Alguma coisa reza dentro de mim. Traços sonoros da Deusa
marítima em outra língua que não o iorubá. Visita de anjos cabalísticos na morada
da desarrumação. Um barco singrando o pensamento feito céu diurno no verão de
Salvador. Palavras aos olhos como saudação e um percurso a desconsiderar.
Imagética azulada e o coração em silêncio. Minha voz é do mar
– não chama mais, mas lembra- batendo na pedra feito desejo. Aprendi que a
beleza desgasta quando é mera convenção. Este dia traz o susto. E eu danço a
leveza que mora comigo. Encontro rosas, uso perfume, visto-me de branco, tiro a
roupa, danço de novo, medito, bebo água; encontro gente, olho na boca, beijo
delicadamente... Mergulho.
Moro nessa mistura de mim: estou no sal da água
que me limpa e tudo que imagino vem daí. Desaprendi o nome, mas tenho o rosto
que me fita. Vivo do querer gostar, mas não sei se permito. A brisa é fresca
como o meu lamento. Não sujarei este texto com a palavra saudade. Eu nado
dançando n’água e por dentro. Converso com pedras e peixes, deixo a sereia não
se mostrar, sonho pelo avesso; ainda pelo avesso, aqueço-me no mar da esperança
que não me deixa... E hoje, apesar de triste, muitas coisas rezam dentro de
mim. Compartilho-as com o mundo
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