quarta-feira, 31 de março de 2010

Subitamente não

Era puro feitiço
Descrito nas linhas adornais
Daquela boca carnuda
Sussurrando não.

O Tigre


Tigre, tigre que flamejas

Nas florestas da noite.

Que mão que olho imortal

Se atreveu a plasmar tua terrível simetria ?


Em que longínquo abismo, em que remotos céus

Ardeu o fogo de teus olhos ?

Sobre que asas se atreveu a ascender ?

Que mão teve a ousadia de capturá-lo ?

Que espada, que astúcia foi capaz de urdir

As fibras do teu coração ?


E quando teu coração começou a bater,

Que mão, que espantosos pés

Puderam arrancar-te da profunda caverna,

Para trazer-te aqui ?

Que martelo te forjou ?

Que cadeia ?

Que bigorna te bateu ?

Que poderosa mordaça

Pôde conter teus pavorosos terrores ?


Quando os astros lançaram os seus dardos,

E regaram de lágrimas os céus,

Sorriu Ele ao ver sua criação ?

Quem deu vida ao cordeiro também te criou ?


Tigre, tigre, que flamejas

Nas florestas da noite.

Que mão, que olho imortal

Se atreveu a plasmar tua terrível simetria ?

William Blake

Caetano confirma ideia de produzir novo disco de Gal Costa

Caê
Gal
Claudio Leal ( Terra Magazine)
Uma noite de signos freudianos, em São Paulo, extraiu do compositor Caetano Veloso uma rara interpretação pública de "Mãe", gravada em 1978 pela cantora Gal Costa, no LP "Água Viva". A pedido de Paulo César de Souza, tradutor das "Obras Completas de Sigmund Freud" - lançadas ontem no Sesc Pinheiros pela editora Companhia das Letras -, Caetano venceu o tabu. Acompanhado pelo músico e ensaísta José Miguel Wisnik ao piano, entoou: "Palavras, calas, nada fiz/ Estou tão infeliz/ Falasses, desses, visses não/ Imensa solidão...".
Paulo César de Souza sorri ao justificar a escolha:
- Ele nunca cantou essa música, na verdade. Nunca o ouvi cantando. Sempre achei linda na interpretação da Gal Costa. Isso era um tabu pra ele. Nunca cantou nem em público, nem em particular para os amigos. Eu sabia que ele ia cantar "Pecado original" e perguntei: "E Mãe, nunca vai ter fim esse tabu?".
Como a canção o conduziu a Gal, sua maior intérprete, uma pergunta revolvia. Em recente entrevista ao repórter Marcus Preto, da Folha de S. Paulo (28/03), a cantora baiana revelou o desejo de voltar a ser produzida por Caetano em seu novo disco. Diretor de produção de "Cantar" (1974), ele expôs a ideia numa conversa na Europa. "Estou pronta. Espero o e-mail, o telefonema dele. Assim que ele disser que chegou a hora, eu vou", anunciou Gal. O disco deve ser editado pela Universal Music.
Questionado por Terra Magazine, Caetano Veloso chamou de "bonita" a entrevista da artista, mas não definiu um prazo para iniciar o projeto.
- É verdade, eu disse isso numa entrevista na América Latina, falei que tinha essa vontade (de produzir). Mas eu não sei ainda o que vou fazer. Tem que ver, pensar primeiro o que fazer.
"Até o fim dos tempos"
Na saída para o camarim, Caetano sentiu os ombros agarrados, dramaticamente, por uma senhora: "Como freudiana convicta, eu me sinto vingada! Obrigado por estar à altura da relevância desta noite", proclamou. Eu, hein, rosa! A abordagem acerta Nelson Rodrigues e bate na trave de Freud. E não faltou a "flor de obsessão" no lançamento das Obras Completas do fundador da psicanálise. Depois de cantar "Pecado original", encerrada com os versos "Mas a gente nunca sabe mesmo/ Que que quer uma mulher", o compositor relembrou um telefonema do dramaturgo, na década de 1970.
- Quando fiz essa música (tema de "A dama do lotação", de Neville de Almeida), eu fazia psicanálise no Rio com Rubens Molina. Neville fez o filme e me pediu. E um dia Nelson Rodrigues a ouviu e me ligou, com aquela voz: "Você há de brilhar como sol até o final dos tempos!" (risos) Eu falei isso para o meu psicanalista. Ele me disse: "É, você foi botar a frase de Freud...". Eu não sabia que era de Freud! Se o Rubens Molina estivesse aqui, ele não acreditaria. Eu também não acredito muito em mim mesmo, talvez eu conhecesse. Mas eu não sabia oficialmente que Freud tinha dito essa obviedade sobre as mulheres. Podia até conhecer, mas nunca tinha ouvido como formulada e creditada a Freud.
"Bem, Freud não gostava de música", brincou no início da parte melodiosa da aula-show de José Miguel Wisnik. Além de "Pecado original" e "Mãe", Caetano interpretou um poema de Gregório de Mattos (com música de Wisnik) e - por razões que o leitor e Édipo reconhecem - "Coração materno", de Vicente Celestino. A história do campônio virou um debulhar do mito.
- O incrível é que li uma autora, um livro sobre a presença opressiva da mãe na sociedade americana, e ela conta exatamente essa história (de "Coração materno"). Com queda e tudo. É uma peça do folclore americano. Quando eu estudei em Salvador, a minha professora, que hoje mora em São Paulo, Sulamita Tabacof, deu para a gente ler "Spartacus", que se envolve com Varinia. E lá está a história com queda, perdão e tudo.
Na letra, Celestino retoca a maldade feminina: "Se é verdade tua louca paixão/ Parte já e pra mim vá buscar de tua mãe inteiro o coração". Wisnik lembrou que o professor Antonio Candido remetia essa narrativa edipiana do coração da velhinha a tempos anteriores a Spartacus. "Freud tomou a forma de romance. Com o século 19, mito é romance", Caetano explica.
Traduções
Tema do encontro, a tradução dos ensaios de Freud foi analisada por Paulo César de Souza e José Miguel Wisnik. Há 25 anos, Souza realizou a sua primeira versão de um texto do austríaco. "A Transitoridade", escrito de 1916, foi lido na abertura do evento, para oxigenar o mergulho psicanalítico. Inconscientemente, a publicação desse artigo, na Folha, representou o gérmen do trabalho de verter as obras completas para o português, em 20 volumes. Sua tese "As Palavras de Freud", defendida na USP, ganhou uma edição da Companhia das Letras.
- Freud usou palavras da língua alemã comum, não usou palavras de contexto mais intelectual e filosófico - analisa Wisnik, citando os termos "id, ego e superego". - Elas se consagraram e ganharam presença na linguagem comum.
Para Wisnik, "existe um trabalho de nomeação em Freud que está em processo. As palavras não estão dadas de antemão". O ensaísta usou trechos dos escritores Machado de Assis e Gregório de Mattos para ilustrar os conceitos de inconsciente e de chiste.
Na plateia, a escritora Lygia Fagundes Telles, o psicanalista Contardo Calligaris e os editores Luiz Schwarcz e Maria Emília Bender. O cavalheiro tem razão: convém reforçar a presença de uma freudiana convicta, muito grata a Caetano.

terça-feira, 30 de março de 2010

CAETANO IRÁ PRODUZIR ÁLBUM DE GAL COSTA

ROLLING STONE - Caetano Veloso poderá produzir o próximo álbum de Gal Costa, segundo informou o jornal Folha de S. Paulo neste domingo, 28. O cantor e compositor já havia produzido Cantar, disco da cantora lançado na década de 70. Gal contou que Caetano disse ter interesse em produzir seu próximo disco em um encontro recente dos dois, na Europa. "Estou pronta. Espero o e-mail, o telefonema dele. Assim que ele disser que chegou a hora, eu vou", afirmou ao jornal. O último trabalho realizado pela dupla ocorreu em 1996, na trilha sonora do filme Tieta do Agreste, dirigido por Cacá Diegues.
Retirado do site da Globo FM de Caruaru/Pernambuco. Aguardo este disco com a ânsia de quem quer ser curado!

Fazedora de felicidade

Foto do Tio Anson
P/ Michelle Cirne
Ela trazia nos olhos o espanto frente ao mundo. Seu jeito calado de ser preservava seu mistério e continha o enorme desejo de aprender e ler as coisas que a vida oferecia. Um ser terrestre que inventava asas e se entregava ao novo.
Vestia-se de acordo às regiões e beleza não lhe faltava, estilo reinventava, nenhuma roupa lhe era mais forte. Luz dos seus olhos nos olhos de quem os fitava. Caramelo em verde esperança. Meia dança da espera e inteira serenata da concretização. Uma menina que lia a serviço da antropologia, mas o seu forte era o multidisciplinar, era a literatura. Sua música singrava a grandeza do seu país. E ela, cosmopolita do amor. Cidadã do Planeta Amor. Mulher quase descortinada se observada com afinco, com paixão. O seu abrupto era o seu delicado e a loucura batia sempre à sua porta.
Intrépida, percorria por dentro e por fora as possibilidades dos seus mundos. Não tinha tempo. Tinha o tempo da eternidade. Aprendeu a ser pela fé. E até rezava.
Mulher pisando a Terra. Mulher cultivando terras. Do modo mais simples, cintilava o criativo humano. Atraía homens pelo en-canto e era selvagem como os tigres. A mais linda das sereias. Aquela canção dos Beatles. Ritual profundo das percussões da Bahia. Poema angustiado à maneira de Ana Cristina Cesar. Fruto linguístico de Caio Fernando Abreu. Senhorita do Menino Deus. Inscrição ao cotidiano de qualquer lugar.
Mulher, senhora do mundo. Maestra, aprendiz das explicações. Poeta, escritora curadora das entrelinhas.
Um ser lotado de silêncio. Síntese lança do melhor que se alvejava. Humana demasiada humana. Nas linhas rascantes de Nietzsche.
Pássara das manhãs amarelas.
Voz doce nas tardinhas azuis.
O centro do mundo: em seu coração transcorria a paisagem absoluta do Porto da Barra, onde ela, só de brincadeira, insistia em se nos fazer felicidade.

segunda-feira, 29 de março de 2010

Gal Costa: voz universal da Cidade da Bahia

Gal

Costa
Aqui a sentença é a beleza de uma voz marcada e marcando um lugar. A poesia ecoando desmedida singrando do Porto da Barra aos mares mais distantes. Uma voz nascida da ideia humana de doçura, perfumando a audição do mundo, íntegra a grandeza épica de seu povo, a mais representativa de uma cidade; esta Cidade da Bahia de 461 anos que se tem em sua grande diva - recíproca gratidão -, luminária sonora a voz mais cristalina, o canto doce dos ventos nascidos nos arredores de São Salvador da Bahia de Todos os Santos.



Bahia minha preta
Como será
Se tua seta acerta o caminho e chega lá?
E a curva linha reta
Se ultrapassar
Esse negro azul que te mura,O mar, o mar?
Cozinha esse cântigo
Comprar o equipamento
E saber usar
Vender o talento e saber cobrar, lucrar
Insite no que é lindo
E o mundo verá
Tu voltares rindo ao lugar que teu globo azul
Rainha do Atlântico sul
E ô Bahia, fonte mítica encantada
E ô expande teu axé, não esconde nada
E ô teu canto de alegria ecoa longe, tempo e espaço
E ô rainha do Atlântico
Te chamo de senhoraOpô, afonjá
Eros, Dona Lina, Agostinho e Edgar
Te chamo Menininha do Gantois
Candolina, Marta, Didi, Dodô e Osmar na linha romântico
Teu novo mundo
O mundo conhecerá
E o que está escondido no fundo emergirá
A voz mediterrânea e florestal
Lança muito além a civilização ora em tom boreal
Rainha do atlântico austral
E ô Bahia, fonte mítica encantada
E ô expande teu axé, não esconde nada
E ô teu canto de alegria ecoa longe, tempo e espaço
E ô rainha do Atlântico
E ô... Bahia, minha preta,Como será?
Caetano Veloso


Salvador: o canto desafinado da cidade de 461 anos






Seria para exprimir a beleza que as suas águas marítimas traduzem; ou mais ainda, falar dos componentes complexos da cultura erigida a partir dos lusitanos, de muitas etnias africanas, de tradições indígenas dando nisso que simbolicamente compomos: baiano. Mas não, estamos na berlinda de nós mesmos lotados de problemas sócio-existenciais e sem capacidade criativa de resolver tantos entraves que, além de nos massacrar economicamente, aumentando violência, sujeira, crises contínuas na saúde, deseducação, corrupção, falta de moradia, racismo, intolerância religiosa, homofobia, experimentamos a frouxidão dos nossos propósitos artístico-culturais e invalidamos irresponsavelmente o legado de mestres e do povo que fizeram da Bahia a face viva de uma luso-africanidade expressiva e culturalmente exemplar para todo o Brasil.
São 461 anos desta Cidade da Bahia, lugar que amo e que sempre me abrigará como nenhum outro, terra fustigada pelos maltratos de governâncias e elites econômicas que nos arrancam o melhor da nossa tradição popular, inviabilizam o poder da diversidade incrementando a cultura, respeitam tão somente a lógica mercadológica e empurram como novo velhos valores sociais que garentem aos machos brancos católicos a hegemonia no comando das coisas daqui. E também, quando apresentamos "avanços" são leis geradas pelo ódio interracial entre brancos e negros, discursos severos contra o encontro verdadeiro entre humanos, tratados contra o casamento interétnico, negação do outro por interesses políticos, financeiros, prestígio e expurgação psicológica: alivar em si a dor de existir do jeito do qual não se pode escapar e como alternativa, transformemos em inimigos tudo que não for "eu".
Quero abraçar a poesia negro-marítima desta terra, louvar assistindo a dança de orixás, caminhar por ruas mais limpas, pessoas mais honestas, mais educadas, solidárias, alimentadas, assistidas, instruídas, especializadas, amantes da Bahia mas universais. Quereria dizer: parabéns, Salvador! Com o amor que me ocupava há anos atrás. Hoje este lugar me silencia negativamente... Ainda resta beleza em poesia cotidiana mas aqui o que vence é inoperância, repetições, preguiça, casuísmos, clientelismos, sexismos, incompetência e arre, o estrelismo generalizado de esquizofrênicos sociais que não sabem o que fazer a não ser derrubar, espezinhar, humilhar e negar a quem não lhes convier. Cidade em desinteria: muita merda rala; o esforço maior é tornar merda mais dura, as coisas menos confusas e se achar reinventores da civilização.
O Rio de Janeiro é mais bonito, São Paulo é a cidade necessária, Recife cada vez mais criativo, mas nada me tiraria de Salvador se nós não ficássemos a dar lucro ao minímo e aos mesmos, cristalizar discursos, oferecer o caquético como novo, matando jovens negros pobres, desrespeitando-se religiosamente e sem entender o que fomos e como podemos ser melhores para nós mesmos antes de servir reptilmente aos outros. Quero uma cidade verdadeiramente altiva e não arrogantemente ensimesmada para esconder ignorância, fraqueza, desonestidade, inoperância, preguiça e incompetência.
O nosso canto, que tanto iluminou a outros e a nós mesmos, cada vez mais desafina e em síntese somos hoje uma récita musical comandada pelo talento de Cláudia Leitte...
E matamos a memória de que na Cidade da Bahia, em 1945, nasceu Gal Costa - voz sagrada que perfila tudo o que fomos e ainda indica o que podemos ser... Trajetória de uma vida que vacila mas se eterniza como glória pelo talento somado ao trabalho e ao querer.
Tomara que a experiência de 461 anos mais a dor de estarmos assim nos façam melhorar; no entanto, para Salvador, só a sua parte marítima, antes da ponte, merece parabéns!

Ricky Martin: " Eu sou gay"

Finalmente livre de vãs especulações

"O cantor Ricky Martin resolveu, finalmente, sair do armário. Em um belo texto publicado em seu blog nesta segunda-feira, 29, o artista porto-riquenho disse que a decisão de abrir sua homossexualidade para o mundo veio depois da ideia de escrever suas memórias. O projeto, segundo Martin, acabou aproximando-o de suas verdades e revelando-se uma forma de "se livrar de coisas que vinha carregando há muito tempo, coisas que pesavam demais". O ex-Menudo contou que muita gente de seu círculo social foi contra sua vontade de assumir-se gay, porque "não era importante fazer-lo, que não valia a pena, que tudo o que trabalhei e tudo o que havia conquistado seria destruído". Ricky Martin confessou que se deixou seduzir pelo medo e acabou sabotando a própria vida. O processo de autoaceitação foi "intenso, angustiante e doloroso, mas também libertador", escreveu o cantor. "Cada palavra que estão lendo aqui nasce de amor, purificação, aceitação e desprendimento. Escrever essas linhas é a aproximação da minha paz interna, parte vital da minha evolução. Hoje aceito minha homossexualidade como um presente da vida. Me sinto abençoado por ser quem sou", finaliza.Há anos Ricky Martin era alvo de especulações sobre sua sexualidade. Ele é pai solteiro de dois gêmeos concebidos com a ajuda de uma barriga de aluguel. As crianças estão hoje com 1 ano e meio. "
P.S: Retirado do http://www.mixbrasil.com.br/ (visite)

domingo, 28 de março de 2010

Gal Costa: musa de qualquer geração

Gal na Morada dos Cardeais ( São Salvador da Bahia)

MARCUS PRETO
ENVIADO ESPECIAL A SALVADOR (BA) (Folha de São Paulo)
No meio da década de 1970, Gal Costa estava em processo de transição. A estética experimental e psicodélica que pontuou seus primeiros álbuns solo já se esgotava, abrindo caminho para que a "grande cantora", em termos técnicos e formais, tomasse a cena.São desse período os hoje clássicos álbuns "Índia" (1973), "Cantar" (1974) e "Gal Canta Caymmi" (1976), que renderam então encenações igualmente antológicas. Pois os áudios originais desses shows acabam de ser descobertos nos arquivos da Universal, estão em fase de tratamento e devem ser editados em CD no próximo ano.Quem encontrou o material foi o pesquisador Rodrigo Faour, que buscava faixas raras da cantora para compor uma coletânea.
"Acho que ainda tem mais coisa por lá. Estamos investigando a possibilidade de um quarto show no pacote."Musicalmente, o material é impecável. "Índia", o show, tinha direção musical de Gilberto Gil e uma banda que incluía Dominguinhos, Toninho Horta, Chico Batera e Robertinho Silva. "Cantar" unia Gal e João Donato em uma série de duelos memoráveis que a cantora nunca registou em disco.A versão ao vivo de "Gal Canta Caymmi" é especialmente impressionante. Foi registrada, segundo Faour, na estreia do show, no Palácio das Convenções do Anhembi (SP).
Gal divide cena com Dorival Caymmi (1914-2008) -o que torna a descoberta ainda mais valiosa.Gal ainda não sabia da existência das faixas quando recebeu a Folha no apartamento onde mora, em Salvador.Lembrou-se de que Caetano Veloso queria dirigir "Índia", o show e o disco, em 73. Mas não conseguiu sair da Bahia. "Acho que a preguiça pegou ele", disse. "Mas mandou ideias numa fita cassete. A inclusão da canção "Índia" foi sugestão dele."Contou também que "Drume Negrinha" foi feita por Caetano especialmente para Gal apresentar no show "Cantar". "Era homenagem a Preta [Gil], minha afilhada que tinha acabado de nascer."É essa mesma música que Gal, 64, canta hoje para ninar o filho Gabriel, 5, adotado em 2007.
"Adoro cantar para ele dormir", diz. "Meu canto fica tão puro que volto para o começo, revisito meu passado, a infância, revejo minha mãe.""Não sei como é parir um filho, mas entendi que isso não importa", diz. "Ele me rejuvenesce a cada dia e toda essa transformação certamente vai aparecer na minha música."
P.S.: Retirado do Blogbar do Fontana. Deverá ser diamante sonoro puramente lapidado.

Emília em mim


Viver era imaginar. Adquirir poderes mágicos. Nunca crescer. Ser feliz era estar à luz do Sítio do Picapau Amarelo e enfrentar delícias que a imaginação trazia. Toque de mágica: pirlimpimpim... E eu na floresta amazônica; pirlimpimpim: eu sobrevoando o céu de Paris; pirlimpimpim: o mundo adulto dominado pela magia do sonho e eu queria nos fazer bem. Excesso de tudo no querer ter/ser: Emília, meu maior símbolo de inteligência até hoje. Ela feita de pano e cantada por Baby Consuelo... Rainha das minhas fantasias infantis e com ela aprendi que se podia fazer planos... Com ela eu juntava isso de razão com aquilo de emoção e dava nela e dava em mim... Emília maravilha! Ali eu já era gente e realizar sonhos só era uma questão de ficar sozinho e dizer com força pirlimpimpim e o Universo me atendia.
Eu conversava com Emília e me confessava a ela. Queria ser jornalista, atleta, cantor, bruxa, americano, francês, nigeriano, rico, famoso, ator mirim global, escritor, contador de histórias, princípe árabe, Jorge Amado, Caetano Veloso, Gal Costa, rei da Inglaterra, super herói, deus grego, orixá mas... Mais que tudo eu queria ser/ter Emília. Pensar como um ser humano - o que me seria isso? Descobri que seria crescer e deixar de acreditar em pirlimpimpim. Emília era o mais que humano em mim. Coisas da minha poesia para Reinações de Narizinho. Descobria os livros - além de mim mesmo, minha eterna companhia - mas meu mundo mais encantado era de tardinha, pipoca com guaraná, na telinha da Globo, vendo o Sítio, não, vendo no íntimo de mim: Emília - meu gênio de pano.

sábado, 27 de março de 2010

Renato Russo: 50 anos

O silêncio sempre será maior e melhor para expressar intensidade...

Somos, como diria Clarice, aquilo que o impossível cria em nós.

Todo dia esperamos algo e algo nos espera.

O nome da intensidade sempre é o nome de algum ou alguma poeta.

Renato Russo cantou e escreveu partículas da minha emoção.

Há saudade dele desenhada no chão da minha gratidão.

Chorei tanto por tudo hoje visto daqui.

A precocidade desanima as coisas.

Escrever por um pouco de paz.

O poeta morto com menos de cinquenta anos.

O poeta vive e faz hoje cinquenta anos.

Quero calar esta tinta.

Minha vida sopra imensidões preenchidas de giz.

Eu te ouço. Tenho medo. Cerveja e. Adeus.

Dos sábados na minha vida


O dia mais reconfortante é sábado. Inclinado em mim a dançar celebrações. Dia mais sagrado. Dia mais profano. Recorte absoluto no meu cotidiano para exercer minha fé nas Iyabás. Nele tem amarelo, rosinha, branco,verde-água mas... É todo azul clarinho. Tem gosto de cerveja e moderação. Dia de encontros marcados e filtrados, cineminha à tarde, poemas matinais. Um pouco mais de cerveja e meu corpo em vestes brancas e flores pela casa. Sábado brilha sol sobre o mar da Cidade da Bahia. Vejo o lugar da Ilha de Itapirica, abro minha janela e me inspiro a sonhar para sarar alguns danos na constante esperança. Meu sábado sempre é dança diurna e noturna; eu até canto no dia para a vida, e à noite para os Orixás. Quase sempre desfio um tal sabor de uma tal felicidade e nenhuma saudade me dói quando é sábado. Tenho domínio das tonalidades e oferto cores a todos do meu convívio. Rezo pelo mundo também. Tenho o mais preciso dos risos, flutuo feito pássaro, surfo em meu mar interno, aciono meu vento em minha asa delta e abraço. Sou todo abraços sob o sol dos sábados na cidade em que nasci.
Sábado é este mágico dia dos ritos Odô Iyá. Minha fortificação e eu canto em minhas vestes azuis verdinhas. Sei das guerras no sábado também. Não abandono meu alfange neste dia. Mas o seguro com a delicadeza das crianças e sinto a vida como se dormindo bem protegido sob a égide da energia feminina que comanda a minha existência. E quase sempre sonho pois é sábado.

sexta-feira, 26 de março de 2010

Deste lugar


Cada um de nós está no seu lugar, eu me submeto bem ao meu lugar.
Clarice Lispector
Um livro resumido a uma página. Mil perguntas vãs, certezas em desperdício,vontade de gritar o nome; lugar sem seguridade; instância inócua de uma escrita imprecisa sem rota sem hora sem destinatário... Livro em suspeição beirando a maldição do barulho. Muita reflexão. Raios cruéis da razão postulando o óbvio cotidiano. O mundo acima de pesado. Barulho. Era dele a palavra mais suave. Os dias de sol e frio. O frio da alma sem nunca se aquecer. O desajuste. Corpo sem espaço numa língua que corta a própria carne. A consolidação da solidão. Deixa diurna para textos teatrais. O sexo à margem na calada das noites. Ensaios acadêmicos. O mundo tosco girando absoluto contra o mundo inspirado. Silêncio indesejado. Página branca da saudade. A vida lânguida pedinte e sem coragem. Danças eróticas vistas da janela. Sexo sem beijo na boca. A roupa que não veste. O corpo que não se despe. Teatrinho inglório. A esperança gastada. Os olhos dele eram do castanho mais nobre. Centro da doçura buscada. Olhos castanhos. Uma música arranhão da memória. Cantata repetida. A língua se autoflagelando. Caminhada e falta de respiração. Da ida nele a prisão... Nada de lugares cabíveis; nada de saber sobre o próprio tamanho... Tudo para o desajuste pois, a vida é muito além daqui e dali. Está por detrás de nós nos tendo junto na eterna primavera de alguma colorida paisagem. O livro em única página delatando a tônica da indelével saudade.
Marlon Marcos

Silêncio

Clarice

Clarice Lispector
É tão vasto o silêncio da noite na montanha. É tão despovoado. Tenta-se em vão trabalhar para não ouvi-lo, pensar depressa para disfarçá-lo. Ou inventar um programa, frágil ponto que mal nos liga ao subitamente improvável dia de amanhã. Como ultrapassar essa paz que nos espreita. Silêncio tão grande que o desespero tem pudor. Montanhas tão altas que o desespero tem pudor. Os ouvidos se afiam, a cabeça se inclina, o corpo todo escuta: nenhum rumor. Nenhum galo. Como estar ao alcance dessa profunda meditação do silêncio.
Desse silêncio sem lembranças de palavras. Se és morte, como te alcançar. É um silêncio que não dorme: é insone: imóvel mas insone; e sem fantasmas. É terrível - sem nenhum fantasma. Inútil querer povoá-lo com a possibilidade de uma porta que se abra rangendo, de uma cortina que se abra e diga alguma coisa. Ele é vazio e sem promessa. Se ao menos houvesse o vento.
Vento é ira, ira é a vida. Ou neve. Que é muda mas deixa rastro - tudo embranquece, as crianças riem, os passos rangem e marcam. Há uma continuidade que é a vida. Mas este silêncio não deixa provas. Não se pode falar do silêncio como se fala da neve. Não se pode dizer a ninguém como se diria da neve: sentiu o silêncio desta noite? Quem ouviu não diz. A noite desce com suas pequenas alegrias de quem acende lâmpadas com o cansaço que tanto justifica o dia. As crianças de Berna adormecem, fecham-se as últimas portas. As ruas brilham nas pedras do chão e brilham já vazias. E afinal apagam-se as luzes as mais distantes. Mas este primeiro silêncio ainda não é o silêncio. Que se espere, pois as folhas das árvores ainda se ajeitarão melhor, algum passo tardio talvez se ouça com esperança pelas escadas. Mas há um momento em que do corpo descansado se ergue o espírito atento, e da terra a lua alta. Então ele, o silêncio, aparece. O coração bate ao reconhecê-lo. Pode-se depressa pensar no dia que passou. Ou nos amigos que passaram e para sempre se perderam. Mas é inútil esquivar-se: há o silêncio.
Mesmo o sofrimento pior, o da amizade perdida, é apenas fuga. Pois se no começo o silêncio parece aguardar uma resposta - como ardemos por ser chamados a responder - cedo se descobre que de ti ele nada exige, talvez apenas o teu silêncio. Quantas horas se perdem na escuridão supondo que o silêncio te julga - como esperamos em vão por ser julgados pelo Deus. Surgem as justificações, trágicas justificações forjadas, humildes desculpas até a indignidade. Tão suave é para o ser humano enfim mostrar sua indignidade e ser perdoado com a justificativa de que se é um ser humano humilhado de nascença. Até que se descobre - nem a sua indignidade ele quer. Ele é o silêncio. Pode-se tentar enganá-lo também. Deixa-se como por acaso o livro de cabeceira cair no chão. Mas, horror - o livro cai dentro do silêncio e se perde na muda e parada voragem deste. E se um pássaro enlouquecido cantasse? Esperança inútil. O canto apenas atravessaria como uma leve flauta o silêncio. Então, se há coragem, não se luta mais. Entra-se nele, vai-se com ele, nós os únicos fantasmas de uma noite em Berna. Que se entre.
Que não se espere o resto da escuridão diante dele, só ele próprio. Será como se estivéssemos num navio tão descomunalmente enorme que ignorássemos estar num navio. E este singrasse tão largamente que ignorássemos estar indo. Mais do que isso um homem não pode. Viver na orla da morte e das estrelas é vibração mais tensa do que as veias podem suportar. Não há sequer um filho de astro e de mulher como intermediário piedoso. O coração tem que se apresentar diante do nada sozinho e sozinho bater alto nas trevas. Só se sente nos ouvidos o próprio coração. Quando este se apresenta todo nu, nem é comunicação, é submissão. Pois nós não fomos feitos senão para o pequeno silêncio. Se não há coragem, que não se entre.
Que se espere o resto da escuridão diante do silêncio, só os pés molhados pela espuma de algo que se espraia de dentro de nós. Que se espere. Um insolúvel pelo outro. Um ao lado do outro, duas coisas que não se vêem na escuridão. Que se espere. Não o fim do silêncio mas o auxílio bendito de um terceiro elemento, a luz da aurora.
Depois nunca mais se esquece. Inútil até fugir para outra cidade. Pois quando menos se espera pode-se reconhecê-lo - de repente. Ao atravessar a rua no meio das buzinas dos carros. Entre uma gargalhada fantasmagórica e outra. Depois de uma palavra dita. Às vezes no próprio coração da palavra. Os ouvidos se assombram, o olhar se esgazeia - ei-lo. E dessa vez ele é fantasma.
Clarice Lispector- "Onde estivestes de noite?" 7ª Ed. - Ed. Francisco Alves - Rio de Janeiro - 1994

quinta-feira, 25 de março de 2010

Beatles num céu de diamantes



Os diretores Charles Möeller e Cláudio Botelho acertaram a mão ao escolherem o elenco e a montarem o espetáculo Beatles num céu de diamantes. De fato, os "atores" em cena são cantores inteiros e quem os assiste e os ouve viaja em memórias profundas sob o delicioso legado musical deixado pelo quarteto universal The Beatles. Momentos para rir, para chorar, para cantar, para desejar, para sonhar, para interagir...Um musical direto ao coração, com cenário econômico e simples, que tem em seus cantores a força necessária a este gênero de espetáculo e que lida com absoluta intimidade com a música dos meninos de Liverpool e com a língua inglesa.
Assisti no Rio de Janeiro, no Centro Cultural do shopping Rio-Sul, um local improvisado como teatro, precisando melhorar muito... Mas o espetáculo nos transporta para o melhor que a vida artística nos pode oferecer e a gente desconsidera qualquer lugar, em beleza ou feiúra, e vive o que está em cena na rota de canções que desenham a emoção de qualquer amante de canções na Terra. Foi o melhor que vi na Cidade Maravilhosa na minha viagem desta vez! Imperdível - tragam Beatles num céu de diamantes pra Salvador. Por favor.

Do Azul


Só pra lembrar que:
"Esta cor não sai de mim"

terça-feira, 23 de março de 2010

Do que mais sei

Chris Evans
Transfiguro. Nítido desejo que é não sendo. Algo que sai pela fala toma conta do olhar aquece a boca mobiliza esvai e... Só. Meio torpor de algumas sensações e na verdade, é a permanência incauta do que melhor arrepia a pele e... Só. Do que chegou para não ser e é tão somente todo sentido. É. Transmove a existência para banir explicações e nada se perde. Pele arrepiada, boca ativa, mão explícita, silêncio,pressa, idas, vinda única, paisagem suada, olho em brasa,domínio, cena oculta, abundância líquida, arfares, sombra e luz, junção não permitida, animação, calmaria e... Adeus.
Iluminação de corpos: aparências diluídas naquilo que nunca pôde mas é... Vaga aresta de uma conversa entre homens quando o desejo transfigura os motivos homogêneos da cultura e faz tudo lê um poema de Antonio Cícero... E a atração de um quase riso vindo daquele olhar.
- Bom pra mim também.

Memória da Cultura Afrobrasileira


"A importância de preservar os aspectos culturais de uma sociedade é o assunto dessa reportagem, que mostra como a herança africana vem sendo preservada. "

segunda-feira, 22 de março de 2010

Murilo Ribeiro faz exposição na Caixa Cultural de Salvador- Bahia


Abertura: 30 de março de 2010, às 19h.
Permanência: de 31 de março a 05 de maio 2010, de terça a domingo, das 9 às 18h.

quarta-feira, 17 de março de 2010

Narrativas


Foi bem ali. No jeito do destino visto como fotografia. Ali por entre gestos e apreço, segredos e beijos, um filme como redenção. Ali para escapar ao óbvio. Para olvidar as perseguições e ser à maneira da transformação. Ali no agradável da visão que recebia tópicos do amor. No agradável da audição perfumando-se no instante da voz mais amada. Ali para os corpos porque nem maior nem menor nem melhor poderia-se. Ali como efeito de uma canção saída das cenas do desejo mais profundo. Ali para agradar ao eu vagabundo frente à única salvação. Ali no quando da vida sem alternativa, encurralada, fadada à felicidade. Ali para instar a ternura e dominar o sentido de ser gente, de ser humano. Ali alvejando a beleza e sendo forte contra outros contra regras contra medo a favor do sonho... Ali película, carne, sangue, esperma, vinho, música, gritos, silêncio, vida e morte. Ali a sedução tragando o gozo do melhor existir. Ali escritos em paredes do metrô exaltando a marginalidade. A terceira margem. O carinho desfolhando-se à sombra amorosa de dois homens em nítido encontro. Ad infinitum. O amor não pede tempo nem fronteiras. Ali na língua percorrendo a década de uma paixão eterna cristalizada em Plata Quemada. Pois o destino, esse seu nome, quis assim.

Transverso

Eu era do outro lado
Tinha que ficar do outro lado
E agora não sou de lado nenhum.
Sou-me o caminhante desalojado.
E livre.

Voar


Hermes
"Me ensina a não andar com os pés no chão"

terça-feira, 16 de março de 2010

O feitiço das palavras

Maria
Sobre o sangue das rosas dilacerando nossa emoção.
Luz aos ouvidos
Dança etérea da paz
Música contra guerras
Vida sendo Vida
Voo da águia
Guia solar nos ventos
O sempre bem dito
Natureza do melhor alvorecer
Espécie feminino
Palavra que se quer ser
Puro Feitiço.

Water Woman




Eu quero agora e sem demora.
Bate forte e fura.
O tempo é para já.

Infinito

Acordei para os pássaros, invejando os pássaros... Querendo liberdade e leveza.
Acordei com tanta sutileza que nem toquei o chão.
Entrei no fora de mim e consciente desta grandeza fui para além.
O cheiro da água azul, as folhas de manjericão pelo chão, uma roda de gente negra, força de orixá e música mais dança, paz em transe, festa no coração.
Acordei como pássaro ao longe esquecendo o que tenho tido aqui e amplo de liberdade me vi sem alegria ou tristeza - simplesmente eu assim: natureza voando acima das configurações humanas...
Transmutei-me infinito.

segunda-feira, 15 de março de 2010

Robinho, talento e doçura

O futebol traz.
A gente assiste.
E nesse ínterim, além da emoção, o talento...

A arte de semear estrelas


Frei Betto
A arte de semear estrelas chegou a mim como encantamento... Livro sem muitas pretensões mas inteiro em sua arte de poetar logrando-nos às estrelas; poesia elegante do frei que brinca com a linguagem e opera milagres em nossas almas carentes de fé amor magia sutilezas alegrias...
Algo assim, para iluminar e despertar a esperança escondida lá no recôndito da gente:
" Mas ergo um brinde a todos os infelizes, cegos às infinitas possibilidades da luz e das rotas. Sejam todos agraciados pela embriaguez da alegria divina, abertos ao amor que jamais nega água a quem se ajoelha, reverencia ofertoriamente a existência e aprende a impregnar-se do outro".
Frei Betto

sábado, 13 de março de 2010

Do azul eu não me aparto


"Para encontrar azul eu uso pássaros"
Me sinto a caminho do não lugar.
Farejando minhas vãs promessas
Sonhando acima das travessas sem refeição.
Me sinto a soluçar o descaminho
No sentido profundo do encontro
Vestido de céu e voando
Sobre as águas azuis do meu pensamento.
Me sinto palavreando e sendo vazio
Com um livro aberto ao peito sem carinho
Guiado pelas asas da minha fé.
Me sinto na impureza das sensações
Acomodado ao desejo moribundo
Indo para trás...
Vasta alma marcada de
Azuis e águas.

Para encontrar azul eu uso pássaros


Paraty


Deus disse: Vou ajeitar a você um dom:
Vou pertencer você para uma árvore.
E pertenceu-me
Escuto o perfume dos rios.
Sei que a voz das águas tem sotaque azul.
Sei botar cílio nos silêncios.
Para encontrar azul eu uso pássaros.
Só não desejo cair em sensatez.
Não quero a boa razão das coisas.
Quero o feitiço das palavras.

Manoel de Barros

sexta-feira, 12 de março de 2010

Gal Costa, musa errática do Brasil

Gal

Do tempo que se extraiu e se traduziu a força criativa da canção popular deste país, tendo como veículo mais doce afinado moderno inquieto bonito a voz de Gal... Do tempo que me empurra para a musicalidade desta artista e me mergulha em saudosismos... Eu tão carente de novidades e inerte frente a saudades absolutas... Do tempo que melhor som seria eletrola e vinil e Gal cantando Saudosismo, do meu Caetano Veloso, lembrando o mestre João Gilberto... Do tempo que rádio era Música Popular Brasileira e eu sentia: " esta menina está de brincadeira, ela só dá bandeira, só dá bandeira"; e eu imerso na felicidade de que um dia eu também seria e quantos anos se passaram. Verdade única: Gal Costa é eterna e é a voz mais doce e clara que a natureza água legou ao Brasil.
Do tempo quando eu ainda tinha muito tempo para muito acreditar. Ainda posso ouvir a obra desta cantora que anda sumida... Ainda, com menos tempo, posso sonhar e desejar instantes sonoros de intimidade ternura, outras clarezas: quando paro com Gal, ouço Jussara Silveira e Mariana Aydar... Mariana Aydar para afirmar que o novo sempre vem. Mesmo que nesse novo estejam Maria Bethânia, Clara Nunes, Elis Regina e a própria diva Gal. Saudades do que seria eu e o Brasil em mim e nós não somos. E acho: não terei mais tempo de sê-lo.

quinta-feira, 11 de março de 2010

Márcia Short: voz que a Bahia precisa

Saulo e Márcia Short
O ano 2010 marcou os vinte e cinco anos da axé music e neste carnaval, várias vozes autorizadas pela história do “movimento” cantaram e foram homenageadas. Mais do que justo trazer Moraes Moreira, dispor de um trio para o sistematizador Luiz Caldas, eleger Pepeu Gomes Rei Momo, criar a exitosa Varanda do Glauber, com Sandra Simões, Claudia Cunha e Manuela Rodrigues dando outros formatos ao nosso carnaval. Este ano foi muito bom estar aqui.
Quando entendemos que uma festa como esta, para quem mora na Bahia e também deve ser respeitado como cidadão e consumidor, todas as políticas culturais estatais devem apontar para a diversidade preservando, pesquisando e dando espaço para quem tornou o nosso carnaval a festa mais efervescente do planeta: o povo desta terra.
Os maiores atrativos do carnaval baiano, amparados em fortes esquemas comercias e econômicos, já têm os melhores espaços e ninguém se mete com Ivete, com o Chiclete, com o Asa, com Claudia Leitte, com Jammil e outros genéricos. Vários mineiros, gaúchos, paulistanos, sergipanos virão sempre atrás destas importantes estrelas carnavalescas.
O talento musical de nós baianos também pode ser mais bem representado. Às vezes, a dinâmica do tempo empurra para o passado nomes que seguravam e se destacavam na maior vitrine musical da Bahia, o carnaval. Muitos ficam por lá sem possibilidades de serem resgatados. Contudo, existem os que acompanharam o passar dos anos e, mesmo em sufocamentos e ostracismos midiáticos, continuam impondo-se contra uma exigência do novo que, aqui entre nós, não tem sentido quando assistimos enlouquecidos o trajeto sonoro do Chiclete, do Asa e Jammil; nem Ivete traz tanta novidade assim; Claudia Leitte é uma versão “modelo-manequim” da saudosa Márcia Freire, só que canta bem menos que a eterna musa do Cheiro de Amor.
Quem está aí, sendo a voz mais afinada, mais representativa, mais melódica, mais experiente é a cantora Márcia Short – bem mais ampla que a nunca lembrança que se querem dela: ela entoando “vou dar volta no mundo, vou ver o mundo girar”.
Ela que cantou ao lado de Daniela Mercury, qualidade absoluta do nosso carnaval, de Tatau, outro poema perdido, e da grande Margareth Menezes, que quase ficou sem espaço. O momento mais lindo do nosso carnaval.
Editores culturais da Bahia agendem o nome Márcia Short, nosso estado precisa do canto dela.

A três

Foto Wagner Piva

Eu quero que você queira.


quarta-feira, 10 de março de 2010

De abraçar



O sentido é trocar ternura, reenergizar, sentir o fluir do amor; quebrar as armaduras e humanizar nosso corpo humano deixando escapar do peito e da mente essa sensação de vazio. Abraçar é o remédio dos sábios e o símbolo mais poderoso da verdadeira amizade. Abraçar é se entregar ao outro recebendo-o; é ter muito o que dizer em absoluto silêncio nesse exercício sublime de se fazer gostar gostando... Tenho abraçado o mar e as árvores e preciso, para não ficar trancado em mim, abraçar pessoas e fazê-las entender que sou todo amor. Minha violência é fruto do excesso amoroso e da incumbência que o Universo entregou a mim. Não tenho sido exitoso mas, sou -me o reflexo em faíscas das coisas lindas que São Francisco de Assis praticou. De braços abertos para o mundo, espero me abraçar também, me perdoar também, pois quero ser meu outro melhor amigo.

terça-feira, 9 de março de 2010

Chama

Joanna

Naqueles tempos em que um rádio era a melhor companhia e a gente só sentia, filtrava as coisas dali na cor maior da emoção... Esta canção, Chama, entra nisso: tardinhas sem graça de domingo, a voz dramática de Joanna em...

Sou das canções

Antes de mim e de você

Tem essa voz

Antes de perguntar por que

Lembre de nós

Ouça no rádio esta canção

Que é de amor

Maior que eu

Ou que você

Eu sou de quem ouve um cantor

Na solidão e abre o peito

E diz:- É mesmo assim

Quem sabe alguém, amor

Sem essa chama na garganta

Possa te acompanhar

Enquanto eu vivo e sigo

Com o coração

A alegria de cantar

Geraldo Amaral e Aristides Guimarães


Do não saber


Sei do teu ultraleve
Mas não sabes da minha asa delta.

Romantismo

( Fotografia retirada do Terra Magazine)

Sou o desalinho das minhas palavras buscando a perfeição: o azul.

segunda-feira, 8 de março de 2010

Mariana Aydar em Salvador


Tenho passado horas ouvindo Kavita1 e aguardando aquela voz aquela menina aquela delícia na Concha Acústica e muito bem acompanhada. Dia 20/03/2010, às 19h, os ingressos já estão sendo vendidos a 60/30. Não paro de imaginar como, como será?

domingo, 7 de março de 2010

O lado quente do ser (8 de março)

Por ela , a mulher, representada na voz da mulher maior, Maria Bethânia, numa música da outra grande Marina Lima e do parceiro Antonio Cícero...
Para a mulher que cuida do mundo com mais sensibilidade e traz para as coisas daqui mais cores sinceridade alegria e proteção e eu gosto de entender assim:



Meu pertencimento

Foto Xando Pereira ( A Tarde)
De fato, nunca haverá maior lugar. O que vejo funciona como desenho da darradeira e prazerosa morada, encontro com a transhumana beleza, centro do eixo que preciso. Dessa coisa de altamente pertencer e os outros vêm e te tiram do modo incompetente em nome de um progresso que eles, estes, jamais saberiam promover.
Morada nas duas certezas que tenho: Iemanjá em mim e a morte que virá. Baía de Todos os Santos razão da alegria cotidiana dos meus olhos, onde quase um dia me fui precocemente; Baía esmerada poesia do Senhor dos Tempos; Baía das negras histórias da Minha Senhora em qualquer lugar. Baía e a sua Porto da Barra. Íntegra paisagem do que me pariu; eu que penso voar, sem querer voltar, mas sei ao único todo que pertenço: o mar desta Cidade da Bahia. Lugar que desaprende e perversamente massacra, empobrece e expulsa seus filhos mais amantes da outrora poesia que um dia , lá atrás, nos fez a negro-lusitana nação soberana do Atlântico Sul .
Saudades de pertencer. Saudades da Bahia.

Da lua

Quando você se explica
A lua grita
E não há silêncio.

sexta-feira, 5 de março de 2010

hoje


Estou nas fagulhas do lixo de mim
E me varro para debaixo do tapete.

Filme gay dirigido por Tom Ford chega aos cinemas nesta sexta


Retirado do Mixbrasil ( Uol)
Por Irving Alves
O que fazer quando o amor da sua vida está ao seu lado em um instante, e no outro, por um trágico capricho do destino, não passa de uma lembrança? É isso o que o personagem George, vivido brilhantemente por Colin Firth no filme "Direito de Amar" ("A Single Man", no original), tenta descobrir. Diante da morte daquele que foi seu companheiro por 16 anos, o professor pena para manter-se interessado na própria vida e no que ela ainda o reserva. Isso nos anos 1960, quando o amor gay, ainda mais que hoje, era aquele que não ousava dizer o nome. Nessa cruzada, ele conta com o braço amigo da personagem de Julianne Moore. Os dois tiveram um casinho no passado e a ela, divorciada e abandonada pelo filho, também se apega ao professor por ver nele uma possibilidade de futuro.E quando George parece ter se convencido de que viver não é lá essas coisas, um aluno jovem, lindo e ávido por descobrir os mistérios da vida surge em seu caminho. A tensão sexual entre os dois é mais que perceptível, mas traduz-se em uma admiração mútua. E quando tudo parece voltar aos eixos, o destino, implacável, apronta mais uma das suas.A trama é densa, mas não chega a ficar carregada graças às pílulas de humor que aparecem aqui e ali, inclusive em momentos improváveis. O senso estético do estilista-e-agora-diretor Tom Ford fica claro na fotografia, iluminação e na escolha dos belos jovens que mexem com a cabeça do protagonista. "Direito de Amar" estreia nesta sexta, 05, em salas de cinema de todo o Brasil.

Iyá empunhe a sua espada e lute


Onde me quer, mãe?
Cansaço demais gera improdução.
Debaixo d'água tem que respirar.
Além de proteção preciso de sorte.
Reluz no meu caminho o brilho da sua prata.
Quero o aconchego de sua saia
Sua água matando minha sede.
Quero sorrir meu melhor
De dentro, oh mãe de mim!
Leveza e força como o mar...
Onde cantar para sua energia
Que flor entregar, que verso
Qual é a sua poesia?
Verde e azul são meus sonhos
Meu ori se me entrega a ti
Quero do amor lhe louvar.
O que me perfila?
Espera ou esperança?
Eu lhe danço com a minha alma, então
Me alivia no sabor do abrigo em vida:
Saúde, trabalho, morada, amor e paz.
Sorte, rainha maior de tudo que sinto
Me norteia para o inesperado bom pois,
Eu sei do que posso na vida.
Onde me quer, mãe?

quinta-feira, 4 de março de 2010

Sou aquele que não é

Eu me diria: "sou aquele que não é / não sou / o que lhe ocorre". E buscaria do modo mais caro continuar a estar em você nesses desenhos de ontem - grudado à sua memória sem peso nem nódoa - refazendo o secreto dos seus olhos em desejo dentro dos meus morrendo de medo; ainda assim, ir seguindo-lhe pelos momentos vazios e ricos que impulsionam a sua criação. Ser a tinta inovadora esboçando a palavra primeira em infância e doce, queria. Esse meu lado que não é desconversando a sua presença poética para o que fui até quando meu amor lhe servia de inspiração.
Eu lhe pediria: "nunca me esqueça/ não te esqueço jamais". E sem as firulas inscritas em qualquer despedida, gritaria em desespero: as águas mais limpas e límpidas da minha vida me vieram do castanho dos seus olhos. Eu não sou.

Dalí


Tenho desde a infância
uma viciosa propensão de espírito
a me considerar como diferente
do comum dos mortais.
Isto ainda dura e não cessa
de me fazer prosperar.
Salvador Dalí