terça-feira, 28 de junho de 2011

Maria Bethânia faz 65 anos



O que aconteceu no cenário cultural brasileiro nos anos 60 revolucionou o nosso fazer artístico e legou para eternidade nomes que souberam sintetizar todo um processo histórico de evolução lítero-musical. Jovens, como Edu Lobo, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Milton Nascimento, Elis Regina, Tom Zé, Nana Caymmi, Roberto Carlos, Erasmo Carlos, Gal Costa, Chico Buarque, Dori Caymmi, Nelson Motta, Sérgio Ricardo, Geraldo Vandré, Wilson Simonal, José Carlos Capinan, Nara Leão, e outros, renovaram continuamente a chamada MPB.

E ela, a menina de Santo Amaro da Purificação. A moça dos gestos fortes, do nariz adunco, dos cabelos crespos, da voz grave, da androginia sertaneja, da beleza agreste, da rebeldia sem par, da dramaticidade luso-africana, da impecável pronúncia, dos desatinos; a menina-mulher nova expressão do feminino, ora água, ora terra; ora fogo, ora ar, gritando aos quatro ventos: "Carcará, pega mata e come; Carcará não vai morrer de fome”, irradiando-se do show Opinião, no Rio de Janeiro, em 1965, para o estrelato maior que já dura 46 anos em todo Brasil.

Neste 18 de junho, Maria Bethânia completa 65 anos. No mesmo ano que o mestre dos mestres, João Gilberto, completou 80. Os nomes mais caros dos artistas que venderam a Bahia ao mundo estão amadurecendo. É bom se registrar a grandeza e a importância de uma mulher perfilada de negritude, nordestina, inventiva, que traduz o que a Bahia inventou ter. Uma diva em que nada deixa dever a outras no planeta.

A celebridade que porta contas, patuás, crucifixos, relicários; veste-se de branco às sextas-feiras, mesmo morando no Rio de Janeiro; enfeita santos católicos, louva e agrada orixás; canta a sua fé que se coaduna com a fé do povo negro brasileiro. Preserva o catolicismo; pratica o candomblé de ketu.

Ali, na voz de 65 anos, a poesia dança e exclama sua presença na contemporaneidade. Ali, desenhos sócio-antropológicos ensinam o Brasil a ser Brasil. E a mulher que ama ser mito, entra em cena, como uma professora, com elegância e criatividade, impulsionando parte do nosso povo a ter amor por livros e pela arte.

(Publicado no Opinião do A Tarde, edição de Jary Cardoso, em 18 de junho de 2011)

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