Bembé do Mercado: a
hora do Registro
Marlon
Marcos
Jornalista e
antropólogo
Email: ogunte21@gmail.com
São várias as assertivas que apontam o Bembé do Mercado,
festa centenária que acontece todos os anos a 13 de maio, em Santo Amaro da
Purificação, como Patrimônio Imaterial da Bahia. Tramita, no Conselho Estadual
de Cultura do nosso estado, o Dossiê de Registro que deverá ser analisado e
julgado procedente, já que o mesmo partiu de uma criteriosa pesquisa de campo
sobre a festa, sob o comando de pesquisadores de várias áreas escolhidos pelo
Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia, mais conhecido como
IPAC.
A comunidade santo-amarense, principalmente o povo-de-santo,
espera com avidez a patrimonialização desta celebração que acontece há mais de
100 anos, e é alusiva aos festejos dos ex-escravos da comarca de Santo Amaro,
pelo controverso, mas importante 13 de maio de 1888, data que oficializou o fim
da escravidão dos negros em terras brasileiras.
A festa começada desde 1889, sempre reuniu, primordialmente,
os negros ligados às religiões de matrizes africanas. A palavra bembé é uma
visível corruptela do termo quicongo candomblé, e passou a designar os festejos
religiosos nesse dia 13, onde se tocava (e se toca para orixás, inquices,
voduns) em agradecimento pela liberdade ( ainda que parcial) alcançada. É uma
festa do povo negro daquela cidade que desbravou anos mantendo viva uma memória
religiosa, social e cultural que já poderia ter sido completamente esquecida.
Hoje, felizmente, muitos olhares se voltaram para o Bembé do
Mercado, muitos com o intuito de fortalecer o caráter turístico da celebração;
outros, preocupados com nossa história e preservação sócio-antropológica de
expressões que nos traduzem coletivamente, como é o caso da historiadora Ana
Rita Araújo Machado que fez até então, a mais importante pesquisa acadêmica
sobre este evento santo-amarense. Temos artistas que emprestam sua grandeza à
visibilidade do Bembé, o maior é Caetano Veloso que fez a canção 13 de maio,
que entende a festa como uma homenagem inicial à princesa Izabel.
Mas, mais importantes que todos são os religiosos, membros de
muitos terreiros e de várias nações de candomblé, que lutam para organizar a
festa, tocar para os orixás e culminar com o concorrido Presente a Iemanjá, Rainha
de todas as águas, pedindo proteção e continuidade da vida e destas
celebrações.
Registrar o Bembé do Mercado como Patrimônio Intangível da
Bahia (e do Brasil), é valorizar os feitos do nosso povo, o que foi erguido
pela base civilizatória nossa e ajudar, do ponto de vista das políticas
públicas culturais, a manutenção de um evento que versa a beleza negra e
religiosa dessa gente do aluá, da maniçoba, do foguete no ar como poetiza
Caetano Veloso.
Publicado no Jornal A Tarde ( dia 11/07/2012), Caderno Dois+, Coordenação Simone Ribeiro
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