sábado, 3 de novembro de 2012

Tiganá deságua a Bahia pelo mundo

(Tiganá Santana)




Seu primeiro CD Maçalê, lançado em 2009, foi a expressão do grande artista que chegava para o mercado musical brasileiro e mundial. Chegou mas sem a atenção devida, apesar da inimaginável criatividade artística desenhada em suas canções. Dizem que santo de casa não faz milagre. O santo em questão é Tiganá Santana.

Como Tempo, o inquice, é justo: Tiganá chega ao segundo CD, The  invention of colour, lançado no mercado europeu, em 03 de outubro de 2012, pela gravadora sueca Selo Ajabu, desfiando o raro talento erguido no âmago da cultura baiana, salpicado de fé e águas do mar, partindo da proteção dos orixás, tendo como principal cenário os terreiros de candomblé, as ruas da Bahia e o seu povo negro-mestiço. Mas, indo ao longe onde o talento somado à excelente educação pode levar, pronto para dialogar com as inventivas musicalidades que configuram as diversidades culturais neste planeta de todos nós.

The invention of colour é um disco aquático: amálgamas de oceanos, barco musical saído da Baía de Todos Santos, sob a inspiração de Caymmi, Porter, Touré, canto singrando o canto de João Gilberto para ser outra voz. O disco é cantado em inglês, espanhol, português, quicongo e, para fora da rotina das canções, é som. Se faz música  para o mais exigente apreciador; Deve chegar a Guinga, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Egberto Gismonti. Já pousou na voz da cabo-verdiana Mayra Andrade, da norueguesa Ane Brun e do baiano Lazzo Matumbi, que iluminam o disco para estesias musicais.

Não é de estranhar, em Salvador, o silêncio que se faz em relação ao trabalho de Tiganá Santana. Vivemos sob a égide do barulho, da velocidade engarrafada, do palavrório sociológico, da inspiração fast food, da baixa qualidade. Propostas estéticas viraram elitismo; não vendem no balcão da Caco de Telha, muito menos na Rede Globo. Para ecoar, em Salvador ou no Rio de Janeiro, tem que polemizar.

Este disco é para sentir contra as agruras da frustração; entender que faz bem ouvir a diversidade musical como se convive com gente, sem hierarquias e sem o medo que afugenta o novo.
 
 Marlon Marcos é jornalista e antropólogo, email: ogunte21@yahoo.com.br

( Publicado no Jornal A Tarde, Opinião, p.03, dia 29/10/2012)

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