segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Maria Bethânia e Adriana Clacanhotto: falando por mim


Tal como a vida, foi tudo rapidinho. Mas profundo como as flores que vejo flutuando sobre as águas dos mares, depois de lançadas no mar da Bahia, partindo do âmago da minha fé...

Tal como a vida, a beleza se instalou para trazer sentido. E uma dança secreta marcou a alma de alegria. Alegria que ficou ao longe, mas ainda assim, foi e no rastro do que nos vale a pena, e quase nunca é tudo que vale, ainda é...

Tal como a vida, perfilada de seperação, o Universo se fez em encontro... E porque também há a morte, a mais legítima certeza, o tempo recusou...

Tal como a vida , que em mim me bate no peito, nasceu cresceu gritou e fez silêncio desse jeito: nas zonas secretas da imaginação que acelerou minha ânsia e depois me calou...

Lá, no frescor do meu sentimento, a sensação reviveu a poeta e a canção: " Poetas para quê? Os deuses, as dúvidas? Pra quê amendoeiras pelas ruas? Para que servem as ruas?"

E as ruas, tal como a vida, me servem agora para seguir: mesmo que sozinho.

De verdade, feliz 2013!

domingo, 30 de dezembro de 2012

Chico e eu...


Jardim Botânico


De lá da alma para o todo de mim.
Reluzindo o que não me falta
Deixando-me perto da Natureza,
Eu Natureza da cor da esperança.

Pode chegar 2013!

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Espetáculo

Entro em acordo comigo,
Se minto, é para aliviar
As tensões reais desse tédio.

Todo lugar da verdade em mim
Decora-se das invenções que faço
Para incitar a minha criatividade.

Meu lado artista faz
O trunfo que me dá gás
E se me representa
Nos palcos difusos
Entre os seres humanos
Com os quais eu me confundo.

Pra onde se lançar


 
Cravo-me no verde dali. E sangro esperança. Todo dia igual, eu que resisto, que insisto ternamente, que caminho alone sob a força da minha própria luz, eu pergunto: pra onde se lançar? Que papel devo cumprir em mim para ser melhor assistido? O que vai durar?
 
O sol fugindo não responde e sonho comigo solto no mundo, perdido, distante. À luz verde que nasce e morre em mim. À espera daqueles acontecimentos que desenhei, depois do medo, aos 11 anos, criança ao monte, tanta dor e perguntas, no círculo da fé que me habita, e minha existência existindo.
 
Surrealmente, eu sou o que se permite. Meu peito se lança a delicadezas para o amor. Apesar de não saber amar, eu sou todo amor. Repito gritando de uma cisterna, cheia d'água, e eu quero me afogar.
 
Da janela do Rio de Janeiro: medo não mais há. O tédio é desvelo, pois o que me iluminou, não foi e me lançou ao dessentido de estar... Sobrevivo ouvindo a música. Chet Baker. Paz em horinhas de voo. Memórias fresquinhas. E meu futuro continua a ser agora.
 
Assino-me em Fé. Só aí tenho como me lançar.

domingo, 23 de dezembro de 2012

Feliz 2013


Eis que me espanto mesmo fazendo silêncio. Meus olhos atraem a lua para iluminar e estacionar o deserto das Boas Festas. Caminho pelos meus próprios olhos que transveem  a chegada sem horizonte. Paira um rosto no pensamento, mas a razão apaga, evita o tormento e a lua mais se irradia. Clareza na clareira da melodia que nunca vou tocar. Mudança dos ventos e o pensamento deve cessar...

De certo, hoje terei insônia, contudo, eu dominarei a noite despido de mim mesmo e talvez numa outra versão, noutro personagem, a saudade seja menor que a desilusão...

Aparo arestas. A cidade do Rio de Janeiro no íntimo de uma voz. Correntezas marítimas no verde frescor de outra cidade. A alma é o Rio. E rio de tristeza e desejo como uma canção de Caetano. Vivo – instante em tons pastéis; meio impressionismo, muito surrealismo, nada a declarar... Marcas do gostar que não cabem; talvez feito à dor de Dolores Duran.

Retrato na parede do peito, velocidade, as costas como adeus! Ouço do cais, eu marujo sem tempo, forasteiro, indo até...

Sinal sem movimento. Escrita para encerrar. Só o novo mais novo pode salvar. E o tempo é aqui: agorinha de mim frente ao espelho. Feliz 2013.

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Dos livros


"Faço nosso o meu segredo mais sincero
E desafio o instinto mais dissonante".
 
 
 
Reparo, quase sem querer, fiquei só com os livros. Mas fui intenso comigo e com os outros eles. E os livros. Não saio contra a solidão, é o excesso de companhia que não me entende que me cala pra mim mesmo. Estou frente a muitos livros e, tão somnete, sorrio de dentro e vejo o mundo assim: literatura.
 
Abraço-te amigo. Inexato. Orando calado para suportar. E sigo até quando der. Tenho-lhe na palma das minhas mãos e em retratos clariceanos que sou. Livros para amainar a solidão e extirpar a vontade de partir. Sei pouco da vida e sei menos de livros. Mas amo a vida. Amo os livros. Eu sigo no sorriso que deixo aqui na foto que é a minha alma sem faltas. Talvez por conta dos livros.

domingo, 16 de dezembro de 2012

Enternecendo



Do lugar de mim: o jeito da paz. Ouvindo o indefinível da beleza no canto de Elizeth Cardoso, lendo sobre Strange Fruit, a canção; mergulhado na compreensão do valor necessário do desencontro e sonhando à luz de Liv e Ingmar – para parecer bem óbvio cinematograficamente, e deste sentir que sou eu, chegar a ser a transformação.

Que domingo para além: findando com o espetáculo mais plástico e mais lindo que vi no Bando: Dô! Alguma coisa que me arde nos olhos, tem som e cheiro, tempero, quando deveras é somente a arte.

Domingo sem silêncio e puro movimento em Elizeth dizendo assim: “Quero que teus olhos me olhem/ Como te olham os meus/ Quero que eles sintam em meus olhos/Tudo que sinto nos teus”, então, desapego-me do fastio e parto para segunda-feira, penso numa camisa azul marinho e sigo pela trilha do agradecimento.

A ternura não me desocupa porque meu coração é lirismo azul clarinho decorando sensações do amor.
 

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

12/12/12



Que tenha verde no tecido da minha caminhada,
E eu sinta sempre o mar me acarinhando...

Que tenha azul no tecido da minha morada
E eu A veja entrando tocando em meus sonhos...

Que seja isso um mantra

E evite que eu reitere enganos...

Quero o novo daqui,
Esse instante que é minha vida.

Falo-Te de dentro de mim
Nas flores da minha esperança.

Ensina-me, ô Potentado dos mares,
Feminino da minha clareza,
A ultrapassar outro desvio.


E que o mistério deste dia
Seja-nos Luz!

Odô Iyá!


Nascente ao luar



Dentro do silêncio e da ternura após velar o sono do amor nascendo. Então, ela:
"Quero
Nos teus quartos forrados de luar
Onde nenhum dos meus gestos faz barulho
Voltar.
E sentar-me um instante
Na beira da janela contra os astros
E olhando para dentro contemplar-te,
Tu dormindo antes de jamais teres acordado,
Tu como um rio adormecido e doce
Seguindo a voz do vento e a voz do mar
Subindo as escadas que sobem pelo ar".
 
Sophia de Mello Breyner

sábado, 8 de dezembro de 2012

Há 35 anos partia Clarice Lispector



 
 1977, em 09 de dezembro, na cidade do Rio de Janeiro, um dia antes de completar 57 anos, morria a escritora Clarice Lispector. Legado literário imensurável. Impressões profundas sobre a humanidade. Traços de um feminino que me acompanha, me fascina, me orienta, me comanda. Segredos revelados, ela, Clarice, foi e é a maior epifania artística da minha vida.
Eu sinto assim: “mas eu não sabia que se pode tudo, meu Deus!”, e rezo desacreditando no impossível. Reluto a partir desta escritura marcada em sombras e luz, cheia de vida.
35 anos de ausência presente no âmago da cultura brasileira. Retrato pintando paredes, discursos teatrais, oralidade política, rezas noturnas, textos acadêmicos, lágrimas no cinema, poema divino, à espera do beijo, encontro com o amor, doença, morte, continuação... Um livro a traz assim: “Sentia o mundo palpitar docemente em seu peito, doía-lhe o corpo como se nele suportasse a feminilidade de todas as mulheres”. Para mim, como se suportasse a humanidade de todos os humanos.
Clarice nunca morreu. Vívida naquelas palavras que furam a alma da gente. Em lições de vida que não amainaram a sua dor. Ela, dona da solidão total. Morreu para a vida de mito e artista que só faz se eternizar. Mito maculado, mas arrolado entre a sofisticação e a ignorância que perfila o nosso país.
Canto contando as horas e sonhando como literatura. A que me faz escapar de mim e da solidão, me reflete não sendo eu no meu eu mais profundo. Toco nela no livro que agora abro e pergunto onde deixar a minha Macabea...  35 anos do que se foi como completude, a obra, mas tendo muito a dizer.
Ardo de saudade e loto-me do que desaprendo para permanecer na delicadeza que me deixa amar e querer assim... Clariceanamente,
Iemanjá e Sagitário.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Esperando Maria Bethânia


Teatro Castro Alves, Salvador da Bahia, 02 de dezembro de 2012, quase 20h., e a emoção aguardando a maior cantora do mundo na contemporaneidade.
Este registro fotográfico foi do anjo Maria Olivia Soares.
Fica aqui para que eu saiba que a vida é bela e, do meu jeito, eu sei que sei aproveitar.

sábado, 1 de dezembro de 2012

Maria Bethânia: Carta de amor em Salvador


Hoje é um grande dia. Salvador recebe um entre os mais importantes artistas que compõem a história da canção brasileira. Ressoar de integridade, que fez do canto expressão de singularidades e emoção em nome do amor que orienta.

Nascente da beleza que preciso em minha vida. Aquela vontade de ser. Formas da repetição que inova a inspiração e faz silêncio.

Poesia para o silêncio. E a paixão que melhora e nos faz humanos pela simples presença morena. Presença negra. Avidez no sagrado. Tranquilidade do profano. Entrecortes do sonho. Embriaguez que salva.

Hoje (e amanhã) é dia de Maria Bethânia.

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Sendo Chagall


Me deixa brincar de ser Chagall, de ser músico e ir para fora deste sinal da espera.

Me deixa ser a conversa sem medo ou explicações; só os meus olhos vendo os seus lábios em movimento e o nosso sorriso nos sendo permissão.

Me deixa criar o que nunca existiu e ter a sorte  de ser por você. Eu serenando o vento, trazendo a brisa que refresca o nosso silêncio após o nosso prazer.

Me deixa pintar sua boca na cara do tempo e musicar o destino que nos aproximou.  Me deixa ser pintor e letrista, ator e ginasta, dançarino e sacerdote, nos contrapontos do que não ensaiamos, quero viver instantes eternos em você.

Me olhe Chagall e eu, delicadamente, pincelo seu corpo como um pedido de Deus.

terça-feira, 27 de novembro de 2012

Casablanca, 70 anos


"Nós sempre teremos Paris"
 
 
Lindo. Mas não quero o sentido deste filme. Lindo. Vibro com a perenidade. Com o lugar de agora, Paris em mim, maior que memória. Eu sei gostar. Inclino-me  ao sentido de Istambul, de Marrakech, de Casablanca. O filme lindo. Um dessentido na falta que me traz. Essa Paris no sempre de mim, maior que a memória, alguém que quase toquei...

Bebo e vibro: Casablanca, o filme, faz 70 anos! Eu tenho saudade do não lugar, na esperança de viver outra história. Mas,

Nós sempre teremos Paris.

sábado, 24 de novembro de 2012

Translúcido

No calor desta noite, eu me aparto de mim. Revisto-me de silêncio mesmo que publicizando palavras. Meu alvo é a vida que não tive. Agorinha eu trouxe a lua para dentro de casa. Sou-me as palavras que melhoram a relação humana. O que é melhor no humano é a delicadeza, as cores da aproximação. A delicadeza em vermelho ou azul. O que me digo, digo também a ti. Hoje é um dia sem aspas -  rasgo-me na aspereza do desencontro, mas perdoo o mundo por me querer assim.

Lá, tão aqui, os sonhos não são distantes e minha pronúncia abraça a realidade e toca a sorte na função do amor. O amor está e espelha sorriso amanhã. Tenho a estesia da escrita que me alonga até o que nunca pude alcançar. Sou herói de mim mesmo.

Poesia desconstruída na falta de versos e uma canção sem voz e som. Morta luz inclinada aos segredos lunares. Homem feio e triste, mas todo amor

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Plata Quemada





Sem mais nada, a não ser:
Relembrar.










quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Sem título, só pressa

Dez dias como dez séculos em saudade: eu, um condenado!

Reticências

( Marlon Marcos)

alonguei-me de mim
entre respingos e ensaios
-  tudo sobre mim  -,
material dos meus segredos
publicado como jornal.

vida lenta e alongada,
coragem quase de estar só,
muita poeira no sapato,
desertos e imagens...

este amor
que ainda não acertou
em quem pousar.

Rota do Sonho

I have a dream.
E acordei sem sair dele.
Me acompanho dele sem saber onde ir.
Lendo notícias, calando olhos
Sendo-me eu somente.
E o sonho.
Que tenho nos traços do que imagino
No perfume sentido
O filme assistido
O poema de Shakespeare...
O meu coração na janela
Do sonho que não me deixa dormir.

Nadine Labaki



É uma mistura de beleza refinada, sensualidade atrevida, sinais do raro sabor, mais inteligência, criatividade, ressonâncias políticas e tudo conjugado no feminino. Inteira melodia de uma artista que nasceu logo ali, no Líbano. Imperdível!

terça-feira, 20 de novembro de 2012

A cena em Plata Quemada


O meu desejo é espera.
O que não acontece e me tira do sono e do sonho.
Tem a voz de Billie me fazendo literatura,
A imagem de um homem negro no coração.

Esta cena, eu afogado na banheira,
Condenado sem crime, todo erro
À espera.

Plata Quemada,
Meu filme favorito.
O perigo sem solidão,
Pois o amor em mim
Só pode ou deve ser assim.

Uma carta de amor para Maria





Sua voz, em nós, traduz alegria. É uma espécie de acompanhamento para o prazer. Encenação da beleza que vibra dos olhos, algum lugar sem explicação: a voz. A repetição no sonho quando te sinto: minha musa.

Sua luz é o meu bem querer. Singra-me até onde não sou e me é o amor que resguardo na força do olhar que me vem de você. Singra-me esta força das manhãs tempestivas nessa doçura mítica da mulher que sabe o que dizer. Eu sou a palavra na sua voz. A vontade que gera a beleza. A pergunta no palco e saídas d’alma. O centro do que te gera é a foz da minha morada. Serena rainha do que busco na fonte mágica da arte riscada na face diversa deste país.

Sou-me na altivez da audição: o que imprimo em mim, o de melhor, sangra da arte que nos refaz. Ouço por paixão. Atravesso os dias. Desaprendo. Ali, naquele canto, o seu canto, revivo o que não tive e represento todos os instantes da criação que me conduz; seu canto, sua voz, aprimora o meu jeito de ser no mundo. 

Sinto, do transfigurar, a vida sendo mais nova, mais vívida, mais amorosa na qualidade do seu estar: Maria Bethânia.

Eu quero a sua delicadeza para alcançar a sua poesia. Meu amor lhe pede isso: a  palavra na voz , o olhar de águia, a mãe no abraço... E o som advindo do canto mais bonito do planeta Terra.

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Eu, Simone, Paris

Saindo da terra dela. Levando tanto que amplia o horizonte dos meus sonhos, a vontade da escrita e o desejo de ficar por mais tempo.

Ela, esteio de ensinamentos que dimensionaram a força da palavra na duração deste tempo, o meu tempo... O que é a finitude? Onde me projeto além da colina de concreto que me prende a Salvador? Meu lado mais mortal é viajante e eu vejo Simone entre fumaça de cigarro, champagne, café, vinho, rabiscos, a voz de Bethânia, Rimbaud, Nina Simone, Louvre... A Baía de Todos os Santos...

No fundo, é esta mulher que me inebria e me mergulha nesta minha masculinidade que reinvento a cada dia.

Toco em Simone na marca do amor; relembro Sartre, beijo o rosto do amigo e sigo de volta...Já sendo outra pessoa.

domingo, 18 de novembro de 2012

Brincando de ser feliz

 



" Os troncos das árvores doem-me como se fossem os meus ombros
Doem-me as ondas do mar como gargantas de cristal
Dói-me o luar - branco que se rasga"

Sophia de Mello Breyner

E assim eu sou feliz.

Paris, Bastille



Vago sob a chuva da cidade assistindo a arte que lhe traduz. Ela brinca comigo no que pinta e escreve: feitiços imagináveis.
Tomo conta de mim no parapeito da janela a 04 graus para correr o risco maior. Faço sombra para roubar um beijo. Não consigo mas atinjo a boca do poeta. Minha garganta arde contra a doçura que trago em palavras. É o âmago da solidão, mas concluo sorrindo. A água do mar me molhou o calçado. Olhos negros. Tem sol e frio no cheiro do Sena que me abençoa...

Creio e descrevo na batida do coração, singro a tinta de Beauvoir para criar outra masculinidade... A servilidade da minha emoção são dois olhos negros... Na praia o albatroz me cantou.

Tomara não tenha perdido a guerra, pois o meu reino, no absoluto, é amor.

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Café de Flore

 


Como cicatriz na cara do tempo e em minhas imperfeições...
Minha alma nadando calada e lendo...
Nada me chega do olhar e eu só sou palavras.
A mulher que nunca fui à mesa sozinha, espera.
Fumaça do cigarro na cara da alergia,
Meu eu todo estrangeiro...
Quase o fim no brilho da festa
E a pergunta: Simone fumava?

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Morada minha







Mora essa casa em mim.
Esse azul de dentro é lindo,
Às vezes triste, outras risos:
Saga dos aquáticos com vista
Para o mar.

O azul de mim é nítido
Como o verde que há.

Voo da palavra molhada
Combustível nas asas
Que traz a minha fé.

Louvo o mar desse azul...
Sou eu diluído no verde
Da mãe que me habita.

domingo, 4 de novembro de 2012

Gonzaguinha



Só para falar do simples, do mais cotidiano, da letra acesa no bilhete de amor, na voz do pai faltando, a alma de mulher sem ensinamentos de Beauvoir...

Falar que beleza se inventa e, o melhor, maior é a sem padrão!

Falar que o disco toca incitando a saudade...O canto sangrando de um país como futuro... O muro a grafitar ensinamentos profundos; vontade de chorar.

Na tela, ainda mais simples. Do lugar do feminino quase mulher... Criatura das amarguras trazendo o doce como resposta.

Tudo muito simples. Mas muito sentido. Os olhos cantando a canção que faz a voz chorar, chorar, perde-se na inexatidão da falta do cantor no lugar.


sábado, 3 de novembro de 2012

Marcelino Freire, Vingança



As duas lâminas de Xangô eu quero. Dentes afiados de um dinossauro. Por que não? A mandíbula de um tubarão. O punhal de um cangaceiro. O focinho de um cão.

O olhar de um guará. Certeiro. O veneno de uma cascavel. No peito. A armadura de arcabuzeiro. O pontapé de Garrincha ao gol. A fuga de um beija-flor.

Eu quero. Os hormônios de Hércules. Os neurônios de Einstein. O ódio de Cristo. O que for preciso. A paciência de Jó. O laço do passarinheiro. Sim. Todos os tipos de nó.

O fogo. E o carvão. O poder da água. As armadilhas do coração. Eu quero. São Jorge e seu dragão. Todas as forças comigo. Meu amor. Para quando você me deixar na mão.

Tiganá deságua a Bahia pelo mundo

(Tiganá Santana)




Seu primeiro CD Maçalê, lançado em 2009, foi a expressão do grande artista que chegava para o mercado musical brasileiro e mundial. Chegou mas sem a atenção devida, apesar da inimaginável criatividade artística desenhada em suas canções. Dizem que santo de casa não faz milagre. O santo em questão é Tiganá Santana.

Como Tempo, o inquice, é justo: Tiganá chega ao segundo CD, The  invention of colour, lançado no mercado europeu, em 03 de outubro de 2012, pela gravadora sueca Selo Ajabu, desfiando o raro talento erguido no âmago da cultura baiana, salpicado de fé e águas do mar, partindo da proteção dos orixás, tendo como principal cenário os terreiros de candomblé, as ruas da Bahia e o seu povo negro-mestiço. Mas, indo ao longe onde o talento somado à excelente educação pode levar, pronto para dialogar com as inventivas musicalidades que configuram as diversidades culturais neste planeta de todos nós.

The invention of colour é um disco aquático: amálgamas de oceanos, barco musical saído da Baía de Todos Santos, sob a inspiração de Caymmi, Porter, Touré, canto singrando o canto de João Gilberto para ser outra voz. O disco é cantado em inglês, espanhol, português, quicongo e, para fora da rotina das canções, é som. Se faz música  para o mais exigente apreciador; Deve chegar a Guinga, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Egberto Gismonti. Já pousou na voz da cabo-verdiana Mayra Andrade, da norueguesa Ane Brun e do baiano Lazzo Matumbi, que iluminam o disco para estesias musicais.

Não é de estranhar, em Salvador, o silêncio que se faz em relação ao trabalho de Tiganá Santana. Vivemos sob a égide do barulho, da velocidade engarrafada, do palavrório sociológico, da inspiração fast food, da baixa qualidade. Propostas estéticas viraram elitismo; não vendem no balcão da Caco de Telha, muito menos na Rede Globo. Para ecoar, em Salvador ou no Rio de Janeiro, tem que polemizar.

Este disco é para sentir contra as agruras da frustração; entender que faz bem ouvir a diversidade musical como se convive com gente, sem hierarquias e sem o medo que afugenta o novo.
 
 Marlon Marcos é jornalista e antropólogo, email: ogunte21@yahoo.com.br

( Publicado no Jornal A Tarde, Opinião, p.03, dia 29/10/2012)

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Marina Lima: 'O charme do mundo"


Uma das canções que eu mais amo, na voz de uma cantora que me marcou profundamente, deu sentido a muitos instantes da minha vida, me fez sonhar e embalar paixões aceleradas, do nosso jeito! Amo "O charme do muindo" - ouço como condenado e ainda estou em seus "Acontecimentos". Marina é outra eterna, irmã do poeta, que sem estar na cena maior, é responsável pelo melhor que já fizemos no Pop Brasil, ela tamanha MPB.
 
Saudades de tudo, até do que não vivi. Mas feliz por saber que agora caminho no centro do novo que tanto mobilizei... Marina no futuro.

Tiganá Santana: o vir e o ir da gente


Devemos lembrar que somos espíritos numa passagem de correnteza aqui neste planeta que é mais água do que terra. Água de oceanos, de útero, de lágrimas. Mas as lágrimas, estas secam.

Agora, a espiritualidade, em todas as suas direções e manifestações diz: aquietem-se, esvaziem-se e prossigam, pois mais um feixe luminoso retorna ao mundo de onde veio. Este feixe luminoso foi rapidamente pessoa, mas dispunha da sua própria trajetória. Mãe, pai, filhos, irmãos, amigos, cônjuge, parentes deste feixe luminoso exercem um papel nesta rápida passagem pelo mundo físico, mas ninguém pode reter o seu caminho; ninguém pode viver o seu caminho; ninguém pode ser o outro.

Agora é pensar que mais uma força de luz cumpriu a sua rota completa e que todos somos forças luminosas em rotas paralelas. Quando o tempo - este senhor dos destinos e ventos que mudam as montanhas de lugar - determinar que se chegou ao instante do não-tempo, do não-julgamento, do não-conflito, do não-corpo, eis que nos transformamos em tudo aquilo que não pesa.

Agora, não há hierarquia, não há vaidade, não é necessário correr...

Quem fica deste lado do rio não deve oferecer dor para quem vai chegar à outra margem... a dor pesa e o navegante poderá naufragar. Mas a beleza de uma flor, que é como uma boa lembrança de quem é este navegante, não pesa... faz sonhar, traz cores, traz alegria e desejo de boa sorte nesta travessia, que possui os seus desafios, mas é como água acariciando o corpo nu.

Não sejamos egoístas a dizer: “não era a hora de ir”, “não poderia ter sido assim”, “não isto, não aquilo”. Agora é o simples e fraterno desejo de boa viagem e bons frutos desta árvore plantada no solo.

Sejamos simples para que não haja o sofrimento dos apegos. O amor permanece nas duas margens do rio... o amor é simples e não quer impedir que o amado siga e siga. Porque morrer, assim como viver,  é seguir e seguir...   
Tiganá Santana   

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Falando de flores




Para dentro do mais profundo sentido: isso de aguçar o ânimo e, pelo ímpeto da beleza, ainda esperar da vida. E muito. Vendo com o toque e atingindo com o sonho. A inspiração. Clariceanamente a incumbência de zelar pelo mundo. Amando por cima dos jornais; doando para além da nossa mendicância.
 
Para fora e sentir o obtuso que comanda o mundo em histórias atuais. O real que invento para ser ameno e algum sonho gerar. Um copo d'água deslizando sobre nossa sede. Banho de mar noturno consigo e com Ela. Primavera constante. A aula que transforma. O aluno que ensina. Folha que traz a fé. Roupa branca todo dia. Dança apaixonante entre Billie e Bethânia; silêncio ao som de Tiganá.
 
Festa. Morar na descoberta de outra cidade. Ao longe como pirraça e prazer. Ser-me à leitura de Hilda. Viver acima do desgaste. Agora, adolescer... Plantar a árvore, cantar pra Tempo. Transcender o barulho que impede a fruição. Olhar no olho do outro e nos alcançar. Fazer delicadeza.
 
Fernando tomando-me a pessoa no transe da comoção. Poesia. Caminhada descalço à luz da lua. O vento que transporta. Abrir a porta para ele entrar. Caetanear com o corpo a juventude alheia. Desejar. Estar do lugar onde o inteiro me traduz. Erros. Acertos. Meu abraço de doçura e poder. O quase que não sai de mim. Como o azul. E o verde da minha casa. O mar.

domingo, 21 de outubro de 2012

Tiganá Santana: The Invention of Colour

Ali: uma proposta. Sutil e misteriosa como sua "capa"; transcendente, envolvente, concreta como sua música. Voz do lugar da inspiração comungando com outras. Acerto de contas, neste tempo, da criação entre baianos no campo artístico do mundo. A imagem do som. Uma certa rascância no falar de Deus. O corpo que dança. O som.
 
Ali, misto de ar no planeta água, não há o que encontrar... Tudo se exerce na auditiva construção. O interno como repetição para se ter luz no caminho. Não há geografia nesta luminária africana. O som. O que não se diz em idiomas e por isso, assim, todos alcançam. Elevação que é mercado. Mercado que é intransição. Fagulhas sonoras de uma filosofia. Pedra que inicia para o pó que destitui. Linguagem do amor. Novidade no passado. Instante sem futuro. Ali, aqui, agora.
 
A neutra invenção da cor. Que é negra.

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Árvore da sede



São muitas as minhas sedes e nem as sei procurar. Tenho deixado a vida seguir, a correr feito água abrindo caminhos por mim. Cada relato é luz acesa e voz centelha me apontando como fluir. Estou sob o domínio alheio dos olhos outros à fresta de uma árvore, obtendo a coragem para dizer sim.

Nunca soube ter razão e é o quase o que mais me comove. Ouço música para estar aqui. E filmes vejo para me abandonar; a leitura é a grande emoção do sexo na alma como se na cama. Tenho visto coisas demais e abominado as notícias. Quero a calma dos sábios na brisa dos dias dos desapegados. O amor me tortura. Mas o que mais quero é amor. O silêncio é a escola mais eficaz. Tenho como passatempo, pássaros à luz da minha imaginação. Reinvento com a voz na cena alhures, pulando as dificuldades.

Digo absoluto para ser altivamente abstrato. Vivo desse construto que fala demais, é palavrório demais e nada sabe. Minhas repetições são inovações na tela da TV. Estou fora deste tempo para menos e para mais. Retrato-me na pele alva da música, tatuagem no braço do rapaz.

Digo: aproxima-te! Tenho o verde dos mares, o branco das nuvens ar e a camisa clara no azul de dentro de mim; tenho perguntas também, mas a boca calada à espera do beijo que você tem que dar. Tenho a delicadeza exata das mãos gerando prazer.

Aquele som me fascina. É o centro do seu segredo. Sombra e luz: batuque guiando sentido ao coração. Página alusiva às festas nas florestas quando suas mãos em fome. O som que me fascina no deserto instante que nos encontramos sem saber – e é você me tornando música pura.

Nós jogados nas águas ferventes desta sede.