sexta-feira, 29 de abril de 2011

Profunda delicadeza

Quero por minha língua na sua língua:
Você nos deixa?

pedra e mar: eu


"É só de mim que ando delirante -
Manhã tão forte que me anoiteceu"
Mário de Sá-Carneiro

E trovejo ao meio disso - Grito!
Até nos encontrar!!!
( a pedra do mar que me abriga)

terça-feira, 26 de abril de 2011

Ser

Ah, se eu soubesse, Fernando
Eu seria outra Pessoa.

Incongruências



Em dia de rabiscos e mitos desenhados em fotografias. Dia de plurais. O disco Tua - Maria na canção - me devolvendo esperança. Olho para trás Ana Cristina César que já esteve à frente. O mundo é um moinho. Hilst sorvetando meus instantes em nascentes da infância, curando feridas e eu querendo o impossível carinho... Esse dia numa canção de Renato Russo. Além de todos os outros, o medo da morte. Por que ? A vida assusta mais. E é preciso viver. Billie chega para definir o tom do que me leva a escrever. Vejo os ensinamentos realistas de Herta Müller - a pobreza é universal. Sentado em meu próprio cansaço que só enxerga distância. Nada de alvorecer. Um rosto de sintaxe transcendental: lindo de tanta tristeza. Ana C. Me apego ao vulto do modelo que não sei. Escrevo incongruência. É sombra e entrelinhas. Clarice sentencia o que deveria mas não sei. Rabisco um corpo masculino, um sorriso feminino, e um carro na contramão. O mundo adulto é um saco e eu só sobrevivo por fantasia. Brincadeirinha na rota do ser. Filosofia praiana num balneário qualquer. Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é. Eu lhe diria poesias sem muito a fazer. O tempo parou. A noite virou dia. E é preciso viver. Bate outra vez com esperanças o meu coração. Há muito não há verão e nada tem sabido começar. Ouço meus atrevimentos. E bebo-me ao som hipócrita do mundo. Vejo florestas que foram exterminadas. E crianças libertadas das drogas, do abandono, da fome. Não tenho esperança.

Rabisco "O mundo precisa de poesia" e destempero a arrogância dos inertes. Rabisco o colorido da voz de Luiz Melodia e sonho com antigos carnavais. A coruja virou peixe. E ela dança. Caio Fernando canta os escritos de Virginia Woolf. Os clássicos já não são. Os brutos não perdoam.

Revejo A teus pés a foto dela na escrita dele. Caminho no barulho violento da minha cidade. Quero silêncio. Abaixo o tormento. Não sei trabalhar. O que seria ontem me espreita amanhã. Hoje é vazio e rabiscos que batem e rebatem o meu coração.

Eu peço silêncio e deixem Maria Bethânia criar.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

tomo conta


tomo conta por um carinho sem fim; poesia música voz. tomo conta para guardar o melhor do meu país em mim. água que banha alma e fertiliza o chão das minhas caminhadas. as asas que me dá e voo para o lugar que transforma a minha recepção do que nasce nela. tomo conta para fazer tudo durar à lareira tropical daquela arte. tomo conta para ela esparramar poemas e literaturas e os símbolos nisso refrescar sentido na vida dos sensíveis.
tomo conta simplesmente por tomar e me banhar naquela força em dizer que a beleza existe. E o amor também.
tomo conta para pintá-la de palavras, sua essência mais profunda, e em dias sem graça como esse, ouvir Tua e me reelaborar na esperança que, ela sereias areias mares silêncio , me pulsiona a viajar nos mistérios de mim.

O amor

Eu quero dizer redondeza... E calar qualquer outra palavra que não seja redondeza. Em várias entonações e eu fluindo rio abaixo, correnteza acima; ventando carinho e investigando redondeza. Aonde moram os outros? Qual a cor daqueles olhos castanhos? E o espasmo entre as ruelas são naturais? Não - estou pacífico demais e nenhum lugar me habitará. Sou-me escravo dos desejos encontrados na redondeza que, concretamente, não existe.
Mas ele. Mora lá. Eu o vejo caminhando no sentido da construção que postula aquele lugar. Mora em todas as travessas, ruas, avenidas, casas, relentos, calçadas, marquises... Mora também, o seu tormento. Mas, onde mora melhor é em mim...
Minha luz vive acesa para tentar a mais vil das seduções. Mas qualquer encontro é puro carinho. Vai até a deixa dos melhores poetas e nós, juntos, dançamos esse exercício sem clareza: uma quase arte refletindo seus olhos que calam nossas bocas. Girando girando girando. Pairando pairando pairando. Entre nós, a confusa necessidade de muita gente. Girando girando girando. A redondeza também traz amigos. Nos vestimos de preto para a moderna forma de ser. Não tenho casa. E minha luz vem do sol. Meu mundo é de mar. Meu tempo é desespero. Anda recortando e relembrando todas as redondezas onde estive. Sangro como o mais dramático; me salvo como o mais pragmático; respiro nesssa tentiva de tê-lo através da escrita. Poesia? Nele a certeira poesia e eu sou menor.
O que contarei para alimentá-lo no quadrante de mim? Para viabilizá-lo entre as florestas do meu sonho. Isso que tenho de maior desejo. Não sou daí mas o busco aí e meu semblante amadurece sem companhia.
Naquela rua da concreta poesia que desafia a imaginação, subverte a proteção, esvai composições de vida; tudo numa pergunta indevida: em que redondeza eu ei de encontrá-lo? Girando girando girando. Motores na falta de silêncio, asas em sua configuração... Nascentes da infância. Mora, também, felicidade ali. Muito conflito. Pairando pairando pairando. Ele morando em mim. Meus erros de português e meu charme raro vernacular. Buscando cama e sentido num espaço que dentro em breve, para mim, não mais existirá.

O impossível carinho





Escuta, eu não quero contar-te o meu desejo
Quero apenas contar-te a minha ternura
Ah se em troca de tanta felicidade que me dás
Eu te pudesse repor
- Eu soubesse repor -
No coração despedaçado
As mais puras alegrias de tua infância!

Manuel Bandeira


P.S. - mais um poema para eternizar a poesia em minha vida. Mais uma vez: Claudio Leal. Leiam, eu sou daquele jeito naquela ânsia.




Ao alcance e tão distante


Bem ali - ao alcance e tão distante - o mundo sem. Treze perguntas, sendo a última sobre amor, para atiçar a sorte. Ali - os sonhos se encaixando , assustadoramente, da forma mais correta. Tantas noções de uma realidade dura, de uma realidade linda. Esse instante do (im) possível lançado para amanhã. O dizer que se calou. Medo do provável. A palavra tocando imprópria a audição que nos olha para a admiração que deveria ser desejo.

terça-feira, 19 de abril de 2011

beleza pura

O mundo é assim: povoado.

Baby Consuelo

Baby
Consuelo
É incrível a força da Música Popular na vida dos brasileiros, na divulgação de ideias e costumes, na transformação de hábitos, no entretenimento, na nossa sociabilidade, na nossa crença e de modo mais profundo: no nosso pensamento e auto-percepção.
Cresci vendo e ouvindo Baby Consuelo; pousando meu olhar admirado em cima dela como figura exótica e mais ainda, como grande cantora. Sim, porque para mim, ela sempre foi e será uma grande cantora. Todo dia era dia índio, Telúrica, Emília Emília, Menino do Rio... Tantas outras canções que eu acompanhava das rádios. Vendo, era na Praça Castro Alves e ela única, absoluta, a voz feminina do Carnaval que, naquela época, era o melhor do mundo.
Baby traduz muitos sonhos pra mim. A voz dela me acorda o amor que sinto por ela e Caetano Veloso, que juntamente com a eterna Gal, eram os mais adorados por mim. Além de Clara Nunes, é claro! E eu só tinha 10 anos. E sonhei muito além, demais, para a composição da minha existência; sonhei muito para o tamanho do meu talento, para o que eu poderia realizar e conquistar por mérito. Foi assim. Dizem que Baby anda louca, mas ela não sai de mim; ajudou Caetano a me educar artisticamente. Vivo de saudade dela e fico triste com sua ausência do lugar que eu acho que ela mereceria ocupar.
Baby sinaliza a minha fidelidade, o meu amor por algumas figuras tão distantes mas que habitam minha alma.
Este texto é para registrar amor. Olhando a cara de Caetano Veloso e ouvindo a exagerada, em partes equivocada, canção Todo dia era dia de índio, na voz doce sensorial materna nativa de nossa Baby Consuelo, que nunca deixou de ser do Brasil.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Onde está você, Iemanjá?


Publicado originalmente na França, alguns anos atrás, Onde está você, Iemanjá?, de Leny Werneck, chegou ao Brasil este ano, pelo selo Galerinha, segmento infantil da editora Record. O livro conta ao público infantil sobre a magia das festas e tradições brasileiras e a influência da cultura africana na formação do povo brasileiro. A personagem principal da história é a menina Camila, que mora em uma ilha e espera encontrar Iemanjá na noite do Ano Novo, quando tradicionalmente milhares de pessoas depositam flores na água para saudar, agradecer e pedir proteção para a orixá rainha de todos os mares.

Enquanto os adultos organizam a festa do Reveillon e as oferendas, Camila sai em um barco, em busca de Iemanjá. Para criar um clima ainda mais onírico, o livrinho é ilustrado pelo artista plástico francês Philippe Davaine, que viveu em uma ilha parecida com de Camila e conheceu diversas tradições de culto a Iemanjá no litoral brasileiro. Essa obra encantou o escritor baiano Jorge Amado. Sobre o livro, ele disse: “É a magia do Brasil que encontramos no olhar de uma menina na véspera do Ano-Novo, dia em que todos fazem festa à deusa Iemanjá… Leny Werneck é uma benfeitora: ela oferece às crianças a medida do mundo e a visão da beleza”.


Onde está você, Iemanjá?

Autora: Leny Werneck

Ilustrações: Philippe Davaine

Grupo Editorial Record/Galerinha Record

32 páginas

Preço sugerido: R$ 37,90


Retirado do A Tarde On Line :

http://literatura.atarde.com.br/?p=418

Sem previsão


Como se a saborear a fonética da palavra quimera. Sem entendê-la. Deixá-la sobre a mesa para contemplar como melhor prato e ir comendo-a para dentro do seu doloroso significado. Devorá-la antes de qualquer compreensão. Ultrapassar os arredores que formam a prisão e ir para onde de impossível quimera fosse possibilidade. Mesmo que sem previsão. Possível - na mesa na cama na mão; possível por entre os dentes, com gosto de pera e música...
Como se a divagar o sentido do étimo quimera e doer na sede do não acontecer. Como se sobreviver na ideia do amor imorredouro irrealizado para sempre. Como se viver sem corpo nos passos de uma palavra sustentada de eternidade e fenecer. De desilusão a cada amanhecer que se chega como epifania trágica: o futuro que não há e nem se quer...
Como se desejar lamber a quimera, excitá-la e alterá-la... Fazê-la florescer amor nas raias quentes da poeta dos anjos e parar o tempo, secar os anos, viver o momento que foi encontro, sonho, necessidade.
Como se tudo estivesse para chegar, o coração tranquilo, o corpo ajustado, a alma grande e a casa arrumada; a cama vasta à espera do que viria. Viria sim. Mas sem previsão.

domingo, 17 de abril de 2011

João Jardim


Ele sempre me consome. Abre-me janelas que dão pro corpo, me ensina a ver o mundo e se incrusta na minha alma. Além das didáticas: o dia pode nascer feliz com uma menina poetando no sertão pernambucano e eu sonhando em voltar a fazer educação.
Ele me consome com sua simplicidade que capta a ininteligibilidade do mundo, faz uma espécie de filosofia pra gente, quase compõe canções. Consome quando olho para ele através dos filmes dele que me dão encanto. Consome do centro da sua imagem aos arredores do humano, na coisa Essa cara, do Caetano, meu poema exposto Antonio Cícero, o conflito das naturezas no mais que tudo: a beleza nascendo dos olhos do cineasta.
Ele é todo ali. Aparentemente tranquilo, numa quase devassa, querendo descobrir ou melhorar o mundo; numa denúncia poética da emoção nos fazendo enxergar sem olhos... Nos fazendo sentir na difusa realização da sua arte. Nele - uma aparente assepsia reinstaura-nos na frugalidade que salvaguarda a poesia no mundo. Simples como falar de amor. Simples como buscar amor. Às vezes, doído como não encontrar amor.
Ele, o cara. Uma das caras mais lindas, por trás das câmeras, do cinema mundial.

O poço

O poço abastece
contra a sede e
assanha a vida...

Suas águas refletem
outro estar das almas;
animam o mistério
fazem levantar a saia.

O poço não tem fundo
e não tem procura
e não tem desejo...

Mera superfície
contra imundícies
que o matam.

O poço é sagrado
e indefeso;
molha a genitália
faz abrir a boca...

Às vezes seca a roupa
noutras, pirraça;

O poço é de casa
invadido pela rua;

O poço abre a sala
assiste TV e não crê:

Ele ainda existe?

sábado, 16 de abril de 2011

Cabíria

Giulieta Masina


"Aquela cara é o coração de Jesus"



Cabíria. Mesmo quando eu não vi, eu vi. Lágrimas transmutando-se em sangue nessa história da vida a discordar do seu maior sentido: amor. Negar. Das roupas pretas à cara coração de Jesus e a existência a investigar as várias formas da solidão. O medo era fotografia: eu não vi; senti os dentes e o escárnio. Me perdi entre o pedido veemente e os olhos de beleza e dor de Cabíria... Era a tela ou eram nela os meus próprios olhos? Deserção - momento que cinema é só sofrimento e a gente não para e segue por entre os espinhos que vibram assim.
Aquela cara coroa todas as dores e é a mais linda no desenho delicado dos mestres. Segmento da grandeza de uma atriz - ou será a estúpida beleza da puta em cenas da alma que pede?
Cabíria, eu não vi. Há tempos que não consigo alcançar o peso inexato das melhores narrativas. Perdão, eu não vi. Meus olhos estão presos ao antídoto contra a eterna novidade. Minha alma não se atiça e vaga sem piedade entre os moldes medíocres do bem-estar. Me falta tanto você. Cabíria Masina na beleza estranha da canção e na película que não consigo ver.

Da paixão


Porque não estava escrito em lugar nenhum, ninguém acreditava e nem ao menos supunham; era a zebra dos domingos na TV, era o aceno do mendigo debaixo da janela pedindo pão, era a mulher sem útero querendo engravidar, era o corpo morto tentando respirar mas... Ali existia. Do jeito que se queria - existia. Vidas entremeando desejo receio paciência em nome do mistério que trazia amor. A violência era o tempero do tempo desacelerando. O encontro cheirava a rosas amarelas e tinha tonalidades de cinza na espacialidade discreta que abrigou dois corpos vertendo líquidos e excertos literários, poemas de Hilst Rimbaud Pessoa.
Eram dois olhos se comunicando. O resto era volúpia. A boca recepcionando a vida que em outros dias custou demorou acontecer.
E um, abraçando as costas do outro, falava, ao ouvido, letras de canções indecentes para piorar a inexistência de pudor entre os dois... O mundo fervia e produzia cenas que alimentam a ideia do melhor viver: gozo.
Nunca antes escrito ou dito entre humanos.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Maria Bethânia e Pierre Gillet: o belo está no mundo

Pierre Gillet - e ela, Maria Bethânia, ao fundo

Maria Bethânia navega o mundo; sua voz singra os oceanos das línguas e aporta no peito, nos sonhos, nos instrumentos, nas vozes, na melodia, na música, na poesia de quem faz canção... A internacional brasileira que não se cansa de ser Brasil.


Pierre Gillet é um jovem músico belga, profundo conhecedor da música e da cultura brasileiras, filho de pai nascido no Brasil, uma espécie de ser universal, de livre trânsito em nosso jeito de ser, orquestrador de sonhos, atiçador de sonoridades que vão do chorinho ao jazz estadunidense, passando pelo fado, até atingir a minha Maria Bethânia, a quem ele reverencia como uma das mais altas expressões musicais brasileiras.


Esta postagem é um ensaio imagético da mais representativa beleza e minhas palavras meramente noticiam. Ave o que vemos e o que ouvimos!

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Água viva


Falta de arbítrio.
Lonjuras decifráveis para um perto que não existe.
O medo a galope à espera da sorte.
Lindos sorrisos.
O encontro em cima da mesa.
A beleza ilumina.
Meu signo combina com o seu.
Então: vamos ao mar.

O célere

Ele disse:
- Eu quero chegar. Me liga?!
Foi ótimo pra nós dois.

terça-feira, 12 de abril de 2011

Mãe


Ainda que me pergunte da falta que me faz, e que elimine culpas, e me acerte com a dor, anteveja o tempo na duração de 16 anos, perfaça o caminho dos fortes, supere as mentiras com a verdade, segure a mão do amor; ainda que tenha muita leitura e que saiba desbravar o mundo à procura dos meus sonhos; ainda que escreva - nunca saberei traduzir o vazio impresso na falta da minha mãe. Nunca flanarei por sobre o desleixo de perdê-la, nunca saberei realmente o que sou eu sem tê-la...
Envolto nas sombras das minhas palavras; mergulhado no sonho etéreo da eternidade; aguçado pela esperança da delícia sangria fome satisfação do reencontro. Mãe. Sem tamanho nem composição bastante. Eu - o que não sabe superar. Escrevo neste abril sempre com medo; este abril que fecha... que venta clandestinamente, acorda os fantasmas na memória das minhas perdas. Abril que a deglutiu e deixou de ser um mês para mim. Não gosto das rosas de abril. Meu perfume, nele, é sempre o mais leve... me torno assexuado, mais medroso, cansado e as pessoas não me notam.
A falta é uma discórdia profunda entre a boca e o estômago e concorda com a lentidão dos anos para quem vive de saudade sem compreendê-la.
A falta combina com a alma e retrata às avessas o sentido que o amor dá.
Mãe é assim: o sentido mais fecundo na possibilidade do amor humano.

Carlos Barros: a Bahia na Bélgica

Carlos Barros e Banda do Céu

Marlon Marcos
jornalista e antropólogo ( publicado em A Tarde, Caderno Dois+, em12 de abril de 2011)

Uma voz orquestrada, a favor do exercício musical, pode fazer desenhos que revelam inteira uma cultura, apresentando, explicando, reformulando, interagindo ou, simplesmente, fazendo com que o outro frua e se divirta com a evolução cênica e sonora de um show em movimento. Foi assim. Carlos Barros e a sua impecável Banda do Céu ocuparam elegantes salas em Bruxelas e Liège, na Bélgica, para contar a belgas, e a outras nacionalidades em trânsito naquele país, o que a Bahia tem em poesia e inventividade.

Num total de seis apresentações, sendo cinco em Bruxelas, e uma em Liège, a Música Popular Brasileira entre os dias 17 e 27 de março, singrou a cultura belga dialogando com esta, em inglês, francês, português e iorubá, através do canto afinado doce representacional do baiano Carlos Barros. Remetendo-se aos nossos monstros sagrados, Gilberto Gil ( este foi louvado em todas as apresentações), Dorival Caymmi, Maria Bethânia, Caetano Veloso, Daniela Mercury e Gal Costa ( sempre homenageada com a canção Trilhos urbanos, de Caetano), somando-se aos ricos e inventivos arranjos da Banda do Céu, os nossos meninos perfilaram a beleza e os acertos que nós baianos temos ( e oferecemos) quando a questão é arte e entretenimento.

Carlos Barros é um jovem cantor, produtor e intelectual que pesquisa a nossa música; lançou há dois anos o belo CD Cantiga Vem do Céu, com um repertório arejado, inédito e reverente ao melhor da música popular. É bem acompanhado pela Banda do Céu, formada pelo baixo de Alex Medrado, da guitarra e violões de Pedro Ivo Araújo, dos teclados de João Carlos Campos e da iluminada bateria de Marcus Lima.

Cantor e banda viajaram a convite da cantora e produtora portuguesa Cristina Rosal ( radicada há 20 anos na Bélgica) através de sua empresa de produções artísticas D’arte, para as apresentações que aqueceram o frio de início de Primavera na Europa, e puseram platéias inteiras para dançar de Aquela do Brasil a Sonho meu, festejando a vida naquele jeito que sempre incrementamos quando chega fevereiro.

De fato, às vezes, só de longe para se ter uma real dimensão da grandeza do que a Bahia e o Brasil produziram, e graças aos orixás, ainda produzem em termos de música. De lá, entre belgas franceses portugueses alemães brasileiros, sentindo frio e saudade do sol, a voz expressiva de Carlos Barros nos colocava no centro profundo do nosso orgulho de ser baiano e de pertencer a esta musicalidade.

As duas apresentações no The Music Village expressaram e confirmaram o talento e a habilidade dos músicos em evidência. A sala é um sítio, como dizem os portugueses, dedicado a receber artistas do jazz mundial e de apresentar aos belgas amantes da boa música, o que de melhor circula pelo mundo. A platéia ficou embevecida com a execução de Trilhos urbanos, O mundo é um moinho, Modinha para Gabriela, London London, Touche pas à mon pote, Jack soul, Língua, entre as consagradas; vibrando também com as inéditas Chumbo, um sambinha delicioso do baiano Harlei Eduardo e Brisa Morena, de Marcus Lima, entre outras.

As outras salas: o Bouche- à- Oreille, o Restaurant Cravo e Canela, em Bruxelas; em Liège, a belíssima La Mi Lune. Em todas, a receptividade foi tradutora do talento dos artistas e do desenho cultural da Bahia e do Brasil feito de música, poesia e dramaticidade. O Cravo e Canela é um restaurante de brasileiras que vivem em Bruxelas; foi lá a última apresentação do show internacional Cantiga Vem do Céu, e a festa foi arrebatadora como só são as festas promovidas pelos brasileiros. A Bahia em especial.

Intimamente, minha cabeça ficou a imaginar meu sonho feliz de cidade: a voz de Caetano Veloso no meu ouvido; o show Solar, de Cláudia Cunha; a imensidão da voz de Stella Maris; a maestria de Tiganá Santana; a lindeza de Juliana Ribeiro... Ah! A poesia da Bahia.

E a possibilidade de ver Maria Bethânia recitando os nomes que dão sentido a minha vida e que podem educar este país. A poesia sendo discutida, agora, por conta do dinheiro quando não há preço; que belo e honesto projeto “O mundo precisa de poesia”.


segunda-feira, 11 de abril de 2011

Bono


Algumas marcas que enobrecem o humano.
O belo como expressão plena.
A beleza acima de qualquer aresta.
A vontade eterna de estar em outros.
Uma espécie de sonho na realidade.
Música transcendental.
Deus existe.
Deus de óculos escuros
Enxergando o mundo.
Deus cantando e dançando.
O homem que cria humanos.
O rock salvando.
A pele trans-racial.
Brado selvagem.
O animal.
O ímpeto entre
Sexo e zelo.
Desejo abrigando.
Rotas do dinheiro.
O outro chamando.
Ouvidos atentos.
Braços e mãos
Tocando
Na carne do mundo...
A fraternidade quase irlandesa.

domingo, 10 de abril de 2011

Muito romântico

Ao longe, a voz de Caetano, como se estivesse me abrindo portas, entoava faço no tempo soar minha sílaba; e eu, menos inerência que aderência, seguia esse som naquilo que ele me dizia: manhã. Tanto menos para falar de poesia, eu precisava falar de amor. Essa sangria dentro deste palavrório, esta palavrinha amor, a partir de Caetano Veloso.

Portas para o desconhecido. Um vinho me embriagando no domingo chuvoso: experiência das piores. Mas o desconhecido. A camisa bela amarela para dissolver a sensação de vazio; para chamar o sol. O desconhecido traria algo de bom? No pior que eu sentia, tinha alívio na ideia da esperança no meu esperado bom... Ligar ou não ligar? Minha mais profunda confusão.

Se soubesse desenhar, um quadro eu faria a representar formas do desejo que me ocupa e numa árvore imaginária, numa rua de Amaralina, eu me exporia no quadro que pintei para falar de amor.

Tanto tempo brada dentro de mim. Eu sempre do avesso. Aquele poema de Hilst se tornou, em mim, ingênuo. Os ciprestes não me atraem e meu coração foi sangrado maltratado esquecido milhões de vezes... A voz de Caetano, logo Caetano, noutras palavras sou muito romântico.

Nenhuma porta aberta. O senão impõe-se como destino. Ah, se eu soubesse desenhar e pudesse morar em Nova Iorque. Se tivesse coragem de me largar para longe do esteio que me expulsa e minha cidade, eu com alguma riqueza, fosse a poltrona de um avião.

O rosto de Caetano, aquela imagem é manifestação de amor em mim; algo do que não se escapa e nem se quer escapar... Tudo que eu quero é um acorde perfeito maior.

Ao longe, a música acaba, e acaba minha alegria também.

Falaria de portas se elas hoje existissem, se se abrissem para levar-me ao encontro, se me ligassem ao sim da existência, se me pusessem na rota giratória do prazer acontecendo... Billie Holiday, como eu, gemendo em nome da fruição que, às vezes, chega sem dor.

sábado, 9 de abril de 2011

Incomunicável

No entanto, hoje, nada comunica. A luz está acesa em outro lugar. Muitas perguntas, esperas, sonhos mil, isso de querer dar e não, a poesia que salva e esgota, os filmes, a ideia do amor, uma força pra baixo, mortes desnecessárias, vidas oprimindo, a mentira, a verdade, a saudade, a cidade barulhenta, os projetos secando, fome e sede, falta de mar, o medo, a procura, o silêncio.
Hoje eu vi flores no jarro da casa de alguém; límpida visão de uma casa limpa tal qual seus donos. Flores amarelas intensificando os trovões em um sábado chuvoso e muita gente gritando. Vi - flores para ter beleza no dissabor - em tudo que me dói tem mãos e delicadeza. Hoje, terminei minha segunda leitura de Dois irmãos, de Milton Hatoum, e saí pensando na grandeza literária de uma tragédia; cotidiano humano, demasiado humano; a obra prima de um escritor manauara, insuportavelmente universal. Tá doendo até agora.
Dias que me tiram de mim, me roubam meu sábado, me levam a caminhos de paz com solidão. Outra manhã senão... Uma tarde de aula e isolamento... Atabaques sem acessar... A palavra de Gore Vidal apontando meu preço... Um vento quente tropical... Nada de telefonemas... Um perfume raro a favor da desesperança.
Hoje é fruto da tradição. Isis brincando no meu quintal a receber oferendas dadas a uma outra. Minha roupa branca manchada, calor no pensamento, vela apagando: o escuro de mim, bem ali, aonde eu mais me procuro.
Falas no que ouço dissabor, o retrovisor desalinha a paisagem: nada ficou pra trás. A palavra alicerça o grande mote. Flores amarelas naquele lugar a espreitar os meus tipos de morte.
Tenho lembranças de passarinhos vivendo em gaiolas. Uma música me acorda para doer ainda mais...
Minha vida, querido, não é nenhum mar de rosas; volta não, segue em paz...

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Chico e Gal: A mulher de cada porto



Não teria graça se a vida fosse toda essa beleza sempre. Mas, sem ela só a morte. E dentro dela essas coisas do se querer viver à frente. Em busca do amor que nunca deveria faltar.

Doc Bahia Mãe Menininha 2/2



2ª Parte

Doc Bahia Mãe Menininha 1/2



Algumas reflexões sobre a grande iyalorixá

Ao deus - despedida

Me pergunto a ti: qual era o teu trajeto?
Tu respondes a si: sem dados nem pistas.
Me lancei ao teu para ter-me em bússolas
Mas nos perdemos pelo brado das regras.
E tu me dizes: foi a minha natureza.
Então te digo: nenhuma perda tua se fará mais sentida.

terça-feira, 5 de abril de 2011

Paris

"Sei voar
E tenho as fibras tensas
E sou um".

Houve um pedido.
Descrito no mais íntimo desalinho de mim.
Outra expressão da ancestralidade...
E eu era ali.
Um negro em Paris.
Ruas a me assemelhar nelas,
Procura da Primavera que não haverá.
Eu ali no Café do Sartre,
Sem nada falar em francês,
Sendo o mais francês do lugar.
Vulto em navegação,
O que estava no outro
Era extremamente meu.
Aquela cidade foi minha,
Íntima alegria em fuga-cidade,
Íntima esperança de poder voltar.
Uma cidade no que anuncia
Morada, fantasia, realidade;
Deslumbre, estesia, impossibilidade.
Minhas asas sobrevoam ela.

Eu

meu outro nome é amor

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Em nome da poesia

Maria Bethânia
Maria Bethânia se ergue das grandes epifanias que a literatura lhe faz e as traz na voz para este mundo cada vez menos poético.

À espera de si mesmo

Marlon Marcos (Foto Ivan Messias)

Era para ser encantada


a espera de si mesmo...


Doce num vestir azul


caminhando somente


por onde o desejo fosse.


Eram passeios em rodovias etéreas


rasgando pistas


negando nomes


esquecendo gente.


Aquela vontade dormente


num corpo viajante;


sem muitas esperanças


e em muitas atrocidades...


O medo e o desalinho:


o vinho esparramado na única camisa branca;


a mão amassando


a última fotografia.


E no espelho:


nada de mim.

domingo, 3 de abril de 2011

Maria Bethânia: revelações que uma voz traz


Ninguém está acima do bem e do mal em nossas relações sociais; ninguém deve escapar da crítica e do controle sócio-político que defenda os interesses coletivos de um povo, de um país. Todavia, qualquer defensor dos interesses sociais e da receita que sustenta o andamento econômico de uma nação, não pode viabilizar, em nome de uma fiscalização estapafúrdia e daninha, o linchamento midiático, público e privado, de nomes que consagram a nossa cultura e que, do lugar que ocupam, fazem nascer possibilidades de um destino melhor para grande parcela da sofrida população brasileira.


Penso em Maria Bethânia. 46 anos de carreira impecável, se impondo contra os padrões da mídia que a ajudou a se consagrar como um mito contemporâneo brasileiro. Uma mulher que estudou só até a antiga oitava série ginasial, e é considerada por intelectuais, como o baiano Paulo César Souza, tradutor de Nietzsche e Freud no Brasil, como um “gênio brasileiro”. Uma artista voltada a registrar em sua obra a poética popular de nossa inventividade e nos levar para o esquecido interior deste extenso continente, pautando a favor da beleza e da dignificação social: o negro e o índio, o caipira nordestino e os violeiros dos sertões; traz na voz a sonoridade genial de Roberto Mendes e as canções primorosas de Roque Ferreira. Ressignifica, ao adorar a memória de uma iyalorixá, a pluralidade sacerdotal neste país de tantas etnias e matrizes culturais diversas. Uma mulher comum no seu jeito cotidiano de ser e rara quando sobe num palco.Uma militante da palavra feito poesia. Aquela que, desde os 19 anos, mistura a aridez do sertão nordestino às águas salgadas do poeta Fernando Pessoa; a que espalha a genialidade em expressão feminina de Clarice Lispector à de expressão masculina de Guimarães Rosa. A que puxa um ponto de caboclo e sai com Melodia sentimental, de Villa- Lobos, sem adulterar nada nem ninguém. A cantora, no Brasil, que melhor singra os mares de qualquer poeta em língua portuguesa e canta a beleza como razão de ser.


Consagrada e bem paga como deve ser. Menos que Ivete Sangalo, Cláudia Leitte, Xuxa. Maria Bethânia é corpo integrante desta sociedade capitalista, que rima qualidade com valor de mercado, e para sobreviver, do alto da sua exigência artística, altivez existencial e ares de diva, tem que “saber cobrar, lucrar” para continuar no mainstream da Música Popular Brasileira e ter poder de captar recursos para espalhar a tal poesia que todos esquecem todo dia; lembram hoje , porque o belo projeto “ O mundo precisa de poesia”, que reúne outros monstros como Andrucha Waddington e Hermano Vianna, poderá custar 1 milhão e trezentos mil reais.O subtexto mais profundo é o de que poesia é das praças, dos bares, das ruas; que os poetas de verdade morrem como Castro Alves, Fernando Pessoa, Mário de Sá-Carneiro, Ana Cristina Cesar; ou seja, dão à poesia o lugar da miserabilidade, do tipo: Caio Fernando Abreu, em Londres, lavando prato, e na livraria em frente, seu livro Morangos mofados traduzido em destaque, e ele bem poético, sentindo fome e frio, em nome do tal heroísmo brasileiro.


Ou então, culpam Maria Bethânia por seu poder de barganha acima dos possíveis defeitos da Lei Rouanet; satirizam com projetos de outros blogs menos “caros”; ofendem, cretinamente, a artista como gananciosa e desonesta. Provando que, os fiscais desse Brasil não têm memória histórica e sensibilidade poética para alcançar as sutilezas deste projeto que são bem maiores que a quantia que poderá ser captada.


Sou fã de Maria Bethânia, me impressiono com sua entrega artística, a voz incomum, o trabalho de pesquisa, a beleza rascante anti-padrão, os ensinamentos antropológicos que me chegam a partir dos seus trabalhos e mais que tudo, me desequilibro com suas récitas louvando a língua portuguesa e que me ensinaram muito da poesia que me acompanha todo dia.Maria Bethânia se ergue das grandes epifanias que a literatura lhe faz e as traz na voz para este mundo cada vez menos poético.

sábado, 2 de abril de 2011

Ben Barnes

Bom dia, beleza!

Dorian Gray (Oliver Parker)


Não sei bem do filme. Gostei. Os aforismos perversos e lúcidos de Oscar Wilde colocando a gente diante da gente sem romantismos, cristianismos, cientificidades. Aquilo de todos na lama e ninguém a contemplar estrelas; eu disse: ninguém. Um ator lindo sendo o pútrido lindo quase o mais feio: Ben Barnes, a decomposição de nossas aparências e essências também. E Colin Firth, tão lindo quanto, estupendo ator, sendo o mais feio e apodrecido do filme.
O retrato de Dorian Gray, o livro, deixou em mim uma única assertiva- sentença: ou se é bom, ou se é artista... Por isso, perco-me sempre da grande poesia que mora em mim e vivo da minha promessa me sendo bom aos outros.

A montanha e a chuva



Daquelas narrativas que outros fazem mas são suas. Vêm, como vêm de dentro, a iluminar, relaxar e não, mas que tudo: a esmagar a vontade resquício de sonhos e desejos no pensamento. Aquela poesia gratuita porque o inteiro da gente que ama. Estou ali.

Jussara Silveira: sempre imperdível!


Toda elegância da mais doce diva da MPB.

Extrato de uma realeza encontrada no cotidiano da mulher.

Uma voz que consola a alma e embeleza os dias...

Presença imprescindível, espetáculo musical imperdível:

Jussara é puro alumbramento.