sexta-feira, 13 de julho de 2012

Bembé do Mercado: a hora do Registro





Bembé do Mercado: a hora do Registro
Marlon Marcos

Jornalista e antropólogo

Email: ogunte21@gmail.com

São várias as assertivas que apontam o Bembé do Mercado, festa centenária que acontece todos os anos a 13 de maio, em Santo Amaro da Purificação, como Patrimônio Imaterial da Bahia. Tramita, no Conselho Estadual de Cultura do nosso estado, o Dossiê de Registro que deverá ser analisado e julgado procedente, já que o mesmo partiu de uma criteriosa pesquisa de campo sobre a festa, sob o comando de pesquisadores de várias áreas escolhidos pelo Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia, mais conhecido como IPAC.

A comunidade santo-amarense, principalmente o povo-de-santo, espera com avidez a patrimonialização desta celebração que acontece há mais de 100 anos, e é alusiva aos festejos dos ex-escravos da comarca de Santo Amaro, pelo controverso, mas importante 13 de maio de 1888, data que oficializou o fim da escravidão dos negros em terras brasileiras.

A festa começada desde 1889, sempre reuniu, primordialmente, os negros ligados às religiões de matrizes africanas. A palavra bembé é uma visível corruptela do termo quicongo candomblé, e passou a designar os festejos religiosos nesse dia 13, onde se tocava (e se toca para orixás, inquices, voduns) em agradecimento pela liberdade ( ainda que parcial) alcançada. É uma festa do povo negro daquela cidade que desbravou anos mantendo viva uma memória religiosa, social e cultural que já poderia ter sido completamente esquecida.

Hoje, felizmente, muitos olhares se voltaram para o Bembé do Mercado, muitos com o intuito de fortalecer o caráter turístico da celebração; outros, preocupados com nossa história e preservação sócio-antropológica de expressões que nos traduzem coletivamente, como é o caso da historiadora Ana Rita Araújo Machado que fez até então, a mais importante pesquisa acadêmica sobre este evento santo-amarense. Temos artistas que emprestam sua grandeza à visibilidade do Bembé, o maior é Caetano Veloso que fez a canção 13 de maio, que entende a festa como uma homenagem inicial à princesa Izabel.

Mas, mais importantes que todos são os religiosos, membros de muitos terreiros e de várias nações de candomblé, que lutam para organizar a festa, tocar para os orixás e culminar com o concorrido Presente a Iemanjá, Rainha de todas as águas, pedindo proteção e continuidade da vida e destas celebrações.
Registrar o Bembé do Mercado como Patrimônio Intangível da Bahia (e do Brasil), é valorizar os feitos do nosso povo, o que foi erguido pela base civilizatória nossa e ajudar, do ponto de vista das políticas públicas culturais, a manutenção de um evento que versa a beleza negra e religiosa dessa gente do aluá, da maniçoba, do foguete no ar como poetiza Caetano Veloso.

Publicado no Jornal A Tarde ( dia 11/07/2012), Caderno Dois+, Coordenação Simone Ribeiro



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