sábado, 30 de junho de 2012

Caymmi e Renatinho Russo: minha saudade



Minha amiga, a grande jornalista Maria Olivia Soares, antenadíssima e sensibilíssima, me mergulhou nesta raridade; eu neste sábado com Bethânia e Pessoa, Botero e Woody Allen, Pessoa no Teatro, poesia sonora na minha imaginação. Sábado, apesar do medo, como a maioria: feliz!

Ela, Olivia, me deu a voz de Caymmi misturando-se à de Renato Russo. Existirmos, em mim, a isso se destina... Todo emoção nesse tudo é breve e saudades: Billie, Cássia, Amy e você. Renato desenho de giz no só louco de Caymmi e eu e água, eu e água, eu... Choro de azul felicidade - não há tempo para quase nada; espero-lhe felicidade e nada... Renato em Caymmi lhe encerrando aqui, no meu corpo que lhe imprime do jeito que ninguém mais fará no sentido do amor.

Água em mim. Luz em mim. Tempo em mim. Um cansaço de existir. Mas, se não chegasse até aqui, não teria o sabor desta falta que me é profunda poesia. Eu sou mar e aguento, e vou, passo até para além do amor. Vou banhado e raro como este vídeo que entrego a ti.

P.S.: perdoe-me o parco português!

Botero: discursos contra a violência


O olhar sensível do antropólogo Claudio Pereira, meu ex-orientador no mestrado ( com muita honra!), nos convidou hoje, no Jornal A Tarde, Caderno Dois Mais, sob o comando da grande Simone Ribeiro, a visitar a impactante exposição Dores da Colombia, de Fernando Botero. Na Caixa Cultural, Rua Carlos Gomes, em Salvador da Bahia. Pinturas-gravuras contra a violência, retratos da recente história difícil por que passaram nossos irmãos colombianos.

O texto de Pereira, com requinte poético e antropológico, reforça o convite midiático para que nós baianos, tão queixosos de boas atrações, não percamos a beleza grandeza necessidade deste evento. Todos lá e já! Ontologicamente, a humanidade agradece.

Algo de Brasil ali...

Maria Bethânia para poetar



Quando a beleza é tangível ao mesmo tempo que é vento.
A voz caminha nas ruas da nossa audição e anuncia:
Temporadas do profundo dizer que ensina,
Alimenta a vida de horizontes vernaculares
Sendo uma espécie de som de Deus.
Pessoa em mim renasce,
Na Bahia alvorece,
É devolvido a Lisboa, a Portugal;
A musa se cavalga como figura mítica
Em seus temporais e na avidez do fogo
Para plantar riquezas estéticas
No sonho de país que ela nos deu.

Banho


" A água lava as mazelas do mundo". Depois o mundo olha.

terça-feira, 26 de junho de 2012

Gilberto Gil, 70 anos!


Mestre inexcedivelmente baiano,
Sempre inscrito na geografia deste lugar
Desenhando com sua música e poesia
A Bahia que há traduzida na arte
E espalhando-a pelo mundo!

segunda-feira, 25 de junho de 2012

É sempre assim

Aberto para o lado de lá;
objeto confuso e controverso
deserto e falta de encenação...

Para antes do que foi
Cena vermelha dos olhos
A boca querendo
E as mãos apertando.

Gotas do desejo escorrendo
Entre o rosto e o segredo,
O que não houve continuação.

Mundo perverso,
Uma tarde só é...
É sempre assim.

domingo, 24 de junho de 2012

Documento Dalva de Oliveira


Um documento sobre a raridade
Uma verdade resgada pelo sublime de uma voz.
Cantando no ano em que eu nasci.
Sendo magnânima na TV.
Este país sem memória,
Cheio dos atropelos das fracas construções,
Dos que cantam sem alma na busca fácil dos milhões.

Um documento educativo para eternidade
Para os filhos do Brasil.
Canteiro que se cuida afinação
Flores da beleza como fonte
Que dá cantoras reais.

Um documento para revelar
O quanto andamos esquecidos
O que era e é a poética de uma Voz...
Pousando em Nana Bethânia Gal Elis
Pairando em Stella Maris Claudia Cunha
Significando Jussara Silveira
Fazendo-nos às vezes doídos
Mas muitas outras vezes:
Felizes.

A arte de Dalva é exemplo
Do que PODE o povo deste país
.

sábado, 23 de junho de 2012

Para Roma com Amor, Woody Allen



Woody Allen acerta outra vez. Muito que parodiar a nossa condição humana em trajetos universais. Comédia deliciosa. Foco de beleza masculina e feminina e muita diversão da gente rindo da gente mesmo. Queria um filme desse em Salvador, sobre Salvador, com gente de Salvador. Talvez tivessem negros e gays nos roteiros incríveis de Allen. Sujeito espetacular interpretando a si mesmo. Gargalhadas garantidas tendo Roma como moldura. História levíssima confrontando nossos desejos, ou será revelando-os, satirizando, coçando a cabeça da hipocrisia?

Roma mais que linda! Cenário do grande cinema feito no mundo. Recebendo o amor de Woody Allen, em sua tour pela Europa; ele que já encenou Paris, Londres, Madrid e agora, Roma. Teremos Lisboa? E o Rio? Não, Allen fará dia desses Buenos Aires, com vinho e certeza.

Eu amo Norah Jones



Há uma sensação de leveza em minha audição no momento em que escrevo esse texto. Uma voz feminina em anúncio de sonoridades, num canto doce e criativo, em língua inglesa, singrando histórias do amor em desencontros e superações.

Um pormenor
: o que afasta como impossibilidade compreensiva dilui-se frente à beleza que advém dali. São ritmos e lentidão, desenhos do que sentimos no fluxo das paixões. Tem o rosto do outro que queremos - nisso quando nos diz não - e a gente ouve essas músicas, um copo de vinho na mão, ficando sempre mais vazio, raios e reflexos de tudo traduzido em emoção.

A gente que também diz não. E a música salvando todo mundo.

Essa leveza me põe para longe do Nordeste, das festas de São João... Festas que tanto respeito, valido, me comovo, mas fujo para o canto onde eu seja fluido como este disco que ouço. Para o canto onde me exerça no que escolhi e me acenda de realidade ou de memórias ou de saudades até do que não vivi.

Eu amo Norah Jones. Vou aprender inglês. Vou lhe dar um beijo roubado.

sexta-feira, 22 de junho de 2012

No Lider


Quando bate por dentro a vontade de agarrar.
Alguma coisa contra o tédio.
Algum verso de imaginar.
E se embeber no mesmo você
Que se quer abandonar.

quinta-feira, 21 de junho de 2012

A Terceira Margem do Rio

"Ele me escutou. Ficou em pé. Manejou remo n'água, proava para cá, concordado. E eu tremi, profundo, de repente: porque, antes, ele tinha levantado o braço e feito um saudar de gesto — o primeiro, depois de tamanhos anos decorridos! E eu não podia... Por pavor, arrepiados os cabelos, corri, fugi, me tirei de lá, num procedimento desatinado. Porquanto que ele me pareceu vir: da parte de além. E estou pedindo, pedindo, pedindo um perdão.

Sofri o grave frio dos medos, adoeci. Sei que ninguém soube mais dele. Sou homem, depois desse falimento? Sou o que não foi, o que vai ficar calado. Sei que agora é tarde, e temo abreviar com a vida, nos rasos do mundo. Mas, então, ao menos, que, no artigo da morte, peguem em mim, e me depositem também numa canoinha de nada, nessa água que não pára, de longas beiras: e, eu, rio abaixo, rio a fora, rio a dentro — o rio.
"


Um trecho. A leitura. Meu sonho. A excelência.

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Masina



Sonoras da vida, memória.
Lugares que se descrevem
Feito outras peles sobre a
Pele em nós.

Ela - uma lua qualquer
Entre a rua da excelência
E o mistério de ser mulher:
A artista.

Ela - um princípio à frente
O que não entendo, mas
É toda linda!

Passa como trilha
No cinema vocal de
Caetano Veloso,
Roteiriza a genialidade,
Ensina dramaticidade,
Casa-se com Fellini.

Esboço do que vem de dentro
Assinala novos tempos
Não sabe ser passado.

Pálpebras de neblina, pele d'alma.

Sobrenome feminina
Cabíria que faz soluçar
No mais escuro que deserto
Cara que virou canção,
Alma que se forjou filme.

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Maria Bethânia, 66 anos!



Olhar para o céu,
desligar a pressa
ouvir sua voz
mergulhar no seu canto
ter tempo pra viver
compreender.

Os espectros da complexidade
a cortante verdade
a verdade de ser
Maria Bethânia.
Verso único, querer...

Caminho que ilumina
um instante, uma nação
com  a expressividade
com a qualidade
com a intensidade
que só sua arte pode trazer.


P.S. : 18 de junho de 2012, Parabéns minha musa!!!

sábado, 16 de junho de 2012

Quero me afogar.

capto a palavra semente
à mente do que não posso falar;
sigo esse destino fastio
tudo para o quase que
o tédio não viu;
e demente rogo aos céus
aquela chuva que não chega
ao sertão.

quero me afogar.

Suicídio

Na linha do esquecimento
Rompendo o vazio e o silêncio.
Indo até o depois do abismo,
Frias conclusões da morte calculada.
Há calma no que o  espelho reflete.
Há vento entre a cabeça calva
E o pensamento florestal desértico.
Ante bula de remédio
O mundo declarado em suspensão...
Signos da agonia na canção inacabada
Primavera contínua,
Dança sem par,
Festival da solidão.
Lugar para a noite infinda.
O fim do que já era
Portas fechando a caverna
Com as mãos do sim apertando
As mãos do não...
Adeus na vida.

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Agradecendo a Alaíde Costa



Ouvir, de perto, Alaíde Costa é um presente para quem acompanha a música popular do Brasil desde pequenininho.
E hoje foi assim: ela cantou para poucos baianos, no Centro Cultural dos Correios de Salvador, com sua voz de mezzo soprano, encantou-nos naquela afinação de Deus.
Uma senhora lindíssima, homenageando Johnny Alf, intensificando a onipresença de Jobim, adocicando nossa memória de Vinícius, e sendo estesia sonora para formar luz viva na gente.
E ainda, a capella, entoou  As bachianas no bis dela que sempre deixa saudade.
Eu posso falar de Alaíde. A ouço desde guri, e já a aproveitei ao vivo algumas vezes.
Obrigado aos delicados informantes: Carlos Barros e Claudio Pereira.

Maria Bethânia


Beleza se cria assim. Tudinho como lição. E minha alma dançando chorando acompanhando esta emoção.

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Santo Antonio



Antônio,

Tanto a agradecer. Dizer das imensurabilidades que me trazem a TI. Bendito Santo - guardador de mim! Axé, sempre! Obrigadíssimo. Salvas altas neste seu dia!!!

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Da alma

(Uma cena da película argentina: Plata Quemada)


Existirá até o derradeiro instante formulando-se entre as partículas da incompreensão alheia e a nossa. Evitará exibições mesmo estando aqui. Será uma carta escrita à mão, uma caixa com tesouros da adolescência, fotos sobre livros, discos inaudíveis, tantos temas fílmicos, versos de Lorca, porta entreaberta, papel picotado, saudade discreta. Aquilo que  não se pode falar. Mas será. O silêncio conduzido pela inconsciente espera de um amor que também foi físico e hoje,  se abrasa em sua forma etérea. Fará chover na imaginação, e, ali, o sol também chegará refletindo-se no mar que nos alude; flores de todos os lugares, camisas e perfumes, doçura dos alimentos e dos olhares, a boca calando pedidos e fantasias, a mão escrevendo a poesia que nos fez encontrar. Estará para sempre o estrondo da nossa delicadeza, e sem certezas, cidades serão marcadas com a beleza que confluiu dos sonhos que guardei para viver ali: pousando a língua no corpo seu e protegendo acarinhando inspirando a sua alma, confusamente misturada à minha.





"Duvida da luz dos astros,
De que o sol tenha calor,
Duvida até da verdade,
Mas confia em meu amor."




A vida como ela é


Se me perguntam? Eu demonstro. E aposto e violo e assisto. O mundo começa e termina por beleza. A gente quer o impróprio, o impossível, o importante. Beleza dentro do horizonte que traga os olhos e apresenta tudo como se fosse arte. Não tão profundo. Arte derrapante transfigurando. Como um canto. Instantes maduros, O olho vê nos ouvidos que fazem música. E mais é para o íntimo do que se quer. Lá. Aqui. Já.

Se me respondem, eu repergunto na trilha das novidades. Tenho saudades do que ficou no entreolhar de dois dentro de um carro, uma bandeja de salgados, a vida ficando pra depois. Tenho calma, às vezes. Apreço pelas quartas-feiras, às vezes. Mas todo dia amo sábado e poesia. No final de algumas noites, leio uma página de antropologia. O maior parâmetro de mim é um par castanho de olhos que foi aguar o sertão.

Vivo de ilusão nessa morte contínua no real. Tanta falta. Afogo-nos na repetição e tenho filosofia que crê. Amor é encenação. Enceno por  arte, a parte de comer. Quanta fome me eterniza! Quanta alegria nesse desviver. Longe - Assum Preto - alguém poderá não responder e nem perguntar. Tenho a alma do retirante e sei, lindamente, cantar.

Disseram-me sobre a vida. Tem. E não tem. Gosto na fotografia. Intenso querer. Ando caçando sons e hipnose querendo trazer. Disseram-me está passando, enterra esta saudade e vai viver. Viver o quê? A vida.

A vida? Como ela é?

sábado, 9 de junho de 2012

Redesenhando-me ou Way Out

 Marlon Marcos

Ali, na sutileza, onde existe o mais forte desenho de nós. Não está fora. É de dentro que a imagem fala. Os olhos alcançam de outro céu que é meu também: me vejo me sinto me planejo. Eu preciso sair. O sol que se venta em frio nas perguntas que me impelem. Quase não há tempo e o medo pulsa. Não cabe mais a fixação pelo proibido e a razão castra aqui. Saint- Germain, Montmatre, Café De Flore; meu sorriso amarelo ente tantas dificuldades e a vontade de segurar aquele lugar na minha intensidade. Eu - dentro dos livros e dos filmes, ouvindo Luiz Melodia. Acionando o impossível que também pode ser para mim e sem hipocrisia.

Rabisco o filme Weekend na simetria da boca de uma mulher. E beijo. Para saber o que é o beijo. Sinto na cara o ar de Paris e caminho descalço pela Europa para gritar pelos pés: nunca serei daqui. Vejo por cima do muro e me anulo para encontrar aquele lugar. Tenho a reta de outras cidades como Londres, Abeokutá, Nova Iorque, e nem quero pensar Salvador; tenho outras cidades na luz daquela que  me traga como se fosse minha e nada sei em francês. Sinto.

Sigo olhando para o céu e sem óculos. Rezo a Deus perto do coração da Grande Mãe. Sem vinho e sem pão. Só rezo. O Sena me acena muitas emoções em Beauvoir. Clichê que não largo. Terceiro sexo. O que se deixa vê: Merleau-Ponty. Habitam cidades dentro de mim e me sou a mulher que namora todas elas. Eu creio e estou lá. O pescoço vermelho louvando Iansã. Outra Mina. Luz que permite caminhar e a chegada como chuva transportando o mar. La mer. Gotas sobre mim. A saga que formula a decadência: não creio. Sem receio. Pouso ali. Imagino. Sofro Insisto. Dali.

Um café sobre a mesa, gente quase minha passando, eu sonhando entre escritos de Pessoa Rimbaud Lispector Mallarmé Hilst Caio F. Sartre Baudelaire Craveirinha Batatinha... Eu sem saber, cheirando a fumaça do cigarro alheio, vítima do alumbramento, redesenhando-me numa cidade que eu quero também para mim.

Celeste e eu



Do tamanho do sorriso quando vindo de dentro,
Das cores em mais sentido,
O ombro amigo abrigando a vida
Nos dando carinho.

De um lugar todo sábado,
A Ribeira de Salvador,
A voz de Bethânia unindo,
A gente marcando-se de amor.

Encontro das divas

Mãe Zulmira de Nanã (sentada) e Virginia Rodrigues


No silêncio da madrugada, eis que a beleza se anuncia:
Em duas, mãe e filha, à luz da divindade.
Duas divas da marcante alteridade,
Iluminam e aquecem os olhares.



sexta-feira, 8 de junho de 2012

Beija eu



Saudades,
Beija agora.

Floresta Azul


Eis que me tomo de mim e sigo nos interstícios da solidão.
Em cada sílaba que pronuncio reinvento cores e caminho.
Na vastidão do medo do inexistente da desilusão.

Há luz na penumbra de mim.

Eis que vago de coragem também
E dentro do azul chego a ti sempre
E te seguro de frente e amoroso
Rogando-te  a tua inspiração.

Há verde no azul de mim.

Eis que te sinto quando escreves
E esqueces do não que nos formula.
Assim: invento a floresta azul
Entre tristeza e alegria, tua mão
Acaricia minha memória, os meus cabelos.

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Oxóssi


Do seu verde à sua fartura.
Da coragem ao bem estar.
Das matas onde caminho
Faço meu destino com o coração.
Minha cabeça na sua
Minha alma em sua direção.

Arolé OKê Arô!

Da flecha que acerta e dá norte
Das vezes que se vence a morte
Nossa vida come a sua caça
Sua dança balança nossa emoção
E hoje os atabaques tocam
E as mãos seguram o seu Eran.

Arolé Okê Odé!

Para o fundo

verte, brilha, segue, alma.
quando, tanto, ontem, olhos.
sentido, perdido, mínimo, mão.


Palavra é o seu caminho.
E onde você está escrito.
Sua fala redesenha sua boca
Exprimindo luminosidades
Fazendo manhãs.

Escritos de um destino
Que chega sem tempo
Para além dos períodos
Assinala as marcas dos
Amores.

unguento, tempo, trilha, corpo.
ágil, farto, doce, dente.
semente, linha, desejo, pênis.
cores, líquidos,  azuis, fundo.

terça-feira, 5 de junho de 2012

Caio F., Bruxelas e eu...



Já ardendo a memória! E sem lamentos.
Rabiscos naquele muro em qualquer lugar.
Trânsito impossível deste estar fugidio
Que vai vai vai vai...
Sem sair das lembranças de alguém
Impregnado nas páginas do livro.

Carta de Amor


Não mexa mesmo!

sábado, 2 de junho de 2012

Por aí



"Nunca a alheia vontade, inda que grata,
Cumpras por própria. Manda no que fazes,
Nem de ti mesmo servo.
Ninguém te dá quem és. Nada te mude.
Teu íntimo destino involuntário
Cumpre alto. Sê teu filho."
Fernando Pessoa

  
Que não me resulte a dor
De trilhar caminhos da farsa,
Me quero em mim mesmo.
Tocando em apreensão ou silêncio
Meus modos de querer e amar.

Que não me deixem vacilar
As ordens dos que me sabem
Nem menos, dos que não;
Quero-me a contrição do olhar
E cavalgar a seresta de uma voz em riste.

Estou para fora de mim
Em absoluto acordo por dentro.
 

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Presente

Tão poucas vezes, para fora da ilusão, seu sorriso, sua fala, sua vida, esteve aqui. E eu me contento assim: contemplar no hoje a sua ausência. Plantar cores no cotidiano de mim a partir dos desenhos de horizonte que lhe roubei. Desejar a sorte que só o amor sabe fazer e ter a paz de quem desmedidamente amou e quis e disse e foi e não.

Encontro-me neste encanto de lhe imaginar assim: no agora onde tudo é eterno e logo acaba. Meu deserto que é você; ando só em você dominando seus mistérios no ausente da gente e sim. Digo-lhe pisando na areia do seu corpo, ventando no abandono, lotado na sede de viver no seu desejo abundante; lhe beber. Seu olhar que é o sol e a sua poesia que me é o mar. Memórias daqui do já. Presente. Você em mim ausente. Eu a soletrar seu nome na duração do amor que jamais findará. E ferve-me neste inferno do querer bem de qualquer maneira. Aceito.

Caminho para o templo. Recrio a sua boca que me fala. Tenho alma e ereções. E sigo. Deveras. Sigo o círculo de um tempo que me aprisionou e já me custa a vida. Será que você vem vindo?