De alguma delicadeza preciso, mesmo aparando arestas, expurgando
sentimentos, sofrendo fome e sede, calando verdades, mentindo... Alguma delicadeza
somada à libido, ao desejo desconcertante, à volúpia desimpedida e, ainda em
alta temperatura, ao silêncio.
A delicadeza refrescando feridas,
guiando no escuro, convidando esperança, inspirando... A delicadeza maior que
os sentidos movendo para o encontro. Esse alinhamento da transgressão e da
beleza é a delicadeza em projeção.
Preciso tocar-me com palavras e com
as mãos para acessar o abraço mais sonhado.
Ver nascer e morrer o sol; ter chuva no amanhecer. Rastrear marcas do
amor pulsando em livros, discos, filmes, camisetas, esportes, consultórios,
facebook...
Rastrear sem por que, só coragem... Sem ter o que saber: rastrear para ver as
superfícies da imagem amada diluída em tudo que é, mas que não é seu, não está
em você.
E assim, até na mais doída das faltas: eu careço
desta delicadeza vertendo poesia.