quinta-feira, 30 de junho de 2011

Contracorrente ( I )

Eu lia como se estivesse a me estimular à salvação: seus olhos eram livros pra mim. Ali, houve a história; um conto à beira-mar, caminhos desaguando o inexplicável que aconteceu. Dos olhos ao sorriso foi um tempo para a dilaceração e o amor faz assim.

Ali, aldeãs viam: a beleza mais profunda! quase mar e o amor é assim. Uma dança acima das incertezas e a tragédia como um falso destino.

O tempo, este menino, a intensificar o não e a chover sementes, pelo avesso, o amor é assim.

O apego por olhos e sorrisos. Marulho difuso por onde se podia chegar. As aves nadavam e o peixe beijava à boca enquanto as musas eram os pescadores. O sol vestia-se de noite e o que era quente fervia pois o amor é assim.

A mão tocando o rosto, a língua deslizando o corpo, e palavras dispersas enfeitando areias. Imagens da solução que traz a morte como sentido.

O tempo menino condenando dois homens e a força  maior que acelera a vida! a força estendida dentro do amor. Essa sustança do querer arrombando portas, desabando regras... Se mostrando. A lua como fotografia e união - nada de lentidão e nada de muita pressa -; medida certa: o amor é assim, apesar de confusão.

Chama - Joanna


Sou das canções e de uma lembrança...
Marcado de esperas, de esperanças, de desistência.
Sou minha intensidade diante de ti...
E essa vontade de sermos um
Fora dos mapas e solto das convenções.
Sou esta canção na doçura que é tua
E derrama-se sobre mim.
Tua voz silenciada,
Minha alma sentada,
À espera.
Chama impossível de apagar.

Noutras palavras

É sempre para o centro de mim. Para o meu frescor ou para a falta mais doída. E quase sempre foi tão somente palavra. Aquela força artística me arrancando do cotidiano, me apaixonando, me fazendo dialogar e brigar com o impossível. Eram uns olhos que eu sabia como ninguém. Era a delicadeza mais esperada e ainda escrevia. Para dentro do centro do melhor que existia em mim.
Fui todo sonho. E amor. Um amor desenhado na alma, entre barulho e silêncio, se alimentando de poemas. Coração todo sonho. Olhar todo sonho. Sentir todo sonho. E eu dormindo sem poder acordar. Fascínio. Congelando em mim mesmo. Fascínio - eu tinha que estar em alguma linha da inspiração dele.
O antes selou o desencontro. O durante foram oferendas amorosas inúteis. E o depois, não sei... o tempo circunscrevendo nossa zona mais calada em translúcida saudade.
Nunca se saberá se valeu. Nunca se sentirá a explosão que poderia advir dos corpos. Nunca se avançará para além das explicações e do adeus. Nunca tal igual ao impossível.
Haverá escritos. Subentendidos. Entrelinhas do que não se ousou fazer. Poemas como perguntas seguindo os caminhos da saudade que ficou como resposta.
Noutras palavras: amor que não conseguiu ser.

terça-feira, 28 de junho de 2011

Maria Bethânia faz 65 anos



O que aconteceu no cenário cultural brasileiro nos anos 60 revolucionou o nosso fazer artístico e legou para eternidade nomes que souberam sintetizar todo um processo histórico de evolução lítero-musical. Jovens, como Edu Lobo, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Milton Nascimento, Elis Regina, Tom Zé, Nana Caymmi, Roberto Carlos, Erasmo Carlos, Gal Costa, Chico Buarque, Dori Caymmi, Nelson Motta, Sérgio Ricardo, Geraldo Vandré, Wilson Simonal, José Carlos Capinan, Nara Leão, e outros, renovaram continuamente a chamada MPB.

E ela, a menina de Santo Amaro da Purificação. A moça dos gestos fortes, do nariz adunco, dos cabelos crespos, da voz grave, da androginia sertaneja, da beleza agreste, da rebeldia sem par, da dramaticidade luso-africana, da impecável pronúncia, dos desatinos; a menina-mulher nova expressão do feminino, ora água, ora terra; ora fogo, ora ar, gritando aos quatro ventos: "Carcará, pega mata e come; Carcará não vai morrer de fome”, irradiando-se do show Opinião, no Rio de Janeiro, em 1965, para o estrelato maior que já dura 46 anos em todo Brasil.

Neste 18 de junho, Maria Bethânia completa 65 anos. No mesmo ano que o mestre dos mestres, João Gilberto, completou 80. Os nomes mais caros dos artistas que venderam a Bahia ao mundo estão amadurecendo. É bom se registrar a grandeza e a importância de uma mulher perfilada de negritude, nordestina, inventiva, que traduz o que a Bahia inventou ter. Uma diva em que nada deixa dever a outras no planeta.

A celebridade que porta contas, patuás, crucifixos, relicários; veste-se de branco às sextas-feiras, mesmo morando no Rio de Janeiro; enfeita santos católicos, louva e agrada orixás; canta a sua fé que se coaduna com a fé do povo negro brasileiro. Preserva o catolicismo; pratica o candomblé de ketu.

Ali, na voz de 65 anos, a poesia dança e exclama sua presença na contemporaneidade. Ali, desenhos sócio-antropológicos ensinam o Brasil a ser Brasil. E a mulher que ama ser mito, entra em cena, como uma professora, com elegância e criatividade, impulsionando parte do nosso povo a ter amor por livros e pela arte.

(Publicado no Opinião do A Tarde, edição de Jary Cardoso, em 18 de junho de 2011)

domingo, 26 de junho de 2011

Do deserto de mim

Esse deserto parece sem fim,
Me caminha em arrependimentos
Me faz dizer sim
Para que eu mesmo
Me condene.


É o deserto sem noite
Sol escaldante na
Consciência que trago em mim.
Em tudo que me dói, eu sei...


Trato de me apartar
 Do centro daquele calor;
Vou pelas beiradas dizendo
Nada e não vivendo.


Deserto contínuo,
Mistério do que não quero,
E como não se é mistério?

Estou para fora de mim
Dançando medo sobre areias
Bem longe do mar.

Por que Deus não me deu asas?

O homem alcançável


... foi até o mar.
apagou as luzes
e o tempo.
se fez navegar...

terça-feira, 21 de junho de 2011

Gal Costa: Eu te amo


E segue: essa minha audição labareda, absorvendo o fogo do mundo na voz de Gal Costa gritando: Eu te amo! Um pouquinho de mim. Luzes nessa escuridão matutina e o sol da madrugada sem me deixar dormir. Reitero o meu carinho. Não sei mais do destino. Ouço baixinho para não acordar ninguém. Estou sozinho nesse fluxo de estar vazio para além. Ouço alto e acordo a vizinhança. Gal deixa de cantar e dança, é a Bahia em primeiro lugar. De uns tempos pra cá, vejo essa voz a caminhar entre os seus. E sinto alegria.
Quero gritar eu te amo e que reflita em alguém que me ama e meu mundo seja a estesia da voz de Gal.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

O primeiro que disse


A vida é um tormento. Universalmente. Uma comédia italiana, realizada em 2010, expõe com graça e lágrimas essas dificuldades de existir. Ainda mais sendo gay. Uma família tradicional, rica, italiana com dois membros masculinos gays. Quase uma tragédia, mas o filme é lindamente engraçado, humanamente comovente. A gente sempre se encontra por ali, de algum jeito, em alguma medida. A beleza percorrendo os instantes: essas confusões de ser e de querer, às vezes, sem porquê. Tudo magnetismo e norma também. As normas de um lado e as do outro. Tudo posto para se perceber que a gente tem que apertar o gatilho e sucumbir, até quando der, ao tédio. Mas, mesmo em alguns instantes, se banhar no mistério e perceber.
Com O primeiro que disse - eu percebi. Percepção em Merleau-Ponty. Filosofia em uma poética que não se esgota no bom cinema. E nem precisa ser cabeção. E nem precisa explicar. Basta ser como: O primeiro que disse. Corra. É, então, muito lindo!

domingo, 19 de junho de 2011

Viajando no que assisti

"O presente é insatisfatório porque a vida é um pouco insatisfatória"
Woody Allen

Sem máscaras meu rosto me explica o presente. E invalida as vãs tentativas de querer retornar ou de saltar para o futuro. A saudade é o barulho que a vontade de viver o agora faz. É esse tormento de se ter mergulhado no nada do que passou e seguir estagnado. Meu rosto se me revela no que não posso ocultar de mim. E assisto minha vida: uma profunda delicadeza que não gerou flores; um carinho que não pariu amores; instantes entre alegria e vazios...
Hoje me perco em insatisfação, apesar de ter sonhado no cinema. De me ver desenhado em histórias tão longes de mim e de fazer sentido naquilo que vi. Hoje me entreguei ao medo e chorei. Mas ri muito também. Meu peito insatisfeito se enriquece em narrativas que me transportam a lugares que não viverei e sonho, nutro minha vontade, perigosa força que marca um amor em mim e me empurra para sonhos acordados com Paris.
Eu ando em desvelo e meu único sentido é acreditar. Capto alguns ensinamentos - os grandes artistas são o feitiço e o alento que movem minha vida. Me delato para evitar qualquer culpa. Já me acusaram e meu crime maior é tentar melhorar.
Meu rosto, hoje, é o retrato de mim: meu instante mais verdadeiro, minhas marcas em palavras para esta escritura de sangue. Meu tom insatisfeito, minha fuga para adiante, o peso do passado em tudo que não foi efetivado e o arrependimento pelo que não foi feito.
A vida é insatisfatória e nos persegue quando tédio. O que assisti traz a poesia para mim, minha deliciosa forma de salvação. Por ela, continuo em mim a persistir em deixar beleza pelo mundo.

Lígia com Chico Buarque


Ele hoje faz 67 anos. Um senhor que combina a beleza do Rio de Janeiro com a poética do mundo. Alguém que vasculha na gente suas perguntas de gênio e sai amando por dentro de canções. Tudo que é lindo mora ali; vívido nos faz delirar e rima sua coerência artística com seu desregramento sócio-existencial. Desregra,sim! Como seus olhos - ardósia nos falando do mar. Esse eterno amor de uma nação. Fascínio. Caminho de sa fazer gostar e a gente ama. Ama Chico Buarque de Holanda: ouve , lê e canta!
E Lígia, do mestre Jobim, retrata nossos sonhos românticos banhados pelos ares e mar de Copacabana.
Parabéns, Chico! O Brasil é contigo...

sábado, 18 de junho de 2011

Maria Bethânia,65 anos!

Maria Bethânia

Minha doutora, minha poeta, minha cantora

Eu queria cantar como Nana, escrever como Clarice, poetar como Pessoa... Queria ter o dom das mães, a delicadeza da infância, o cuidado dos lobos... Ter o sacerdócio das palavras, fazer chover, trazer sol e dar paz.... Queria ter a mais rara imaginação para pintar a emoção que sinto quando ouço sua voz. Queria ter a sabedoria e saber a hora de fazer silêncio... Queria meus olhos como câmera fotográfica captando a sua imensidão - isso que me faz sonhar... Ser um adereço para estar em suas mãos; ter coragem para perder o medo do seu olhar. Queria a inspiração dos musicistas e o talento dos trovadores, dos cordelistas... Queria ser uma canção de Chico e Caetano para passear em sua garganta; uma música linda e imprecisa na abundância do seu canto. Queria ser a flor não colhida à beira d'água, enfeitando seu banho de cachoeira. Queria lhe pertencer como a poeira de Santo Amaro e ter traços do Rio sobre mim.
Tão somente isso: lhe agradar.

Eu sou um peixe que mora na Baía de Todos os Santos e que você às vezes vê da sua janela. Aquele que lhe admira e segue sob seu encanto, se veste da sua poesia, ama ao som da sua voz. O que descreve  a sua presença de musa, para que mais possam lembrar da sua grandeza artística entre nós. Como gostar não se diz em palavras, eu te abraço hoje, daqui deste texto, pelo pensamento.
E ao Universo agradeço pelos seus 65 anos!

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Para o pensamento

Há um colorido lá fora que não me faz bem. Prefiro fechar portas e janelas, acender todas as luzes, desligar telefones, TV, rádios, microfones, escolher pensamentos e me perder. Me abandonar pensando. Uma noite de silêncio. Aprendizado profundo com o pessimismo que não me habita. Mas o escolhi para seguir minha interioridade exposta:"  a mentira é a alma da vida social".
O colorido é esse social que marca meus desencontros e me impele a falar de mim. E como gosto de falar de mim, das minhas sensações frente ao mundo. Como gosto do batuque simbólico da minha emoção. Sentir é o meu destino de homem comum. Comum na unicidade e na trincheira da guerra que travo comigo mesmo.
Gosto de gostar querendo desgostar de tudo. E vou à subida. Ao centro daquela força que é a posse de si mesmo. Legarei infortúnios e receitas de feitiçaria. Meu pacto noturno com as chuvas de junho e essa insatisfação maior que meu desejo. Tédio somando-se à insônia é caminho para o suicídio. Não sou de matar nem de morrer. Mas o tédio corrompe as ilusões salvadoras. O tédio danifica até o silêncio.
Anoto uma imagem para deixá-la definitivamente para trás - onde a memória não possa alcançar. Apago. Um tempo em desalinhos me ensinando a barganhar com a angústia. Eu que me engano tanto para melhor enganar. Eu. Repetidas idas e floreios obtusos: quanto mais digo, não compreendo, e nem o outro.
Sou-me nessa face existencialista. Um projeto inconcluso. Escolhas semi-corajosas. O quase do poeta morto. O tempo urge dentro ócio que tanto busco e não consigo.
Eu queria um encontro. A dois. Um dia. Longe de todos. Dois, fora dos mapas, deitados numa cama a ermo, vestidos, conversando sobre os sonhos, poetando pelos olhos... Calma,  é o otimismo voltando.
Nesta noite só há tempo para a desilusão. Não vou mitigar nenhum romance; especular nenhuma paixão. Volto ao tédio ao silêncio para ter só a mim. É o que está certo.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Cláudia Cunha, tão linda assim

"Porque tão linda assim
Não existe a flor
Nem mesmo a cor não existe
E o amor
Nem mesmo o amor existe"
 

Ouvindo Cláudia Cunha eu me reporto sempre a Stella Maris, a Jussara Silveira, a Gal Costa. Ela traz uma doçura que é das águas e venta na gente para refrescar a vida. Linda mulher sobre a posse do som; algo que mora na gente e confunde, e desperta; alucina, alivia, transporta. Sua presença anima todas as linguagens artísticas: vê-la é cinema, ouvi-la é concerto, tocá-la é escultura, senti-la é teatro, falar dela é poema. Sua musicalidade consegue nos fazer ver a intensidade do seu talento. E o estar dela é um desenho simples mas perfeito como as canções de Caymmi. Ela tem o jeito da melhor amiga, da namorada sonhada, da irmã presente, mas o seu tempero é o composto que faz as grandes divas.
Uma cantora sensual  que fascina como Zezé Motta e que paralisa nossa respiração, por segundos, como Billie Holiday. Poderia ser uma mera repetição se nela não habitasse a inteligência de quem sabe o que tem a oferecer. Quando a ouço sinto vontade de ouvir Stella Maris. O canto de ambas é prateado e sustentado pela maresia: duas nereidas circulando a plástica misteriosa do mar.
Ela faz dia. Ensolara a Bahia e nos dá tanto orgulho. Sua luz é desmedida quando passeia pelos palcos; fora deles, ela incendeia nossos olhares. Como é bonita! E como cabe em versos e canções! Como trafega imune por entre as durezas dos cenários artísticos.
Cláudia Cunha é o pássaro da voz pousado em São Salvador da Bahia. Estesias nossas à força do que lhe sai da garganta. Anima a esperança, faz a roda e nos convida a brincar.
Brincar de ser gente: nutrido, estudado, crítico, amado,diferente, fruidor das coisas mais lindas do mundo.

terça-feira, 14 de junho de 2011

Xeque-Mate, o filme

Sandrine Bonnaire

A vida se escreve em descobertas. O que fascina é o que se forja dia a dia, hora a hora, segundo a segundo, e pode nos revelar motivos para estarmos aqui.Um filme ( mais um) tomou por inteiro minha alma meu corpo e minha emoção. Mais um que me ensinou sobre as sutilezas do amor: suas armadilhas, seu encantamento, suas deixas e desordens, sua leveza para lágrimas, e a dureza para a cama. Mais um a me revelar para mim mesmo e me entregar fragmentos de sonhos onde esculpo os meus mais profundos desejos.
Xeque-Mate me ensinou que, no xadrez, a peça mais importante é a dama, mais importante que o rei; ali entendi a grande sabedoria deste jogo. Eu vi o mundo, para além dos meus arroubos poéticos, sob o olhar da mulher diretora Caroline Bottaro, desenhando uma delicadeza que há muito mora em mim. A vida como uma espécie de jogo, associando tática a sentimento, enovelando a gente no mistério que dá o sabor vital. Vi luzes que refletem e o escuro que abastece a gente de procura.Vi uma atriz, sublimemente, sendo uma mulher comum e incomum a partir da revelação.
Eu vi Sandrine Bonnaire intensa, e melhor que qualquer discurso de gênero, sendo a mulher em outra lógica de destino, se refazendo pelos campos mais devidos e caros ao existencial humano.
Eu vi as sutilezas do amor num diálogo de jogo: chorei porque eu também tive aquilo, num desígnio de que não seria tão profundo se não parasse por ali.
Eu vi isso que a Sétima Arte traz e aprofunda: a beleza em todas as dimensões, fazendo com que tudo comunique poesia.
Eu - o de dentro da tela - querendo aprender a ser, o que escolher, a saber amar. E escrever.

Tiganá e Fabiana Cozza: o milagre de existir


"A África está dentro das crianças
E o mundo está fora"
Tiganá Santana


Alguma coisa calada fora e dentro de mim. O silêncio que nos assegura o além. O propósito de morrer. Esse brilho de sabedoria que só a arte nos entrega. O valor irreversível de se viver. O meu ser sendo entre a revelação de duas vozes. As minhas lágrimas sem explicação: a força do amor que trago aqui, e transmito daqui, banhando-me na fonte que é esta canção. A beleza no tamanho exato: eu humano perto de Deus. Minha cabeça que faz a segurança dentro da minha alma: Iemanjá. As vozes de um pai e de uma irmã: a arte.
Nada é tão difícil assim. Áfricas dentro de mim à eternidade. Coragem de chegar até o fim escrevinhando o agora. Meus rabiscos que sou eu por inteiro. Minha memória infernal tal igual ao presente que vi. O que vejo é pura audição e sinto tão forte como se eu não mais existisse. O além. E o amor que é constante em todos os tempos que habitei.
Le Mali Chez la Carte Invisible
Ali,
minha alma toda África
matriz que serenei um dia
minha força resguardada
meu cenário de fantasia
destino da minha fé.
Ali,
lugar do silêncio
andar da anciã
conversa entre a vida e a morte.
Ali,
o que nunca saberei
mas não é segredo
 no mistério do que não sei
eu danço para Ela.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Fernando Pessoa

Meu Poeta,

Acordei militante, rezando a Santo Antonio, caçando seus poemas ao amor: 13 de junho!
Acordei suplicante sob o tombo da poesia que me entrega vida e faz nesses dias chuva e sol!
Acordei delirante e mais bobo vestido de James Baldwin!
Acordei numa prece a um deus que escreve!
Acordei exclamando!
Acordei floresta e ares de montanha temperados!
Acordei fazendo frio e calor!
Acordei perdido saudoso feliz!
Acordei para encontrar-me contigo!
Acordei querendo ser poeta e acender luzes!
Acordei fazendo escuro também!
Acordei em sua vida em sua obra!
Acordei em Lisboa: passagem do amor por lá!
Acordei numa fotografia maldita!
Acordei num dessassossego que lembra esperança!
Acordei sonhando acima do tempo!
Acordei navegando o mar!
Acordei dentro do seu mistério, me afogando por lá!
Acordei para celebrar o seu dia, meu dia!

E ser este agora que me perfuma, o alumbramento!
Minha vida em retas e curvas, o encantamento!
E ter sentido!
No vinho raríssimo das suas palavras!

P.S.  Meu poeta, maior que a felicidade, ainda maior que poder amar, é poder escrever poesia!

domingo, 12 de junho de 2011

Pétala (ouvir em silêncio,por favor)


Como mergulhar no encantamento de si mesmo sem perder a dimensão do outro. Como silenciar para ouvir os olhos do outro de luz apagada, em algum vão da casa, sem saber o que vai acontecer. Como renascer das carícias e se embeber em revelações. Como anotar paixão, com a mão, no corpo do outro. Compor uma história com suas digitais, entre misterioso e vulgar, salgar o amor sem partida.
Ouvindo Pétala...
Amar cada traço ou sugestão que componha o inteiro do outro e se permitir amar também: inteiramente. Viajar em horas que devem ser secretas, sabotar o tempo, deixar o vento entrar, acender baixinho a lua, respirar o intenso sentido que guarda o encontro de dois. Por dentro se espantar com a alegria, por fora chorar de emoção.
Ouvindo Pétala...
Alcançar montanhas, tematizar horizontes, festejar frutos silvestres; aportar a dois num livro de poesia; escrever novelas ou contos; refazer-se romântico mas insistindo na vida; ter e dizer muitos sonhos; andar em campos descalço e banhar-se na chuva; reviver pieguices; ser o mais simples para ter o melhor prazer. Conviver. Alargar espaços e agradecer. Lindamente.
Ouvindo Pétala.

Djavan pra prosseguir


"Por ser encantado o amor revela-se por ser amor"

 Crônica sobre uma noite azul. Noitinha chuvosa e muita gente ávida para amar dentro das convenções. E ele cantando, solto, leve, dançante, como sempre sob a luz musical do amor. Difícil escapar às convenções, elas são fato social, mas eu tive, em agradável surpresa, um encontro comigo em alegria balançando ao som de Djavan. Uma festa nas cores que eu mais amo e retrospectivas da minha história, da história recente do meu país, nas letras no canto nas músicas desse princípe dos nossos sonhos.
Crônica de uma noite romântica para todos. Para além de qualquer memória, ali foi tudo já. Feliz. E Pétala sangrando numa interpretação absoluta. Como eu amo esta canção,como ela sou eu dizendo o mais profundo de mim. E Sabes mentir? E Fly me to the moon? E Palco noutra insurgência? O cantor personalíssimo. Eu caetaneando as rosas amarelas, o gosto de filha, a música de preto. E a Concha Acústica do Teatro Castro Alves de Salvador da Bahia: djavaneando um 12 de junho com um dos perfumes mais raros emotivos gostosos sensuais vibrantes deste cenário musical brasileiro.
Foi lindo; me posto aqui com cobertura de amor, neste meu coração de sorvete que dá felicidade. Obrigado, Universo!

A desistente

Sempre que amanhecia, ela se vestia de espera. Aquela espera silenciada na alma, que gera olhares à caça, que exercita, sem esforços, o corpo. Sem maiores ardores ou sonhos: ela era aquela espera.
Singrar dias, vencer as noites; o sol lhe trazia a alegria da pronta recepção e lhe invadia com promessas que só ela sabia entender. Uma quase sacerdotisa das luzes, que esperava tanto...

Até que um dia, manhã reluzente, com a camisola mais velha, mais discreta que antes, olhou pro espelho: basta! Se desapegou de tudo, não lembrou dos parcos familiares; de lá, do quarto mais escuro imitando a noite, envenenou-se com o intuito de fazer a primeira e derradeira viagem.

sábado, 11 de junho de 2011

Baldwin, por Guellwaar Adún


Dois artistas negros numa única expressão. Amei isso:

Quero receber James Baldwin
Sempre que às minhas mãos uma esferográfica r...epousar.
Sentindo sua estética, dominando meu sentimento,
Seduzindo meus pensamentos, e simplesmente escrever.

Escrever com ódio e com medo
Manter o dedo, sempre aceso, conectado com meus mistérios,
com meus anseios, com meus desejos…

Lembrar de tudo, lembrar das marcas
Com ódio e com medo (...)

(...) e exatamente por esses motivos
Baldwinamente escrever o amor, escrever a audácia,
escrever o imponderável.

Mil cretinos não serão suficientes para impedir meu intento de sobrepujar meus limites,
 vacilos…
James africanus…

baldwinar durante todas as madrugadas
Simplesmente por amar brincar com a Deusa das palavras,
senhora das histórias, princesa das fantasias.

-Guellwaar Adún-

sexta-feira, 10 de junho de 2011

João Gilberto: 80 anos


Essa voz me faz serenar e imaginar até onde podemos chegar quando o assunto é criatividade. Mas que tudo: João me comove minimalisticamente. Me comove e impele a muitos sonhos e à sensação de estar dentro do silêncio. Ouvi-lo é ler Manuel Bandeira, cantar ao lado de Caymmi, trompetear com Chet Baker, viajar no canto de Gal Costa, acompanhar as literaturas de Caetano Veloso. Ouvi-lo é estar diante do gênio absoluto da Música Popular Brasileira.
E sarar. Hoje ele fez 80 anos. Não me lembro a data, mas o ouvi cantar, pela primeira vez , no Parque de Exposições de Salvador; ainda adolescente,  naquele dia comecei a sonhar mais e a desejar trabalhar com a palavra, com jornalismo, com o que me deixasse perto da música deste País que gerou nomes como João Gilberto. O homem de Juazeiro da Bahia, cidadão universal aportado na cidade do Rio de Janeiro.

Bravo mestre dos meus mestres e, mesmo distante, grandioso exemplo da força que a criatividade humana tem e quando se expressa: vira um banquinho, o violão e a voz de João: uma espécie de Deus reinventando o som, transubstanciando a canção, eternizando uma nação pelo viés da música.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Só o que é

Se muito olhar para trás verei o quanto da minha loucura naquilo que se desfez. Ainda assim doendo, agradecerei. Inclinado a olhar para frente sem contar com amanhãs, nem com a ideia de tempo restante; seguir é o que está certo. Se me pergunto só o presente responde; se  me preocupo, só hoje é que me vale.
Sinto as agruras do agora e aí, sinto prazer também. Agora. Tudo que eu amo nunca teve fim e vive comigo no fundo do silêncio que não sei fazer. Tudo que eu amo comunga intenso com todos os instantes desse exato momento e se me revelam para que eu possa entender.

Tudo que eu amo é. E vibra pela ânsia dos meus olhos, o desajuste do meu toque, a excessiva confusão. Confusão amorosa. Dependuro a espera na beirada da janela para ser inteiramente hoje, agora, já. O que passou ou vai passar não é. E o que eu sou é puro amor amando. Já. Puro amor olhando a vida numa dança para a vida sem sonhos ou idealizações. Quando for ontem eu não serei mais. E amanhã, já estarei esquecido.

terça-feira, 7 de junho de 2011

O bobo

"É que só o bobo é capaz de excesso de amor. E só o amor faz o bobo."

Aprendi rindo por dentro: bobo foi Chagall. Nada de enfeiar-se. A loucura combina com o riso que tenho pra dar. Em noites de lua em evidência costumava rezar pedindo sorte. E eu tinha toda saúde de ver a lua entre as estrelas fazendo minha delicadeza fluir. Eu tinha um cansaço na alma mas a beleza nos olhos. Sempre melhorava se pudesse rir. Eu era uma vaca sobrevoando as casas ou uma borboleta invadindo o banho da pessoa dos meus sonhos sem ela ter pudores de mim. Era um bobo poder que eu nem desconfiava que tinha. Noites nessa claridade nordestina, o sol do Brasil. E eu rezando sorrindo e chorando pra lua. Espécie de feitiço, sim! Controlava o tempo e amanhecia sem aquele cansaço. Tudo fome de poesia que o silêncio noturno, refletido na lua, me trazia. O tempero era saber pedir e vinha mas eu não sabia e deixava fugir.
Não era muito sereno não. Excessivo como querer sobrevoar casas ou espiar o banho de alguém - eu vestido de borboleta. Excesso e segredo. Aquele zumbido em ouvido vindo do peito para que o amor se apresente. Eu dançava com a lua que me ensinava algum dos seus mistérios e perdoava os meus excessos - todos alusivos às minhas historinhas de amor. O amor era meu guia tal qual o riso. Faltava-me sorte. Será? Perguntava-me a lua. Eu ria.
Um bobo clariceano, às vezes triste, mas todo amor como Florentino Ariza. Flutuante, pedinte, paciente, obcessivo, carente a vagar de espera de ideias de amor. Tendo a lua como oriente.

Uma voz, o texto

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Bom dia

Amanheci, instantes da risível ficção, mas de verdade, sob o frio de Salvador. Gosto de choro na boca, lembranças de um sonho com carinho, a precisão de Mahler ao fundo sem elencar tristeza, vento na cara e na alma, o peito vazio para dar espaço à alegria. Asas desenhando encontro, flores sobre a mesa, rabiscos feito anotações para se ter o que cumprir: amanheci esbanjando energia.

Tocando-me no rosto, penteando o cabelo,  banhando-me com dengo, perfumando corpo e alma, vestindo a roupa mais agradável, tendo paciência e cuidado comigo mesmo. Amanheci querendo e exigindo saúde. À frente o mar de mim. O cinza que dói e enfeitiça de beleza. Um texto de Baudelaire para aprender escrever, a foto de uma amiga, oração a Santo Antonio. É junho e eu adoro isto. Correr para agasalhos e tirá-los com euforia. Beber vinho e viajar para São Paulo.

O dia hoje é de uma delicada poesia como outrora eu buscava nos versos de um jovem. O tempo não sorria e ainda assim eu voava de alumbramento. O hoje é um convite a me contar por dentro, sem tormentos, é rememorar o que me pode fazer ler e escrever e chorar de alegria.

Entrego-me  a este cinza, aplaudo a beleza deste dia de sutil tristeza, enveredo por minha rotina agradecendo ao sono e aos sonhos que tive na noite que passou, seguro à mão da esperança, centrado na fé que me ocupa e vou, artisticamente, sentindo a alegria que só eu sei sentir.

domingo, 5 de junho de 2011

Nunca mais

Nunca perguntar de novo. Deixar secar ao vento da distância. Empurrar para debaixo do silêncio, onde sobrevive o perverso barulho. Esquecer suas mãos tocando as minhas. Subverter a noção do querer, desentender o amor e ir ter com o cortante cotidiano que nos arranca do tempo quando não mais temos o que esperar. A eternidade machuca porque ela é inimiga da paixão. Eternos são os esvaziados, os sem projetos, os conformados, ajustados, os donos do teto. Eterna é a calçada de uma rua em que vi Jussara sofrendo de amor. Eterno é o gosto de sêmen na  boca cheirando violação. É o envelope sobrescrito da carta não enviada para uma história sem conclusão. Eternos são os pingos d'água caindo da torneira que não conserto. E esse deserto que dura séculos no esvair de uma canção.

Nunca olhar de novo. Tão curto, já tão velho. Esse sem tempo sem história que coisifica a vida. Sou uma cadeira de senhora, bem idosa, sonhando ser esquecida. Qualquer relógio agora é farsa. O espetáculo mais inédito é ver gente andar. Andar dentro do mistério das estradas e das sinas. Gente que anda ainda pode alcançar.


Nunca tocar de novo. Nunca. Dentro do beijo. Nunca fora. Nunca deslizar as narinas para reconhecer o corpo. Nunca pensar em corpo sem poder esperar. Tocar. Nunca aludir felicidade ou tristeza constante. O hoje e o amanhã são morno. Nada pesa o bastante. Como antes se via a alegria de ter um corpo gozando sob o meu. Nada é cronológico. Agora é um ir-se sem fim grudado na falta de memória.

Nunca dizer sim. Soterrar os começos. Invalidar segredos até a dissolução dos tempos. Nada de referências às estrelas; à mesa o repetido jantar. Sem escritos e sem palavrório. Estar com alguém sentado em cima. Estar na enormidade do espaço que impede qualquer um de ser.

Nunca compreender o fim. Senão você não sobrevive à atual maldição. A condição é ser eterno e dilacerar ao batuque do tédio. Não ter emoção. Calcular, organizar, acertar, refletir. Aqueles do grande ajuste - os verdadeiros filhos de Deus. Os de alma e boas intenções. Não compreender o fim. Nunca sorrir nem chorar. Falar para aceitar sua necrópsia e a de todos. Falar para pedir a sua mumificação.

Nunca não e sim. Talvez é este tempo sem espera, sem esperança. Talvez é o alinhamento do que lhe deixa em vida vegetativa. Talvez é o humano covarde durando eternamente.

Nunca mais voltar.

sábado, 4 de junho de 2011

Madonna - Boderline


Teve uma época na minha vida, entre os 13 e 17 anos, que em matéria de música o mais importante pra mim era  Madonna. Ouvia outras coisas , é claro: Caetano, Gal, Novos Baianos, Fábio Júnior, Djavan, Gulherme Arantes, Balão Mágico, Gilberto Gil, Baby Consuelo, e mais... Madonna era a grande constância e eu sonhava em vê-la num show ao vivo; até hoje eu não vi. Ela me parecia, na minha paixão abrasileirada, com Rita Lee que eu já ouvia muito também.
A canção que eu sempre gostei mais, ouvia repetidas vezes durante anos, foi Boderline. Continua a ser minha canção favorita na voz da inesquecível e , graças, presente Madonna.
Posto Boderline aqui, ao meio de tristeza e alegria, com sol em Salvador, neste sábado primeiro do mês de junho. Viva Madonna! Dance.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

O mar de todo dia

"com as mãos em concha, eu as mergulhava nas águas, e trazia um pouco de mar até minha boca: eu bebia diariamente o mar, de tal modo queria me unir a ele"
Clarice Lispector

O senhor que abriga a Senhora de mim. Espetáculo diário para meus olhos que procuram e encontram. Aquele cheiro que me acompanha a onde eu for. Fascínio descrito na sensação de viver com estando sem. Luminosidade que desperta o terror mas o medo não vence. Do cinza mais triste ao azul da minha adoração: eis o mar unido a mim. Eis-me fazendo silêncio frente a ele; eis-me me consolando do mundo terrestre que me exaure e confunde, indo por passagens secretas ao centro do mundo marinho. Ondas que me curam, me esfregam, me excitam, me governam e eu aceito. Sou filho-irmão daquele lugar onde tudo é vida. Ali minha paz é verde. Me tenho com peixes e as sereias cantam para mim. Me alimento de imensidão em acordo com o que não compreendo. O mar me anima a entender os meus irmãos que vivem sobre terra. Na água eu danço dentro da beleza e recupero o sal que me tiram. Cotidiana novidade é amar o mar. Leveza e inocência no mais estratégico senso de proteção. O mar me ensina  - eu que não aprendi a pescar; me ensina a poesia que domina meu interior, me ensina a sonhar. Minha espécie de pão mais rara, o mais límpido presente que o Universo me pôde dar. Mar de mim, sagração e prazer carnal, luz sobre meu destino, sentido e morada.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Billie in All The Way


Eu tenho feito manifestos a favor do direito de estar/ser triste. Ao meio de tantos projetos inconclusos, entregas profundas sem retorno, do barulho dessa gente nos afogando em confusões, da minha inabilidade política, desta cidade amada que não me deixa sair, dos roteiros de perversidades minhas e dos outros; ah, ao meio deste tudo que me acomete de enganos, eu só peço saúde e paz!
E Billie cantando. Por favor, esta mulher cantando para eu ter certeza porque sofro, para entender sentindo o que dói em mim. Qualquer coisa antes, mas durante ela cantando All the way. Isso me põe em movimento e eu digo: ainda estou vivo. Sangrando, mas vivo. E sem medo e sem vergonha da tristeza que sinto.

Paris, uma cidade para mim

A cada dia os frutos da idealização
uma cidade como construto, inspiração.
Um lugar alheio a mim
que me toma em versos
distribui sentidos
aquece o peito banido
me faz inteiramente estrangeiro.

Um lugar que me reverbera
e que eu sei
sem saber a língua.

Marcas de um lado ancestral
que também habita minha alma;
meu cantarolar cigano
entre áfricas e europas
singrando as ruas de Paris.

Ali há o que poderia ser
em qualquer lugar;
quando as luzes se acendem
cafés, teatros, cinemas, amores
o desassossego da minha fala
a elegância procurada
um mundo de muitas cores
e sabores a mim.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Você vem?

Um pequeno deslumbre: concupiscência. Rasa visão do seu corpo em movimento. A aparência grande gentil generosa doce. Carinho. O corpo em movimento nas raias de Amaralina. Trajetória inefável de um ser todo mistério. Palavra para invalidar a inércia. Trazer volúpia. Pontes nos ligando. Montanhas a ser subidas. Olhares noturnos à mesa de bar. Sonho insone. Dança para exortar o desejo. Perfume. A alma gritando para acordar o corpo. Concupiscência. O que não se diz e digam: lamber todinho. Um roteiro hedonista negando práticas platônicas. Acertos com a filosofia. Mil respostas para a única e necessária pergunta: você vem?
Um pequeno deslumbre: abraços apertados em cima da cama, de noitinha até manhãzinha, sem mais nada a dizer. Querer é o que basta.

Paixão

só sei noticiar seus olhos tristes
e refazer o caminho dos meus querendo você.

Reflexão

" Um grande amor, mesmo não correspondido, é uma graça inefável".
Nelson Rodrigues

Amor

Era como acender a luz e se apartar da paz. Viajar para dentro de si buscando o que só estaria fora. Caminhar, em sobressaltos, por sobre palavras velhas e ruas desertas, sentindo frio e fome, apesar do inexplicável calor. Era estar na transformação da luz, sabendo-se naquilo, indo, sem condições de retorno. O mundo não perdoaria. E piorando, nada poderia ser descrito ou narrado educativamente. A alma vivia o descontrole; o pensamento, tal igual às ruas, era quase deserto. E a luz feito chama acesa em incertezas que mais impulsionavam a continuar. Para onde? Como dentro se está fora? Faz parte alcançar? Por que nunca teve roteiro?
Tomou-se o lendário elixir na ausência do outro. Imaginou-se juntos. Maldição mais perversa porque incompleta e solitária. A luz mais acesa que o sol. A luz mais falante que a lua. Ninguém para conversar. Aberta a janela do tempo tendo vento para transportar ao nada. Uma dança. A torre da igreja, linhas cosendo medo, fadiga em uma única recordação: o que dava certo movimento ao pensamento e... O coração em desregramentos.
Foto sobre a luz e aquela caminhada escuridão. Tudo faltava. Nada era em si. Até o silêncio incomodava. Nada era aqui. Olhos castanhos como pergaminho para a escrita da carta de despedida. A maldição. Olhos castanhos chorando. A natureza cobrando. A inutilidade da vida. A redenção na morte. O se refazer sem porquê. A decisão sem sorte naquela canção em notas de sangue, versos velhos, voz feminina; falta de novidade. Desde dois, o mais antigo querido buscado imaginado sentimento humano. Mais sentido se da boca dos românticos.