segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Gal Costa: 66 anos


Para Vera Rocha, que também aniversaria hoje

Sou sem palavras e todo audição.
Quero ouvir seu canto de sorte
E me banhar no inexplicável que sai dessa garganta.
Quero ouvir sua voz até o fim de mim
E saber que meu País tem seus mistérios divinos
E humanos.
Canta Gal  - uma nação caminha à sua Voz.

sábado, 24 de setembro de 2011

Dias nublados no sábado de Salvador


O céu de Salvador, nesta manhã, está nublado com muitas possibilidades de chuva. O mar da Baía aparenta calma. As ruas do Centro sujas, os prédios insatisfeitos; falta coragem aos transeuntes; um lugar piorado quando não se pode reunir para beber e conversar com amigos. A cidade está ameaçada também por muitas doenças. Falta dinheiro no sorriso amarelo dos governantes? Venta na cidade que ainda é um sonho de felicidade. Apesar da dor, há um gosto de liberdade no ar sem purificação. A cidade. Paisagem linda que nos faz, talvez, pouco exigir. E a gente vota errado, tendo só errados para votar. Êta tempo nada porrêta: mergulho em Capitães da Areia, o livro, para ensaiar o filme. Preciso de sorte, terei que descer o Elevador Lacerda. Meu Deus, o Senhor há, um prefeito com o signo da morte. Minha vida em coletividade só pode ser definida pelos Mandos do deus Futebol; meu esporte favorito é o Vólei e nasci sem valer nada.

Mas hoje é sábado que tem a cor da Fé. Insisto assim. Presumo assim e saio para a vida como num filtro de gente. Eu escolhi. Ouço música, rasgo retratos, apago poemas, recito, rezo e danço para os Orixás. Leio. E prazer. Encontro também. Cinema. Festa das Iyabás.

Oxum e Iemanjá e Nanã dançam hoje! Agradeço está vivo ainda que entre as durezas deste tempo na Cidade da Bahia. Sei que se tem de morrer. Já morri várias vezes mas a derradeira também vai doer.
Cidade de sábado, minha Bahia. Queria perfumá-la, reimaginá-la com palavras do poeta da delicadeza, transformá-la sem danificar a essência, tê-la mais negra com a cara da miss Angola 2011, trazer antigas festas e querer dentro dela e realizar nela e ser por ela... Bahia que não sai de mim. Força que orienta a palavra que faço em mim para a arte.

As águas desse meu mar em todos os santos. Axé e Amém.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Beto Guedes - Cruzada

"Quero o abrigo do teu abraço que me incendeia"

Porque apago e me repito.
E saio sobre. os restos dos riscos que não sofri.
Vejo certeiro um riso que me magoa;
Nunca tive chance de matar...
Balança como frescor o passar do meu tempo.
Boca nua mordendo minha nuca e minha memória.
Faço silêncio para início da cruzada.
Estou acima da história e domino o vento.
Meu corpo querendo por dentro a força do outro.
A chuva aumentando a espera.
São listas e listas e listas: minha miséria.
Ouço a voz doce do cantor e
Abro-me em Primavera
Nesta cidade que só anoitece.
Deixei minhas asas na beira da praia de lá;
Meu violão quebrei e a tela que era azul
Hoje, continua linda, e só cinza.
Se muda ? Não sei
Se volta? O Deus dará.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Maria Bethânia desiste do blog O mundo precisa de Poesia



A tacanhice brasileira venceu. Um monte de videastas, novos poetas e cantores, tantos profissionais excelentes querendo fazer Poesia a valores curtos quase de graça. A saga de Maria Bethânia com o canto e a palavra, num lugar como o nosso, só poderia e deveria se muito bem pago. Poesia é cara, aprender é mais caro ainda. Não é porque sou professor, amante da Poesia, divulgador da canção brasileira, estudioso da nossa cultura, esmagado pelo descaso que todos os governos têm em relação à minha categoria que, mesquinhamente, tenho que refutar a grandeza inestimável de quem projeta algo tão luminoso, juntando Hermano Viana e Andrucha Waddington, que deva ser ratificado pelo mercado com pagamentos iguais a quem começa ou amadoristicamente se diverte com versos e imagens. Sei do meu tamanho, aprendi essa noção com ela... A proposta desse blog se inscreveu na minha alma. Ali, diariamente, eu poderia tê-la por perto cantando e fazendo POESIA. Meu amor e meu sonho de educador antropólogo foram feridos.

Não sei se o Brasil perdeu nada. Mino Carta disse que  o MASP é maior que o Brasil. O blog O mundo precisa de Poesia também seria maior que o Brasil, por isso não vai acontecer. Que se gaste muito com Copas e Futebol e a Poesia rasteje pedinte por um lugar qualquer qualquer nessa terra varonil.

Perdemos eu, que mereço muito!, e meus alunos. A cantora vai ao encontro de outra poesia e a grande sonoridade: reinventará Chico Buarque de Holanda.

domingo, 18 de setembro de 2011

Moreno Veloso - Deusa do Amor


Por um pouco de luxo e alegria  e sempre em setembro dança a  esperança de novos tempos...  Relembrei disso Moreno cantando agora de noitinha no Pelô. Coisas que retratam a alma da gente e aquela sensibilidade toda do físico filho de Caê. Os carnavais tão dentro da gente e a fantasia de uma tal felicidade. Lindo aí no vídeo e lindo agorinha no show de Silvia Machete.

Cadafalso


Eu ando sem saber o que escrever, sem ter o que dizer e pior, sem ter o que perguntar. Perdido em imagens antigas que me leveram à frente. Nem sei se me falta coragem; a sensação real é que perdi muito tempo com tudo que me foi mais verdadeiro mas não aconteceu. Estou para dentro dos meus erros e se houve acertos não saberia descrevê-los aqui. Tenho feito silêncio e me inspirado em saudade. Muito repetido que escrevinho para me aliviar. Sonho com uma cidade como Londres, com luzes sobre o terrível cinza, a melancolia em seu frescor, atividades artísticas me ocupando, pensamentos econômicos, uma certa liberdade e a futilidade de assistir o estar de uma monarquia. Ninguém pertence a realezas; somos os dos calabouços lamacentos, alguns fitando estrelas, e todos à espera da condenação. Queria uma palvra de ordem mas minha febre física, hoje, vence a minha febre d'alma... Até cantigas esqueci. Até as divas silenciei. Hoje é um dia qualquer e eu em cima da cama - recuperação com um livro na mão; meu corpo me pedindo atenção e a voz do anjo nunca esquecida. Tenho a imagem de um quase beijo na área ampla da antiga casa. Depois deles: nunca mais soube o que é abrigo.

Não escrevo soube nada. Aqui é febre e silêncio. Suor  gerando imagens. Sentir sem verdade. Os olhos debaixo do travesseiro. Toque para o dia que vai passando em sua poesia de ter sol sobre o mar. Não sei o que será de mim? Nunca soube. Alcanço a palavra mais amada: cadafalso para ir no sentido da mais desejada: possibilidade. Eu armo armadilhas para mim. Em tudo que fiz, fiz na presença do perigo.

Sei da condenação do amor demais. Ainda mais quando eterno. Ainda mais quando o corpo não para de desejar. Ainda mais quando a memória não respeita a distância espacial. Ainda mais quando o caminho fica bem deserto e a única saída é imaginar o rosto gosto cheiro do que foi mais amado.

Podem cumprir a sentença.

sábado, 17 de setembro de 2011

Leila Lopes: lições da Miss Universo

Vitor Hugo Soares
De Salvador (BA)

Terra Magazine ( 17 de setembro de 2011)


A turma políticamente correta de plantão que me perdoe, mas devo registrar neste espaço de opinião a quem possa interessar: fiquei acordado até altas horas na madrugada da segunda para a terça-feira, ligado na transmissão do concurso Miss Universo, feita de São Paulo pela TV Band para milhões de espectadores no Brasil e no mundo inteiro (sim senhor!).
Um evento pela primeira vez realizado no Brasil e cujo resultado foi histórico: a vitória da representante de Angola, Leila Lopes, na festa da beleza mundial. Não me arrependo um segundo sequer do sono perdido. Afinal, é isso que me permite afirmar agora: poucos fatos jornalísticos foram tão importantes e merecedores de repercussão esta semana, apesar do estranho pouco caso dispensado ao assunto pela maioria da imprensa brasileira. Principalmente, as redes mais poderosas de televisão - salvo evidentemente a própria Band, uma das promotoras do concurso de beleza.
Um acontecimento exemplar destes dias de setembro. Tanto sob o ponto de vista da própria magnitude da festa social em si e dos recursos dispensados em sua realização e cobertura (humanos, técnicos e financeiros), mas também quando analisado como fato relevante de comportamento e indiscutível significado social e político. Em alguns países, é verdade, bem mais que em outros.
Considero-o tão ou mais expressivo e digno de registro, análises e suíte de repercussão, quanto o surpreendente recorde (?) conseguido esta semana pelo governo da petista Dilma Rousseff - cada vez com mais forte coloração peemedebista e influência do senador Jose Sarney e do vice-presidente, Michel Temer: seis ministros atirados pelas vidraças do Palácio do Planalto antes da administração completar nove meses. Um deles, membro do PT, conseguiu na Pesca um abrigo de consolação.
Pode contar, usando agora os dedos das duas mãos. E pelo bafafá da surda guerra interna de poder, o efeito dominó pode não parar na surreal pedra (estorvo talvez fosse uma expressão melhor) representada pelo ex-ministro do Turismo, cuja escolha do substituto parece tão estranha e sem sentido quanto a indicação inicial. Pelo menos para os interesses do turismo nacional e elevação da capacitação técnica e ética da equipe do primeiro escalão do governo, tão apregoada pela presidente.
E para não perder o foco jornalístico do começo destas linhas, voltemos ao concurso de Miss Universo. À noite da consagração de Leila, uma cinematográfica Miss Angola, nascida em Benguela e residente em Londres, onde estuda Administração e Gestão Empresarial. A partir desta semana ela passou a ter residência oficial e tratamento de estrela em New York, o que destaca a relevância atribuída à sua escolha como máxima representante e embaixadora da beleza mundial.
Foi uma noite e um dia seguinte para não esquecer. E não apenas para as moças concorrentes (em geral moldadas no padrão de qualidade internacional para miss desenvolvido na Venezuela); os organizadores do concurso de beleza e as poderosas empresas multinacionais de olhos no atraente filão publicitário que o evento representa.
Além do enorme interesse do público (apesar dos preconceitos de tantos), incluindo países do porte dos Estados Unidos, que teve uma de suas mais importantes redes de TV associada à Band na transmissão do evento monumental na capital paulista. No caso do Brasil, basta registrar que a Rede Band praticamente dobrou a sua audiência na noite de segunda e madrugada de terça-feira.
Uma festa de arromba, de encher os olhos desde o início. Um final eletrizante e surpreendente de fato, e não apenas na retórica bombástica comum nas coberturas de eventos do gênero. No palco, na plateia do Credicard Hall, e na frente dos aparelhos de TV no Brasil e em inúmeros países mais. Nervos alterados, tensão à flor da pele, angústia, muita beleza de todo lado.
No fim o veredicto do júri, momento mais esperado e definitivo: Miss Angola, Leila Lopes, bela, lúcida e carismática africana de 25 anos venceu o Miss Universo 2011, em sua 60ª edição. Muita gente - incluindo este jornalista - acreditava que a angolana ficaria entre as cinco finalistas. Poucos, no entanto, salvo alguns de seus conterrâneos presentes no auditório da grande festa, apostavam que ela levaria o cetro para Luanda.
"Mas a espigada e bela morena Leila Luliana da Costa Vieira Lopes, 25 anos, se converteu de forma contundente na primeira angolana coroada como a primeira e mais bela do universo", registrou com entusiasmo e pontada de inveja um jornal da Venezuela, país onde o concurso sempre obtém espaços generosos.
Mas Leila Lopes além de tudo, fez história no Brasil, porque desde 1999 a organização do Miss Universo não tinha uma soberana negra. A última foi Mpule Kwelagobe, de Botswana, que curiosamente herdou o cetro de outra beleza de ébano, Wendy Fitzwilliams, de Trinidad y Tobago, registrou ainda o jornal latino-americano.
A Folha e outros grandes jornais brasileiros abriram espaços em suas edições online para o concurso e seu desfecho. Principalmente para a primeira e reveladora entrevista da vencedora. "Meu sorriso contagia as pessoas e mostra minha personalidade. Sou alegre e consegui mostrar que sou divertida", disse a Miss Universo 2011". Sobre algumas reações racistas à sua vitória, principalmente na Internet, Leila foi contundente e definitiva como sua beleza: "Racismo não me atinge. Os racistas, sim, devem procurar ajuda, porque não é normal uma pessoa pensar assim no século 21".
Bonita e justa escolha. Feliz reinado para a angolana Leila Lopes, desde terça-feira a incontestável número um entre as mulheres mais belas do planeta.

P.S. Vitor Hugo - isso que é um jornalista!!!!!!!!!!!!!!! Obrigadíssimo.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Cristina Rosal no show Espelhos


Serviço

Show:  Espelhos
Artista: Cristina Rosal e convidados
Local: Teatro do Sesi - Rio Vermelho
Dia: 14/09/2011
Horário: 20 horas
Ingresso:  R$ 20,00 ( Inteira)
Categoria: Imperdível

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Leila Lopes: miss Angola é a miss Universo 2011


Linda. Justiça. A beleza maior de 25 anos ganhou. Vinda de Benguela. Altiva e cheia de fé. Linda! Emocionante. Mágico. Desde o início, de perto e de longe, a mais bonita distintamente!!! Adorei, nesses dias difíceis - um docinho de alegria. Viva Angola, Luanda, Benguela!!! Viva Leila Lopes!!!

Talhado na pedra

Estava lá, nome signo insígnia face, de fazer doer. O de dentro que constrói as melhores narrativas; o que nos faz sentir maior que entender. O que nos arrasta até à beira da praia, próximo a pedra, senta chora pede clama, e se consola com os contornos que o mar dá,  no alívio que a brisa deixa.

Estava lá e, apesar de talhe, era dança. Marulho nos olhos cheios de amor. Camisa navegando conduzindo a flor da esperança para o infinito. O azul perfumando o instante e alimentando a memória. Uma tarde eterna na clareira solitária de uma busca perfilada de morte. Era ali o inscrito na rocha. Às mãos das águas do mar. O pedido. A oferta do silêncio e das lágrimas como presente sublime à Senhora dos oceanos.

Estava lá e não estaria até no descrito na pedra, se não fosse a força viva do coração pedinte. O mundo no seu deserto cheio de gente e nenhuma gargalhada conhecida. Era dança feito criança com uma longa vida pela frente se estivesse lá. E estava. Talhado na pedra. Para séculos e milênios. Para conformar começos meios e fins... Era dança voando na mente. Asas de poder e doçura. Sobrenome da delicadeza Luz sobre o querer.

Uma boca nua e linda. Os olhos acastanhando azuis e cinzas. Leveza mágica. Emissão de muitos líquidos. Veludo em suores. Tenacidade. O barco embriagado do prazer. O contrário da velocidade. E o discurso da distância.

Estava lá entalhe  na pele fina do coração. Tal como pedra e rocha. Durando verde virgem inocente como mãe a zelar pelo sono do filho.

Abrupta correnteza amorosa que se escondeu na superfície da rocha para durar a eternidade.


quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Marisa Monte: Para ver as meninas


Para Michelle Cirne

Muito silêncio dentro de mim. À busca do que me pode ser encantamento. Leio por sobre o tempo e sonho acordado tal como a amiga frente às águas do mar da Bahia. Eu que ando no bem de também ser sertão; vago rastros cinzas desta saudade que me inscreve na palavra: "sonho".
Amanhã corro para minha adolescência e bebo Kid Abelha. Durmo com Marisa para o delicado se apossar do meu sono. Boa noite.

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Augusto Boal contra opressão

" Teatro não pode ser apenas um evento - é forma de vida! Atores somos todos nós, e cidadão não é aquele que vive em sociedade: é aquele que a transforma"

É sempre um mistério renovado estar diante de um grande legado artístico. Ainda mais no formato da arte que se obriga a libertar o humano de todas as esferas aprisionantes que, às vezes, nos fazem abandonar a vida em seu pleno exercício. A arte como elemento transgressor, ato político e criador; a arte como novos rumos, outras possibilidades de caminho.
O humano brasileiro e o seu teatro deve muito à história do dramaturgo, educador e pensador social Augusto Boal. O século XX foi marcado pela presença deste homem que usou dos palcos para exercitar na gente a experiência do vôo, a emissão do grito, a organização para a luta, a vontade contra as amarras e a capacidade de se representar como personagem de si mesmo; como ator de um espetáculo construído a favor do destino, individual e coletivo, entre  povos que se espalham pelo mundo.
Boal foi tradutor da grande arte a serviço do povo e da liberdade. Uma genialidade que se equivale ao engajamento de um Bertold Brecht, ou ao lirismo de William Shakespeare; compondo narrativas que marcam o teatro brasileiro lutando contra as muitas formas de opressão. Assim, criou o universal Teatro do Oprimido, um método artístico político educativo que estimula a verve de ator que todos nós, seres humanos, carregamos e praticamos no dia a dia.
Para entendermos um pouco da saga do saudoso teatrólogo, com poesia e sedução, mesmo dentro de uma linguagem tradicional de documentário, é necessário assistir o exitoso Augusto Boal e o Teatro do Oprimido, do cearense Zelito Miranda, lançado em Salvador, no VII seminário Internacional de Cinema e Audiovisual – Cine Futuro, ocorrido em finais do mês de julho.
Augusto Boal foi também um ativista cultural brasileiro que lutou contra a dtadura militar, sendo preso e exilado, espalhou o Teatro do Oprimido por vários outros países, sendo talvez, na linguagem da dramaturgia, o autor diretor encenador mais internacional que tivemos, e, entre nós, é um desconhecido.
O nome que dignifica a trajetória do povo brasileiro e que fez do teatro um instrumento de luta contra a pobreza e derivados.
Marlon Marcos
(Publicado no Opinião do Jornal A Tarde, em 31 de agosto de 2011)

domingo, 4 de setembro de 2011

Iemanjá: minha reverência via Tiganá Santana


Iyá Ogunté:
O lugar da mãe guerreira
“A Dona do mundo faz do alcance o seu dizer
Ter água no corpo é merecer”
Tiganá Santana

Iemanjá é a senhora das águas do mundo. Abrigo e gerência de tudo que é vivo, sentido profundo das fragrâncias do feminino no que salta aos olhos e, também, no intraduzível. É a mãe belicosa que arrebenta as marés, debate-se em rochas, empunha o alfanje, socorre e mata, em nome do amor que a orienta. Energia aquática soberana de peixes e sereias, reflexo das donzelas querendo amar nas areias, símbolo da mulher-mãe que comanda seu lar.
Iemanjá é o mito que transborda a essência das águas, desperta a vida, cuida sem parar do infante humano em sua caminhada de abandonos. Ela habita as algas, transmuta-se em polvo, arraia, golfinho; às vezes, é a poderosa baleia; outras, sereia; do mar, no íntimo da água salgada, ela zela poeticamente pela existência potável do que mata a sede e dá vida ao que pode viver no território terrestre.
Ela é a dança do sossego. E a fúria intempestiva dos mares. Espalha oxigênio pelo mundo segurando as cabeças que compõem a humanidade. Qualidades da mulher que adolesce e da que envelhece em contrapartida. Equilíbrio entre beleza e segurança, ela toma conta de tudo que lhe afeta e se ilumina na força que a traduz: os elementos aquáticos.
Escorre dela também doçura.  Seus movimentos são lentos e oportunos, ela sabe chegar em sua majestade e marcar sua presença na luminosidade dos seus símbolos. Forte como a pedra do absoluto, translúcida e aderente como suas águas, delírio de pescador, uma senhora do cotidiano e quando mais perigo, ela é o mistério difuso que amedronta e afasta como os oceanos longínquos.
O negro feminino que pariu a Terra nascida da grandeza dos mares.  Iemanjá é puro encanto. O que se desliza e atinge; alcance e representação da esperança. Sua energia ocupa qualquer lugar e ela imprime proteção na alma de quem a entende. É quem aglutina gente e desintegra os desertos. Mulher que se abastece nos vestígios de fé que perfumam e enfeitam sua casa e se enfurece com o dessentido da poluição.
Iemanjá baixa nos terreiros no frescor da generosidade e da vaidade que a definem. Destacado alicerce da fé do povo do candomblé e musa sagrada inconteste das ressignificações que deram à sua personalidade divina. Ela é a dona do mundo.
Uma canção divina que nos embala para cuidar-nos. Segredos dos pescadores – Odô Iyá – frente a rios e mares, o pratear do xaréu nas manhãs baianas que alimentam a vida. Mulher de partilhas e abrigo no ventre. O feminino se ordenando – o comando político certeiro para que haja coexistência. A mulher ninando a cria com a mão de poesia na cabeça dos filhos sonhando. A mulher banhando cada sorte, cada caminho.
Iyá Ogunté nesses atalhos do Brasil. Deusa iorubana incrustada no Rio Ogum – avalanche de águas doces e salgadas nessa esfera mítica do humano viver. Deusa negra e original da afro-brasilidade. Seios fartos de leite e procura, divindade condutora da saúde dos pensamentos.
Iemanjá – serena representação no bairro do Rio Vermelho. Aquela mãe de todos nós que inspirou o poeta: “ter água no corpo é merecer”. Erú Iyá.
P.S. - Iyá de mim, Senhora que me ocupa, Mãe da minha proteção, Guardiã dos meus mistérios mais profundos, Dona das minhas sentenças, Voz maior na minha audição, Luminosidade na minha vida, Fonte inspiradora dos meus escritos, Baluarte que me conduz, Insígnia do meu princípio, Alfange que corta a favor de mim, Água que me purifica, Beleza que me anima, Útero que me dá paz, Nome que dobra em meu nome, Encanto das minhas certezas, Âmago da minha fé - Motriz absoluto da minha existência que é nada sem a energia aquática da Sua Presença.

Do avesso

"Eu quis o perigo e até sangrei sozinho
Entenda
Assim pude trazer você de volta pra mim"
Renato Russo


Dos começos rodando a cidade. Do palavrório como insitência e o cheiro de álcool no travesseiro. Isso de se ver ao espelho pelo avesso do avesso do que nunca se sonhou ser. E o mundo mais próximo cheio de frio. A vontade de desbravar as violentas verdades, enfrentar o frio, se ter muito frio e aceitar o seu convite de prazer.

Dos recomeços diários e as vãs explicações  nessa vontade do impossível de apagar uma história, evitar todos os erros; isso de ser um relato inventado, dar nobreza à mentira, seguir incólume como um deus ou outro ser encantado. Isso de buscar a mão do mar e  os braços do silêncio.

É mais um dia que trouxe um corpo no sonho. O mais do mesmo que mora em mim. Meus olhos à  porta de entrada de outra vida estendendidos como se fossem mãos. E o que fora ainda é no marulho das águas da baía - lembranças do mais delicado prescritas nos lençóis azuis da espera.

E o tempo que ensina mas sangra e a torpeza dos que só sabem doer. Lá dentro do avesso do avesso ao espelho: tem um visgo imagem de alegria. É o sentido maior. Uma espécie de respingo que põe a vida a valer. A mão tocando o rosto, versos saídos da boca bailando no ar, escritos em qualquer papel, horas com calma, risos de dentro, desenhos da alma, canções comovendo, banhos marítimos, o corpo entre chuva e sol, descansos verdejantes, entressafras emocionais... Por fim:  sonhos realizando-se.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

É Setembro


Entramos em setembro e no festival das flores. Sol sobre a terra da Bahia, refletido nas águas do mar, vontade de navegar a esperança e serenar... Vejo a dança de minha Iyá ao centro da Baía e canto um mantra que reverencia às águas. Setembro - perfume e areias, dendê e infância, a mulher...

Deixo a rosa do meu coração, nas partículas do movimento de Oyá, para levar ao coração da outra poesia que me habita e festejar e, desse jeito, amar. Tenho 30 motivos para ter Fé e muitas alegrias.