segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

MB (2)

(Foto Karina Zambrana)



A ventania trouxe o corpo que tem a voz como asas. Entrecortes sonoros da orquestra ampliando a cena. O canto fundamental em prol da integridade feminina. A Bahia como espiral que vai, que vem, que gira, que muda, além, sendo a mesma. Espiral que sintetiza o lugar dos lugares: a mulher xamã.

Voo sobre as folhas na dinâmica democrática de Oyá... O tempo no espelho. A mão apontando a vida dentro do espaço. O dessentido. O nítido e o imprevisto na tempestade da miúda presença. Presença imperial. Saia noutras vestimentas. A reprise. A nova musicalidade arrancada da sublime paisagem tão velha de conhecida. Entrecortes do impossível – a mulher na folha, cavalgando-se búfalo. Puro movimento.

Rasgar-se no que não passa. Eterniza-se no arrepio da pele. O agora para sempre. A que finge artista para consorte do mito. A verdade mais leal. Palavra. Medida da profunda beleza. Língua portuguesa rastreada de bantos e iorubás. Presença índia. Mulher negra. Cabelos como história. Portal para muitos significados.

Olhos e bênção. Cena madura pós-muda no som orquestral. Orixá chegando. Aguidavis. Chão percussivo numa seresta ancestral. A leoa ora trânsito. Águia transcendental. Fogo e água. Raio. Rios. Auge. Silêncio.

Brisa no mar. Ferocidade esquiva.

Rascunhos.

Quando ela intervalar.

Para voltar, destemida, a mesma que sempre será múltiplas no ser único que perfila. 

domingo, 6 de dezembro de 2015

Marília Pêra



Marília,

É tão difícil ser neste nosso país. Aqui, mais que talentosos, temos que exercer a inumana perfeição. Tenho a clareza das noites de 1982 quando, após a voz de Nana cantando Se queres Saber, você entrava em cenas sobre amor e dor, ao lado de Claudio Marzo, na série global Quem ama não mata, e eu acessando ali o seu raro talento... Depois veio Pixote – a lei do mais fraco, para chegar a Brega e chique e confirmar, em mim, você como a maior atriz brasileira.

Tive a honra de assistir, no Teatro, Elas por Ela, Master Class, Mademoiselle Chanel e me maravilhar com o seu domínio cênico, a destreza da enorme atriz, a beleza da mulher, a mágica das invenções em cena. Foram muitas outras coisas e em tudo: Marília Pêra!

E assim, banhada em entrega e grandeza artística, você nos deixou e calou minha voz e bagunçou meus pensamentos. Metendo medo, em Pé na Cova, com a sua grandiosa Darlene, em tom de despedida, como Clarice Lispector nos deixando com a sua Macabéa.

Darlene e Macabéa, Macabéa e Darlene... Marília e Clarice, Clarice e Marília... Meus sonhos rodando no centro desta aproximação distante que a arte faz e eu choro a sua morte agradecendo a nossa vida. A sua vida!

Minha atriz, entre tantas outras maravilhosas como Cleyde Yáconis, Laura Cardoso, Louise Cardoso, Ruth de Souza, Dina Sfat, Débora Bloch, que me ensinou a gostar de teatro e cinema, já que televisão eu já adorava...Minha atriz que dançava e cantava com talento e elegância... A mulher visionária acendendo cenas e iluminando de possibilidades o breu contextual do Brasil.

Escrevo–lhe, entre lágrimas e carinho, mais silêncio do que palavras, sem aplausos para não macular seu descanso. Sua vida foi brilhantemente cumprida e nós calamos frente ao seu legado e ao que do feminino genial você marcou na história do Brasil. Pensar cultura, em sintonia com a arte, é eternizar o nome Marília Pêra.

Siga, mas fique, viu? Não quero que lhe esqueçam e nem quero a fragilidade das homenagens necrófilas... Quero você vibrante e amoral tocando no âmago da gente que ainda sobrevive. Quero falar da minha saudade que nunca será maior que a minha grande admiração, meu amor pela sua arte – Caetano Veloso, outro mestre, dizendo: “Marília é a maior atriz de cinema do mundo”.

Não sei se do mundo, mas você é a maior atriz de mim.


Beijos!

terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Poemar: historinha da Mãe Negra Iemanjá





LANÇAMENTO DE POEMAR: HISTORINHA DA MÃE NEGRA IEMANJÁ, DE MARLON MARCOS, DIA 05 DE DEZEMBRO DE 2015, ÀS 15H, NO PALACETE DAS ARTES (IPAC/SECULT)

A poética narrativa infantojuvenil Poemar: historinha da Mãe Negra Iemanjá é um convite para as crianças de ontem, hoje e amanhã para um profundo mergulho nas águas que representam a beleza da bravura e singeleza da mãe-rainha Iemanjá, desde as origens do seu culto na África, em Abeokutá, até a sua chegada às águas das terras de cá, as brasileiras. A obra explora um universo literário que sendo da criança também é do adulto. Este elemento está associado à marcante inspiração da literatura clariciana na vida do poeta Marlon Marcos, já que para ele, Clarice Lispector representa em sua vida uma das principais fontes teóricas de escrita literária.
 

Marlon MArcos, como uma predestinação, nasceu às margens da Baía de Todos os Santos e foi batizado com um nome que guarda a multiplicação da morada da Mãe Negra, o Mar (Okún), já que é filho da Iyá Ogunté, juntamente com o Babá Oguian. Ele é graduado em História e Jornalismo, mestre em Estudos Étnicos e Africanos e está cursando bacharelado em Ciências Sociais e doutorado em Antropologia. O seu legado acadêmico e de produção artístico-literária demonstra o seu desejo em ressaltar as riquezas deixadas pelos nossos ancestrais africanos, principalmente, através da religiosidade, em específico, o Candomblé.
 

A obra aqui apresentada caracteriza um importante marco na literatura direcionado ao público infantojuvenil, ao passo que é um canto poético que apresenta um mundo de magia cercado por elementos religiosos e culturais que, muitas vezes, a sociedade brasileira buscou e busca afastar da formação sociocultural desde as nossas primeiras leituras, que ocorrem, normalmente, entre a infância e a adolescência. Momento que iniciamos uma abertura para novas possibilidades, as quais precisam ultrapassar o olhar eurocêntrico de padrões sociais ainda tão enraizados em nosso país. Poemar é uma reflexão acerca da importância da preservação do Ilê da Mãe Negra e de todos os elementos da natureza, os quais ela protege assim como seus filhos. Nessa obra, a poética é um canto que exprime Odô Iyá em verso e prosa.
 

A cantora Vércia, acompanhada de Marcus Santos ( percussão) e Zé Livrera ( violão), solta a voz e faz roda para a criançada de todas as idades.


SERVIÇO:

Evento: Lançamento de POEMAR: HISTORINHA DA MÃE NEGRA IEMANJÁ

Autor: Marlon Marcos

End. – Palacete das Artes (Rua da Graça, n. 289 – Graça, Salvador – BA) – Entrada gratuita.

Em 05 de dezembro de 2015, às 15h.

Participação especial: a cantora Vércia

Valor do Livro: 25 reais

Maiores informações:
Raphael Cloux ( editor): (71) 99232-1051

Marlon Marcos ( autor) : (71) 98749-5595

Release: Leice Costa