terça-feira, 31 de julho de 2012

Silenciar

O barulho instrumentaliza as doenças, fecunda os desajustes, estaciona o raciocínio, aparta a criatividade, corrói. Aumenta minha dor. Muita coisa só pode ser se houver silêncio. Se houver intenso e genérico silêncio nos compartilhando com o mais interno e nos integrando ao externo do que também somos. Silêncio. Em nome do vigor que  orienta à única ação promordial: ser sendo.

***

Era assim então: linhas sem perguntas e respostas trilhando o esvaziamento da palavra, sem perder o sentido da palavra, aprofundando contra o palavrório que se abateu sobre mim. Tudo a modificar. A salvação é a mudança.

***

Hoje é um dia de susto; leve transe que alimenta; aumento das incertezas na vontade de não mais especular... Dia obtuso mem sus desenho de morte precoce. E na verdade, se verdade há, o que é tardio ou precoce nos avatares que compõem o mundo e muitos chamam Destino?


domingo, 29 de julho de 2012

Plágio



Está arranhando a minha imaginação o relevo áspero do seu poema. Áspero mas raro, feito pela peisagem selvagem entre águas e pássaros conduzidos pelo sorriso feliz de alguma criança. Tem êxito a escrita que leio, e me vejo, e lhe procuro. É seu mas sou eu - cavalgando as lonjuras onde não saberei encontrar; não saberei realizar o que lhe peço que faça por mim.

Arranha e acompanha minhas noites insones. Quanta água dessa escrita molhando o deserto de mim! Quantas paisagens sem a secura do que me proponho. Leio e é sonho o que sinto. Um tom azul na tez branca do lugar. Um tom verde em espiral como espuma a tocar nos pés da gente que enfrenta o deserto.

Um tom musical no precioso ritmo da sua escrita nos pondo no movimento cheiroso das marés. Sinto o cheiro destas palavras: amarílis vermelhos e rosas amarelas; salsa com gotas de limão; morango e ameixa; bacalhau coberto de felicidade.

Como cheira! E minha alma vibra e dói na beleza que está em cada palavra sua que se junta para delatar a minha impotência.

A poeta Katia Borges lança livro



Ir lá e alcançar a boa literatura feita na Bahia. Vamos todos!

sexta-feira, 27 de julho de 2012

Não sendo

O sentido está no presente do dente que me dói, para marcar a noção de perda no eternamente. O que há é a não esperança e a inexistência de outras possibilidades no tempo.

quinta-feira, 26 de julho de 2012

Maria Bethânia, poeta minha


É meu  lugar de inspiração artística,
algo de que posso muito falar,
febre juvenil de paixão eterna,
colorido do existir sobre o vazio da vida,
meu controle de qualidade.

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Do impossível (II)


Sou eu querendo escrever e publicar em São Salvador da Bahia

26 de julho: Saluba é festejada por mãe Zulmira

Mãe Zulmira de Nanã

Amanhã, 26 de julho, dia católico da Senhora Santana, santa avó de Jesus Cristo, também é dia santo para o povo do candomblé: é uma data celebrativa para o orixá Nanã, conhecida entre os congo-angolas como a grande Zumbá.
Neste dia, a proeminente sacerdotisa Zulmira de Santana França celebra sua "santa" com o tradicional Presente nas águas do Dique do Tororó, começando o ritual de oferta às 17:30h., onde a fé se encontra com o amor para saudar a Senhora dos lamaçais, mão que dá e tira a vida, que resguarda os mistérios que minimizam o humano frente à grandeza da natureza e da divindade.
Mãe Zulmira, filha dileta deste orixá, é a Mameto de Inquice do Unzó Tumbenci, hoje situado em Lauro de Freitas, mas fundado no bairro de Cosme de Farias, nos idos de 1937. Esta Casa cumpre esse ritual de devoção a Nanã, em agradecimento pelas histórias de vitória de todos que compõem aquela família.

Que Nanã nos proteja e nos abençoe pela voz marcante e pela fé vibrante desta mulher ( Mãe Zulmira) que nos ensina de verdade  a cuidar da religião dos orixás, dos inquices, dos voduns, dos caboclos.

Salve Saluba e a saudemos, amanhã às 17:30 h, no Dique do Tororó, em Salvador da Bahia.

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Constatação

enquanto não consigo serenar
e nem parar de fumar
nem parar de falar sobre mim;
enquanto não quebro este espelho
e me aparto do segredo
de viver mentindo pra mim.
enquanto meus olhos persistirem
em se acender nos seus

nada me será esperança
imerso neste breu que,
no lugar do amor,
se construiu.

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Transe




                                           "É doce morrer no mar
                                             Nas ondas verdes do mar"
                                                                  Caymmi

         Marulha-se o pensamento, rondando o espaço percebido pelo olhar, indo pelo vento esbarrar-se nas "ondas verdes do mar". Indo afogar-se na imensidão de uma procura, banhar-se na luz manhã de um sábado - entre rosas e preces - trazido do fundo fosco da duradoura esperança.
         
        Sobrevoa o instante o pensamento marcando imagens da realização. dominando a certeza, a emoção noutra forma invada-se numa saga onírica,e sobre pedras e sereias, os pés-asas sujos de areia alcançam às mãos do sonho em silêncio. Pensamento ao desejo, ventando manhãs numa manhã de praia; pensamento-olhares aos falares das conchas dos quizos dos búzios dos seixos dos ares, marca do segredo, para tudo que refaz a saudade e instaura o medo.
         
        Deserto aquático engrandecido pelo universo do pensamento, calado e colado nas asas dos pés,se indo,sem destino, na vaga estreita de uma incerteza, um surto emotivo, qualificado como distância. Na espessura amarga da água, a sensação da presença límpida da vida. Um tímido sol minimizando o transe.O tímido sol desenhando no horizonte que ultrapassa o olhar do pensamento.
          A órbita do silêncio atingindo todos os lugares.
          Uma paisagem verde-azul e branca, colorindo a fuga perfumada pela imaginação. A força do oculto: o que emana de fora para dentro d'água e respinga no corpo como resposta.
          O afogamento. A claridade azulada da água. O cheiro-alfazema do salitre na maresia às narinas do pensamento para possibilitar o consolo,
           A visita delgada da  Mãe-mulher, a irmandade com os peixes, a morosidade dos segundos devastando do peito a reserva das lágrimas...O carinho feito pela mão da Mãe-mulher no esparrame das águas sobre as pedras.
           A chegada do barulho para despertar o coração. A claridade rosa das águas aliviando pelos olhos a tensão deixada pela posse da consciência.
           Fragamentos da divina presença: toques sagrados à distância, danças ondulares, saudações iorubanas, músicas, verdades... A vontade atingida pela FÉ erigida para que se alcance o fruto-marulho no âmago do pensamento.
           A imagem da Mãe que se impregna no corpo do homem que sai louvando a  Mulher.

          Iyá Ogunté mi Odô Iyá!

                                         Marlon Marcos.

     P.S: Depois de contemplar o "mar" de Cachoeira em seu rio de tanta saudade...Que chegue Setembro.

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Canções emitidas da mina de beleza em Ana Paula Albuquerque




“Inês foi cantar na areia

Num instante sereia ela se fez”.



Ana,

Recebi, impactado, as notícias estéticas do seu novo trabalho. Sempre sobre da sua grandeza como intérprete e dedicação ao melhor que a música pode oferecer. Mas sabemos que não é só isso. Sabemos da importância comunicacional da arte, da necessidade de transpor, de (re) inventar, se intrigar e dizer. Como você, neste seu  show que apresenta seu CD inaugural, me disse, me emocionou, me comoveu! Sua banda em afinação inteira com seu jeito peculiar e doce de se mostrar a grande cantora que sempre foi. Este repertório tão velho e tão novo na foz da absoluta qualidade.

Pergunto-me se esta cidade lhe merece nesta proposta tão fundante num tempo em que estamos completamente desacreditados em Salvador? Mas aí reside outro aspecto vital em seu fazer artístico: propor esperança e mostrar que podemos vencer o desencontro genérico que se abateu  sobre a gente soteropolitana. Tem educação no seu trabalho e postura. Tem elegância fundida a critérios constitutivos para anúncios deste tipo: Caetano e companhia deverão saber.

Da doçura que transa com nossa audição nos dando tanto prazer. Da sua verdade em correções estilísticas dialogando com a encenação e inquietação de Ivan Huol, com a percussão de Gabi Guedes, com a guitarra do sobrinho dele, Felipe Guedes, com os teclados inspirados de Aline Falcão e  Marcus Sampaio nos contrabaixos.

Linda, também como sempre, vestida pelo grande estilista Renato Carneiro, da grife Katuka. Combinando a poesia da canção com a vontade política de realização estética no solo da gente. Saindo para o front de batalha guarnecida pelo talento transdimensional do artista inteiro Gil Vicente Tavares.

Seu show me lembrou da prece do jornalista Luciano Matos nos convidando a olhar para Salvador, para as coisas lindas desta cidade de Caymmi, marítima, do povo negro que enfeitiça, dos orixás que protegem. Sim, para mim, olho aí seguindo os conselhos de Luciano no Correio: devemos gostar de Salvador para querer melhorá-la; todos nós que a pioramos. Meu sentido de gostar daqui começa e termina no seu mar, passando pela nossa inventividade no trabalho inigualável de Maria Bethânia e repousando nos amálgamas culturais que imprimem a supremacia africana na gente.

Aqui, também, quando Gal cantando. Mas eu quero ouvir você. Sonhar com você, ver você cantando no Gamboa, no Teatro Castro Alves, inspirada na luz de Rosa Passos.

Seu disco é lindo. Seu show é mágico e eu acredito. Como orou o seu poeta: “Que o TEMPO me ajude/ E o vento me leve/ Para junto de quem me ama”. Eu amo você, e, por favor, venha para perto de mim.

domingo, 15 de julho de 2012

Do sábado (II)



Dizem que sábado é uma ilusão. Em mim, é frescor e nascente, fagulhas da esperança qua não posso perder. Sábado é o equilíbrio entre sexta e domingo, é vívido instante de se pensar levemente sobre a vida, comer uma boa comida, ir ao cinema, conversar com os amigos, ler poesia e, no meu caso, rezar frente ao mar da Baía de Todos os Santos.

Um pouco sagração; sempre me acalmo nos sábados e quase nunca, neste dia, me canso da vida.

Levo para onde for a maresia que me habita e se me manifesta melhor nos dias de sábado.

Caminho


Tiro desse instante daqui


E alvejo a demência que me quer.


Paro o tempo e engulo o mar


Despejo o que sou ao vento


Arranco deste  sonhar


A força que me alimenta.


Já me domino e sei navegar.

Masturbação




Eram escavações da vontade na imprecisa morada do nós.
Nada se podia para além da imaginação, tremeluzia.
Um rosto ao toque incauto da desilusão vagava no espelho da sala.
No do banheiro: o outro só pensava em masturbação.

Do sábado

Levo para onde for a maresia que me habita
e se me manifesta melhor nos dias de sábado.

sábado, 14 de julho de 2012

Carta de amor de Maria Bethânia




Em finais de março deste ano, a grande cantora santo-amarense lançou o seu mais recente trabalho intitulado Oásis de Bethânia, um disco que aponta para algumas reinvenções estéticas que a artista, do seu jeito, não deixa de operacionalizar. Trouxe compositores que se afinam com seu perfil de intérprete, destaque para o baiano Roque Ferreira, que logo terá Maria Bethânia como a voz principal da expressão do seu talento lítero-musical. 
Mais um trabalho precioso desta baiana incansável. Agora, o momento mais marcante e polêmico do disco remete a questões sócio-antropológicas, no universo das religiosidades e identidades das quais Bethânia nunca se distanciou. A canção Carta de amor, erguida a partir de um contundente texto poético de autoria da cantora, que foi musicado e acrescido de versos por Paulo César Pinheiro, representa genialmente uma resposta contra os detratores do blog “O mundo precisa de poesia”, e dos arroubos injustos e levianos que agrediram a artista mais importante da canção brasileira na atualidade.
Indo por “Não mexe comigo que eu não ando só”, passando por” A rainha do mar anda de mãos dadas comigo/ Me ensina o baile das ondas e canta, canta, canta para mim”, chegando a “Sou como a haste fina que qualquer brisa verga/Mas nenhuma espada corta”, para dizer ao Brasil de onde ela veio, de como aprendeu a sentir o mundo e que, com seu talento, transmite e louva os elementos que traduzem a sua fé de mulher nascida na Bahia.
Uma Carta de amor, sim. Que foi incompreendida por jornalistas, como Pedro Alexandre Sanches, afirmando que a artista destilou ódio num texto intitulado como amor. Na canção, Bethânia dói e recorre à proteção em que ela acredita; pontualmente magoada, ela subverte a dor com a força que lhe é peculiar e se abriga, como menina, à luz do amor que sua espiritualidade lhe entrega.
Uma carta de amor dirigida a Deus, Nossa Senhora, Orixás, Caboclos, Zumbi, Buda, Gandhi, ao divino que se permita...  E contra a intolerância que fez esta oração nascer

(Publicado em 04/07/2012, no Jornal A Tarde, página 03, Caderno Opinião, Coordenação Jary Cardoso)

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Bembé do Mercado: a hora do Registro





Bembé do Mercado: a hora do Registro
Marlon Marcos

Jornalista e antropólogo

Email: ogunte21@gmail.com

São várias as assertivas que apontam o Bembé do Mercado, festa centenária que acontece todos os anos a 13 de maio, em Santo Amaro da Purificação, como Patrimônio Imaterial da Bahia. Tramita, no Conselho Estadual de Cultura do nosso estado, o Dossiê de Registro que deverá ser analisado e julgado procedente, já que o mesmo partiu de uma criteriosa pesquisa de campo sobre a festa, sob o comando de pesquisadores de várias áreas escolhidos pelo Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia, mais conhecido como IPAC.

A comunidade santo-amarense, principalmente o povo-de-santo, espera com avidez a patrimonialização desta celebração que acontece há mais de 100 anos, e é alusiva aos festejos dos ex-escravos da comarca de Santo Amaro, pelo controverso, mas importante 13 de maio de 1888, data que oficializou o fim da escravidão dos negros em terras brasileiras.

A festa começada desde 1889, sempre reuniu, primordialmente, os negros ligados às religiões de matrizes africanas. A palavra bembé é uma visível corruptela do termo quicongo candomblé, e passou a designar os festejos religiosos nesse dia 13, onde se tocava (e se toca para orixás, inquices, voduns) em agradecimento pela liberdade ( ainda que parcial) alcançada. É uma festa do povo negro daquela cidade que desbravou anos mantendo viva uma memória religiosa, social e cultural que já poderia ter sido completamente esquecida.

Hoje, felizmente, muitos olhares se voltaram para o Bembé do Mercado, muitos com o intuito de fortalecer o caráter turístico da celebração; outros, preocupados com nossa história e preservação sócio-antropológica de expressões que nos traduzem coletivamente, como é o caso da historiadora Ana Rita Araújo Machado que fez até então, a mais importante pesquisa acadêmica sobre este evento santo-amarense. Temos artistas que emprestam sua grandeza à visibilidade do Bembé, o maior é Caetano Veloso que fez a canção 13 de maio, que entende a festa como uma homenagem inicial à princesa Izabel.

Mas, mais importantes que todos são os religiosos, membros de muitos terreiros e de várias nações de candomblé, que lutam para organizar a festa, tocar para os orixás e culminar com o concorrido Presente a Iemanjá, Rainha de todas as águas, pedindo proteção e continuidade da vida e destas celebrações.
Registrar o Bembé do Mercado como Patrimônio Intangível da Bahia (e do Brasil), é valorizar os feitos do nosso povo, o que foi erguido pela base civilizatória nossa e ajudar, do ponto de vista das políticas públicas culturais, a manutenção de um evento que versa a beleza negra e religiosa dessa gente do aluá, da maniçoba, do foguete no ar como poetiza Caetano Veloso.

Publicado no Jornal A Tarde ( dia 11/07/2012), Caderno Dois+, Coordenação Simone Ribeiro



Não pode haver falta

Nisso tudo que eu já disse e encerra os lamentos e serena este instante e promete o presente. Não pode haver falta; a chuva invade a casa da sua imagem onde também mora o meu pensamento. Não pode haver falta. Os dias estão resolutos e seguro na mão do futuro inexistente. Só sinto agora e não pode haver falta. Molhados eu, você, nossos planos. Aqui e agora. No já dos seus olhos que me é tão pouco. Quero o peso do corpo e seus suores; a palavra pronunciada de ânsia e de verdade, vencendo a saudade que não nos apartou. Não pode haver falta. Eu no espelho do seu receio e o desejo que fundamos. O tapete mundano conduzindo as viagens no sonho e minha boca calando ao embalo do seu movimento. Não pode haver falta. Digo de dentro com você por fora. Hoje. Toque de misericórdia neste encontro. Vidraça respingada de água meio lágrima meio chuva meio sêmen: não pode haver falta.

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Tiganá Santana




Circunda esta sonoridade em minha alma como o canto de abrigo da Grande Mãe. Eu me permito. E visito cada instante que a grandeza deixa ali. Instante do encantamento que sacoleja o mistério. Ouço para ser e para sonhar em lugares do essencial vazio e me aparto de certezas e perguntas, sendo -me só o vazio por fazer parte sem nenhum tipo de limitação.

A música desagua e ilumina partículas que são de mim; põe-me no ventre da fé e me faz sentir para além das noções de sentido e saber. Aquela música é. Reverência referendo do que mais amo: a arte.


Música que é a voz do menino ninando o mundo, permitindo o sono que reelabora o viver do que pode ser humano e nos ensina a pousar no coração das divindades.


Cheguei a Iyá Ogunté...


E tenho a música de
Tiganá Santana no âmago de mim.

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Perto Dela onde for...


(Museu Afro Brasil - São Paulo)

Trago-Lhe para aqui na imagem minha em reverência Sua.
Solto nessa fé que me orienta
Nessa marca que me permite
Sonhar neste mundo: o mar.

domingo, 1 de julho de 2012

Iyá Ogunté


A beleza maior da minha vida!
Tudo que eu posso ocupar,
tudo que eu posso desalojar...
Ela sempre será em mim!