quinta-feira, 31 de março de 2011

Restos do Carnaval

Tomo licença, para dedicar este conto, um dos mais lindos do artista que eu mais amo, Clarice Lispector, à minha amadíssima Michelle Cirne...
Nessa coisa de querer desejar sorte e proteger e fazer chorar um pouquinho; de mansinho dar o mundo melhor, sem esquecer da grande dor de todo dia: isso de sentir a vida para o bem e para o mal, insistindo numa tal felicidade, mas fácil se o amor está.
Clarice, nesse seu peso de beleza e sofrimento, a escrita mais nítida e leve que posso acompanhar... Ela, mesmo doendo criança, para festejar com arte a vida de minha amiga.

Restos do Carnaval

Não, não deste último carnaval. Mas não sei por que este me transportou para a minha infância e para as quartas-feiras de cinzas nas ruas mortas onde esvoaçavam despojos de serpentina e confete. Uma ou outra beata com um véu cobrindo a cabeça ia à igreja, atravessando a rua tão extremamente vazia que se segue ao carnaval. Até que viesse o outro ano. E quando a festa já ia se aproximando, como explicar a agitação que me tomava? Como se enfim o mundo se abrisse de botão que era em grande rosa escarlate. Como se as ruas e praças do Recife enfim explicassem para que tinham sido feitas. Como se vozes humanas enfim cantassem a capacidade de prazer que era secreta em mim. Carnaval era meu, meu.
No entanto, na realidade, eu dele pouco participava. Nunca tinha ido a um baile infantil, nunca me haviam fantasiado. Em compensação deixavam-me ficar até umas 11 horas da noite à porta do pé de escada do sobrado onde morávamos, olhando ávida os outros se divertirem. Duas coisas preciosas eu ganhava então e economizava-as com avareza para durarem os três dias: um lança-perfume e um saco de confete. Ah, está se tornando difícil escrever. Porque sinto como ficarei de coração escuro ao constatar que, mesmo me agregando tão pouco à alegria, eu era de tal modo sedenta que um quase nada já me tornava uma menina feliz.
E as máscaras? Eu tinha medo, mas era um medo vital e necessário porque vinha de encontro à minha mais profunda suspeita de que o rosto humano também fosse uma espécie de máscara. À porta do meu pé de escada, se um mascarado falava comigo, eu de súbito entrava no contato indispensável com o meu mundo interior, que não era feito só de duendes e príncipes encantados, mas de pessoas com o seu mistério. Até meu susto com os mascarados, pois, era essencial para mim.
Não me fantasiavam: no meio das preocupações com minha mãe doente, ninguém em casa tinha cabeça para carnaval de criança. Mas eu pedia a uma de minhas irmãs para enrolar aqueles meus cabelos lisos que me causavam tanto desgosto e tinha então a vaidade de possuir cabelos frisados pelo menos durante três dias por ano. Nesses três dias, ainda, minha irmã acedia ao meu sonho intenso de ser uma moça - eu mal podia esperar pela saída de uma infância vulnerável - e pintava minha boca de batom bem forte, passando também ruge nas minhas faces. Então eu me sentia bonita e feminina, eu escapava da meninice.
Mas houve um carnaval diferente dos outros. Tão milagroso que eu não conseguia acreditar que tanto me fosse dado, eu, que já aprendera a pedir pouco. É que a mãe de uma amiga minha resolvera fantasiar a filha e o nome da fantasia era no figurino Rosa. Para isso comprara folhas e folhas de papel crepom cor-de-rosa, com os quais, suponho, pretendia imitar as pétalas de uma flor. Boquiaberta, eu assistia pouco a pouco à fantasia tomando forma e se criando. Embora de pétalas o papel crepom nem de longe lembrasse, eu pensava seriamente que era uma das fantasias mais belas que jamais vira.
Foi quando aconteceu, por simples acaso, o inesperado: sobrou papel crepom, e muito. E a mãe de minha amiga - talvez atendendo a meu mudo apelo, ao meu mudo desespero de inveja, ou talvez por pura bondade, já que sobrara papel - resolveu fazer para mim também uma fantasia de rosa com o que restara de material. Naquele carnaval, pois, pela primeira vez na vida eu teria o que sempre quisera: ia ser outra que não eu mesma.
Até os preparativos já me deixavam tonta de felicidade. Nunca me sentira tão ocupada: minuciosamente, minha amiga e eu calculávamos tudo, embaixo da fantasia usaríamos combinação, pois se chovesse e a fantasia se derretesse pelo menos estaríamos de algum modo vestidas - àidéia de uma chuva que de repente nos deixasse, nos nossos pudores femininos de oito anos, de combinação na rua, morríamos previamente de vergonha - mas ah! Deus nos ajudaria! não choveria! Quando ao fato de minha fantasia só existir por causa das sobras de outra, engoli com alguma dor meu orgulho que sempre fora feroz, e aceitei humilde o que o destino me dava de esmola.
Mas por que exatamente aquele carnaval, o único de fantasia, teve que ser tão melancólico? De manhã cedo no domingo eu já estava de cabelos enrolados para que até de tarde o frisado pegasse bem. Mas os minutos não passavam, de tanta ansiedade. Enfim, enfim! Chegaram três horas da tarde: com cuidado para não rasgar o papel, eu me vesti de rosa.
Muitas coisas que me aconteceram tão piores que estas, eu já perdoei. No entanto essa não posso sequer entender agora: o jogo de dados de um destino é irracional? É impiedoso. Quando eu estava vestida de papel crepom todo armado, ainda com os cabelos enrolados e ainda sem batom e ruge - minha mãe de súbito piorou muito de saúde, um alvoroço repentino se criou em casa e mandaram-me comprar depressa um remédio na farmácia. Fui correndo vestida de rosa - mas o rosto ainda nu não tinha a máscara de moça que cobriria minha tão exposta vida infantil - fui correndo, correndo, perplexa, atônita, entre serpentinas, confetes e gritos de carnaval. A alegria dos outros me espantava.
Quando horas depois a atmosfera em casa acalmou-se, minha irmã me penteou e pintou-me. Mas alguma coisa tinha morrido em mim. E, como nas histórias que eu havia lido, sobre fadas que encantavam e desencantavam pessoas, eu fora desencantada; não era mais uma rosa, era de novo uma simples menina. Desci até a rua e ali de pé eu não era uma flor, era um palhaço pensativo de lábios encarnados. Na minha fome de sentir êxtase, às vezes começava a ficar alegre mas com remorso lembrava-me do estado grave de minha mãe e de novo eu morria.
Só horas depois é que veio a salvação. E se depressa agarrei-me a ela é porque tanto precisava me salvar. Um menino de uns 12 anos, o que para mim significava um rapaz, esse menino muito bonito parou diante de mim e, numa mistura de carinho, grossura, brincadeira e sensualidade, cobriu meus cabelos já lisos de confete: por um instante ficamos nos defrontando, sorrindo, sem falar. E eu então, mulherzinha de 8 anos, considerei pelo resto da noite que enfim alguém me havia reconhecido: eu era, sim, uma rosa.



terça-feira, 29 de março de 2011

Morangos mofados


Este livro.

Desenho de muitos enxovalhos que sofre a alma humana. Lugar de desespero, gente perdida, falta de filtro, queda-livre sem rede de segurança e, brilho de uma escrita. Receita para viver sem melhoramentos; nada, por horas, de se reescrever... Ali é dor que conduz, em diálogo e guerra, nossa própria solidão. Ali é-se e basta. Radicalidade artística e sectarismo sócio-existencial. O que mais demora, numa velocidade que dá tempo de morrer...

Um escritor delatando-se ao mundo que o oprime e preparando-se para sua vingança maior: a eternidade. Tudo que deveria ser mofado mas é a vida pulsando, nova em busca de novidade. Eternidade no aqui agora. Palavras em português tematizando a universalidade e essa vaga a ser ocupada pelo o amor que nunca chegou.

Aquele livro.

Para lá das centenas de explicações acadêmicas dos senhores da razão sobre o tema; sempre à frente de assertivas, um tipo de novelo desfiando intrigação. Prosa que retrovisa Poesia. Histórias erguidas à sensação. Voz de quem ouve diz e dói. O peso de Caio F. A leveza do gênio forjado na vida. Leitura curta duração. Aprendizado forever voando sobre as cidades de todo mundo.

Leitura de maior e melhor duração: Morangos mofados.

sexta-feira, 25 de março de 2011

Cláudia Cunha


Linda mais que linda
Coisita que adere à alma;
Quando a distância,
Nem a musicalidade salva.
Sem ela,
O passeio é sempre
No estrangeiro.
Quero seu canto
D'água agora!

P.S. Em Bruxelas, vivendo de saudade do canto dela.

Música e Poesia que nascem em Bruxelas

Pierre Gillet

Adiante uma voz
De perto, serenidade.
Passos sutis da criatividade
A beleza como maior achado.

Toque do para além
No sol de todo dia;
Poesia feito música
Felicidade amém.

Nada de velocidade
Para fruir brasis,
Instrumentos futuros
D'arte em qualquer lugar.

E dois mundos nascem
Em nós, como febre
Música popular.


Caetano: João Gilberto continua sofrendo "incalculáveis prejuízos"


Claudio Leal ( Terra Magazine - 25/03/2011)

Produtor musical do disco "João, voz e violão" (Universal Music, 2000), vencedor do Grammy, o compositor Caetano Veloso atuou como assistente técnico da defesa de João Gilberto no processo contra a gravadora EMI. Nas respostas aos questionários enviados pelas partes, Caetano se diz maravilhado com a possibilidade de ouvir as gravações originais de "Chega de Saudade", "O Amor, o Sorriso e a Flor" e "João Gilberto", discos fundadores da Bossa Nova.

"Ouvindo-as sem os artifícios que as desfiguraram, maravilhei-me ao tomar consciência de que elas são ainda mais deslumbrantes do que estavam em minha memória", anota Caetano Veloso no "laudo crítico" obtido por Terra Magazine. Ele reforça, em juízo, a perícia do músico e arranjador Paulo Jobim, filho do maestro Antonio Carlos Jobim; indo além, advoga a existência de danos morais e patrimoniais na remasterização.

"O processo de remasterização adotado nos discos de João Gilberto foi o pior possível. A remasterização foi péssima, com resultado superlativamente ruim, em relação aos LP's", avalia um dos expoentes do Tropicalismo.

"Chega de Saudade", um marco da música brasileira moderna, impactou o jovem Caetano na Bahia, antes do início de sua vida profissional. "João Gilberto sofreu e continua sofrendo incalculáveis prejuízos", diz o músico no laudo apresentado em 18 de janeiro de 2000.

Leia trechos do questionário de Caetano Veloso.

Quesitos da defesa de João Gilberto

1º) A Ré mutilou a obra artística do Autor e, sem o consentimento deste (ver fl. 51), quando em 1988, lançou CD's (compact discs), os fonogramas inicialmente lançados em LP's (em decorrência das gravações originais feitas à época da vigência dos contratos de locação de serviços - período de 1958/1962), mutilação essa descrita no laudo de fls. 125/165 dos autos da medida cautelar de busca e apreensão em apenso, e que se acha por cópia às fls. 129/168 dos autos desta ação?
Resposta: Sim, uma vez que, além de modificar o timbre da voz do cantor e desequilibrar as relações entre os instrumentos da orquestra em todas as gravações, criou um "pout-pourri" com as canções do Compacto de "Orfeu do Carnaval" em que as faixas foram literalmente cortadas em pedaços.

(...)

3º) A notoriedade da obra do Autor resulta, em primeiro plano, da excelência da sonoridade de suas interpretações e da preocupação com o perfeito acabamento, o que o levou a ser considerado o criador de uma linguagem musical e influente como a bossa nova?
Resposta: Considero João Gilberto o maior artista da música popular brasileira de todos os tempos. Muitos músicos pensam assim. Todos, mesmo os que não chegam a pensar nesses termos, reconhecem-lhe um lugar central na história da nossa música. Isso se deve à sua radicalidade na depuração do som, ao seu senso de elegância e economia, à profundidade de seu entendimento da tradição musical do Brasil. Essas evidências se deram à luz com o aparecimento do LP "Chega de Saudade", seguido de "O Amor, o Sorriso e a Flor" e "João Gilberto", justamente os discos que contêm as gravações aqui discutidas. Nenhuma obra mereceria um tratamento mais cuidadoso e rigoroso e delicado do que essa. Exatamente o contrário do que aconteceu quando da feitura do CD "O Mito".

(...)

4º) Consta nos autos que a própria 1ª Ré declarou, expressamente não poder fazer a equalização e outras alterações das gravações originais do Autor, para lançamento em CD, sem a sua, necessária e indispensável, autorização (fls. 51, 57 e 56/60)? Foi obtida essa autorização?
Resposta: Consta dos autos uma carta em que a EMI Odeon pede ao compositor e jornalista Nelson Motta a sua intermediação para: "obter do referido compositor e intérprete a autorização indispensável ao pretendido lançamento do repertório do mesmo, na EMI Odeon, em "compact disc". Tal autorização não foi obtida. Tal autorização era indispensável, assim como a assistência pessoal do Artista, que iria evidenciando as graves deformações cometidas à sua revelia.

(...)

6º) O lançamento, em um só CD, dos 39 fonogramas da obra do Autor, constituiu sério fator de redução de valor comercial do produto oferecido ao público?
Resposta: Sim. É evidente que um disco não é o mesmo que três discos. É claro que um CD com 39 fonogramas não será vendido pelo preço de três discos. Logo o artista receberá cerca de 1/3 do que receberia se existissem os 3 CD's no mercado.

(...)

8º) Todos os fatos acima anunciados, violadores do direito moral do artista, provocaram danos patrimoniais e morais ao Autor, tais como enunciados nos pedidos de fls. 38/40?
Resposta: De acordo com o Perito do Juízo. Indubitavelmente há dano moral quando se deforma o timbre da voz de um artista, quando se usa sua obra para anunciar produtos sem sua autorização (quesito 6), quando se cortam faixas pelo meio para criar uma nova unidade (como no caso das músicas do "Orfeu do Carnaval"). E certamente há danos patrimoniais provocados por essas mesmas ações. Não só quando se reduz, numa estratégia que me parece ingênua, o que eram três obras-primas da discografia nacional a um apanhado multitudinário num disco só; ou quando se negocia o trabalho do artista para publicidade à sua revelia. Igualmente, quando se nubla a imagem do Autor e o caráter da obra, arrefecendo por um período indeterminado, e numa medida difícil de precisar, o interesse pelo produto que ele tem a oferecer.

Quesitos da EMI

2º) Informem os ilustres técnicos em que constituiu o surgimento de remasterização de matrizes de discos de vinil Long Playing (LP's) para produção de discos compactos (CD's) e quais os benefícios trazidos pela industrialização e comercialização de fonogramas em geral, e aos artistas em particular, bem como em que época houve o advento desse processo e a sua difusão em âmbito mundial.
Resposta: A remasterização de Discos de Vinil Long Playing (LP's) para produção de Discos Compactos (CD's) consiste em traduzir-se para a linguagem digital o som gravado analogicamente. Como a reprodução não se dá de forma mecânica, e, em tese, os ruídos são eliminados. Por outro lado, o produto sonoro ganha em durabilidade. Quando os CD's surgiram, no início da década de oitenta, houve músicos, técnicos e mesmo simples consumidores que puseram em dúvida a qualidade do som captado e reproduzido de forma digital. Mas as limitações que eram apontadas - perda nas altas frequências, estreitamento da faixa sonora - foram minoradas ou totalmente superadas pelo amadurecimento do uso da nova técnica. Assim, muito do que já estava no mercado fonográfico em forma de Discos de Vinil foi devidamente remasterizado para produção de CD's. O que trouxe benefícios financeiros para as gravadoras e, consequentemente, para muitos artistas.

Tais benefícios, entretanto, não foram proporcionados a João Gilberto, em virtude da péssima qualidade da masterização e do processamento, como descrito pelo perito do Juízo.

Ao contrário: por essas falhas gritantes da Ré, João Gilberto sofreu e continua sofrendo incalculáveis prejuízos".

(...)

4º) Esclareçam se o processo técnico de remasterização utilizado pela Ré quando do lançamento do aludido CD, contendo 39 interpretações artísticas era o adotado, sem discrepância, por gravadoras em geral, no Brasil e no exterior.
Resposta: Não. O processo de remasterização adotado nos discos de João Gilberto foi o pior possível. A remasterização foi péssima, com resultado superlativamente ruim, em relação aos LP's. O que aconteceu neste disco de João Gilberto não é um caso único. As máquinas podem ser as mesmas mas o problema é como utilizá-las. Reverberação ou Eco não fazem parte de um processo normal de Masterização.

(...)

8º) Adusam os louvados tudo mais que for necessário ao esclarecimento da controvérsia.
Resposta: É inegável que a interpretação dada ao material sonoro dos LP's "Chega de Saudade", "O Amor, o Sorriso e a Flor" e "João Gilberto", assim como do compacto duplo contendo as músicas do filme "Orfeu do Carnaval", para sua reprodução em CD resultou numa transformação artisticamente inaceitável do referido material. Há adição de eco exagerado, modificação do timbre da voz do cantor e do som das cordas, excessiva ênfase na percussão (modificação e ênfase devidas ao desmedido realce conferido aos agudos). No caso da edição das gravações das canções de "Orfeu do Carnaval" pode-se falar em intervenção grosseira. Como os referidos LP's e Compacto representam, no meu entender, o ponto culminante da música popular brasileira moderna (e a mais importante mirada na nossa tradição), considero urgente uma solução do problema no sentido de devolver aos ouvintes essas obras na integridade de sua beleza e força cultural. É nocivo à nossa saúde histórica que ela seja divulgada de forma adulterada, como praticado. Para atuar como Assistente do Perito, pude ter acesso à audição das matrizes de muitas dessas gravações. Ouvindo-as sem os artifícios que as desfiguraram, maravilhei-me ao tomar consciência de que elas são ainda mais deslumbrantes do que estavam em minha memória".

Rio de Janeiro, 18 de janeiro de 2000

Caetano Emanuel Viana Teles Veloso"

quinta-feira, 24 de março de 2011

Entre as águas que circundam o mundo

Paris
Bruges

Meu lugar mais profundo e mais seguro e mais sereno vai do mar até rios que circulam o mundo. É líquido este meu lugar. Tudo fica mais bonito e altivo tendo muita água por perto. Meu olhar desliza sobre a pele do que deve ser o meu SER: visor-condutor de alguma beleza zanzando pelo Planeta. Quero muitas águas em minhas festas.

quarta-feira, 23 de março de 2011

Amor ao Rio de Janeiro

Venho

do
Sol

Venho do sol
A vida inteira no sol
Sou filha da terra do sol
Hoje escuro
O meu futuro é luz e calor
De um novo mundo eu sou
E o mundo novo será mais claro
Mas é no velho que eu procuro
O jeito mais sábio de usar
A força que o sol me dá
Canto o que eu quero viver
É o sol
Somos crianças ao sol
A aprender e viver e sonhar
E o sonho é belo
Pois tudo ainda faremos
Nada está no lugar?
Tudo está por pensar
Tudo está por criar
Saí de casa para ver outro mundo, conheci
Fiz mil amigos na cidade de lá
Amigo é o melhor lugar
Mas me lembrei do nosso inverno azul
Eu quero é viver o sol
É triste ter pouco sol
É triste não ter o azul todo o dia
A nos alegrar
Nossa energia solar
Irá nos iluminar
O caminho

Milton Nascimento

P.S. Para ouvir na voz de Gal Costa, pensar na de Cláudia Cunha, sentir saudades do Rio de Janeiro, e, esperar sol no mar do Porto da Barra, da minha Salvador.

Meu tempo, também, é ali


Odô Iyá,
Oyá Ô!

Nas linhas do que escrevo para me permitir ao que vejo e, inteiro, agradecer. Deslumbre, minha poesia rasteira se manifesta assim. Paris é puro alumbramento.

Meu pensamento parisiense



Este foi meu grande cruzamento em Paris: meio Simone meio Sartre. Meus projetos no inteiro de mim. Tanta coisa e eu a sorrir, por estar ali, na terra deles, eu, baiano sem falar aquele idioma, estava completamente em casa...

Adeus a Elizabeth Taylor


Houve um tempo que ela me era sinônimo de cinema. E foi. Beleza especial, musa star system, espécie de realeza. Se foi e eu sem muito a dizer; ela, a eterna. Que seja luz, o que, em muitos aspectos, nunca deixou de ser!

segunda-feira, 21 de março de 2011

Na rota das possibilidades

Bruges - Bélgica

Não sei se inspirado pela bela paisagem de Bruxelas, ou calcando meus pés no difícil ( e imprescindível) aprendizado em território estrangeiro, neste caso europeu, ou se mergulhado nos relatos de Paula Dip sobre as viagens de Caio Fernando Abreu, ou ainda, ouvindo a voz de Ney, por culpa de Caio, nos versos: "Beber o suco de muitas frutas, o doce e o amargo, indistintamente sugar o seio das possibilidades", estou entre pesado e deslumbrado, por esses dias, sem saber o que mais ser.
Meus olhos encontram e alcançam o que a língua não consegue. O frio é admissível e administrável, o terror é ter que calar de medo e vergonha por não saber falar o idioma dos outros. Neste caso, inteiramente, os outros são o inferno; não se fazem entender para mim. Será que é isso mesmo? Sem me aquecer em mistérios, urgentemente, preciso aprender a me comunicar com o mundo.
As ruas de Bruxelas são como caminhos de possibilidades; há tantos negros aqui; indianos também; árabes e outros povos islamizados... Um bairro africano e uma gente linda passando como se fosse, em imagem, o meu povo de Salvador. Mas não, eles falam muito bem o francês e o inglês e existem quase como belgas. Não sei dizer se isso é bom ou ruim, mas são quase belgas, apesar de serem os mais pobres e de fazerem os serviços menos qualificados, de muitos perfilarem as ruas como pedintes, são quase belgas e falam francês.
Aqui o frio foi discreto e nos deixou elegantes... Um menino mijando é o símbolo de Bruxelas. Acho que Bruxelas é terra de bruxos, dos mais antigos entre os europeus. Jacques Brel e René Magritte são a sensação artística deles, patrimônio cultivado por eles, como deveríamos cultivar Dorival Caymmi, Batatinha, Jenner Augusto... Ah, por que ainda não existe uma grande Avenida, em Salvador, chamada Gilberto Gil? E não constroem um teatro que se chame Caetano Veloso, tão bonito e central, como o Castro Alves? Deveríamos ter um Teatro Municipal Caetano Veloso.
Daqui, nisso que significa a Europa, sinto ainda mais orgulho do meu povo, e de muitos artistas tão grandes quanto qualquer outro em qualquer lugar deste mundo.
Me banhei de felicidade em Bruges. Que cidade linda, parece cenário de filme de época; é história pura, bem cuidada, bem apresentada, romântica, minúscula, de tão linda, é quase solar. Pensamos no Pelourinho, de Salvador da Bahia... Será a falta da grana tão somente que nos impede de preservar, de cuidar, de iluminar? Lá, tudo é construção e já é ruína.
Tenho descoberto dentro de mim outros mundos. E sei a qual pertenço. Quero-me andarilho profundo, falante em outras línguas, mas irremediavelmente, eu sou baiano. Assim, como para Caetano, minha cidade favorita é a Cidade da Bahia.
E todo mundo deveria tomar uma cerveja em Bruxelas ouvindo Jacques Brel, que não é só Ne me quitte pas...
Os mais sensíveis, poéticos, artísticos, solitários, amantes, românticos, deveriam desaguar em Bruges, passear de barco, comer chocolate de todos os tipos, sonhar naquela paisagem sentindo ou pensando em Amor.
Bruges é linda: mais uma possibilidade.


sexta-feira, 18 de março de 2011

Andrucha ataca "patrulhamento idiota" contra Maria Bethânia


Claudio Leal ( publicado em 16/03/2011)

"É um patrulhamento idiota". Diretor do projeto "O mundo precisa de poesia", da cantora Maria Bethânia, o cineasta Andrucha Waddington reage, indignado e em voz alta, aos ataques à artista, que sofre críticas por ter conseguido a autorização do Ministério da Cultura (MinC) para arrecadar R$1,3 milhão através da lei de incentivo.

O debate sobre o blog esteve no topo dos assuntos mais comentados no Twitter, nesta quarta-feira, e abriu uma nova polêmica com o MinC.

"As leis de incentivo à cultura são para todos. Quem colocaria dinheiro para fazer um produto comercial com 365 vídeos de poesias? Esses projetos precisam de leis de incentivo à cultura, porque senão jamais serão feitos", argumenta Andrucha, em conversa com Terra Magazine. Sócio da Conspiração Filmes e diretor de "Eu Tu Eles", ele diz que cada vídeo custará R$ 3.562.

- É uma equipe que vai ter fotógrafo, produtor, maquiador, figurinista, equipamentos... Cada programa está custando R$ 3.562. São 365 programas. Um programa por dia. Trabalho de um ano. A gente vai produzir mais de 600 minutos - ou seja, o equivalente a cinco longas-metragens. No Brasil, um longa-metragem está custando entre quatro e sete, oito milhões de reais, tirando "Tropa de Elite" - afirma.

Para Andrucha, a mídia deveria falar justamente dos méritos do projeto. O cineasta insiste: há um patrulhamento contra a cantora.

- É um projeto absolutamente lindo, não entendo porque existe esse patrulhamento em cima de nomes como a Bethânia. Ela foi absolutamente atacada hoje por ser ter sido autorizada a captar (recursos) para um projeto do qual ela faz parte. Tem muita gente envolvida.

Ele afirma que não se trata apenas de "um blog". Haverá postagens no YouTube e a divulgação do material, de junho de 2011 a junho de 2012.

- Não vejo cabimento. Esse é um projeto que não tem caráter comercial, é absolutamente cultural. É ambicioso porque é um volume de conteúdo muito grande, para trazer pro público os maiores poetas de língua portuguesa.

Nos pequenos filmes, a cantora pretende misturar música e poesia, num prolongamento da turnê do espetáculo "Bethânia e as palavras", patrocinado pela Icatu Seguros. Entre os autores selecionados, o padre Antônio Vieira, Cecília Meireles, Guimarães Rosa, Fernando Pessoa, Sophia de Mello Breyner Andresen, o moçambicano José Craveirinha, Ferreira Gullar e Caetano Veloso. Bethânia gravaria também canções como "Dança da Solidão", de Paulinho da Viola, e "Estranha forma de vida", de Amália Rodrigues.

Nas gravações de cerca de dois minutos, Andrucha usará a fita beta analógica. O roteirista do blog será o antropólogo Hermano Vianna, que participou da única incursão do compositor Caetano Veloso pela blogosfera, no "Obra em progresso", de 2008. Viana e Elias Andreato colaboram com a artista nos espetáculos poéticos.

"Bethânia e as palavras" - o gérmen do projeto polêmico - será apresentado em mais quatro capitais: Belo Horizonte, São Paulo, Porto Alegre e Curitiba. Quem levar um livro em bom estado de conservação, terá direito a meia-entrada. As obras e 5% da renda serão doados para instituições de ensino. Há alguns anos, Bethânia realiza visitas a escolas públicas para recitar seus poetas preferidos e divulgar textos em língua portuguesa.

Terra Magazine


P.S. O mundo precisa de Poesia, pulverizada por uma equipe de supertalento, que possa reacender o desejo de muitos jovens de conhecer a grandeza da palavra como metáfora. Vamos aguardar... Maria, por favor, não desista.

quinta-feira, 17 de março de 2011

No The Music Village, em Bruxelas

Pedro Ivo, Marlon Marcos, Carlos Barros


A vida, muitas vezes, traz o inesperado bom. E reúne amigos, criando ou não, para celebrar a concretização de muitos sonhos. Foi mágico, para mim, assistir Carlos Barros e Banda do Céu, em Bruxelas, no requintado The Music Village, cantando para um público atencioso e feliz com o que ouvia. Eu vi: foi ( e tem sido) assim.

Acima, eu, Pedro Ivo e Carlos, tricotando felicidades. Imagens de alguns sonhos se realizando na gente, nisso que viagens e cidades nos causam. Paris, falta-me, Paris... Domingo vem vindo.

Será

Ao longe, a água tomou conta de mim
Me lavou dos meus temores e secou
Aquele ranço de não querer acertar.

A água me trouxe para cá
Para me mostrar meu lugar
No mundo.

Meu mundo que me amplia
Para todos os lugares
E que me guia até
Não ter outro lugar:

A água me trouxe
À Bahia...
Sagrado instante
Do que serei eu
Aqui...

A água me serenando
Para tudo o que tiver
De ser...

E será

segunda-feira, 14 de março de 2011

O segredo dos seus olhos, o filme


Foi dos mais lindos que assisti em toda minha vida. E eu que espero tanto... Terminou assim:
- Vai ser complicado?
- Não me importa.
- Feche a porta.
Confesso: eu sonho assim...

A Iemanjá

Minha Mãe,

És a dona do mistério maior da minha vida:
me defenda, me ilumine , me nine
pois não caminho sem ti...

A palavra quando me toma
desagua por sua vontade...

Lhe sou todo agradecimento
E meu verde-azul me faz
A poesia maior que trago em mim:
Fé em ti,
Senhora de todos os mares.

Te amo.

Carta em resposta a Caio Fernando Abreu

"Eu queria tanto que alguém me amasse por alguma coisa que escrevi" CFA

A gente ama, Caio. Com desespero e deslumbre. Ama suas palavras e converge para o centro maior daquela busca: amor... Ama a força dos seus escritos, assistindo suas intimidades, quando sem coincidências, são nossas intimidades também. A gente ama a paixão descrita e esvaída da sua obra imprescindível. Este é o termo real para configurar sua escrita, ora faca ora carne, acompanhando a solidão de muitos, até a dos que não procuram o amor.
A gente ama o que você escreveu. Sonhamos serenos a partir da sua intensidade. Vivemos da arte geral que compôs o seu mundo, somos os fadados ao coletivo em solidão, viajando por dentro e por fora, e, como dissera Bernardo Soares, " nunca desembarcamos de nós".
Tenho suas marcas em minha vida. Amo suas notícias de fé. Ainda creio no "amor até o fim", e espero, como você. Norteio literatura por Clarice e seu Caio F., vivo a Música Popular Brasileira, onde confesso, aprendi muito do pouco que sei. Foi seu texto falando sobre a mítica quase divinal em Bethânia que me levou a querer estudar ela, e me fez buscar sua literatura. Nele, o texto da Coleção Personalidade, tinha Caetano também. E tinha Billie.
Eu, infelizmente, só lhe amo pelo que você escreveu... Mas sei da sua humanidade transgressora, do romantismo oitocentista, o homem cultíssimo, ventando arte e saberes... Queria ter lhe conhecido e convivido contigo; este sujeito que, antes de morrer, pediu que se jogasse rosas brancas e amarelas, para Iemanjá e Oxum, daqui das águas do mar da Bahia.
Queria ter lhe escrito uma carta e receber sua resposta.
Amo seus escritos e, às vezes, orbito na tristeza dos seus olhos quando me perco olhando suas fotos.
Hoje, leio você, à noite, olhando um pouco para a Baía de Todos os Santos. É esse o meu poder.
Com amor, seu Marlon Marcos.

sábado, 12 de março de 2011

Maria Bethânia: sem ela não dá

Maria

Me encontro todos os dias com a sua voz. Permito-me embriagar naquele canto para acordar a poesia que, em mim, ainda não despertou. Choro, anuncio, calo, rememoro, amo ao longe e, perto, tenho sonoras dramatizações que me são poemas da rara escritura que brota de Maria Bethânia... Tenho uma alegria masoquista por adorar tombar de emoção e me reduzir aos sonhos que a cantora me acomete.
Sem ela, nas rotas do que sou, às vezes, não há caminho.

sexta-feira, 11 de março de 2011

Márcio Victor: "Quem vai preso é preto, pobre e fodido"

O cantor Márcio Victor (Foto: Antonio Reis/ Especial para o Terra)

Claudio Leal ( Terra Magazine - 11/03/2011)

Do alto de um guindaste do Camarote do Reino, organizado pelo grupo Asa de Águia, o cantor da banda de pagode Psirico, Márcio Victor, protagonizou o momento mais polêmico do Carnaval de Salvador ao vociferar contra a discriminação racial.

Na madrugada de sábado (5), o músico teria sido ofendido por um empresário da cidade de Inhambupe (BA), com ataques à sua etnia ("preto favelado") e à sua sexualidade ("viado"). Segundo Márcio Victor, o agressor passava a mão na pele e fazia sinais negativos. "Fiquei puto", relata em entrevista a Terra Magazine. Na hora do incidente, ele pediu à polícia para dar voz de prisão ao frequentador do camarote, por crime de racismo. Um vídeo postado no YouTube expõe os brados do líder do Psirico:

- Polícia Militar! Esse cara aí merece ser preso! Ele mesmo... Ele... Ele aí... Você merece ser preso por discriminação à minha raça, ao meu povo! Tire da sua boca isso! Tire da sua boca isso! Você disse tudo que eu vi, seu idiota... O meu povo está cansado de sofrer! Se você tem dinheiro, meta seu dinheiro na sua bunda! (...) Não vou continuar enquanto não ver esse cara preso. Não joga nada, não vamos errar (...) Estou cansado de ser ofendido! Eu sou preto, pobre e me orgulho! (Veja aqui).

Detido pela Polícia Militar, o empresário foi liberado depois de desmentir as acusações de racismo. O cantor não registrou a queixa, mas estuda a abertura de um processo. O site "Bahia Notícias" divulgou a identidade do acusado: Luiz Antonio de Souza Santos. Um dos autores do hit "Liga da Justiça", cuja coreografia já foi usada por Neymar para comemorar um gol, Márcio Victor avalia seu protesto na avenida e analisa as tensões raciais e sociais do Carnaval da Bahia.

- O preconceito existe em todo lugar, mas não é tão forte ao nível de se criar uma coisa em cima do que aconteceu comigo. É uma luta do movimento negro, que enxerga mais isso. Eu transito bem nas duas classes, nos dois meios, tenho uma abertura em festas de gente da alta sociedade...

Apesar de admitir a predominância de brancos nos camarotes, o cantor afirma que os negros se divertem na festa e não encaram mal as funções de trabalho assumidas nesses espaços.

- O cara que é negão e vai dançar no camarote, ele dançando naquele camarote é apoteótico, porque é uma vitória pra ele. Não é como preconceito. Ele não vai com raiva, "estou aqui porque sou garçom", ele tá feliz de estar ali e porque está no meio daquelas pessoas. Chega vitorioso em casa. A gente lida bem com isso.

Márcio Victor encara a violência como um problema cultural, não apenas econômico. Na juventude, ele próprio circulava na folia para dar seus murros. Com paixão, o pagodeiro rebate as críticas às suas músicas, acusadas de incitar a "porrada" entre os foliões pipocas, como são chamados os que ficam às margens dos blocos de corda.

- Isso só vai se acabar quando tiver bloco de graça pro povo, quando a polícia for menos violenta no carnaval e a gente tiver um sistema de reeducação durante o ano todo, que já se comece agora um sistema de educação governamental para que as pessoas percam a coisa de ir pra rua brigar, bater, que é cultural. Eu lhe digo porque, quando era pequeno, era guri, ia pra rua também fazer isso (...) Isso sempre foi assim. Não sei se vai acabar, não.

Na cadeia de erros, sobraria apenas para os peixes miúdos.

- É um mangue. Quem vai preso é preto, pobre e fodido. O cara pega ali e é ele que é o alvo de toda merda feita no carnaval - critica Márcio Victor.

Terra Magazine - Você fez um discurso forte no carnaval de Salvador, acusando um frequentador do Camarote do Reino de racismo. Como foi? Você identificou o autor, mas não registrou a queixa?
Márcio Victor - Eu nem queria mais falar sobre isso, porque é um negócio complicado. Eu identifiquei porque todos os anos eu vou ao Camarote do Reino, acho aquilo massa, acho o melhor camarote que tem. A estrutura da passarela é fenomenal, é apoteótico pra mim...

Por cima do povão.
Pois é, acho lindo, a imagem é linda, o clima do camarote é muito bom. As pessoas do camarote são amigas, Durval (Lélys, da banda Asa de Águia) é meu irmão, parceiro. A hora em que eu estava tocando era duas ou três da manhã, um horário considerado de fim de festa, porque começa cedo e já está todo mundo "bebo", a violência tende a aumentar. É natural, não porque a gente tá indo pra um tipo de música incitando a violência, como ele falou (o acusado). Ele e mais algumas pessoas não estavam gostando de minha presença ali. Mas tirei de letra. Em alguns lugares, tem pessoas que não gostam mesmo daquele tipo de música que eu faço, mas ele ficou afrontando muito... Aí vi que ele passava a mão na pele, assim, e apontava pra mim, fazia sinais negativos... Isso, na minha cabeça, relacionado ao tipo de música, de público. Eu vi ele falando que eu estava levando a violência com meu bloco, com meu povo. E ele passando a mão na pele...

Numa conotação racial?
Com uma conotação racial. Uma coisa muito estranha. No carnaval, você já lida com toda essa situação de desigualdade... No camarote e na pipoca, todo mundo vê isso. O cara ficou mesmo fazendo questão de chamar a atenção. Ele levantava o dedo, levantava o copo, falava com amigos dele naquele momento. Eu falei: "Você quer ganhar seus 15 minutos de fama mesmo". Aí ele tirou a camisa, mostrou que tinha uma tatuagem estranha nas costas, eu acredito que alguma coisa ligada a exorcismo... Uma coisa sinistra... Eu pensei: "Velho, esse cara é do mal!" (risos). "Ele tá muito doido, bêbado, olhe o tamanho que isso pode tomar, preciso chamar a atenção disso...". Para que ele e outras pessoas que nem ele, que têm preconceito musical, social, racial, sexual, acabem com isso de uma vez por todas. Porque isso é uma questão de inteligência. As pessoas que têm mais condições são as que têm mais preconceitos. O pobre que tá ali, ele não tá nem aí pra que tenha camarote... Ele quer que o cara que tenha condições esteja no lugar dele e o cara que não tenha esteja no lugar dele. E as pessoas do Camarote do Reino são pessoas que nunca, jamais, fizeram uma coisa parecida, muito pelo contrário, eu sempre saio dali ovacionado pelo povo. As pessoas esperaram até aquele horário pra ouvir minha música... Eu fiquei muito triste.

E aí você mandou o cara "enfiar o dinheiro na bunda"?
É, porque na hora ele ficou fazendo sinal de que tinha dinheiro, fazendo sinal da cor, fazendo tipo "vaza, sai daqui, vá embora"... Ficou meio assim...

Tenso?
Estranho, velho, muito estranho. Eu falava: "Você tá falando da minha cor". Ele: "Não, não tô falando da cor, não", mas passava o dedo na pele. Pelo que eu soube, ele é de Inhambupe (BA). Era pobre, ficou rico, é dono de uma empresa de plástico lá em Inhambupe. Vi um comentário no YouTube sobre isso. Que ele era muito pobre e ficou metido a besta. Você sabe como são esses caras. Um cara muito estranho. Graças ao meu trabalho, tenho acesso a coisas, a uma certa quantia de dinheiro. A cada dia que passa, a minha intenção é, daqui a alguns anos, dividir metade do que eu tenho com as pessoas que não têm. Tenho vontade de doar metade das minhas coisas a uma instituição de caridade, para fazer com que os menos favorecidos tenham a oportunidade que eu tenho. No ano que vem, tenho vontade de sair sem corda, para dar mais oportunidade a quem não tem condições de estar atento. Pedi isso ao prefeito (de Salvador, João Henrique).

Voltando ao preconceito racial na Bahia. Você sente essas reações com frequência em Salvador, no seu trabalho?
Se eu sinto preconceito racial muito forte na Bahia? Não. O preconceito existe em todo lugar, mas não é tão forte ao nível de se criar uma coisa em cima do que aconteceu comigo. É uma luta do movimento negro, que enxerga mais isso. Eu transito bem nas duas classes, nos dois meios, tenho uma abertura em festas de gente da alta sociedade e faço a Lavagem do Rio Vermelho. Comemorei meu aniversário na Liberdade (bairro popular de Salvador), faço shows em cidades em que a população é pequena. As pessoas vêm lidando melhor com o preconceito. Agora, algumas pessoas ainda têm a resistência. A questão social é maior do que a racial, porém existe muito preconceito racial, sim. A gente não vê muito negros em cargos de poder...

Nem em camarotes, não? A presença predominante é de brancos e turistas.
De brancos e turistas, e negros estão ali divertindo... Mas é uma coisa que a gente não tira como preconceito. O cara que é negão e vai dançar no camarote, ele dançando naquele camarote é apoteótico, porque é uma vitória pra ele. Não é como preconceito. Ele não vai com raiva, "estou aqui porque sou garçom", ele tá feliz de estar ali e porque está no meio daquelas pessoas. Chega vitorioso em casa. A gente lida bem com isso. Já vi uma cena... Por isso fiz a música "Cole na corda". Já vi uma cena de um cara de um bloco, desses aí da alta sociedade, jogar o resto de uma cerveja na cara de um cordeiro. O cordeiro se abaixou, pegou a lata, bebeu do resto que o cara jogou nele, e depois ele foi com o cigarro e queimou o cara. Tem um vídeo. Tem filmado (um documentário), você vê a maneira como o cordeiro, o negro, o pobre, vai pro carnaval... A maneira como ele entra num ônibus, como vai pro circuito, como faz a segurança daquelas pessoas. E outra: a forma de a gente dançar é uma forma que as pessoas ainda entendem como violenta, mas é uma forma de dança, cultural... Os negões dançam assim.

Há uma discussão, principalmente na classe média, de se remodelar musicalmente o carnaval. Isso tem um lado de repressão ao tipo de música que o Psirico e outros grupos, como o Fantasmão, fazem? Você sente um preconceito cultural nisso aí?
Rapaz, do Psirico sinceramente não. O Psirico toca em blocos... O Fantasmão foi um grupo que trouxe um protesto muito forte, falando exatamente dessas coisas. O Psirico veio pedindo paz, a música veio falando de religião, pediu paz em 2004, cantou "Sambadinha do negão", levantamos a auto-estima da cor, falamos da auto-estima da mulher, viemos este ano falando de Gugu-gagá, Mulher Maravilha... São temas que a gente quis trazer pro Carnaval. Pode ter certeza que este ano o Psirico marcou mais do que nunca, porque todos os artistas vieram fantasiados, cantando temas leves, o Psirico mexeu. Hoje, o pagode predomina. O Harmonia (do Samba) é uma banda que transita muito bem nisso, a gente fala de coisas leves. Eu acho que isso é uma coisa de uma pessoa só ou poucas pessoas que se acham bestas. É um fato isolado demais.

Mas tem o lado da crítica musical também. Entre os chamados "bem pensantes", Caetano Veloso é um dos raros defensores do Psirico, dos grupos de pagode. Há um esnobismo da crítica musical?
Tem, tem. Pessoas da alta sociedade. Quer dizer, já teve. Hoje...

Tá mais light?
Depois que Caetano falou sobre o Psirico, depois que Ivete (Sangalo) gravou o DVD comigo, depois que muitos artistas vieram se juntar ao pagode, que Bell (Marques) foi no ensaio da gente, Daniela (Mercury), essas pessoas têm mudado muito. Hoje em dia, podemos dizer que o pagode é o ritmo mais procurado pelos turistas. A agenda de shows da gente está muito mais pro Sudeste do que até pra própria Salvador. Em Salvador ainda tem a música eletrônica, a música alternativa. Essa luta veio através da quebra de barreiras, de pudores. São empresários e pessoas que não acreditaram e que tentam fazer com que a música da gente seja vista como violenta, como música com o tom da discriminação. Mas não é. A gente quer, no pagode, falar dos problemas sociais, da falta de preocupação dos governantes com o povo, da falta de consolo que teve as pessoas que perderam as casas com as chuvas. Esse caso, nesse carnaval, foi muito isolado mesmo, aquele cara estava a fim de expor uma coisa negativa que existe dentro de poucas pessoas.

Anos atrás, Carlinhos Brown criticou o "apartheid escroto" no Carnaval de Salvador, falou com Gilberto Gil, mas depois recuou um pouco. Você não acha que isso precisa voltar a ser discutido, não há uma tensão no carnaval baiano em relação às cordas, aos camarotes?
Não sei a fundo. Sinceramente, só cuido, só fico muito ligado à música que eu tô fazendo. E o tipo de música que eu faço requer muita atenção ao mérito de pesquisa musical, não de entrar em méritos do tipo... Assim, eu não posso lhe dizer se a gente tem condições de mudar uma opinião que vem de peixe grande sobre algumas questões, entendeu? (ri) Por exemplo, o que eu acho? Tenho na minha cabeça várias coisas que deveriam mudar e se fazer, mas não queria falar sobre isso. Quero me direcionar ao lance da discriminação que aconteceu. Esse lance de Brown e Gil é uma coisa que talvez tenha tido um excesso da maneira que foi cobrada. E uma falta de preocupação da maneira como a gente vai lidar com isso daqui pra frente, com alguns problemas que a gente tem no carnaval.

O saldo do carnaval deste ano, ao nível de oportunidade de emprego, de desigualdade, foi uma coisa que foi muito igual há dois ou três anos, porque não houve tantas mudanças. Ainda se paga pra estar na arquibancada, ainda se paga para estar nos blocos. Isso só vai se acabar quando tiver bloco de graça pro povo, quando a polícia for menos violenta no carnaval e a gente tiver um sistema de reeducação durante o ano todo, que já se comece agora um sistema de educação governamental para que as pessoas percam a coisa de ir pra rua brigar, bater, que é cultural. Eu lhe digo porque, quando era pequeno, era guri, ia pra rua também fazer isso. Muita gente sabe que vai atrás do Chiclete (com Banana) pra ir na bagunça, na corda, que é gostoso...

Como diz a música de Gil, "na base da vã valentia".
Pois é. Isso sempre foi assim. Não sei se vai acabar, não. É só ter uma lei que puna a pessoa que bate no rosto da outra...

Mas já tem, não?
Mas o policial faz isso, entendeu? E ele não vai preso. O deputado faz isso. E ele não vai preso. É um mangue. Quem vai preso é preto, pobre e fodido. O cara pega ali e é ele que é o alvo de toda merda feita no carnaval. Não é isso. Tem a posição dos camarotes, tem o problema que veio das barracas que foram derrubadas antes do carnaval, a falta de emprego na cidade. É uma série de coisas.

É um problema da sociedade que precede o carnaval, é isso que você quer dizer?
É isso. E que assim dessa forma vai continuar tendo violência, preconceito, desigualdade e tudo. Naquele momento, eu falei daquela forma, uma coisa que não é normal minha, porque fiquei muito chateado. Mas vou conversar com minha família, meu empresário, pra ver se a gente vai levar isso adiante ou não.

Você ainda estuda se vai processar ou não a pessoa?
É.

Você acha importante a postura que teve?
Acho importante a postura, acho que fui preciso nas palavras, mesmo que, na hora da raiva, falei sem concordância verbal algumas coisas, porque fiquei puto (risos). Mas achei preciso e tem que ser dessa forma que a gente tem que agir com quem tem preconceito sobre qualquer coisa. A gente deve denunciar, deve dar voz de prisão. Eu me excedi porque sabia do meu direito, não porque era artista, não porque estava no trio. Eu sabia que o ato dele naquele momento estava ofendendo muitas pessoas. Tendo aquela postura, acho que contribuí para que em outros anos não venham fazer com mais ninguém. Não sei se vou levar adiante, se vou processar.

Você tem o nome dele?
O nome eu não tenho... Não sei. Acho que no YouTube tem... Coitado! Neguinho tá indo... Ele vai pagar um preço caro, ele não tem noção mesmo, acho que estava muito doido o cara... Ele não tem noção da merda que ele fez. Mas foi preciso eu acordá-lo. O negro tem que ter mesmo essa postura. Quando se sentir ofendido, o brasileiro tem que falar, expor sua opinião.

Há também preconceito contra os gays no Carnaval?
Tem preconceito contra gay o ano todo. No carnaval, eu saio vestido de "muquiranas" (bloco de travestidos), vou ali de boa. Tem muitos policiais da Bahia que não tão nem aí pra quem é gay... "O cara é gay? Beleza, tudo certo". Agora, tem umas pessoas da Bahia e de fora que têm preconceito. Vêm pra aqui e se misturam. O baiano não liga pra essas opções. Aqui na Bahia, a gente vive bem com isso. Essas pessoas que têm preconceito, e são da Bahia, têm a natureza podre, sabe? Não é porque a Bahia tem preconceito, é porque a natureza da pessoa é dessa forma. Não tem como acabar com isso, por mais lei que tenha. É só os gays, os negros, os desfavorecidos tomarem a atitude de denunciar, de levar esses casos adiante. No meu caso, vou pensar ainda se vou levar. Preciso conversar com minha família, meu empresário, para eu ter mais noção do que vou fazer. Na hora, eu fiquei puto. Falei: "É feio as pessoas olharem pra você porque você tem um jeito de gay e ficar discriminando porque você é gay". Aí ele pegou um copo e brindou com o amigo. O cara tava muito louco, velho, tinha tomado um "doce" (risos). Eu disse: "Velho, pelo amor de Deus se respeite, não discrimine um negro porque as pessoas poderiam lhe discriminar por você ser gay"...

Ele lhe chamou de viado?
Me xingou de tudo, me botou lá embaixo. Muito negativo. O que eu mais fiquei com medo é que o cara tem uma estrela de cinco pontas nas costas, que é a estrela do diabo, do demônio, sei lá. Esse cara vai fazer uma macumba pra me atrapalhar! Quero ele longe de mim! (risos)

Pássaro


Escrever ventos para dentro de mim -
me trazendo alguma novidade em existir.

Boas notícias numa cidade estranha
me acordando para o que ainda
é preciso fazer.

Fazer a partir dos sonhos -
naquela embarcação maior
que me leva a ler:

Escritos da minha alma
esvaindo-se para o mundo.

(São Sebastião, Alagoas, 07/03/2011)

sábado, 5 de março de 2011

No caminho

Há uma necessidade imensa de ficar longe das multidões; também, longe dos grupos barulhentos. Esse feitiço de abrigo e dor que a poesia dá dentro da falsa sensação de vencer o tempo e eu estive aqui. Em fragmentos literários, respingos clariceanos, a mensagem Pessoa, Rimbaud me tomando de assalto, e tantas palavras infantis re-imaginando a poesia mais amada.
Estou no caminho a caminhar meus escritos e assertivas para bem dizer os tormentos que sinto. Que tempo pesado é esse que me nega a mim mesmo? Meus olhos para a Torre Eiffel, minhas mãos na superfície do mar da Bahia, meu eu desalojado de tudo, meu corpo sem Carnaval, e o pensamento me traindo naquele... Poema dentro de um livro de água. Sonho gostoso ao sol tropical do meio dia sem ventiladores. Meu sorriso entregando-se-nos. A sede do jornalista vestindo o raciocínio do antropólogo. Mas tudo que é maior em mim, me transforma em poeta.
No caminho a embaralhar as cartas e a rasgar os mapas; nego aquela voz mas ela me domina e me reacende quando, de verdade, eu a escuto. Meu sorriso servindo de janela. E eu dialogando com meu medo inteiro no desalojar da minha vida sem morada...
Ruas da minha imensidão naquilo onde sou mais rico: liberdade. Tudo que se ergueu em mim, me fez melhor que feliz, me fez livre. Amedrontado com as negações, mas livre para delas me apartar.
Nas manhãs, tardes, noites desse caminho só a fé, as palavras feito arte e a música não me desacompanham... O amor é a composição dos rastros que vou deixando; é a melhor inspiração nos olhos que me entregam; melhor bebida e comida; imaginação e saudade; é poema; só é Amor.

sexta-feira, 4 de março de 2011

Daniela Mercury: jus ao título de rainha



Um tecido pérola negra. A voz andarilha de uma chefe da folia com necessários traços educativos. Ela canta e dança na certeza de quem instaura beleza no Carnaval. E sai a favor do povo, dialogando com o mercado e os intelectuais, entre camarotes e cordas, se faz sem-cordas para dizer que na Bahia também se inventa. Sem isso de rainha, ela é única na asserção do termo, uma majestade inviolável e para além das antipatias que pode causar. Repertório amalgâmico esculpido na tradição escolar tropicalista, reverente aos mestres absolutos - de Tom Zé a Gilberto Gil, passando por Chico Buarque e Luiz Gonzaga, aportando no mar Lenine, devorando o melhor contemporâneo que a música popular nos dá - , ela faz o tal do Axé tremeluzindo a bandeira da qualidade. Meio Carmem Miranda e Baby Consuelo, naquela emissão sem igual que registra Márcia Short, Daniela bebeu nessas fontes. Assim como: quanto a princesa Ivete Sangalo deve a rainha Daniela Mercury?
Um tecido branco e azul reunindo diversidades e cantando para os membros do "amor que não ousa dizer o nome", sem reticências, nem titubeares; diva complexa como tem que ser as artistas de verdade. Uma presença iluminada no Carnaval de Salvador, com tanta vontade de novidade, sem perder a graça da festa, da molecagem, da brincadeira, na medida certa de alguém que respeita a inteligência alheia. Faíscas da beleza que persigo; doses de feitiço daquela que mexe com nosso corpo inteiro nos levando a gozos e pensamentos. Daniela é à maneira da fruição. Trocas simbólicas da Bahia com o mundo. Canibália espetacular - circularidade de uma voz nascida para o negro Carnaval deste lugar e que ela espreita precisa ,com fé e Ilê Aiyê, sem macular o universo de quem gesta nossa musicalidade...
Cantora trieletrizada que compõe de verdade. A melhor companhia feminina nessa seara desgastante que se tornou o Carnaval da Bahia...
Um tempo para que se dê mais espaços à grandeza de Márcia Short; a beleza do Carnaval do 3naFolia; a lindeza de Juliana Ribeiro; aos passeios loucos da autoridade maior Baby Consuelo; a força do canto da outra diva de verdade, a princesa Margareth Menezes.
Daniela Mercury traz consigo tudo isso: e a gente aprende que o melhor da gente, depois de Fé e Amor, é Arte.

quinta-feira, 3 de março de 2011

Gilberto Gil, nosso mestre

Gilberto Gil
Hoje em dia, entrar em contato com Gil é despertar para a sabedoria. Algo que se tornou mais que musical e poético... Um homem inteiro em seus 68 anos que sabe doce e sabiamente envelhecer. Doce, porque lindo e criativo. Sábio, porque sabe arrefecer as dores da existência, aquele que faz da experiência um trunfo para melhor viver. Em seu tempo, em sua idade, em suas dificuldades, acentua o amor em sua vida e faz arte para o Brasil. Tenho me vestido nas músicas de Gil, até então o nosso mais marcante ministro da Cultura, e , para além de tudo isso, esse espelho da Bahia que deu e sempre dará certo, com a régua e o compasso desse nosso magnífico mestre.

"Acho que ele vai continuar assim, fazendo essas coisas, fazendo os discos, falando de Luiz Gonzaga em casa, empolgado com o som de acordeom, falando do Bob Marley, falando do João Gilberto, impressionado com a composição do Chico Buarque e amando Caetano."
Flora Gil sobre Gilberto Gil.

P.S.: Meu amigo, o ótimo cantor Carlos Barros, atentíssimo para assuntos profundos da MPB, é uma das pessoas que mais compreendem e admiram a obra de Gilberto Gil. Ele mandou pra mim essa frase da Flora que traduz muito o que eu quis dizer em meu texto anterior.



Tragédia do toque


To you, my Rimbaud

ansiei pela tragédia do toque
a sujeira dos corpos delatando prazer
inventei aquele amor precoce e taciturno
me negando a esquecimentos ou cura.
vivi o inferno da paixão indolente
vã e adolescente, sem nada...
nada foi o que os olhos viram;
a boca sangrava de desejo
as mãos se desesperavam
a língua lambia o vento.
o amor que enlouquecia
mas não criava canções.
árido chão abortando sementes;
a lembrança inteira coração
as lágrimas doce-amargas em nós
essa louca vontade que
se perdeu no tempo.

terça-feira, 1 de março de 2011

Mariana Aydar canta com Daniela Mercury no Carnaval de Salvador

Tinha que ser Daniela. Mariana Aydar, a linda, canta com La Mercury, domingo de Carnaval, no trio mais festejado do Carnaval baiano, o do bloco Crocodilo. Mariana é uma das vozes novinhas que eu mais gosto e que de lá de Sampa, forma grupo de excelência com Céu, Fabiana Coza, Márcia Castro, ressoando aqui em Cláudia Cunha, Manuela Rodrigues, Juliana Ribeiro... Adoro esta paulistana. Agora, bem acompanhada com a nossa Daniela Mercury... Imperdível!