(Foto Karina Zambrana)
A ventania trouxe o corpo que tem a voz como asas. Entrecortes
sonoros da orquestra ampliando a cena. O canto fundamental em prol da
integridade feminina. A Bahia como espiral que vai, que vem, que gira, que
muda, além, sendo a mesma. Espiral que sintetiza o lugar dos lugares: a mulher
xamã.
Voo sobre as folhas na dinâmica democrática de Oyá... O tempo
no espelho. A mão apontando a vida dentro do espaço. O dessentido. O nítido e o
imprevisto na tempestade da miúda presença. Presença imperial. Saia noutras
vestimentas. A reprise. A nova musicalidade arrancada da sublime paisagem tão
velha de conhecida. Entrecortes do impossível – a mulher na folha,
cavalgando-se búfalo. Puro movimento.
Rasgar-se no que não passa. Eterniza-se no arrepio da pele. O
agora para sempre. A que finge artista para consorte do mito. A verdade mais
leal. Palavra. Medida da profunda beleza. Língua portuguesa rastreada de bantos
e iorubás. Presença índia. Mulher negra. Cabelos como história. Portal para
muitos significados.
Olhos e bênção. Cena madura pós-muda no som orquestral. Orixá
chegando. Aguidavis. Chão percussivo numa seresta ancestral. A leoa ora
trânsito. Águia transcendental. Fogo e água. Raio. Rios. Auge. Silêncio.
Brisa no mar. Ferocidade esquiva.
Rascunhos.
Quando ela intervalar.
Para voltar, destemida, a mesma que sempre será múltiplas no
ser único que perfila.