segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

"É o que me sonhei, que eterno dura".

O que sou
O que me inspira

O que me ensina



O que vivo


O que me dói
Dos arredores de mim
para o centro da minha existência:
tudo que li vi ouvi senti sonhei...

Eis-me ali em soluço e gratidão
a ver as melhores cores do dia
a ter a mais intensa das noites.

Eis-me indecifrável mistério
sendo-me ao mesmo tempo
tiete...
O que se desalinha frente às musas
e plagia os poetas;
tão somente aquele inteiro
que também os ensina...
Desse desconforto de ser-me
para o dilacerado prazer de
me ter em sons palavras imagens,
reinventando minha trajetória.

Eis-me o sem glória mas
o de abundante amor
por eles que me deram
mil maneiras de sonhar.




domingo, 30 de janeiro de 2011

Bethânia e as palavras

Marlon Marcos (jornalista e antropólogo)
Especialmente para o Opinião, do jornal A Tarde, em 28/01/2011

Entre os anos de 1983 e 1984, comecinho da minha adolescência, descobri o long play Pássaro da Manhã, lançado originalmente em 1977, por ela, Maria Bethânia. Logo na abertura, a cantora baiana lançava-se a uma récita poética dizendo assim: “Conta a lenda que dormia/ Uma princesa encantada/A quem só despertaria/Um infante que viria/ De além do muro da estrada”. O poema era Eros e Psique, de Fernando Pessoa.

O Pessoa que eu já conhecia por conta de Os argonautas, de Caetano Veloso, e passara a adorar através da dramática interpretação de Bethânia em seu Pássaro da Manhã, disco recheado com outros textos de grandes literatos como Clarice Lispector, voltado à união exitosa entre textos literários e teatrais e as belas canções da excelente música produzida no Brasil nos anos 40, 50, 60 e 70.

Eu, menino nascido no Centro histórico de Salvador, estudante do Colégio Estadual Azevedo Fernandes, no Pelourinho, ouvia música e aprendia poesia com uma cantora popular, nascida na pequena Santo Amaro da Purificação, que já se tinha tornado uma das mais importantes no cancioneiro brasileiro naquele início dos anos 80.

E toda vez que revisito minha memória para saber do meu acesso à literatura brasileira, antes, recaio nas canções de Dorival Caymmi, Caetano Veloso, Gilberto Gil, e relembro minhas incursões amadianas estimuladas pelas vozes de Gal Costa e Maria Bethânia. Esta última, a grande responsável pelo meu desejo de viver dizendo poesia e aquela que, da indústria fonográfica, mais popularizou Fernando Pessoa e Clarice Lispector entre os brasileiros.

E é sob o signo da poesia e da literatura que Maria Bethânia viaja em seu novo espetáculo Bethânia e as Palavras, lançado em setembro de 2010, no Rio de Janeiro, e que pousa hoje no Teatro Vila Velha, numa sessão para convidados mais que especiais: estudantes e professores da Rede Pública do estado da Bahia.

Com duração de uma hora, a cantora desfia nomes como Manuel Bandeira, Fausto Fawcett, Guimarães Rosa, Sophia de Mello Breyner, Wally Salomão, entre outros. O recital é intercalado com canções, num espetáculo que objetiva fazer da poesia um instrumento vigoroso para a educação e para o deleite da alma de nossos educandos e educadores.

Um dos aspectos mais importantes do Bethânia e as Palavras é a sua inclinação para pulverizar excertos poéticos entre crianças e adolescentes e a partir daí, tematizar o uso da palavra numa perspectiva criativa; ao fomentar o gosto pela leitura através da poesia, a cantora se lança em rememorações que valorizam a antiga educação pública, praticada na Bahia nos anos 40 e 50, da qual, ela mesma, seu irmão Caetano Veloso e o artista plástico Emanoel Araújo, tiveram acesso vivendo em Santo Amaro da Purificação.

Ao ver Bethânia em récitas de textos dos gigantes da língua portuguesa, preocupada com discentes e docentes, fico a me perguntar se em seu segundo mandato, o governador Jaques Wagner vai parar de maltratar tão fortemente os professores da Rede Pública e investir numa revitalização da nossa Educação Oficial? Se vai priorizar, de verdade, a educação? Se o PT coaduna-se com idéia da cantora de espraiar a arte da palavra para que a gente aprenda a ler o mundo com mais sensibilidade e saiba, em conjunto, cobrar de quem nos governa seja lá quem for?

Nessa nova empreitada artística, Bethânia é acompanhada de violão e percussão, sonorizando os belíssimos fragmentos de textos selecionados por ela, com a ajuda do antropólogo Hermano Vianna e do diretor teatral Elias Andreato.

Em cena, a voz sob medida edita nossa negritude e confirma os tons civilizatórios da cultura negra em todo Ocidente: recita o transcendente poema Tambor, do moçambicano José Craveirinha, sendo o ápice de beleza do espetáculo, e o momento educativo mais emblemático para a valorização do negro que compõe a alma e o sangue da maioria do povo brasileiro.

Uma festa literária para nossos ouvidos, promovida pela artista que já deveria ter sido laureada com o título de Doutor Honoris Causa, pelas universidades existentes na Bahia, já que seu trabalho artístico é um diálogo profundo com a cultura no Brasil.

Qualquer coisa



"Esse papo já tá qualquer coisa
Você já tá pra lá de Marraqueche"


Ainda amanhece aqui e estamos sob efeito da agonia. Em algum lugar um pouco de alívio. O resto da esperança que alimentamos por nada voou para lá e nos deixou assim: qualquer coisa... A boca dizendo poesia diante da vida findando. A possibilidade do acerto foi perdida e eu não sei a onde ir.

Mexe
Qualquer coisa dentro, doida
Já qualquer coisa doida
Dentro mexe
Não se avexe não
Baião de dois
Deixe de manha, 'xe de manha, pois
Sem essa aranha! Sem essa aranha!
Sem essa, aranha!
Nem a sanha arranha o carro
Nem o sarro aranha a Espanha
Meça: Tamanha!
Meça: Tamanha!


Meu lugar era um barquinho. Meu mimo girando por dentro da voz de um homem que é o maior mestre; minha sede andando a cavalo quando o mais eu caminha sobre águas. A música desatinando a falta da grande poesia e o silêncio cantando: qualquer coisa.


"Esse papo seu já tá de manhã.
Berro pelo aterro
Pelo desterro
Berro por seu berro
Pelo seu erro
Quero que você ganhe
Que você me apanhe.
Sou o seu bezerro
Gritando mamãe.
Esse papo meu tá qualquer
coisa
E você tá pra lá de Teerã"


Hoje era ela que também não foi. A alma em despedidas. O peito, cheio de escritos, fora entupido por ela falando. O amor, em mim, sempre em discórdia... O colo da mãe; orientação escolar; achego de vinho e cerveja; ela falando; o toque negro do tambor; ela cantando; a eletrola a expulsando de mim para em mim ser vazio sem dor; meu eu bezerro; meu medo; minha escrita chorando; ela falando;. ela modelo; ela cantando; ela degredo. Nada a pode alcançar. Uma dança suave na paisagem do sorriso vitorioso. A música do mestre... E eu, deverasmente, imerso na melodia de Qualquer coisa.

sábado, 29 de janeiro de 2011

Amor imorredouro

Olhava-me como se me dissesse: olhar é viver. E eu nunca desistia. Queria como a força do sol para se fazer no dia e deslizava-me feito água para lavar aqueles olhos. Era um encontro amoroso pautado em literatura, poesia ia, prosa vinha, e a gente era feliz em nossos desenhos de emoção. Falávamos de tudo, menos política, e tínhamos o sonho sagrado dos músicos: éramos sons poéticos. Fruir livros era tão grande quanto fruir corpos. E fruir a vida, dali dos nossos instantes, nos fazia conhecer, de dentro, a profunda alegria por estarmos vivos, amigos-amantes, juntos.
Foi a duração de uma epifania. Trajetos literários reinaugurando a melhor das civilizações: a do amor. Amor imorredouro.
Seus olhos nunca escaparam da memória saudosa da minha pele.

Maria Bethânia: a maior cantora do mundo atual


Ontem, mais uma vez, vaticinou-se em mim... Não tem jeito, esta mulher é o melhor artista da canção neste País, a grandeza como cantora combina com a genial inteligência, sua beleza inexplicável , a força do dizer, a coerência artística e existencial, faz dela essa que mergulha a gente em profunda emoção.
O Teatro Vila Velha reviveu uma história que me desbunda. A história da cantora Maria Bethânia, a maior cantora viva ( graças a Oyá !) do mundo... Ela inteira poesia, falando como doutora em educação, ajudando a sensibilizar o atual governador da Bahia a olhar para discentes e docentes com a devida atenção neste nosso Estado.
Deverei conservar o mito no baú da minha alma, fruir a cantora e seus produtos criacionais, mas, a partir de hoje, paro de escrever sobre ela... Ela que já se escreve dos discos videos palcos como controle de qualidade no Brasil e deve ser exaltada sim, para que a gente não se envergonhe de ser brasileiro. Obrigado, Bethânia, por me ensinar a ler!!!

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Sem lugar


Ando vendo postais. Entre ser e ter vontade de seguir alguém. Pousando nisto de viver sentido alguma vez. Ficando parado em silêncio para o caminhar do tempo que não me tira do lugar. Eu, o sem movimento. O que só vê postais e nada nas águas do mundo alheio. Aquele que se serve como alimento de si mesmo mas orbita em torno do outro. A desfunção do querer que existe sem prazer. Calor calor calor.
Ando mergulhado em postais e nenhuma cidade me cabe neste mundo. Talvez eu me seja só saudade e canse e não sirva como escrita, não sirva como nada.
O sorriso de Cachoeira é perverso.
O Rio é linda inconclusão.
São Paulo me realiza no susto.
Paris se distancia.
Nova Iorque me fascina e é medo.
Abeokutá eu renasço.
Sevilha é degredo.
Lisboa me evita e faz poesia.
Barcelona é um filme.
Luanda é encanto político.
Lagos não me moraria.
Salvador me desanima mas é o que me finca no mundo.

Tudo se esvazia nesse tempero de dor e confusão.

Maria Bethânia - Programa " Almanaque " 2010 (na integra!)



A entrevista é belíssima.
E ela, hoje, traz sua poesia na voz para seu público no Teatro Vila Velha, em Salvador da Bahia. Uma hora para aquele caríssimo aprendizado, onde tudo na gente ouve vê sente... Maria Bethânia das canções e das palavras.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Carlos Barros: sol do Sul


A voz pode ser um portal para a alegria e ainda melhor: fazer a alma ouvinte sondar. A música é parceria entre mãe e filho, trajeto do espírito querendo fazer e acontecer e, mais que tudo, querendo encontar. A música desliza pela voz de Daniela Mercury e aporta na voz de Carlos Barros num desaguar exato de dois que acenam para a criação e se querem solares...
O canto reverente de Barros espelha com altivez uma de suas inspirações: La Mercury. Mas quem o ouve em Sol do Sul, reaprende esteticamente esta canção, e viaja para um lugar qualquer onde o que se sente é melhor que alegria.
Sol do Sul é expoente na vibração artística da nossa Daniela Mercury. E Carlos Barros que melhor a compreende, reinventa com a interpretação, uma das melhores canções de sua maestra, aquela única Rainha do Axé, melhor atração do cansativo Carnaval de trio e cordas da Bahia.
Por isso que o canto de Barros é urgência em nossa cidade. Para reacender possibilidades tangíveis, lúdicas, intelectuais e redimensionar no nosso mundinho o que já era beleza e ninguém via ou fingia não ver...
Por isso que a doçura da daquela voz meio masculina fere os matemáticos propósitos de quem faz música como ciência positiva.
Por isso que aquilo que suja viabiliza a arte de cantar popular...
Barros tematiza a vida no que há, o humano respirando transpirando gozando de sexo chorando; criando brisas morenas para a orla cotidiana da poesia de quem ama a música.
Sol do Sul é um levante, uma sublevação do simples que quer, que sabe, que pode, que vai... Que já diz.
Diz a voz do intérprete que melhor amadurece nessas raias difíceis das conspirações lítero-musicais na Bahia. O homem cantando.
Carlos Barros, ou simplesmente, sol do Sul para o Planeta. E não é só alegria.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Flores e Saudade


Era bom quando me ofertava em flores aos seus olhos.
Me fazia canção e menino
e dançava contigo sem lhe tocar.
Você, insuportavelmente, sorria
sem saber o que fazer
e me retribuía com a poesia
do seu silêncio...
Leve, meio Pã meio Fred Astaire...
Meus olhos coloriam sua partida
e o coração inquebrantável em esperança
esperava o retorno das suas asas
sobrevoando o estar da minha sala
que se queria ser nosso quarto.

José Alencar: bravo!


Esmagadora vontade de viver
Que esmaga a própria morte.
Para além das lógicas econômicas,
Este senhor comove
E se nos acende
Neste exemplo de querer
Estar aqui!

Arthur Rimbaud: natureza e deuses


RIMBAUD

"Tenho saudade do tempo em que a seiva do mundo,
a água do rio, o sangue róseo das árvores verdes
nas veias de Pã criavam um universo"

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Cláudia Al- Cunha


Mergulhado naquelas tardes...
Meio saudade em dor
Meio felicidade em ti...
Sua voz tem cheiro
Sua beleza banha
Cada audição me é
Dias dentro da poesia
Que não se pode apartar...
Vontade de ser eletrola
E deixar sua voz tocar
De dentro de mim...
Que tardes minhas memórias
E uma cantora no palco
Acima do mar.
Todos os meus desgastes
Minha pieguice o amor
E a voz
Um dia
Melancolia
Todo frescor
Em tudo que não cessa
E al-cunha o desfazer dos
Poetas.

Triste, e daí?

"Um alegre fingindo-se de triste
Porque o triste parece mais profundo"

Desses dias de sol gritando em sua cara. Do barulho infernal de uma cidade que disso não tira férias. Da vida a galope exercitando a memória e desesperando o corpo sob as luzes do desejo. Dessa obrigatoriedade de ser feliz ou de estar sempre alegre: arre! Agora quero-me triste. E daí?
Um pouco de mar em minha preguiça basta. E mulheres cantando para que a tristeza não invalide a beleza; ao contrário, faça desses instantes de intenso sentir caminho para a criação.
Hoje faço de mim um desenho a lápis profundo. Ardo com o tempo e tenho vertigens de sentimentos. Meu peito não é só amor e surto acima dos risos hipócritas que debocham de mim. Quero a plenitude da escolha Garbo e me fazer produtiva companhia. Existe excelência em mim? Minhas incautas perguntas denotam o vazio que me fazem continuar. E continuo. Meio despido e inteiramente confuso; um pouco escondido; confuso. A confusão alimenta minha tristeza e me faz encenar decisões em palavras. A palavra é a maior dimensão da minha procura. A palavra me livra da loucura da qual, eu sei, não quero me livrar.
Desculpe-me, eu sou este cansaço mas vibro de vida. Triste sim, mas querendo viver sempre. Ver-lhe, de perto ou longe, me projeta à noção de experiências que não nasci para ter.
Na certeza invertida de Cecília: não sou alegre nem sou poeta... Eu sou triste. E mais se me vejo em você.

A pedra tem vida



A pedra tem vida meu nêgo
A pedra tem vida meu nêgo
Preste atenção
nas coisas que não chamam atenção
Preste atenção
no prisma da bolinha de sabão
Preste atenção
nas coisas que não são na cara
Um gota de orvalho no telhado é jóia rara
Olha a luz do sol nos olhos do seu filho
Olha o índio lindo colhendo o milho
Olha o mar revolto fazendo pirueta
Olha a nuvem branca com forma de lambreta

Ob observe a vida para ti
Ob observe um barquinho em Paraty
Ob observe um castelo de areia
Ob observe um buraquinho na sua meia

A beleza não é o que se vê
A beleza é o que está atrás do olhar
A beleza não é o que se vê
A belaza é o que está no fundo do mar

André Abujamra

P.S.: Imperdível, Imprescindível, Impermeavelmente: musical! A beleza está no fundo do mar.

Origem


Ori
Gem

Ori

Ori
Milá

Ori
Caracaxá

Ori
Minha cabeça

Ori
Meu coração

Ori
Da minha vida

Ori
Da emoção

André Abujamra

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Outro Retrato


Não sou eu o ladeado pela moldura. Eu sou a moldura guardando o que não conheço. Guardião das maldições estagnadas, findadas pela falta de vazio.
O que veem não me diz respeito. Minha meta é o silêncio que já tenho, é o mistério que me alimenta. As noites têm sido insones. Os dentes já deixaram de ser alvos. Os escritos me alucinam igual a álcool e a cocaína. E eu em desuso de tudo, arfo de prazer dentro da monotonia.
Sombreio meus rastros de grafite para óleo. Aquela tela que seria eu é o outro assassinado. Este tempo é faca abrindo o peito; é a Natureza se enfurecendo e o humano hipócrita querendo salvar.
Deveriam acender as lamparinas e restaurar os espelhos; deveriam matar a sede com água, a fome com alimento mas instigar a alma.
Este barulho é livresco. Ficção mal inventada. Fígado cozido. Ordem exagerada. Vida sem sexo. Falta de sono na madrugada solitária.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Pra sempre

Meu instante mais poderoso
É quando minha alma em silêncio
Assoma-se aos enigmas da eternidade.

Ali me esvaio de mim,
E plácido como a brisa
Deixo vidas, em liberdade,
Se criarem para que o mundo
Se cumpra...

Tão leve assim:
Partículas do eu errante
Energia singular do meu "pra sempre".

Stella Maris: a sereia aniversaria hoje

Stella Maris (E) e Marília Sodré ( na nossa Pérola Negra)

Uma espécie de festa sai hoje do mar para a terra... São aqueles dias em que as sereias brincam na areia travestidas de cantora; poetas, escritores, amantes da música correm afoitos para áreas litorâneas para banhar-se na epifania sonora advinda do canto das sereias...Os olhos humanos tremeluzem alegria e dão glória à audição.A festa percorre o sol do dia aguardando o magnetismo da noite. Acontece, na Bahia, sempre em 21 de janeiro...A estrela do mar mistura-se à sereia do canto mais peculiar, acima do bonito, e transforma-se numa mulher nascida no Recôncavo...A festa invade os corações porque a musa em sua porção humana alavanca a emoção e verdifica o horizonte...É a beleza em estado puro; o feminino imagético numa voz que lava a alma e nos ensina, musicalmente, a nos deliciar em águas e amor.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Carlos Barros: gravação do DVD Cantiga Vem do Céu



Reunião de estrelas( Márcia Short, Cláudia Cunha, Jota Velloso, Déia Ribeiro) para gravar o DVD de Carlos Barros, a partir do belíssimo CD Cantiga Vem do Céu. Imperdível. Ingressos a 20 reais.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Maria Bethânia: para além dos dias


Ela continua. Perfaz rejeições e aceites e vai para além de si mesma, pagando caríssimo, consolidar sua presença viva como mito. Um acinte para os modelos estabelecidos; em mais de 45 anos de carreira, sua única certeza é se ver inteira naquilo que escolheu. E canta fazendo poemas, criando instantes literários nos ouvidos brasileiros. Fragmentos raros na composição do que se conhece como espírito baiano; voz-alavanca que alça seus ouvintes à carne crua do viver, quando não, às divindades que se tem devoção...
Ela não se insinua; simplesmente é: a cantora! Uma das presenças mais criativas no fazer artístico deste País. Mulher- pássaro que reinventou a paixão e faz da canção navalha pirraça luz entrega movimento amor oração e fé.
A luz desta mulher encerra as vãs explicações dos entendidos de música, subverte os cálculos musicais para restituir à arte sua fragrância mais profunda: sentir.
Consolida aos olhos de quem a vê os fluidos da misteriosa beleza, a real e eterna beleza de quem veio ao mundo fazer o que só ela, Maria Bethânia, através de filmes discos e Palco, sabe e pode.
Estranha forma de ser, que hoje, entre nós, é a melhor identificação para milhões de almas brasileiras.
Amém.

A vida

A vida tem sido tão rápido:
tem acabado antes de eu
terminar minhas frases.

proscrito bárbaro selvagem


Figura como areia nos olhos, atormenta, discorda, escarnece,viola, invade, confunde, adoece. Faz pensar e mudar os costumes; alimenta a alma mesmo que a maltrate; subverte valores raros e, também, valores envelhecidos. Alguém para além do seu tempo que, nas inscrições da vida, mais que tudo, testemunha sofrimento e segue sangrando.



Figura entre os mais condenáveis apesar de sua presença combater a mediocridade; odeia signos e desfaz modelos... Permite-se à nudez sem secar o mistério. Todos os elementos perfilam a sua humanidade. Seu lado mais gentil é animal. Ele se defende e acende a fogueira da criação. O dessentido o segue como destino e o faz vagar vagar vagar vagar... Chegar é sem explicação e não há nenhum lugar.

Seu maior inimigo é o tédio e seus desafetos sem brilho são os estabelecidos, aqueles quase ricos, inquilinos de uma vida quase feliz.



Figura no lamaçal da vida; adora álcool, cocaína, tarja preta, café, pílulas... Suaviza-se com música e enraivece-se-nos com poesia.



Ente proscrito. O bárbaro oriental vagabundo. Sujeito ocidental selvagem.



Marcas do que só é o outro e, em encantamento, acaba por salvar o eu.

Stella Maris arrasou na Noite de Santo Amaro - 2011

Stella Maris, a melhor voz radicada na Bahia, ocupando o Palco da Concha Acústica, do TCA


A sereia maior singrou a emoção do grande público da Concha Acústica, na Noite de Santo Amaro de 2011. Foram duas canções ofertadas à constatação de que quando Stella canta, emana Beleza. Sua voz fez festa dentro mim, que estava ainda mais feliz porque muitos também ouviam o marulho raro saído da garganta que traz à terra fragmentos dos mistérios das criaturas do Mar. Queria ser mecenas, poeta, compositor e levar esta voz pelo mundo para contar histórias sonoras deste lugar chamado Bahia. Parar o tempo, transformar minha emoção em explanação analítica, para demonstrar a revolução de luz e prazer que me acomete quando aquela mulher faz o que nasceu pra fazer: Cantar. E isso é igual a muitos carnavais, meu caríssimo Caetano Veloso.


sábado, 15 de janeiro de 2011

Luiz Melodia e Cássia Eller, em Juventude Transviada, pra transbordar



Ele é meu negríssimo gato. A voz. Um dos melhores cantores do mundo.
Ela é minha saudade doída; aquela mulher maior que qualquer macho; comando dos meus sentidos; o que seria hoje o Brasil com Cássia Eller?
Ouvir, vamos ouvir!

Márcia Short: Amor em órbita




Márcia Short. Ela traduz a força negra da nossa canção. Quando canta o amor eu entendo. Poucas, são poucas as cantoras que têm a luz vocal dela. E a beleza circunscreve-se ali e grita para que Márcia, ao menos entre os baianos, ocupe o lugar que é seu por integral marecimento.

do prazer ali

Foi bem devagar. E eu estava com preguiça. Preguiça de tocar, de sentir, até de respirar. A vida só é vida se se movimenta de alguma maneira. E eu era pura letargia. Mas o devagar daquilo era fogo em poesia e me fazia melhorar. E isso era acreditar em caminhos. Me ver no sentido das possibilidades. Querer, o simples ato de querer me impelia a muitos movimentos. Eu frente aquilo me chamando para o fogo e que eu me houvesse em abandonos e coragem para possuir tudo. Bem devagar com mais tempo e qualidade. De dentro pra fora, de fora pra dentro: tudo.
Seria só animal se aquilo não fosse devagar me revelando ao prazer de existir.

Da chuva forte dentro e fora de mim



Eis-me no centro dos temporais.
Vagando de ilusão em ilusão,
Seguro nas mãos dos ventos.

Eis-me na natureza tempestiva
Do meu ser pedindo paz;
Minha vontade de fazer brisa
Navegar mares e companhias;
Ter gente e ser gente em mim.

Eis-me sem sorriso num disco
Rodando...
Braços semi-abertos
Uma voz feminina cantando.

E eu chorando
De pé frente ao rio
Chovendo minhas lágrimas
Olhando estrelas
Louvando Iansã.

Eis-me num descampado
Sujeito a raios e medo da vida;
Indo para o centro de tudo
Como se nunca num útero
Eu tivesse existido.

Bebel Gilberto, que pena!


Noite de sexta-feira, em janeiro, na Cidade da Bahia. Teatro Castro Alves relativamente cheio. Plateia seleta, o sangue de João Gilberto e Chico Buarque circulando entre os espectadores; para o Palco, a bela Bebel Gilberto, pela primeira vez, de verdade, cantando para os conterrâneos de seu pai e aí? O show não foi.
A voz é ótima, o repertório tudo que se precisa ouvir, a banda maravilhosa; ela além de nervosa, estava muito desarrumada musical e cenicamente; sem retorno dos violões, cantou perdida muitas vezes. Tudo se mostrou um grande improviso, pareceu que ela estava passando o som e voltaria horas depois para fazer o show que a gente merecia.
Aguardei isso como quem espera uma premiação; sei que ela pode fazer muito melhor, mas ontem ela não funcionou... Ali se fez um desenho de decepção da estreia de Bebel no palco em que João é sempre rei. Que ela volte, com disciplina, e ocupe seu lugar de princesa, ou pelo menos, de boa cantora, boa artista.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Negrume de gente, de noite


Tem horas que a vida não tem mistérios.
Só urgência.

Professor: Com subcelebridades, ficou chato ser inteligente

"O professor de comunicação, Maurício Tavares, critica a cultura de subcelebridades: "Uma mulher loira, mais ou menos bonita, vira uma pessoa mais importante que João Ubaldo Ribeiro"

Claudio Leal

A nova edição do Big Brother Brasil (BBB) despejará na mídia 17 subcelebridades que, daqui a alguns meses, lutarão por flashes em tentativas de sexo na praia, em desquites estrepitosos e nas visitas de praxe às padarias do Leblon.

Observador desse Olimpo de deuses afobados, o professor de comunicação da Universidade Federal da Bahia, Maurício Tavares, doutor pela PUC-SP, já se vacinou para sobreviver à temporada.

- Hoje em dia, a pessoa ser inteligente é até ofensivo em alguns meios, em alguns veículos. Ser inteligente ficou chato. Você tem que ser superficial, bonito e engraçado. ... Uma mulher loira, mais ou menos bonita, vira uma pessoa mais importante que João Ubaldo Ribeiro - ironiza.

Crítico do "mundinho" de celebridades, Maurício Tavares aponta a "audiência massacrante" da Rede Globo e as artimanhas do diretor Boninho como os dois principais motivos da sobrevivência do BBB em onze edições. Estudioso do universo gay, Tavares avalia o uso de homossexuais na fórmula dos reality shows:

- Os gays são elementos ligados ao mundo da fofoca, embora Jean Wyllys tenha feito o papel da "boazinha". Os gays vivem num mundo em que eles precisam muito estar lidando com coisas que envolvem a traição, um mundo menos "normal".

O raio caiu duas vezes sobre o professor da Ufba. Ele é ex-professor do BBB Jean Wyllys, eleito deputado federal pelo Rio de Janeiro, e integrou a banca de conclusão de concurso do novo gladiador de Pedro Bial, o jornalista Lucival França.

Confira a entrevista.

Terra Magazine - Como o mundo de subcelebridades é alimentado pelos reality shows? Qual o efeito das últimas dez edições do BBB sobre a mídia? Maurício Tavares - Você acompanha um fenômeno engraçado: o aumento do número de revistas que tratam de subcelebridades, "Contigo" e não sei o quê mais. Essas revistas, mais do que o jornalismo "normal", têm falta de assunto. O BBB é um pouco uma fábrica dessas pequenas celebridades, para alimentar durante algum tempo essa rodinha. Até porque são pessoas ávidas pela fama, aquela fama imediata, não é aquela que você vai conseguir com o trabalho. Eu me incomodo muito, de maneira radical, com quem está trepando com não sei quem...

Por que se incomoda? Mais pela exposição ou pelo vazio da exposição? Pelo vazio da exposição e pela desimportância de quem está comendo quem, quem está chupando quem. E daí, cara? Gostaria que essa imprensa de subcelebridades fosse mais atrevida: quem tá bebendo urina, coisas assim mais bizarras (risos).

E perversas... Perversas. Mundo cão. Mas, pô, quem tá comendo quem? E a gente sabe que muitas dessas fofoquinhas são inventadas para alimentar essa mídia. É um processo circular: você inventa uma história porque vai sair na mídia, a mídia compra a história porque sempre tem alguém interessado em ler. Fico impressionado quando vou ao supermercado e tem aquela fila de revistas. Fico olhando quais as revistas que as pessoas pegam para olhar pelo menos a capa. Quase sempre são essas revistas. Lá tem Veja, Istoé, Época - uma vez ou outra alguém pega. Mas as revistas ligadas às novelas todo mundo pega. E o Leblon virou assim a Hollywood brasileira. Aquela coisa dos paparazzi lá na praia, no restaurante... E os próprios artistas que querem aparecer, outros não.

Outro dia saiu Caetano Veloso comprando mamão num supermercado do Leblon.Tem umas coisas assim de um ridículo atroz.

Isso não cria um problema para as celebridades mais ligadas ao talento, à produção artística? Para aparecer, não vão ter mais dificuldade? Claro que sim, claro que tem. É um problema de queda de valores. Hoje em dia, a pessoa ser inteligente é até ofensivo em alguns meios, em alguns veículos. Ser inteligente ficou chato. Você tem que ser superficial, bonito e engraçado. E alguns professores até caem nisso. As pessoas loiras que estão aparecendo... Uma mulher loira, mais ou menos bonita, vira uma pessoa mais importante que João Ubaldo Ribeiro. (risos) Há esses critérios meio malucos.

Por que, apesar de estar na 11ª edição, a fórmula do BBB não se esgotou totalmente? Achei que no terceiro, no quarto, se esgotaria. É impressionante. Mas tem também um pouco das artimanhas desse Boninho (diretor do BBB). Ele é diabólico, inventa coisas. Li alguns textos sobre o BBB e, numa época, até escrevi sacaneando um pouco com Pedro Bial: há o fascínio de ver as pessoas no dia-a-dia. É insuportável. No ano passado, tentei ver uns pedaços, mas não deu. Foi uma artimanha dele botar dois gays, aquelas pintosas lá pra animar o negócio. E eu: meu Deus, como é que pode, é de uma banalidade, é de um nada total. Agora ele vai inventar sabotadores. Primeiro, a estrutura do BBB é de uma novela. Tem o vilão, caracteriza as pessoas. Depois, tem pessoas reais e uma parte dos espectadores gostaria de estar ali. Uma boa parte, aliás, mandou vídeos e nunca conseguiu.
Você tem dois ex-alunos no BBB... É, o segundo agora, fui da banca dele, Lucival (França). Era da faculdade Jorge Amado. Ele fez um trabalho de conclusão de curso sobre um pai-de-santo gay que matou a garota que era namorada do namorado dele. O livro reportagem é interessante. Depois ficamos amigos.

Como avalia essa tendência de ter gays nos reality shows? É fundamental. Tem um fascínio da ambiguidade sexual de alguns, porque os gays são assumidos. E os gays são elementos ligados ao mundo da fofoca, embora Jean Wyllys tenha feito o papel da "boazinha". Os gays vivem num mundo em que eles precisam muito estar lidando com coisas que envolvem a traição, um mundo menos "normal". Não tem "mundo normal", mas eles carregam um pouco isso. Até o comportamento do gay Serginho, do outro BBB, tinha essa facilidade de transitar de um lado para outro, não se envolver muito. Tem elementos fortes.

Nesse segmento de reality show, há mais abertura para homossexuais do que nas novelas. Por quê? Porque é ficção. Paradoxo maluco. Até agora, não teve beijo, só teve bitoca, não teve ainda um romance gay. Não sei se Lucival vai proporcionar isso... Ele já falou que só debaixo dos edredons. Às vezes tem uma linguagem que numa novela não sairia. Isso tem um dedo de Boninho. Não é ele que jogava ovo nas pessoas?

Você acompanha o fenômeno das subcelebridades em outros países? Tive recentemente na Argentina. A televisão de lá consegue ser pior do que a daqui e tem esse mundinho de celebridades. O modelo português (Renato Seabra, ex-participante de reality show) que matou o amante dele (nos Estados Unidos) é um fenômeno mundial. Mas, no Brasil, algumas coisas ganham uma dimensão que é desproporcional. Garanto que alguns lugares devem ter, de alguma maneira. Nos Estados Unidos, a quantidade de reality show é muito maior do que aqui, nas tevês a cabo. Você tem de cabeleireiros a top models, uma quantidade gigantesca. Por que aqui ainda é tão desproporcional? A Globo tem uma audiência massacrante em relação ao resto dos canais. O buchicho que "A Fazenda" provoca é muito pequeno em relação ao BBB. E "A Fazenda" usa até o recurso das semicelebridades. As pessoas não vão se tornar subcelebridades, elas já são e tentam sair do limbo.

Terra Magazine ( 12/01/2011)


Henry Miller: o lado imprescindível da gente

Ele foi um nova-iorquino fissurado em literatura sexo política existencial Rimbaud Vang Gogh. Gostava dos gênios da rebeldia e conseguia delinear a força que o amor tem para a libertação dos humanos em relação a tirania dos próprios humanos. Marcou-se na história como uma espécie de anarco-socialista, se isso for possível do ponto de vista conceitual, detestava a cidade mais adorada do mundo: Nova York, e se dizia anti-estadunidense. Um escritor maldito que nutria ódio-amor pela mãe e falava de coração como a mais importante esfera humana de reinvenção da vida. Brincou de esperança e tinha fé transcendental nas artes. A literatura, literalmente, salvou-lhe a vida. Morreu consagrado no Ocidente, em 1980, em uma vida longeva, respeitado muito em seu próprio país.

Duas frases dele, sobre poesia, que eu tenho adoração:

"A sua linguagem não se destina ao laboratório, e sim aos recessos do coração".

"O lugar da renovação é o coração, e é nele que o poeta deve ancorar".

Van Gogh: retrato de poucos



" Sabe o que nos livra desse cativeiro? É todo afeto profundo, sério. Sendo amigos, sendo irmãos. Amor, eis aí o que abre a prisão pelo poder supremo, por alguma força mágica. Mas sem isso continua-se preso. Lá onde a simpatia é renovada, a vida é restaurada".
Vicent Van Gogh

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

girando na roda com Cláudia...


meu melhor briquedo é ouvir,
ouço o canto feito criança,
danço maluco de alegria.
bebo da poesia na voz
espalhando boas notícias.
eu a quero aqui
nesse horizonte de águas
bem pertinho de mim.

Cláudia Cunha: do ventre das sereias para a Bahia


Ela foi feita pelos deuses da delicadeza que a ensinaram a cantar. Sua presença nos anima a olhar para as estrelas e a ouvir música por dentro do nosso silêncio para nos curar dos danos barulhentos dessa urbanidade sem controle. Tudo é mínimo em seu canto gigante para que quem a ouvir reaprenda a descobrir o mundo. Seu jeito brejeiro amanhece os olhares nos convidando a conhecer a mulher em seus mistérios e desejos e, mesmo sem poder conhecer, a contentar-se com o fascínio que a sedução imputa.
A sedução advém da voz cristalina espalhando sensações de frescor em nossa audição. O palco se ilumina daquela energia água e a musa contemporânea cretense baiana paraense desagua magnetismos e inspiração para quem busca recriar a vida.
Ao longe, sua voz venta bons presságios. De perto, arrepia a alma e faz o corpo adormecer para gozar dos sonhos.
Nem tudo é alívio ali, tampouco só água. Ela traz dor e imaginação, sua voz desperta as difíceis saudades e quem já amou, ou ama, sofre; quem nunca amou vive musicalmente a tragédia da existência nos desertos. Ela segue gerando fogo para que os poetas se esmerem e cumpram sua condenação frente às palavras.
Sua ação artística é certeira quando no palco tudo se organiza ao comando da sua presença indecifravelmente doce... E a moça canta dança convida... Faz a roda mágica da vida pedindo festa... Tem sentido o cantar vindo daquela garganta, a arte dali é esperança, e todos podem se divertir, aprender, chorar, rasgar-se e sorrir.
A delicadeza dos deuses nos permitiu essa menina linda caminhando pelas ruas sujas daqui... Aqui na mágica e abandonada Cidade da Bahia, onde privilegiados ouvidos podem ser tocados pela grande cantora de perto, e assim, os olhos também são agraciados.

Muito Romântico

Caetano Veloso



Entre os homens, ele é meu muso número 1; aliás, confesso, é ídolo construído pelo meu afeto incondicional. Aprendi muito com as canções desse cara; esse cara é signo de paixão tesão aprendizado beleza, coisas que saem dele e vêm pra mim, me movem a querer descobrir e eu critico muito também. Mas, mais que tudo: eu amo.


Veja a letra de Muito Romântico, me inscrevo em mim mesmo assim; eu roubo Caetano Veloso:

Não tenho nada com isso nem vem falar

Eu não consigo entender sua lógica

Minha palavra cantada pode espantar

E a seus ouvidos parecer exótica

Mas acontece que eu não posso me deixar

Levar por um papo que já não deu

Acho que nada restou pra guardar

Do muito ou pouco que houve entre você e eu

Nenhuma força virá me fazer calar

Faço no tempo soar minha sílaba

Canto somente o que pede pra se cantar

Sou o que soa eu não douro a pílula

Tudo o que eu quero é um acorde perfeito maior

Com todo o mundo podendo brilhar no cântico

Canto somente o que não pode mais se calar




segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

palavra poética

Para amar você
E me fazer no que sempre fui.
Inventar-me palavra poética
Por uma vida de imaginação,
Carinho e sexo à mesa,
Descanso no colchão,
Muito alimento n'alma...

Amar você na rede
E lhe ter intensamente
Como melhor inspiração.

Quase desilusão

Uma cena me denuncia: meus olhos em desilusão. Devo ficar calado esses dias e escolher bem, muito bem cada pensamento. Nesses dias de calor externo e frio interno intenso, eu não posso me descuidar. Devo evitar barulho e excessos em gente; excessos de mim. Processar cansaço machuca a alma, e só me vejo bem, daqui, nesta quentura, rezando... Faço isso por minha fraqueza contra a força do mundo. Faço isso, ajoelhado em direção ao Tempo, para que ele comande mudanças e nessa brevidade que é a vida, nesse sopro sutil, eu tenha tempo de acontecer em alguns sonhos. Uns bem de dentro. Outros para fora onde muitos humanos deverão participar.

James Franco em entrevista: 'Talvez eu seja gay mesmo'

Para evitar polêmicas idiotas, fala meu herói:


"Boatos sobre a sexualidade dos astros de Hollywood não são novidade, mas enquanto muitos atores desconversam ou negam veementemente as alegações, James Franco é mais "desencanado". Em entrevista à revista Entertainment Weekly, o ator que interpretou personagens gays com o escritor Allen Ginsberg, em Howl, o ativista Scott Smith em Milk e o poeta Hart Crane no novo The Broken Tower, brincou com os rumores e criticou a definição "preto e branco" da sexualidade. Para constar: ele namora há muitos anos a atriz Ahna O'Reilly.
"O engraçado é que do jeito que essas coisas são faladas em blogs tudo é tão preto e branco. É uma política de identidade de corte seco. 'Ele é hétero ou é gay?' Ou, 'esse é seu terceiro filme gay - sai do armário logo!' E tudo baseado em 'gay ou hétero', baseado na ideia de que seu objeto de afeição decide sua sexualidade", afirmou.
"Há muitas outras razões para se interessar por personagens gays do que eu querer sair e fazer sexo com outros caras. E também há muitos outros aspectos destes personagens que me interessam, além da sexualidade. Então, de algumas maneiras é coincidência, de outras, não. Quero dizer, eu interpretei um homem gay que vivia no anos 60 e 70, um gay dos anos 50, e outros nos anos 20. Todos foram períodos quando ser gay, ao menos em público, era muito mais difícil. Parte do que me interessa é como essas pessoas que viviam estilos de vida não convencionais lidavam com a oposição. Ou, quer saber, talvez eu seja gay mesmo", conclui Franco. "
Retirado do Portal Terra ( Gente)

Fau Motta e eu

Fau Motta e Marlon Marcos ( euzinho no Terno de Reis de Rodrigo Veloso)
O mais importante da vida é afeto e amigos... Alguns, além de nos deixar felizes, nos deixam orgulhosos. O que seria da gente se não houvesse a persistente intervenção da vontade e dos projetos de Fau Motta em nossa cena cultural? Essa moça se lança a coisas que me fazem respirar. E é toda carinho numa entrega competente ao que acredita. Como diz Caetano Veloso: "saber cobrar, lucrar"; Fau, minha querida, você merece muito e que saibamos lhe pagar,viu? Dinheiro, sim!

sábado, 8 de janeiro de 2011

Nos seres de Iemanjá


"O que ela canta?
Por que ela chora?

Só canta cantiga bonita
Chora quando fica aflita
Se você chorar."

Iemanjá Rainha do Mar



Quanto nome tem a Rainha do Mar?
Quanto nome tem a Rainha do Mar?

Dandalunda, Janaína,
Marabô, Princesa de Aiocá,
Inaê, Sereia, Mucunã,
Maria, Dona Iemanjá.

Onde ela vive?
Onde ela mora?

Nas águas,
Na loca de pedra,
Num palácio encantado,
No fundo do mar.

O que ela gosta?
O que ela adora?

Perfume,
Flor, espelho e pente
Toda sorte de presente
Pra ela se enfeitar.

Como se saúda a Rainha do Mar?
Como se saúda a Rainha do Mar?

Alodê, Odofiaba,
Minha-mãe, Mãe-d'água,
Odoyá!

Qual é seu dia,
Nossa Senhora?

É dia dois de fevereiro
Quando na beira da praia
Eu vou me abençoar.

O que ela canta?
Por que ela chora?

Só canta cantiga bonita
Chora quando fica aflita
Se você chorar.

Quem é que já viu a Rainha do Mar?
Quem é que já viu a Rainha do Mar?

Pescador e marinheiro
que escuta a sereia cantar
é com o povo que é praiero
que dona Iemanjá quer se casar.

E hoje é sábado!

Cécile de France


Para me confundir.
E também em silêncio,
aproveitar o que se pode,
porque se quer.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Vidência

Pesa sobre mim a falta daqueles olhos me chamando.
Sinto-me preenchido neste vazio,
agora posso nos ver muito mais.

Tiganá Santana, frestas para o silêncio

Música é preciosidade.
E algumas vozes, quando cantam, são a raridade em movimento. São pequenas aberturas para a paz, são frestas para o silêncio. São antídotos contra o tormento e a histeria deste cotidiano onde ninguém se ouve.
O precioso da música também é palavra, quando imersa no som e se faz imagem aurática do cantor. Palavra, agora, magnetizada, que se desfaz em canções, amálgamas profundos humanos... Fios invisíveis nos guiando à ideia da fé do amor do gozo da síntese da deusa da cor da água, enfim, nos ofertando à experiência de estar em si sem negar o outro.

Por um pouco de alegria

"E o que o homem acreditou ver viram meus olhos videntes!"
Rimbaud
E me era eu sem possibilidades de vislumbres; andava cansado das gentes em suas falas de regras e sucesso. Queria alcançar o mundo fora de mim. Me ter em outras cidades acima do idioma falado. Fazer perguntas absurdas e serenar entre pratos e espetáculos frente à grandeza que sobressai no humano. Queria tela de cinema e filme godardiano para ter direito de não entender nada e dizer isso a todos. Uma roupa preta me vestindo na madrugada, um chopp em um país europeu gelado e eu gozando da solidão instantes em minha própria companhia.

Queria o exercício da vidência dentro de mim e voar feito águia: a beleza dos céus tropicais e os mares da costa italiana. Queria fincar-me no âmago orixá africano: morar em Abeokutá, Ilê-Ifé e depois, me perder de mim na cidade de Nova Iorque. Bem aprendiz de quem cantou este tempo pra mim...

E essa sede de vislumbrar. Vê os sonhos sendo. Sendo-me o revés da rebeldia. Voltando à crença, à poesia que me atormenta todas as manhãs.

Eu queria deixar-me em palavras, numa função de estesia, para que muitos vissem o que vejo sangrando dentro de mim. É maior que a morte. É a danação de uma vida puramente etérea.

É o que sangra mas sangra de alegria.

Rimbaud, para não faltar rebeldia aqui



E desde então no Poema do Mar mergulhei,
Cheio de astros, latescentes, devorando
Os verdes céus, onde às vezes se vê,
Lívido e feliz, um sonhador boiando.
Onde tingindo de repente o infinito, delírios

E ritmos lentos sob o dia em esplendor
Mais fortes que o álcool, mais vastos que nossas liras,
Fermentam as sardas amargas do amor!
Sei dos céus rasgando-se em raios, e das trombas,

Das ressacas e da noite e das correntes,
Da Alba exaltada igual a um bando de pombas,
E o que o homem acreditou ver viram meus olhos videntes!

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

São Salvador da Bahia


Minha alma é um visgo prendendo meus sonhos e meu corpo a uma cidade. Não consigo ser mais nem menos, apenas o que é a minha cidade. E o que deveria ser só fascínio, é a escravidão de um lugar de paisagem abençoada e do profilerar de gente burra que a diminui e a torna vil para a sua própria população.

Salvador é mãe e pai de meu estar no mundo. Um muito de beleza e a força do abandono.

Rio de Janeiro


Alguma coisa de mim por lá. Me disperso em meu voo noturno e pouso no braço de Cristo sem me abraçar. Tenho razões de felicidade ao mergulhar naquela paisagem e sou voyeur num tipo de relação amorosa. A música ali me contamina e o mar me alonga. Sua gente preta e as belezas erguidas da grana na beleza, também, morena da gente zona sul. Quereria flanar sobre a ilusão que a cidade nos acomete; sou adepto da sua natureza e sei da estética que me fulmina. Algo maior que cidade mais bonita. Gosto de me lançar para ela e ser primavera entre Santa Tereza, Lapa,Laranjeiras, Co-pa-ca-ba-na, Leblon, indo sempre ao Morro da Mangueira. À noite, secretamente, caminho sobre as águas da Lagoa, e fujo invisível para contemplar As canoas de São Conrado. Meu coração pseudoburguês ama o luxo sócio-antropológico do Rio de Janeiro.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

O mar outra vez


Estou entre tirar o perfume ou o feitiço.
O mar sempre me arrebenta em confusões.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Eu aplaudo o Lula


Obrigado, Presidente!

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Das mudanças e distâncias

Nem sei mais do jeito do olhar,
do abraço que se aquecia no outro,
do carinho da boca falando mimos,
da meninice querendo colo;
não sei aonde está.
O que sinto rasgar minha memória,
é o escapar de um perfume corporal
natural como o suor que limpa a vida
me sendo a melhor lembrança
de um tempo em que o amor
morava em mim.

domingo, 2 de janeiro de 2011

Ousadia

Deslizando, sem avisos ou cuidados, sobre meus desejos.
Eu sei dos tombos. Mas só o risco me salvará.
E deslizo segurando um poema na mão.
Entrego-nos ao Tempo e sigo sem tremedeira.
A clareira trará o beijo, o disco, o livro
E alívio ao meu coração sagrando.

Billie Holiday, a voz do mundo

Billie
Por um tempo dos aprofundamentos, quando da força e do mistério do talento, e a reinvenção da canção para além de todos os instantes, o humano sem passado nem presente sem futuro;o agora como matéria exclusiva do existir... A beleza adentrando os ouvidos, a pele arrepiando, o coração em comunicação com o mundo, o fim das fronteiras idiomáticas, o medo do não ser, a eternidade na inexistência de tempo, a seara do canto mais bonito mais preciso mais aquático mais criativo mais doído mais salgado...
Para o tempo das continuações gerado pela herança negra de uma afro-estadunidense: a maior cantora que a humanidade pariu.
Para a memória que alimenta o sentido dos recomeços e que fez de alguns verdadeiramente eternos...
Para compartilhar os segredos da alma, acariciar nossa inteligência, alcançar o amor perdido, ter ciência da excelência que a raça humana produziu e tão simplesmente ouvir: Billie Holiday.
Décadas após a sua morte, Ela é o construto artístico da sua enormidade como cantora, marcada por tragédias mas eterna, servindo como aprofundada lição para as melhores cantoras que circularam e circulam na Terra depois que seus ouvidos ouviram-na...
Para que sejamos mais exigentes neste Brasil em 2011 e os reflexos de Billie nos inspirem a querer ser; a ser, coexistentemente, frutos da inventividade acima da fugacidade dos mercados.
Que Billie Holiday toque mais em nossas eletrolas.