(Tiganá Santana)
Seu primeiro CD Maçalê, lançado em 2009, foi a expressão do
grande artista que chegava para o mercado musical brasileiro e mundial. Chegou
mas sem a atenção devida, apesar da inimaginável criatividade artística
desenhada em suas canções. Dizem que santo de casa não faz milagre. O santo em
questão é Tiganá Santana.
Como Tempo, o inquice, é justo: Tiganá chega ao segundo CD, The
invention of colour, lançado no mercado europeu, em 03 de outubro de
2012, pela gravadora sueca Selo Ajabu, desfiando o raro talento erguido no
âmago da cultura baiana, salpicado de fé e águas do mar, partindo da proteção
dos orixás, tendo como principal cenário os terreiros de candomblé, as ruas da
Bahia e o seu povo negro-mestiço. Mas, indo ao longe onde o talento somado à
excelente educação pode levar, pronto para dialogar com as inventivas
musicalidades que configuram as diversidades culturais neste planeta de todos
nós.
The invention of colour é um disco aquático: amálgamas de
oceanos, barco musical saído da Baía de Todos Santos, sob a inspiração de Caymmi,
Porter, Touré, canto singrando o canto de João Gilberto para ser outra voz. O
disco é cantado em inglês, espanhol, português, quicongo e, para fora da rotina
das canções, é som. Se faz música para o
mais exigente apreciador; Deve chegar a Guinga, Caetano Veloso, Gilberto Gil,
Egberto Gismonti. Já pousou na voz da cabo-verdiana Mayra Andrade, da
norueguesa Ane Brun e do baiano Lazzo Matumbi, que iluminam o disco para
estesias musicais.
Não é de estranhar, em Salvador, o silêncio que se faz em
relação ao trabalho de Tiganá Santana. Vivemos sob a égide do barulho, da
velocidade engarrafada, do palavrório sociológico, da inspiração fast food, da
baixa qualidade. Propostas estéticas viraram elitismo; não vendem no balcão da
Caco de Telha, muito menos na Rede Globo. Para ecoar, em Salvador ou no Rio de
Janeiro, tem que polemizar.
Este disco é para sentir contra as agruras da frustração;
entender que faz bem ouvir a diversidade musical como se convive com gente, sem
hierarquias e sem o medo que afugenta o novo.
Marlon Marcos é jornalista e antropólogo, email: ogunte21@yahoo.com.br
( Publicado no Jornal A Tarde, Opinião, p.03, dia 29/10/2012)
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