sábado, 29 de junho de 2013

Concha da proteção


Sábado é assim, 
se possível, 
todos os instantes
olhando o mar
entre fé e fascínio.

sexta-feira, 28 de junho de 2013

***

Ando sem sentido, mas me esforço:
quando deito peço a esperança
que me traga sono
e nine os meus sonhos.

Cine Paris



Os sonhadores.
Filme.
A existência sem existencialismo.
A vontade de participar.
O cinema.
Descobrir com o corpo todo.
Corpo é maior que mente,
porque mente é corpo.
Cena do (im) possível.
Tapete de livros.
Riscos.
Fascínio.
Mudança.
Dança.
A arte.
Poesia do gozo.
Amar gente
sem o corte do sexo.
Cinema.
Paris.
Uma revolução.

quinta-feira, 27 de junho de 2013

Rosa Verde ( Pra Iyá Ogunté)

Odô Iyá,

cuida da minha saúde
faz fluir meus escritos
conduz meu olhar
de amor para o certo
me dê tempo para
expressar-me
me deixa perto da beleza
me deixa perto do mar
e que eu sempre viaje.

quarta-feira, 26 de junho de 2013

Clarice,



Um arsenal de guerra,
construtos e perguntas
para nossa coexistência.

Seu olhar, Gilberto Gil




Há no seu olhar 
Algo que me ilude 
Como o cintilar 
Da bola de gude 
Parece conter 
As nuvens do céu 
As ondas brancas do mar 
Astro em miniatura 
Micro-estrutura estelar 
Há no seu olhar 
Algo surpreendente 
Como o viajar 
Da estrela cadente 
Sempre faz tremer 
Sempre faz pensar 
Nos abismos da ilusão 
Quando, como e onde 
Vai parar meu coração? 
Há no seu olhar 
Algo de saudade 
De um tempo ou lugar 
Na eternidade 
Eu quisera ter 
Tantos anos-luz 
Quantos fosse precisar 
Pra cruzar o túnel 
Do tempo do seu olhar

agridoce

Minha boca postula
O agridoce veneno
Do que sobrou de você
Em mim.

Gil planetário


Lugar para a poesia,

para a beleza constante.

71 anos.

O sereno mestre baiano. Condutor de muitas mudanças estéticas e comportamentais no Brasil. Símbolo maior da nossa musicalidade. Poeta desmedido. Lucidez e doçura.

Orgulho sim! A cara do Brasil! Cria límpida do que é a Bahia para o 
mundo! O que possamos e traçamos na genialidade deste senhor atemporal.

Bravo, Gil... Muito obrigado, sempre! 

segunda-feira, 24 de junho de 2013

De cá

Da minha janela o sol se põe 
em luzidias maneiras minhas 
de acender a esperança
sempre quando estou 
de frente pro mar.

Fogueira de Xangô


Pra renascer,
deixar o novo 
acontecer.

domingo, 23 de junho de 2013

Oração

Meu Deus,

Que preço caro sentir o mundo com poesia; que difícil não foi para Pessoa e Neruda, para Patativa do Assaré e Batatinha. Para Elis Regina.

Toda ordem é disputar para reorganizar sob o jugo dos vitoriosos. Essa tal hegemonia simétrica a homogeneidades. Que risco para os que tanto destoam, os manchados pela diferença radical, os que se insistem quase pedindo licença para coexistir.

{Nós} Os que não são dignos de pena.

sábado, 22 de junho de 2013

Instantes mar



Quando extraio da insônia,
a minha vontade maior
de estar...

Reflito-me no que senti
reencontrado em mim mesmo.

A memória faz barulho
para um peito sem
ter em quem pensar.

Esse é o vazio absoluto.
Onde só há salvação
porque perto do mar.

***


terça-feira, 18 de junho de 2013

O delírio consciente em Maria Bethânia

( o mito faz 67 anos em vida!)



Ela é uma das mais importantes cantoras brasileiras de todos os tempos. Sua trajetória artística imprime continuidades e rupturas que lhe garantiram sucesso, mas mais que tudo, lhe garantiram prestígio em função da integridade e da vontade de marcar-se-nos em seu desenho estético e em sua vontade de dizer identidades em função da arte.

Maria Bethânia fez, nestes 18 de junho, 67 anos de vida; neste ano completou 48 anos de carreira dedicada ao canto e a expressões textuais que valorizam artística, social e educativamente a palavra como dispositivo cultural de aproximação, reflexiva e emocional, entre muitos humanos, brasileiros ou não, que amam a música popular feita no Brasil.

Nos últimos 10 anos seus CDs perfilaram conceitos que tematizam aspectos identitários expressados por um país fora dos eixos centrais ou das centralidades culturais erguidas tão somente pelos polos urbanos. Sua cantoria exprimiu-se entre violas e atabaques, pandeiros e berimbaus, agogôs e violinos; projetos como Brasileirinho (2003), Pirata (2006) e Encanteria (2009), recuperaram para o mainstream em nosso cancioneiro, retratos muitas vezes esquecidos de um povo que dá alma e inspira a inventividade nacional brasileira.

Uma cantora modelar, entre o ritmo da musicalidade e da palavra, inscrita em sua  forte personalidade artística, que reúne o melhor da canção nacional e da poesia em língua portuguesa, para exercer um ofício que remonta à beleza e altera as paisagens estagnadas e empoeiradas de um tempo nosso tão volátil e estressante, tão confuso e acelerado, tão indigestamente palatável.  

Os traços da singularidade em Maria Bethânia se deixam ver em suas atitudes profissionais, e mais ainda em seu domínio artístico frente ao microfone, em cima de um palco.  A marcação que se repete ao longo de décadas incide sobre o mito que ela construiu, e valoriza o seu caráter regional, alicerçado no Recôncavo da Bahia, que a torna talvez, a mais representativa cantora brasileira quando o quesito é universalidade.

Um breve olhar sobre os produtos fonográficos que trazem a assinatura desta artista constata os elementos socioeducativos que se espraiam ali; ressignifica o papel da arte para além dos meros motivos da fruição.  Um aparato antropológico e literário que ainda não foi devidamente considerado pela Academia Brasileira. Em sua expressão artística refletem-se saberes populares que dão sentido às religiões de matrizes africanas e ao catolicismo praticado no Brasil. Além do movimento a favor da pesquisa, da leitura e, principalmente, do fomento de práticas que destaquem a poesia.

Seu corpo também é seu palco e o que ela buscou ser se evidencia cotidianamente. Nas inseparáveis missangas religiosas, nas pulseiras, nas roupas brancas, no cabelo moldura, na fala e no canto rascantes;  sua concentração quando canta, a entrega quando no palco, a faz transmitir uma espécie de transe que não a tira da consciência e das suas motivações estéticas. Ela alcança o delírio de Platão, encanta-se com as musas sendo ela mesma uma, das mais potentes no cenário musical deste país, mas não se perde de si, ali, ela não deixa de ser Maria Bethânia.

Uma das grandes inovações da carreira de Bethânia foi o disco Brasileirinho que este ano completa 10 anos. Hoje, para ilustrar o aclive criativo dela, em seu mais recente trabalho Oásis de Bethânia (2012), um texto de sua autoria, uma espécie de poema disperso, evocativo e expressivo de seus valores religiosos, foi musicado por Paulo César Pinheiro, que acresceu alguns versos com funções sonoras, o Carta de amor, tornou-se um emblema do voo da águia, da materialização de uma força que transige as lógicas e os padrões e coaduna-se ao início de tudo na longeva vida da cantora: brutaliza-se contra a injustiça sem nunca deixar de ser beleza. E ser amor. E então: pega, mata e come! Transmutando-se em amor novamente.

A verve criacional de Maria Bethânia pode ser representada nas incontáveis vitórias que a cantora obteve em premiações como os antigos Prêmio Shell e Prêmio Tim, que respondem atualmente pelo título de Prêmio da Música Brasileira, que na sua 24ª edição, realizada na noite de 12 de junho, no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, garantiu à cantora os troféus de melhor cantora de MPB do ano de 2012, e o inédito para ela, de melhor canção também na categoria MPB, por Carta de amor, confirmando a força expressiva desta senhora que o tempo só fez melhorar.


Marlon Marcos é jornalista e antropólogo  email: ogunte21@yahoo.com.br

(Publicado em 18 de junho de 2012, no Jornal A Tarde, Caderno Dois+, coordenação Simone Ribeiro)

segunda-feira, 17 de junho de 2013

Maria Bethânia: a rainha faz 67 anos



Brava senhora,

Muito me honra a sua presença ativa no cenário cultural deste país.
Orgulho-me de mim mesmo por ser seu admirador.
Agradeço a Deus a audição visão sensibilidade inteligência.

Os céus estão em movimento,
qualquer vento mais forte lhe anuncia
sob a proteção de sua mãe Oyá.

Mais luz saúde alegria,
tudo que lhe permita continuar,
e trazer dias de felicidade
à luz da sua raridade
como cantora neste tempo
neste planeta e,
no cantinho do meu quarto,
quando eu penso no amor.

domingo, 16 de junho de 2013

Azul

Se eu pudesse
Só azul seria.

Desavesso




Quando aos olhos desvendo
O outro lado extenso
De mim mesmo chegando.

Uma semi fruição noturna
Ocupando virtualmente
O paladar.

Um lugar notívago
Em sede
A beleza a desejar.

A dança incontida
Das mãos,
Coração a sonhar.

Meus olhos dele
Em raios cortantes;
Labareda gerando,
Música filmando
Película que o trouxe
Para dentro de mim.





quarta-feira, 12 de junho de 2013

Fernando Pessoa



13 de junho também é seu.
E vivo desse seu risco poético,

do trânsito dos seus eus,
da possibilidade do outro,
da transgressão absoluta.

Vivo Fernando,
tornando-me Pessoa,
às vezes cansando de ser gente,
para tão somente ser coisa.

Elaboro-me na beira da palavra,
e mergulho na ânsia da sua escrita,
molhado em sua genialidade.

A festa também é sua.
E que os falantes desta língua
te saúdem em glórias,
ou então,
com mais respeito,
façam silêncio,
porque o poeta maior
nunca morreu.

sábado, 8 de junho de 2013

Iemanjá



Das flores pra Mãe, 
essa força dentro de mim.

sexta-feira, 7 de junho de 2013

Transamor

Soltar-me.
Entre achados e perdidos.
Só pela vontade de seguir
dentro do que contradigo,
às vezes desisto,
mas transamo fazer.

quinta-feira, 6 de junho de 2013

Chegada

"Devora-me, meu ódio-amor,
sob o clarão cruel das despedidas"
Hilda Hilst

Para que nada me falte
E ainda sem falta nada me tarde,
E algumas cinzas reluzam
Possibilidades.

Nada de tempos atrás ou à frente.
O tempo é agora. Sem fases.

Sem mais:

Na intensa clara força 
Da tua chegada
Boca fala alma amadas
No lugar que sempre estiveram.

quarta-feira, 5 de junho de 2013

Silenciando...



Asilado em mim.
Notório silêncio em uma música crescente.
Lentidão compassada no esquecimento,
esse desvio musical da memória.
Morte em Veneza,
onde nunca estive.

terça-feira, 4 de junho de 2013

Sob Ney


Estou ainda sob o impacto do show de Ney. Queria programar minha revolução de expressão, assentar num sentido artístico a minha vida. Queria ir pelo cinema dialogando com a literatura e a música popular. Tudo investido no meu ser maior: POESIA.

Preciso achar o poema certo, o da incerta palavra, a inventada, como as verdades mais verdadeiras.

Escrevo isso aqui agora por não saber nada , naufragar em academias; mas há a antropologia em novas modelações.

Eu quereria, no fundo, estar em outra cidade, discutindo e lendo os poemas de alguém e, depois, abraçar o poeta!

Transa virtual

Está posto no centro de mim
ardendo como esperança.
Uma ventania criança
nessa busca sem fim.
Troco falas sem língua
a escrevinhar nosso desejo
que aporta em tons
da poesia que nos une.
Toco de longe
na escrita fascínio
que me faz deitar
e transar contigo.

Só me repito porque sou bobo

Das Vantagens de Ser Bobo

O bobo, por não se ocupar com ambições, tem tempo para ver, ouvir e tocar o mundo. O bobo é capaz de ficar sentado quase sem se mexer por duas horas. Se perguntado por que não faz alguma coisa, responde: "Estou fazendo. Estou pensando."

Ser bobo às vezes oferece um mundo de saída porque os espertos só se lembram de sair por meio da esperteza, e o bobo tem originalidade, espontaneamente lhe vem a idéia.

O bobo tem oportunidade de ver coisas que os espertos não vêem. Os espertos estão sempre tão atentos às espertezas alheias que se descontraem diante dos bobos, e estes os vêem como simples pessoas humanas. O bobo ganha utilidade e sabedoria para viver. O bobo nunca parece ter tido vez. No entanto, muitas vezes, o bobo é um Dostoievski.

Há desvantagem, obviamente. Uma boba, por exemplo, confiou na palavra de um desconhecido para a compra de um ar refrigerado de segunda mão: ele disse que o aparelho era novo, praticamente sem uso porque se mudara para a Gávea onde é fresco. Vai a boba e compra o aparelho sem vê-lo sequer. Resultado: não funciona. Chamado um técnico, a opinião deste era de que o aparelho estava tão estragado que o conserto seria caríssimo: mais valia comprar outro. Mas, em contrapartida, a vantagem de ser bobo é ter boa-fé, não desconfiar, e portanto estar tranqüilo. Enquanto o esperto não dorme à noite com medo de ser ludibriado. O esperto vence com úlcera no estômago. O bobo não percebe que venceu.

Aviso: não confundir bobos com burros. Desvantagem: pode receber uma punhalada de quem menos espera. É uma das tristezas que o bobo não prevê. César terminou dizendo a célebre frase: "Até tu, Brutus?"

Bobo não reclama. Em compensação, como exclama!

Os bobos, com todas as suas palhaçadas, devem estar todos no céu. Se Cristo tivesse sido esperto não teria morrido na cruz.

O bobo é sempre tão simpático que há espertos que se fazem passar por bobos. Ser bobo é uma criatividade e, como toda criação, é difícil. Por isso é que os espertos não conseguem passar por bobos. Os espertos ganham dos outros. Em compensação os bobos ganham a vida. Bem-aventurados os bobos porque sabem sem que ninguém desconfie. Aliás não se importam que saibam que eles sabem.

Há lugares que facilitam mais as pessoas serem bobas (não confundir bobo com burro, com tolo, com fútil). Minas Gerais, por exemplo, facilita ser bobo. Ah, quantos perdem por não nascer em Minas!

Bobo é Chagall, que põe vaca no espaço, voando por cima das casas. É quase impossível evitar excesso de amor que o bobo provoca. É que só o bobo é capaz de excesso de amor. E só o amor faz o bobo.
Clarice Lispector

segunda-feira, 3 de junho de 2013

Maria Bethânia: meu controle de qualidade




Essa imagem traduz a entrega de Maria Bethânia à sua arte. Conduz-me ao silêncio que hoje preciso para reelaborar a pretensão de outros instantes. Estar vivo nos consome demais, ainda mais sob o compromisso de sentir felicidade.



Estou quase triste. E esse quase me liberta da dor improdutiva. E voo por sobre mim mesmo tendo como combustível o meu amor pela arte desta mulher. Meu controle de qualidade.



Vivo esta imagem. Penumbra nas sensações efêmeras, nas sensações perenes; contradigo-me preservando só o amor por ela. Sua inteireza criativa e a palavra naquele lugar. A voz.

Preciso da mão na testa, os cabelos como moldura, anéis e pulseiras, contas símbolos da fé, a música popular brasileira.

Essa senhora - transsignos da profunda beleza - que segue em dores e alívio a iluminar algumas paradas e a cantar para o bem do tipo de Brasil que eu mereço.

Nesta imagem: a minha doutora.

MM

Da saudade aguda

Eu quereria, no fundo, 
estar em outra cidade, 
discutindo e lendo 
os poemas de alguém,
depois,
abraçar o poeta!