sábado, 31 de janeiro de 2009

Para lhe festejar

Primeira homenagem 2009
Que seja luz e alento a sua presença irrefutável em minha vida.
Que minha vida seja banhada de Fé em sua companhia.
Que perfumes e flores lhe consagrem em mim.
Mãe do mar de mim maior que meu sangue.
Me enleve em sua dança aquática,
Me leve em transe a consciência,
Transporte meu ao reino de Aiocá.
Blindado estou na cor do seu verde
Belo eu fico no azul do seu mar.
Rainha dos meus dias, amor!
Odô Iyá.


Para ver as meninas

Marisa quando canta Para ver as meninas uma avalanche de sentimentos contraditórios me chegam e o que me salva é mesmo o silêncio. Duas obras primas são esta canção de Paulinho e o canto da sereia carioca. Mágicas puras e eu não canso de ouvi-las. Experimentem.
Silêncio por favor
Enquanto esqueço um poucoa dor no peito
Não diga nadasobre meus defeitos
Eu não me lembro mais quem me deixou assim
Hoje eu quero apenas
Uma pausa de mil compassos
Para ver as meninas
E nada mais nos braços
Só este amor assim descontraído
Quem sabe de tudo não fale
Quem não sabe nada se cale
Se for preciso eu repito
Porque hoje eu vou fazer
Ao meu jeito eu vou fazer
Um samba sobre o infinito
Porque hoje eu vou fazer
Ao meu jeito eu vou fazer
Um samba sobre o infinito.
Paulinho da Viola

Oiá por nós

Daniela Mercury

Por um carnaval mais inventivo, que mexe o corpo, mexe a alma, faz pensar e faz esquecer, faz dançar. Traz a marca sagrada de uma das Senhoras da minha vida: Oyá. Em mim. Sempre. Na voz ventania dela, rainha absoluta desta folia baiana, miss Daniela Mercury.

Óia tê tê
Óia tê tê Oiá
Óia tê tê Oiá
Óia tê tê
Óia tê tê
Óia tê tê Oiá
Óia tê tê Oiá
Óia tê tê
Oiá Mulher
Oiá Maria
Oiá Beleza
Oiá Poesia
Oiá Riqueza
Olha a alegria
Olha a criança
Que se anuncia
Oiá toda a terra
Terá que um dia
Oiá Iansã
Oiá Ave Maria
Óia tê tê
Óia tê tê Oiá
Óia tê tê Oiá
Óia tê tê
Óia tê tê
Óia tê tê Oiá
Óia tê tê Oiá
Óia tê tê
Oiá Mulher
Oiá Maria
Oiá Beleza
Oiá a Alegria
Óia toda a terra
Óia a poesia
Oiá criança
Que me denuncia
Oiá Iansã
Oiá, Oiá Ave Maria
Óia tê tê
Óia tê tê Oiá
Óia tê tê Oiá
Óia tê tê
Óia tê tê
Óia tê tê Oiá
Óia tê tê Oiá
Oia tê tê
Ela treme o céu
Tudo ela alumia
Ilumina a noite
Incendeia o dia
Ela veio do vento, ela veio do vento, ela veio do vento
Óia tê tê
Óia tê tê Oiá
Óia tê tê Oiá
Óia tê tê por nós
Óia tê tê
Óia tê tê Oiá
Óia tê tê Oiá
Oia tê tê

Margareth Menezes/Daniela Mercury


sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Baby Forever


Há a possibilidade dela cantar em Salvador neste carnaval 2009. Ela, Paulinho Boca e Pepeu, além de, se convencido a deixar o mais criativo carnaval do Brasil, o de Recife, Moraes Moreira, esse nosso brasileiro de todos os dias. Difícil, inaceitável pra mim, ter Claudia Leite como estrela do carnaval enquanto a voz dos Novos Baianos, principalmente a de Baby, é calada pela quentura do mercado...Deveríamos, ao menos eu desejo que, trocar Leite por Cunha em nome do nosso bem estar como ouvintes de música. Nem no carnaval eu aguento tanta imposição, arre: Claudia, a mãe do ano, nunca foi cantora, dança mal, é comparada ao mito Carmen Miranda, homenageada pelo bonzinho Biquini Cavadão, e paparicada por um dos pontos mais criativos do canaval baiano, a cantora Daniela Mercury, um dos melhores palcos do Brasil, uma das nossas grandes artistas na contemporaneidade brasielira, juntamente com Brown, fora os afros e afoxés, dão oxigênio a folia momesca soteropolitana... Talvez Daniela apoie a Leite contra a Sangalo, né? Esses bastidores são fogo! E queimam-se.
Podem me acusar de maluco saudosista - quero Baby cantando, até pregando, a ter a Leite com ares de estrela, ocupando o espaço de Márcia Freire( mais carisma e sinceridade!), da grande Márcia Short, suplantando, vejam só, Margareth Menezes, e tendo mais destaque que a Rainha da Axé, incomparável , Daniela Mercury. Daniela faz jus a grandeza de Baby, a herança de Baby, a história dessa mulher no carnaval baiano. Não é uma questão de burrice, nem de mera saudade, é de justiça! Tragam de volta Pepeu , Moraes, Paulinho Boca, Galvão ...E façamos uma festa com mais espaço e repetições de qualidade. Chega de falar em novidade, pois assim, o Chiclete com Banana não mais existiria.

Poema em linha reta

Fernando Pessoa
Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.
E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo.
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.
Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...
Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó principes, meus irmãos,
Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?
Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?
Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.
(Álvaro de Campos)

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Nascer do sol


Despertei com o sol sobre minha cabeça. Aguçando meus desejos e aquecendo minhas memórias. Trazendo-me para mim, de manhã, com o gosto sentido e necessário da esperança. Da janela da minha casa o mar como espelho e eu falando com ele na licença mágica que minha Mãe me dá. O mar me segredando as coisas que muito sei. Fazendo-me chorar poesia para meu dia ser mais leve e mais devagar - como o jeito de sonho que temos da pessoa que amamos mas ela não está.
Amanheci. Mais um dia de sol na Cidade da Bahia. Final de janeiro e até janeiro não é mais o que era aqui. Amanheci com Casimiro de Abreu, Hilda Hilst, Fernado Pessoa e... Clarice Lispector.
Vento soprando a brisa do leste brasileiro. Tantos começos e vastas disolvições. Perdas irreparáveis e o Tempo passando cruelmente - como tem que ser para a vida rápida e humana neste planeta.
Amanheci com este dia.
Poesias espalhadas pela cama.
A voz de Jussara suspirando no lugar da outra.
Minhas vestes azuis queriam ser brancas.
E o sol sentenciando esperança.
Sem a qual não posso viver.
"É de manhã
Vou buscar minha fulô".

Lembrar-se

Clarice Lispector

Escrever é tantas vezes lembrar-se do que nunca existiu. Como conseguirei saber do que nem ao menos sei? assim: como se me lembrasse. Com um esforço de "memória", como se eu nunca tivesse nascido. Nunca nasci, nunca vivi: mas eu me lembro, e a lembrança é em carne viva.
C.L.

Marcas da deseducação

Adalgisa Colombo ( já que nada é perfeito)
No dia 13 de abril de 2008, às 22 h., a TV Bandeirantes transmitiu o Concurso Miss Brasil 2008, entendido como um novo momento de exibição da beleza da mulher brasileira, sem perder o glamour dos tempos de outrora, nos quais a classe média em nosso País parava para prestigiar pela televisão este evento.

O Brasil deve ter mudado muito de lá pra cá. Mas, naquela noite, o que mais me chamou a atenção foi o tipo de beleza representacional da “mulher brasileira”, quase em sua totalidade branca, repetindo, reiterando o protótipo de um Brasil que só um rosto étnico se marca como bonito e atraente, e as falas que ratificavam este perfil são de entristecer qualquer cidadão que já tenha ouvido falar em leis que procuram contar de modo mais real e eficiente a história da formação do povo brasileiro, marcado pelas presenças do índio e do negro. Risíveis foram as deixas dos apresentadores em torno do ideal de mulher bonita, de como as “misses” deveriam demonstrar suas preocupações intelectuais e sociais, validando estereótipos e deseducando os telespectadores que se arriscaram a assistir o Concurso.
O que foi ali mostrado não é pra ser criticado à luz de teorias da etnicidade e nem do feminismo, simplesmente é pra ser entendido pelo bom senso de qualquer individuo que participa disso que se chama cultura brasileira. Uma cultura multirracial, que em algumas regiões tem a predominância de etnias negras e indígenas e suas representantes quase sempre são brancas, ou, muito embranquecidas para acompanharem o padrão nórdico do ideal de beleza que ainda nos comanda.
É ao se deparar com essas realidades, que percebemos a urgência do trabalho de grupos político-culturais, como Ilê Ayiê da Bahia, e outros espalhados pelo Brasil, buscando afirmar outras formas de se entender o belo na expressão humana e valorizar a nossa diversidade fenotípica como fruto da riqueza que traduzimos em nosso cotidiano.
Chamar o Concurso de racista, talvez seja mergulhar no desgaste que esta palavra promove no sentido político que ela evoca. Pode parecer um ajuste panfletário se falar de racismo, pois então, falemos em deseducação e de invalidação do sentido da nossa convivência social e do exercício pleno da cidadania daqueles que não esboçam uma idéia (já desbotada), mas recorrente, da padronização estética que só legitima a herança européia deixada entre nós.
O momento mais ultrajante do Miss Brasil 2008, ficou por conta da fala da ex-miss Brasil 1958, homenageada da noite, a carioca Adalgisa Colombo, que ao ser questionada sobre a derrota da mineira Natália Guimarães no Miss Universo de 2007, sentenciou: “perdeu para uma mulher oriental. Oriental e feia ainda por cima”. Depois a lúcida senhora, disse que esse tipo de concurso sobrevive porque é do bem.
E nós continuamos a precisar muito de beleza e de educação. É duro ver escolas públicas tradicionais fechando as portas no Centro de Salvador, professores sendo vilipendiados no turbilhão do descaso... As perspectivas nos empurrando para a torpe constatação de que o Miss Brasil é nada mais, nada menos que o reflexo do ainda povo desinformado e deseducado que somos.
(Publicado no Opinião do A Tarde em abril de 2008).

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Primavera

Maria
O meu amor sozinho
É assim como um jardim sem flor
Eu queria poder ir dizer a ele
Como é triste se sentir saudade
É que eu gosto tanto dele
Que é capaz dele gostar de mim
E acontece que eu estou mais longe dele
Que da estrela a reluzir na tarde
Estrela, eu lhe diria
Desce à terra o amor existe
E a poesia só espera ver
Nascer a primavera
Para não morrer
Não há amor sozinho
É juntinho que ele fica bom
Eu queria dar- lhe todo o meu carinho
Eu queria ter felicidade
É que o meu amor é tanto
É um encanto que não tem mais fim
No entanto ele nem sabe que eu existo
Que é tão triste se sentir saudade
Amor, eu lhe direi
Amor, que eu tanto procurei
Ai, quem me dera
Se eu pudesse ser
A sua primavera
E depois morrer
Vinicius de Moraes/Carlos Lyra
P.S.: Eu dentro da condução desta voz indo pairar por entre a paisagem desta canção...Quando Maria a canta, um novo hino de amor me toma e se torna meu único. Vinicius é assim!

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Maiúsculo

Rita Ribeiro
A cantora maranhense dispensa apresentações: é fantástica. Ultimamente, encabeça o projeto " Três meninas do Brasil", DVD e CD lançados pela Quitanda, que já são um dos maiores acertos fonográficos do ano 2009 no Brasil. Não vou falar no maior, pois tenho que aguardar os CD's da Maricotinha, e dela eu sempro espero muito, muito e sem decepção. Rita, juntamente com a minha Jussara e a dulcíssima e competente Teresa Cristina, arrasa em suas interpretações naquele "áudio-visual". O momento mais denso, o que me derruba, assusta, e engrandece, pela junção de canto letra música e execução orquestral, é da canção de Sérgio Sampaio, Maiúsculo; sem muito a dizer, aconselho, com desespero, a todos ver e ouvir... Lembrou-me, não sei por quê, Baby e os Novos Baianos. As meninas trazem o já existente com gosto de novidade. Grande. Espero. E que venda muito! O original. Sem pirataria.
Vamos à letra:
Como é maiúsculo
O artista e a sua canção
Relação entre Deus e o músculo
Que faz poderosa a sua criação
Pensando bem
É um mistério
Como é misterioso o coração
Como é minúsculo
O olhar de quem vive no escuro
Um sujeito malvado e burro
Alguém machucado como não ter um bem
Não tem porém
Mas tem um tédio
Não ser vítima do assédio de ninguém
Quase não dorme
Vive ao avesso
Medo conhece bem
Sem endereço
Como é que pode
Não fazer mal também
Tenho meus vícios
Vivem dentro de mim esses bichos
São o pai e a mãe dos meus lixos
E às vezes me levam de mal a pior
Pergunto quem
Não sabe disso
Os momentos em que a vida não tem dó
Solto meus bichos
Pelas músicas quando me aflije
Mas um homem sem esse feitiço
E sem um carinho a que recorrer
Pode matar
Querer morrer
Pois perdeu todo sentido de viver
Sérgio Sampaio

Baby


Movimento.
Seguramente.
Incremento.
E eis que ela singra coisas boas da memória infanto-juvenil
Opção.
Resolução.
Uma década.
E hoje eu canto pra menina dos olhos que dança sem presença
Sagração.
Peitos de fora.
Muita Fé.
E ela reza de loucura e glória sem nada temer
Desilusão.
Nudez.
Sexo explícito.
Não me fale da malícia de toda mulher
Suplício.
Verdade.
Silêncio.
Volta - vem cantar de novo entre a gente
Com
A
Loucura
De
Sempre
No
Formato
De
Outrora.
Volta, Baby !

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Mistério Favorito

De algum lugar me vêm respostas e eu as sigo como espectador, como ouvinte da música que me basta e é penumbra, e rasga. Nada de decifrações; meus olhos pouco veem mas meu peito muito crê no que ouve. Desatino aos rastros deste mistério sonoro, visual, etéreo; fogo sobre água, os pés bailando sobre a terra e os olhos da águia fêmea búfalo mulher soltando a voz pássara - é uma avalanche de vãs explicações que não me desacordam do sonho que tenho e quero quando ELA canta. Ao vivo. Matando-me em seu mistério. Meu favorito.

A menina dança

Baby Grávida
Quando eu cheguei tudo, tudo
Tudo estava virado
Apenas viro me viro
Mas eu mesma viro os olhinhos
Só entro no jogo porque
Estou mesmo depois
Depois de esgotar
O tempo regulamentar
De um lado o olho desaforo
Que diz meu nariz arrebitado
E não levo para casa, mas se você vem perto eu vou lá
Eu vou lá!
No canto do cisco
No canto do olho
A menina dança
E dentro da menina
A menina dança
E se você fecha o olho
A menina ainda dança
Dentro da menina
Ainda dança
Até o sol raiar
Até o sol raiar
Até dentro de você nascer
Nascer o que há!
Quando eu cheguei tudo, tudo
Tudo estava virado
Apenas viro me viro
Mas eu mesma viro os olhinhos
Galvão/Moraes Moreira



sábado, 24 de janeiro de 2009

Baby Consuelo ( ou será do Brasil?)

Aquele tempo de mim: faiscas no ouvido da memória e ânsia, lágrimas, risos, gozos, medo, transcedência e Fé. A mulher maior que a imaginação. Essa coisa da voz que faz dançar: o barulhinho bom na janela do pensamento trazendo uma cantora de novo pra cá. Premonição sobre as flores no jardim da Terra. Mulher solar de muitas águas... Voz brasileirinha. Explosão de prazer sonoro e , de novo, dança. A mulher dança abrindo as portas da percepção. Brilha cantando fazendo luz sonora e se inscreve rasgando-se dentro da sua poesia cotidiana: existencialmente marginal. Baby das delícias nos horizontes esquecidos daqui. Brasil.

Novos Baianos


Nos anos 70, eu era um guri carnavalesco que já se encantava com a voz de Gal Costa, Clara Nunes e Baby Consuelo. Aliás, sempre amei Baby, e a tinha de pertinho nos "encontros de trio" da Praça Castro Alves e tudo aquilo me dava uma alegria indefinível e ouvir Baby era ouvir a felicidade. Cresci mais e descobrir aos 15 anos os Novos Baianos; fiquei sabendo ,com mais detalhes, da presença de Baby entre eles e balancei, como nunca, naquela musicalidade. Fiquei sofisticado e descobri Acabou Chorare. Tudo era mais lindo, era acumalativo, e ao mesmo tempo, único. Pepeu Moraes Galvão Paulinho Boca e Baby Consuelo. Aquela do Menino do Rio e da Menina Dança e de Todo Dia Era Dia de Índio : festa na minha vida mezzo triste e pesada e mezzo alegre e acompanhada. De arte. Muita arte popular neste nosso cancioneiro reaquecido pelos geniais Novos Baianos. Era um outro contraponto da música que eu queria experienciar... À eletrola Novos Baianos e A cor do som e meu destino me misturando à este projeto de vida e de desenho simples e singular - a música dos meninos equivalentes aos nascidos deles que são os pais e as mães deles: Doces Bárbaros! Assim, a vida sempre me foi, é e será um pouco mais.
Viaje nos Novos Baianos. Ouça e dance ao som deles.
P.S.: Falando em Novos Baianos, ouvi hoje Jussara Silveira, Rita Ribeiro e Teresa Cristina cantando Meninas do Brasil, de Moraes Moreira, precioso momento de uma musicalidade inventiva que continua a nos acompanhar. Quero ouvir Baby, feito Elza Soares, cantando de novo. Preciso daquilo!!!

Londres - ( Blake III)

Londres - (Cinza Poesia)
No reino por cada rua vaguei
Rondei o Tâmisa fluente
E em cada face notei
Sinais da cor contundente
Em cada homem um grito atroz
Em cada criança um silvo arrepiante
Em cada negação, em cada voz
Os grilhões que forjaram nossa mente
O lamento do mísero criado
Consterna as igrejas sombrias
E as lágrimas do infeliz soldado
Como sangue escorrem pelas lajes frias
Mas à meia-noite escuto na praça
As ameaças da Jovem Meretriz
Que o destino da criança desgraça
E o Cortejo Nupcial maldiz.
William Blake


Noite - (Blake II)

Declina o sol,
Levita a d'alva;
Silentes os pássaros
Nos ninhos,
Busco o meu.
E a lua em flor
No alto zênite,
Se assenta
E sorri na noite.
William Blake

William Blake ( I )


Num grão de areia ver um mundo
Na flor silvestre a cesleste amplidão
Segura o infinito em sua mão
E a eternidade num segundo.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Para além da morte


Opaxorô de Babá Olufan
Sê awô kikú, awô kirun. Nisê àwó ma ló si, itun lá. Itun lá ilê Awô.
Os iniciados não morrem. Eles voltam para a casa do mistério.

Adeus, Obá Kankanfô do Ilê Axé Opô Afonjá

Do lado direito: Obá Kankanfô
Faleceu ontem, dia 21 de janeiro de 2009, Antonio Albérico Sant'anna, o mais antigo dos obás do venerando terreiro Ilê Axé Opô Afonjá, o prestigiado Obá Kankanfô, mais uma enciclopédia humana que Iku nos leva. Filho de Miguel Sant'anna, Seu Albérico foi o último dos obás da primeira formação de Aninha Obá Biyi, e guardava consigo a memória de uma das tradições mais complexas do universo religioso dos orixás jeje-nagôs. Figura respeitabilíssima, torna-se uma perda irreparável para nós , povo-de-santo, que tanto precisamos prosseguir e nesses tempos bicudos de intolerância dos outros e de desencontros entre nós mesmos, muito precisamos de exemplos e da sabedoria como os deste homem que cumpriu altaneiramente a sua existência. Oriaxé - que Oyá lhe guie e que o Orun o abrigue com a dignidade merecida!

Maresia

Adriana Calcanhotto
O meu amor me deixou
Levou minha identidade
Não sei mais bem onde estou
Nem onde a realidade
Ah, se eu fosse marinheiro
Era eu quem tinha partido
Mas meu coração ligeiro
Não se teria partido
Ou se partisse colava
Com cola de maresia
Eu amava e desamava
Sem peso e com poesia
Ah, se eu fosse marinheiro
Seria doce meu lar
Não só o Rio de Janeiro
A imensidão e o mar
Leste oeste norte e sul
Onde um homem se situa
Quando o sol sobre o azul
Ou quando no mar a lua
Não buscaria conforto nem juntaria dinheiro
Um amor em cada porto
Ah, se eu fosse marinheiro.
Paulo Machado/Antonio Cícero

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Fazendo música

Violão Azul
* " E se o amor chegar de nós de algum lugar
Com todo seu tenebroso esplendor
E se o amor já está
Se há muito tempo que chegou
E só nos enganou".
# Ao meio desta descida que tenta encontrar amor e musicalidades... No centro desta paisagem que enfeita o meu esperar e água aos meus olhos. Uma tardinha doída mas azul.
* " Ah, essas cordas de aço
Esse minúsculo braço do violão
Que os dedos meus acariciam
Ah, este bojo perfeito
Que trago junto ao meu peito
Só você violão compreende porque
Perdi toda alegria".
# Constante sonoridade que não faço: assisto. Pedindo tempo ao tempo para negar minha infante intuição. Basta de palavras - o som que seja a salvação.
* " Eu quero amar, é lógico!
Que o mundo não me odeia
Hoje eu estou mais romântico
Que a lua cheia".
#Tempestade da minha ilusão: os versos acima quase perto da chegada da minha descida e ainda o sol brilhando para a tarde.
* "Eu voltei ao passado
E lembrei de você
Revivi tantos sonhos
Que você também viveu
Pois é
Faz tempo que eu não sei da sua vida
Mas hoje uma saudade escondida
Me diz que eu preciso só te ver".
#O mar me traz para perto da imagem que eu quero de você. Dedilho meu violão azul lendo a partitura dos seus olhos castanhos. Tudo mais que lindo - agora!
* "Você está vendo só
Do jeito que eu fiquei
E que tudo ficou
Uma tristeza tão grande
Nas coisas mais simples
Que você tocou".
# Hoje eu hei de cantar para você que de tanta ausência já deixou de ter rosto.
* " Se meu mundo caiu
Eu que aprenda a levantar".
# Daqui, já muito perto do chão de mim...
* "O meu amor sozinho
É assim como um jardim sem flor
Eu queria poder ir dizer a ele
Como é triste se sentir saudade
É que eu gosto tanto dele
Que é capaz dele gostar de mim
E acontece que eu estou mais longe dele
Que da estrela a reluzir na tarde ".
# Meu coração é uma luneta para as impossibilidades. Mesmo distante eu as alcanço e isso não é só esperança. É acontecer. Alvorecer do que eu mais quero.
* " Meu coração tropical está coberto de neve mas,
Ferve em seu cofre gelado, a voz vibra e a mão escreve
Mar".
# Meu coração é a esteira na qual você se deita e não se sabe deitar... É o achado para os seus instantes mais profundos - idéia do último repouso, prazer mais prezeroso.
* "Estou perdido por alguém
Não consigo ver nada além
Do que eu digo nada sei
Compreender o amor?".
#No chão do banheiro do meu corpo: ninguém está...
* "Até que nem tanto esotérico assim
Se eu sou algo incompreensível
Meu Deus é mais
Mistério sempre há de pintar por aí".
#E eu que me soerga desta vontade de encontar, desta mania de olhar pro céu do chão do banheiro de mim mesmo, de fazer músicas silenciosas, de pintar meu violão de azul, de querer sonoridades aquáticas, paisagens aquáticas, tardinhas com sol e alegria, muita poesia e um tiquinho de tristeza para embalar a criatividade... De viver de mar e da imagem das asas do meu amor insolúvel.
* "Pra sê poeta divera
Precisa tê sofrimento"
Patativa do Assaré

Mulher

Mariene de Castro
Eu sou o vento que nas nuvens vasculha o céu e faz trovoar
Eu sou o vento ora tão forte, ora enfraquece
Meu corpo não tem forma alguma
Não posso ver, não posso falar
Só sei que empurro algumas coisas...
E essas coisas...Ah!
Se eu pudesse ver
O céu, o seu corpo e o mar
O meu sentimento é maior
Que o seu que é sorrir e chorar
Mulher carrega o mar na barriga
Mulher carrega o oceano também
Mulher,eu sou,você também é
Mulher
Gerônimo

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Três meninas do Brasil


Como diria Clarice Lispector: "Eu quero o inesperado bom". E é essa a sensação que o trabalho coletivíssimo Três meninas do Brasil, reunindo Jussara Silveira, Rita Ribeiro e Teresa Cristina traz aos nossos olhos e ouvidos: uma surpresa mais que gratificante. Uma surpresa pela junção, é claro, já que as três meninas são reconhecidas pela abundância de talento artístico, e cada uma atua exitosamente em seu ofício entre as mais importantes cantoras brasileiras da atualidade. É uma devastação de prazer tê-las juntas misturadas a um repertório de requinte e de delícia; tornadas "produtos" que serão comercializados pela clínica do grande fazer estético, o selo Quitanda, da nossa musa-mestra, Maria Bethânia. Um acontecimento musical com direção artística de Jean Willys, referendado pela Biscoito Fino, pronto para nos favorecer, sonoramente, ao longo deste ano 2009. Este encontro nos chega nos formatos CD e DVD e a gente, aqui na Bahia, aguarda este show com ansiedade: na Sala Principal do TCA e na Concha Acústica também. Venham logo!
P.S.: O CD e o DVD podem ser comprados na Pérola Negra, que fica no bairro do Canela, em Salvador.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

A voz de uma pessoa vitoriosa

Maria
Pra o'cê
Um símbolo nacional de muitas vitórias:
Sua cuca batuca
Eterno zig-zag
Entre a escuridão e a claridade
Coração arrebenta
Entretanto o canto aguenta
Brilha no tempo a voz vitoriosa
Sol de alto monte, estrela luminosa
Sobre a cidade maravilhosa
E eu gosto dela ser assim vitoriosa
A voz de uma pessoa assim vitoriosa
Que não pode fazer mal
Não pode fazer mal nenhum
Nem a mim, nem a ninguém, nem a nada
E quando ela aparece
Cantando gloriosa
Quem ouve nunca mais dela se esquece
Barcos sobre os mares
Voz que transparece
Uma vitoriosa forma de ser e viver.

Waly Salomão/ Caetano Veloso

Sob os desígnios do céu


A vida é essencialmente mistério. É aquela vontade de eternidade alegria saúde prazer encontros sucesso que nos acompanha e nos faz querer estar nela. Mas ela é só viver. E nós estamos sob o impacto daquilo a que chamamos sorte e muito do que teremos ressignificar-se -á Sorte.
Hoje é um dia do passeio da sorte impregnando-se ao meu redor e alcançando as pessoas que amo. Estou levemente feliz e prolongado dentro de uma canção que compus com a alma adornada pelo coração amoroso que tenho. O mais profundo. Minha vida hoje é um sonho que me faz feliz pela força da Fé que me exerce e pela beleza que encontro, ainda, na vida de muitas pessoas circunscritas na roda dançante do meu afeto.
Sorte a todos que lerão esse meu chamego vernacular. Axé!

sábado, 10 de janeiro de 2009

Disritmia

Martinho da Vila

Para expressar e sentir um pouco da delícia do samba que ocupa a Cidade da Bahia nesta temporada...Trago o genial Martinho da Vila, um dos malandros cariocas de quem eu mais gosto. Hoje esta postagem foi inspirada pelo belo show de Sandra Simões: imperdível. Como samba é bom,né?

Eu quero

Me esconder debaixo

Dessa sua saia

Pra fugir do mundoPretendo

Também me embrenhar

No emaranhado

Desses seus cabelos

Preciso transfundir

Seu sangue

Pro meu coração

Que é tão vagabundo...

Me deixa

Te trazer num dengo

Prá num cafuné

Fazer os meus apelos...(2x)

Eu queroSer exorcizado

Pela água benta

Desse olhar infindo

Que bom

É ser fotografado

Mas pelas retinas

Desses olhos lindos

Me deixe hipnotizado

Pra acabar de vez

Com essa disritmia...

Vem logo

Vem curar seu nego

Que chegou de porre

Lá da boemia...(2x)

Eu queroSer exorcizado

Pela água benta

Desse olhar infindo

Que bom

É ser fotografado

Mas pelas retinas

Desses olhos lindos

Me deixe hipnotizado

Pra acabar de vez Com essa disritmia...

Vem logo

Vem curar seu nego

Que chegou de porre

Lá da boemia...(6x)

Zé Catimba

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Senhora da Cena

Maria Bethânia
Não há nada mais tradutor da mítica desta artista do que a imagem acima. O que ela traz aos olhos da gente narra o mistério da fé que a compõe como humana e o teor estético que a movimenta em prol da sua criação. O dedo indicador, da mão direita, aponta para os desígnios atmosféricos e a mão esquerda conduz ao voo, quando, os pés flanam ratificando a imagem aérea que ela nos quer mostrar. Sua música, sua dança leve, sua beleza insólita, sua voz água terra e fogo, suas vestes e adereços nos revelam, ainda que com algum segredo, as narrativas de um orixá iorubano - que domina a vida da cantora que é entre nós, uma das mais importantes vozes em atividade artística no planeta Terra na atualidade.
A cena daquele canto é o mistério dos mitos que dão sentido à vida. Uma voz colorida de paixão, vemelho multicor, que amadurece tornando-se, simples e verdadeiramente, sublime. Esta última palavra é a senha de acesso para uma compreensão maior do trabalho da diva que nasceu no âmago do que se conhece como Bahia. E ela , a artista, se propaga e nos induz a possíveis traduções.

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Da beleza infantil


Maior que palavras: a imagem como pureza e solução. A vida está neste sorriso!

A escritura de uma iyalorixá

Iyá Odé Kaiodê
Como ponto de partida, se faz mais que necessário salientar os avanços sociais dos negros no Brasil, principalmente na chamada “era Lula”, quando, entre outras conquistas, desmazelos históricos contra a negrada brasileira começaram a ser reparados via política de cotas no ensino superior e a criação de leis para nortearem os novos conteúdos e as novas formas de se contar a história negro-indígena entre nós.

O sentido deste artigo é explanar, dentro do espaço aqui estabelecido, sobre a possibilidade de a Bahia ter em sua Academia de Letras a presença insigne da mais representativa iyalorixá da nação jeje-nagô no Brasil: D. Maria Stella de Azevedo Santos, mãe Stella de Oxóssi, consagrada como Odé Kaiodê, que desde o ano de 1976 governa com maestria o Ilê Axé Opô Afonjá, fundado em 1910 por Aninha Obá Biyi.

Mãe Stella acumula em sua trajetória importantes publicações que versam sobre a sua religião, o candomblé. Seu livro mais famoso é Meu tempo é agora, lançado em 1994, e corresponde a um substancial legado, registrado graficamente, sobre os ensinamentos erguidos na “educação de Axé do Afonjá” que prescreve as lições deixadas por mãe Aninha e por Obá Saniá, nos idos anos da fundação deste terreiro.

O início deste artigo traz algumas vitórias das organizações negras brasileiras, e, para reforçálas, tivemos no ano de 2005 a concessão do título de Doutora Honoris Causa a iyá Stella, pela conservadora Universidade Federal da Bahia, numa iniciativa do Instituto de Letras, na figura do professor e ativista cultural Ildásio Tavares.

Temos, então, esta iyalorixá como dona de um saber reconhecido pela mais importante universidade nordestina, que nos serve com sua seriedade, disciplina, e certa sisudez, como baluarte preciso para a defesa contra os desmandos sobre a religião dos orixás.
A ação político-educativa desta atual matriarca do Afonjá pode ser comprovada em seus projetos dentro da sua comunidade: a Escola Municipal Eugenia Anna dos Santos, que educa crianças do ensino fundamental; Museu Ilê Ohun Lailai, a Casa das Coisas Antigas, que guarda a história das iyás do terreiro ao longo da sua existência; a Casa dos Alacás, dedicada a fazer peças em tecidos do culto aos orixás. Em relação ao memorial do Afonjá, Maria Célia da Silva, coordenadora do mesmo, afirma: “Aqui no museu a gente sente a preocupação de mãe Stella com a preservação da memória da tradição dos orixás deixada pelos nagôs; ela é uma memorialista, ela luta para que esse saber seja registrado na escrita e o tempo não o apague”.

D. Stella é uma amante das letras, culta, fruidora da cultura universal, sabedora voraz da tradição das artes africanas e afro-brasileiras, viajada, e poderá, em 2009, ocupar a cadeira deixada antes por Jorge Amado e depois por sua amada Zélia Gattai, ambos ligados ao Afonjá.

Assim: teremos a escritura de uma iyalorixá nos representando.
(Publicado no Opinião do A Tarde em 06 de janeiro de 2009).





Para Lorena (II)

Eu quero em licença dizer o indizível
E fazer coisas acontecerem
Em nome da sorte que nos cerca.
Fazer chover sobre nosso jardim
Ocupar o pensamento com mar e flores
Colorir o quarto do abrigo melhor
De azul e amarelo
E transcrever palavras que nos façam
Levitar.
Eu quero esculpir no coração
O verde esperança da ação de nossa competência
E fazer valer os nossos sonhos
Manhã por manhã
Noite por noite
Alvorecer de prazeres que alimentam a alma
E nos condicionam humanos realizados.
Quero uma canção pequenininha
Uma pintura de afeição
O sorriso dos olhos
Meu abraço no seu
Eternizando o nosso encontro.
Brindar ao amor incondicional
Que nos perfila de água potável
Misturado a cerveja, a sorvete, a chocolate
A Fé, a carinho, a distância, a acarajé...
Brindar pelos instantes do que aprendemos
No que fomos
E pela permanência do melhor do que somos.
Quero fazer acontecer uma vida nova em mim
Uma vida nova em você.
E dizer:
Seus sonhos se realizando
Parte de mim se realizará também.
Uma das minhas certezas
É o amor que trago em mim por ti.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Nikka Costa - On my own


Esta imagem de Nikka Costa e esta música, On My Own, expressam um pouco da melancolia que eu sentia quando era criança. Eu pré- adolescente ouvindo outra explorar as zonas de trsiteza que também compõem a alma de qualquer pessoa em qualquer idade. Não sei se foi um tempo bom, só sei que a idéia do amor nascia em mim na voz infantil de Nikka e eu vibrava e ,de certa forma, chorava me preparando para essa tarefa inexorável que é amar. Nunca aprendi mas amo. Esta música nunca me abandonou. Da cantora só conheço ela. E as duas são uma espécie de mito amoroso em minha vida. Lágrimas doces em olhos castanhos vindouros ,saudades do futuro, por esperança, dor pelo passado, pelo que se foi sem ter sido... On my own:

Sometimes I wonder where I've been
Who I am, do I fit in
Make belivin' is hard alone
Out here on my own
We're always provin' who we are
Always reachin' for that risin' star
To guide me far and shine me home,
Out here on my own.
When I'm down and feelin' blue
I close my eyes so I can be with you
Oh baby, be strong for me,
Baby, belong to me
Help me through, help me need you.
Until the morning sun appears
Making light of all my fears,
I dry the tears I've never shown
Out here on my own.
When I'm down and feelin' blue
I close my eyes so I can be with you
Oh baby, be strong for me,
Baby, belong to me
Help me through, help me need you.
Sometimes I wonder where I've been
Who I am, do I fit in.
I may not win but I can't be thrown,
Out here on my own, on my own.
P.S.: Um compósito de satisfação e melancolia. Um dia da minha inquebrantável vontade de amar, de ter em meus braços só o alvo verdadeiro da meu implacável desejo. Um dia da alegoria da minha esperança. Mesmo que vestida de blue. Mesmo que cantando tristeza.

sábado, 3 de janeiro de 2009

Franqueza

Maysa Matarazzo
P/ D. Diva
Você passa por mim e não olha
Como coisa que eu fosse ninguém
Com certeza você já esqueceu
Que em meus braços já chorou também
Eu não ligo, porém, ao seu modo
Isso é próprio de quem é infeliz
Que mostrar que não sente saudade
De um passado que foi tão feliz
Se eu quisesse eu podia dizer
Tudo, tudo que houve entre nós
Mas pra que destruir seu orgulho
Se eu até já esqueci sua voz
De uma coisa eu tenho certeza
Foi o tempo que me confirmou
Seus melhores momentos na vida
Nos meus braços você desfrutou
Denis Brean/Oswaldo Guilherme

Ouça Maysa



Agora é a vez de relembrar satisfatoriamente, uma das mais importantes vozes surgidas no Brasil do século XX: Maysa. Foram lançados um livro biográfico e um cd que celebram a existência da cantora mais chorosa e doída que o cancioneiro brasileiro produziu. A Editora Globo pôs no mercado a biografia escrita por Lira Neto, “Só numa multidão de amores”, que revela a construção artística da memorável Maysa e apresenta em detalhes os dolorosos desencontros de sua vida. O Cd “ Maysa- esta chama não vai passar”, tem produção e distribuição da gravadora Biscoito Fino, traz grandes sucessos da musa sendo interpretados por outras estrelas da MPB.

No livro, o leitor vai conhecer as dores de amor da artista, sua força transgressora, sua paixão avassaladora pela música, e muito mais que a “rainha da fossa”, vai encontrar uma excelente cantora, visceral, que desiste de um mundo aristocrático paulista para viver de música no Brasil da era ditatorial. A mulher dos olhos e da boca na tradução de Manuel Bandeira, senhora de uma tristeza profunda que elaborou pérolas musicais, que amargou dissabores, envolveu-se em escândalos, e acabou por nos deixar precocemente em sua fúria caçadora da nunca encontrada felicidade.
A sua história se mistura ao surgimento do nosso samba canção, e da própria evolução da Bossa Nova, que viu na voz e nas interpretações da artista um mote criador e incentivador para as construções estéticas dos bossanovistas. Sempre associada à fossa e ao álcool, ela trilhou um caminho de inovações, levou a música brasileira para países europeus como França e Espanha, tendo morado alguns anos neste último, e imortalizou internacionalmente a canção “Ne me quitte pas”, do francês Jaques Brel, usada de modo impactante em um filme de Almodóvar, “A lei do desejo”.
Já o disco serve como reverência, como monumento.Canções como “Ouça”, “Meu mundo caiu”, “Franqueza”, “Quando chegares” são cantadas respectivamente, por nomes como Alcione, Ney Matogrosso, Zélia Duncan e Maria Bethânia. Destaque para a interpretação sensível e equilibrada(ufa!) de Cauby `Peixoto em “Ne me quitte pas”. Lindo também, ouvir Zeca Baleiro cantando “Por causa de você”. Participam do tributo outros artistas: Bibi Ferreira, Leila Pinheiro, Cida Moreira (maravilhosa em “Adeus”), Arnaldo Antunes, Beth Carvalho e a grande Alaíde Costa.
Estes dois trabalhos trazem para a nossa época a presença artística de Maysa Matarazzo, nos fazem conservar a memória cultural brasileira, e dignificam a trajetória de alguém que muito contribuiu para a grandeza da nossa música.Uma mulher como tantas outras que sempre se aprontou para o amor e se abandonou na excursão sem volta da sua arte embalada por sua própria melancolia.
Uma cantora que toca eterna na eletrola da emoção dos que amam a música popular deste país.
(Publicado no Opinião do A Tarde em julho de 2007).


quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

Gisele Fróes

Para falar da junção da beleza somando-se ao imenso desejo...
Desfiar um pouco da mulher que caminha por nossos olhos cerrando-nos em fantasia...
Para maior que fruição visual,
Para se ter a táctil sensação do encontro com o melhor
E depois, sonhar com os olhos nela...
Que destrona os óbvios símbolos sexuais
E da sua tranquila delícia
Rouba cenas na TV e na Vida...
Mulher que se deixa ver aos poucos
No roteiro profano dos corpos buscando ter...
Uma deusa grega em carne, em osso, em imagem
Que desliza no retilíneo instante da esmagadora vontade...
Tê-la é o sentido da arte que a habita:
A grande atriz que é a mulher.

Jussara


Sua voz é o arranque da delicadeza.

Sem querer dizer nada, traduz tudo.

É o puro som que se faz.

Imagens do absoluto,paz, somente paz.

Sua voz saindo sem destino,

Sem pretensões, sem floreios.

Voz do aconchego

Canto marítimo de Calipso.

Uma outra proposta de País.

Naquilo que você sempre quis

Seu tamanho inteiro

É o seu cantar.

O maior dos instantes.

Imenso.

Jussara Silveira - 2009

Eu a escolhi para ser minha primeira postagem de 2009, ela que também inaugurou este blog. A escolhi para colorir de música esta minha esperança de um ano realmente novo. Movido pela beleza deste canto ultra-musical na elegância que esta mulher nos traz sempre tão somente em suas aparições. Um ano governado por Oxóssi tem que nos ser um ano Jussara Silveira - filha deste Senhor da Fartura, dono absoluto da elegância.
E para quem não sabe o que é um "ano Jussara Silveira", eis algumas possibilidades de explicação:

a) um ano doce e austero;
b) um ano de silêncio aquecido de mistério;
c) um ano do precioso talento;
d) um ano de reclusão necessária;
e) um ano de poucas mas sagradas companhias;
f) um ano de discretas mas transformadoras realizações;
g) um ano de música, de poesia, de Nietzsche;
h)um ano pronto para amar maduramente;
i)um ano terra e água nas mais belas canções;
j) um ano de justiça feita: bem Jussara Silveira!

P.S.: Maravilhoso 2009 para nós todos!