A trajetória dela
marcou o Carnaval brasileiro deste ano. Ali, na Estação Primeira de Mangueira,
idiossincrasias, especificidades, narrativas míticas, literárias e pessoais
desfilaram a Bahia que Maria Bethânia reinventou à luz do poderosa enredo A
menina dos olhos de Oyá, do carnavalesco Leandro Vieira.
E
Oyá, o orixá iorubano do movimento e da transformação, ratificou sua predileção
por esta filha, menina nascida na pobre Santo Amaro da Bahia, para ocupar o centro da grandeza criativa que nos
caracteriza como brasileiros. A Mangueira acelerou a respiração de um país ao
desenrolar, de modo artístico, histórico e socioantropológico, aspectos da vida
de uma mulher marcada por talento e fé. A voz sem igual que queima feito fogo e
abranda como água; musa de muitos mistérios, sabedora do que veio fazer em nome
da arte que perfila o melhor que temos como Brasil.
Oyá, entre vermelho,
branco e rosa somando-se ao verde, destacou uma escola de samba carioca que é
toda a Bahia e ratificou a tese de que a cantora baiana é muito maior do que seu ofício: ela é veículo para vários signos e
sistemas que dão complexidade ao ser brasileiro, entre esferas sagradas e
profanas, sua filha dileta é tradutora dialética dessa coisa inesgotável da
Bahia, mesmo que amassada por tanto desgoverno, servir de manancial da beleza
que tantos, no planeta, precisamos.
Cinquenta
e um anos numa trajetória artística invejável. Linda para abusar dos padrões de
beleza dos demais. Sagrada para mexer com a racionalidade dos cientistas.
Campeã no dia do aniversário da saudosa Mãe Menininha, voltando a desfilar na
Sapucaí, sob o seu destino de rainha, no dia 13 de fevereiro – data oficial do
seu começo como artista nacional, no Rio de Janeiro, em 1965.
Rascante
e enigmática, uma senhora de quase 70 anos, em tessituras antropológicas,
Oyá-Bethânia é rainha porque é a dona da simplicidade.
(Publicado no Opinião do Jornal A Tarde, p.03, dia 20 de fevereiro de 2016)