segregador e perverso,

menos racista e menos voltado

para o insucesso

de tudo que é o outro.

minha cidade preferida

não é o lugar dos meus sonhos.


[ 2016 - eu que me movimente]

Mar profundo




O mar quando profano
É ainda mais perigoso
E proibido.

OyáXangô




Oyá no céu de mim
E o medo pertinho
Quando Xangô grita
A sua natureza divina!