quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Gil reúne filhos em gravação de DVD "Bandadois"

Retirado do Terra Magazine( Portal Terra):


Claudio Leal e Thais Bilenky

O preto no branco, luzes no palco giratório. Gilberto Gil toca o violão, de costas para a plateia, cercado por câmeras, trilhos e gruas. O balé mecânico da segunda noite de gravação do DVD "BANDADOIS", no Teatro do Bradesco, em São Paulo. Sentado num banquinho, o compositor usa um terno escuro, camisa azul marinho, mas predomina em cena o contraste branco e preto, na filmagem dirigida pelo cineasta Andrucha Waddington.

- É a gravação do meu DVD, portanto podem se manifestar à vontade, uh, oh!... Vai ser um show muito suave...


Antes do início do espetáculo, o produtor musical Liminha simplificou para o músico baiano como seria o trabalho acústico: "É só voltar ao começo". "Começamos com o violão, no aconchego dos nossos lares", desdobra Gilberto Gil. A ser lançado no final de novembro, com distribuição da Warner Music, o DVD reunirá standards e inéditas.

Na plateia, o compositor e escritor Arnaldo Antunes, o jogador Raí, o publicitário Washington Olivetto, os cineastas Bruno Barreto e Fernando Meirelles. Nas coxias, zanza Flora, a esposa e produtora. Aquecido pelos refletores, Gil brinca:

- Na Bahia, nos auditórios e nas praças, o artista costuma perguntar: "Cadê você?". Aí respondem: "Ói eu aqui!" - diz, prevendo os gritos deslocados e tresloucados de fãs, sem excluir justamente o "Gil, tô aqui", dito por uma loira da segunda fileira.

Depois de interpretar "Flora", Gil inicia um encontro artístico-familiar, que amplia o tom de intimidade pretendido pelo show e, noutros planos, revive um diálogo musical iniciado com o filho Pedro Gil, morto precocemente aos 19 anos, em 1990, num acidente de carro.

- Ao longo dessa vida, há 67 anos vivendo-a, os amores, as companheiras, os filhos, oito deles, sete vivos, alguns no mesmo ofício que eu... Preta, Nara mais velha, Pedro também, esse que se foi... Agora Bem Gil com vocês... Venha Bem...

Juntos, violão desafiando violão, os dois tocam "Super-homem". Adiante, o caçula José Gil se incorporaria na hora de "Refavela", na condição de "banda três". "Banda dois" é o mais velho, Bem. "Banda um", claro, Gil, como se apresentou, numa pose à Januário de Luiz Gonzaga. Voz suave, mais repousada, o pai segue a cantar com os meninos e para as meninas.

- Dos oito filhos, cinco mulheres, Nara se casou, Preta, Isabel, há quatro semanas atrás casou a Maria. Enfim, o sonho dos pais antigos, de casar todas as filhas! - sorri. Maria me pediu: "Pai, faz uma música pro meu casamento". Eu fiz.

"Se forem hábeis e sábios e sãos/ Saberão ser amáveis e tempo terão/ Para fazer da vida a dois, dois chumaços de algodão"...

Da plateia, um homem emenda:
- Gil, faz uma pra mim!
- Me mande a data de seu casamento. Farei.

Há tempo para uma homenagem a Dorival Caymmi. Antes de interpretar "Saudade da Bahia", com Bem, o ex-ministro explica:

- A fonte, a grande fonte em que a gente vai beber a música tem muitas vertentes. E uma das primeiras fontes a brotar e a correr em meu coração foi Dorival Caymmi.

Gil procura animar o público paulista. O palco é largo, o banquinho e o violão estão afastados da plateia. Para cantar "Chiclete com banana", de Jackson do Pandeiro, o músico pede à voz presente participação.

"Pa para papá... Pa para papá...". Soa tímido. "Pa para papá... Pa para papá...". Melhor. "Pa para pa... Quero ver a grande confusão!".

Em tom carinhoso, Gil começa a resgatar...: "Em 1965, todos nós loucos éramos por ela", lembra. Elis Regina dava bola para um, dava bola para outro, para os veteranos e depois para mais jovens, segue Gil. "Fiz uma música que nunca gravei, ela gravou". "Resolvi cantá-la, aqui, hoje, e decidi chamar sua filha, Maria Rita". "Amor até o fim":

"Amor não tem que se acabar
Eu quero e sei que vou ficar
Até o fim eu vou te amar
Até que a vida em mim resolva se apagar".

-
Confira o final em:

http://www.terramagazine.terra.com.br/

Romã na voz de Carlos Barros


Eu tenho ouvido uma canção na voz de Carlos Barros e tenho ficado entregue à sensação do desconhecido. É como se eu alcançasse o meu mais íntimo e tudo fosse mistério maior. Misto de tristeza profunda negada pela paz e beleza do canto masculino. Feminino, sei lá... Aquela leveza embalando tardes frente ao mar e o choro sem se saber por quê e quando tudo sem sol, a nítida alegria de que qualquer movimento amoroso me valeu a pena. Uma canção aquática numa voz feito barco me guiando para o melhor daqui - esses instantes disso chamado vida. Na duração da canção eu tenho a eternidade voltada para muitas imagens do nosso sobrehumano. Uma canção de amor. Tardes de uma história sem tempo: eu comigo mesmo me banhando, às 17 horas, ainda na quentura do sol e o mar mais que sedutor: "venha até mim". Seu chamado. Meu medo.
Eu ouço a canção naquela voz. Voz da tardinha que guarda a esperança. Canção da limpeza refrescante do amor chegando. Canção do nome Romã:
Roma, fruta do Ocidente
Romã, fruta de hoje e sempre
De aedos e cantores
Causadora de temores

Romã e seu ã de tão cedo
Traz um banho de luz adiante
Ah! Romã me diz teu segredo
E alma pro mar dos viajantes

Romã do pé de coisa natural
Passado da mulher, seu astral
Passado do mundo meu, raiz
Roma do Deus que ainda hoje diz

A clara mais poesia de alguém
de quem não ouço a voz
Romã diga bom dia
E abre no peito um sol feroz

Romã de crianças de cor
Roma de cor vermelha da guerra
Romã com o ã de ser do amor
Roma dos Ares quentes da terra
Ivan Farias / Pio Otávio / Carlos Barros

Loja do Palacete das Artes Rodin Bahia







terça-feira, 29 de setembro de 2009

Errática


Nesta melodia em que me perco
Quem sabe, talvez um dia
Ainda te encontre minha musa
Confusa

Esta estrada me escorre do peito
E tão sem jeito
Se desenha entre as estrelas da galáxia
Em fúcsia...

Bússolas não há na cor dos versos
Usam como senha tons perversos
Busco a trilha certa, matematicamente
Só sei brincar de cabra-cega
Errática
Chega

Neste descaminho, meu caminho
Te percorre a ausência
Corpo, alma, tudo, nada, musa
Difusa.

O sorriso do gato de Alice se se visse
Não seria menos ou mais intocável
Que o teu, véu
Pausa de fração de semifusa
Pode conter tão grande tristeza

Busco o estilo exato
A tática eficaz
Do rock ao jazz
Do lied ao samba
Ao brega
Errática
Chega

Caetano Veloso

Os orikis de Abdias

Lindinalva Barbosa estudou a obra poética de Abdias do Nascimento.
Foto: André Luiz Santana
Foi defendida hoje à tarde, na Uneb, a dissertação de mestrado intitulada As Encruzilhadas, o Ferro e o Espelho: a poética negra de Abdias do Nascimento. A autoria é de uma autoridade no assunto: Lindinalva Barbosa.
A agora mestre em Estudos de Linguagens analisou o único livro de poesias escrito por Abdias cujo título é Axés do Sangue e da Esperança (orikis).
De acordo com o que disse e recomendou a banca, formada pelo professor Sílvio Roberto Oliveira, orientador, pela profesossora Edil Silva Costa e pelo professor Claudio Luiz Pereira, logo, logo, com certeza, teremos um livro reproduzindo esta pesquisa que traz contribuições preciosas não só para os estudos relacionados à literatura, mas também sobre Abdias.
( Texto e foto retirados do blog Mundo Afro, de Clediana Ramos; postado aqui como minha homenagem a Lindinalva Barbosa. Axé, minha irmã).

Por anda Gal Costa

Foto retirada do Terra Magazine
Marlon Marcos
De Salvador (BA)
Do ponto de vista social, há ausências que são imperdoáveis. A música brasileira sempre nos foi uma forma de alento, um transbordo de alegria, uma espécie de reunião, textuais e sonoras, nos ensinando a vida, a política; levando-nos a sonhar, a querer amar, a estar de pé e, sem medo, não desistir do que deve ser sempre feito.
A música brasileira é uma das formas mais agradáveis de se investigar nossa realidade social, especialmente a geração dos anos 60, com nomes como Edu Lobo, Geraldo Vandré, Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Tom Zé, entre os cantores compositores; entre as cantoras, Maria Bethânia, Elis Regina, Nana Caymmi, Joyce e Gal Costa. Esta última faz em setembro, 64 anos e, sendo uma das maiores cantoras que o Brasil já gerou, estando viva e saudável, faz uma falta irreparável à boa audição.
Maria da Graça Costa Penna Burgos, nasceu em Salvador, e alcançou o mundo com sua voz doce de chamar o vento; levou a Bahia para o centro do Brasil e este para os cânones do canto feminino no mundo. Sua presença brejeira misturada a muitos desacertos estéticos fizeram dela a representação mais idílica que se tem da mulher baiana e melhor ainda, a fizeram acrescentar muita modernidade às feições da canção brasileira, que tem nela uma das suas mais legítimas reinventoras.
De fato, Gal Costa sumiu do disco. Lentamente saiu de cena, numa espécie de aposentadoria precoce; ela que ainda tem uma voz de brilhante e um domínio musical invejável e serve de modelo instrumentalizador para evolução de práticas na seara do nosso canto feminino. Gal está em muitas cantoras jovenzinhas que negam a força representacional da musa maior do tropicalismo. Falar mal de Gal, hoje em dia, é ser cult; esquecer seu legado é coadunar-se a uma prática horrível neste país: desrespeitar nossa memória.
Por anda Gal Costa? Sua voz está pregada aos tímpanos da audição de nossa memória. A sua existência artística confunde-se com o que somos enquanto povo criativo e musical. Mesmo tendo direito à aposentadoria, volta Gal, queremos te ouvir cantar. Como em Mãe, de Caetano Veloso.
Texto retirado da revista eletrônica Terra Magazine ( Portal Terra), em 29 de setembro de 2009.

Emily Dickinson


Não posso ter vergonha
Porque não posso ver
Esse amor que me ofereces –
A magnitude
Inverte a Pudicícia.

E não posso orgulhar-me
Porque Altura tão alta
Implica Alpinas
Exigências
E os Serviços da Neve.

Encanteria


Santa Bárbara

Maria


Além de Tua, Maria Bethânia lança, amanhã, às 16h, dia 30 de setembro de 2009, no palco da Gafieira Estundantina, que leva seu nome, o CD Encanteria, espalhando de sua voz poderosa muita sobre nós! E louva nossa Santa Bárbara! Axé!






" Minha Santa Bárbara



Senhora de mim



Luz que alumia



Esse povo bom da Bahia



Nos livre das tempestades



Desse mundo



Dos raios dessa vida nos proteja



Dona das rosas vermelhas



Soberana divina



Que assim seja



Quatro de dezembro



Tudo é festa



Tudo é paz



O amor se refaz



Em sua glória



E a seus pés



Peço misericórdia



E graça



Agora e sempre



Para seus fiéis".



Roque Ferreira

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Gal: 64 anos!

Gal Costa
Em mim, a voz dela sempre me foi azul piscina; um limiar entre a doçura e o erotismo; precisão em acertos e erros; canto pra chamar brisa, vento sereno. Uma mulher artista que faz falta em sua falta de atividade como cantora. Uma mulher que marcou minha história, embalou tantos sonhos, conduziu-me várias vezes às lágrimas...Uma espécie de grandeza que reluz este país. É isso, Gal Costa é o Brasil em sua busca de modernidade - é o Brasil em erros, mas mais que tudo é o Brasil acertando e afinado com o melhor que a música pode dar... Gal fará amanhã, dia 26 de setembro de 2009, 64 anos. Mulher dos folhetins especiais - a cara de uma Bahia sempre em transformação. Luz em Mãe, de Caetano Veloso, e devassas amorosas em tantas outras canções. Por onde anda Gal Costa? Sua voz está pregada aos tímpanos de nossa memória. Volta, queremos te ouvir cantar!

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Águas de Lorena


Para Lory
Pousar os olhos na seara dos amores
Ser das águas
Estar nos lugares
Amiga, abrigo, mulher.
Fazer silêncio e saber continuar
Nesses dias das profundas despedidas
Saber continuar bem pertinho
Guiados pelo fio do coração
No já eterno de nós.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

As três cidades

Salvador
Rio de Janeiro

São Paulo
No Brasil:

O Rio é a cidade mais bonita;

São Paulo é a mais necessária;

Salvador, a mais gostosa.

Eu quero morar em Paris.


Daqueles dias

o sabor de reinventar-se
às maneiras escandalosas
sofrer-se, ocupar-se
no ócio da imaginação
iludir-se e assim,
melhorar-se.

John Donne

(1572 - 1631)
A Proibição
Tem cuidado ao amar-me.
Pelo menos, lembra-te que to proibi.
Não que restaure o meu pródigo desperdício
De alento e sangue, com teus suspiros e lágrimas,
Tornando-me para ti o que foste para mim,
Mas tão grande prazer desgasta a nossa vida duma vez.
Para evitar que teu amor por minha morte seja frustrado,
Se me amas, tem cuidado ao amar-me.
Tem cuidado ao odiar-me,
E com os excessos do triunfo na vitória,
Ou tornar-me-ei o meu próprio executor,
E do ódio com igual ódio me vingarei.
Mas tu perderás a pose do conquistador,
Se eu, a tua conquista, perecer pelo teu ódio:
Então, para evitar que, reduzido a nada, eu te diminua,
Se tu me odeias, tem cuidado ao odiar-me.
Contudo, ama-me e odeia-me também.
Assim os extremos não farão o trabalho um do outro:
Ama-me, para que possa morrer do modo mais doce;
Odeia-me, pois teu amor é excessivo para mim;
Ou deixa que ambos, eles e não eu, se corrompam
Para que, vivo, eu seja teu palco e não teu triunfo.
Então, para que o teu amor, ódio, e a mim, não destruas,
Oh, deixa-me viver, mas ama-me e odeia-me também.
John Donne, in "Poemas Eróticos". Tradução de Helena Barbas

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

À espera


novos rumos chegarão
dando pouso ao coração cansado
reativando sentidos
alimentando a vida de movimento
e sabor.
novos instantes iluminando
outros escritos, desenhando outros olhares
apaziguando sem estacionar.
novo destino numa entrega verdadeira
rastros de realização
corpos juntos e lugares diurnos
em noites de estesias.
agora é o tempo de dentro
reiterado pelo de fora
fogo acontecendo - histórias
o mundo neste lugar.
O peito batendo
na circulação da esperança
dança de criança - minha memória
festa para a felicidade.
hoje esse vento em poesia
a Primavera explodindo desencontros
o amor se descrevendo na eterna canção.
novos olhares e a ternura de sempre.

Nossos direitos indígenas


Senadora Marina Silva


Retirado do Terra Magazine ( Portal Terra)



De Brasília (DF) (16 de setembro de 2009)


Na última sexta-feira, 36 famílias indígenas da etnia guarani-kaiowá foram despejadas de uma área que ocupavam havia quase dois anos. Foram alojadas às margens da BR-163, próximo ao município de Rio Brilhante, no Mato Grosso do Sul, sem água, luz ou um teto seguro contra a chuva. Sem espaço para viver e plantar, dependerão da doação de cestas básicas da Funai (Fundação Nacional do Índio).

Essa é, infelizmente, a mesma situação de centenas de famílias indígenas espalhadas em mais de 20 acampamentos às margens de estradas e rodovias no Mato Grosso do Sul, estado que abriga a segunda maior população indígena do Brasil. Elas aguardam há décadas o reconhecimento do direito de posse de suas terras tradicionais.

A situação dos guarani-kaiowá, que somam hoje cerca de 45 mil pessoas, é trágica. A falta de terra é apontada como a causa do número alarmante de suicídios, homicídios e de desnutrição entre eles.
Só em 2008 foram contabilizados 34 suicídios, segundo relatório do Conselho Missionário Indigenista (Cimi). Esse número indica um crescimento expressivo em relação aos anos anteriores. Entre 2003 e 2007, 113 guarani-kaiowá se mataram, uma média de 22 suicídios por ano. O mesmo relatório aponta uma taxa altíssima de homicídios. Dos 60 assassinatos de indígenas ocorridos no ano passado, em todo o país, 42 foram contra eles.

Na reserva de Dourados morreram no ano passado duas crianças por desnutrição, 24 foram internadas com desnutrição severa e outras 200 com desnutrição moderada. Lá está a maior concentração de indígenas do país. São cerca de 13 mil pessoas de três etnias diferentes - guarani-kaiowá, guarani-nhandeva e terena - em uma área de 3,6 mil hectares.

Quando os europeus aqui chegaram, os povos nativos somavam uma população de mais de cinco milhões. Hoje estão reduzidos a cerca de 730 mil. Como qualquer estudante sabe, o Brasil deve muito aos seus cidadãos indígenas, inclusive a proteção de suas fronteiras - contrariamente ao que as inverdades de ocasião e os preconceitos apregoam - e a preservação de importantes recursos naturais. Além de ter-se valido, ao longo de toda sua história, da sabedoria e dos conhecimentos tradicionais indígenas.
Não é mais possível que, em pleno século 21, os índios ainda sejam obrigados a se relacionar com o mundo dos brancos sendo tratados como inferiores do ponto de vista cultural, social e econômico e, não raramente, como estorvo.

Não há mais espaço para que povos tradicionais sejam tratados com um olhar arrogante de colonizador, que decide por eles o que deve ou não ser feito em relação a seus interesses e costumes. Não é mais possível tolerar que sua cultura milenar e seus direitos civis e humanos sejam espezinhados pela ganância, em nome de argumentos que não resistem a uma análise bem informada e honesta.

Os guarani-kaiowá foram os povos indígenas mais prejudicados, dada a rapidez e truculência com que suas terras foram tomadas. Sua resistência é comovente, mas sua luta não pode ser considerada um problema só deles. É nossa. Os direitos dos indígenas são também nossos direitos. Assim como o que acontece com eles nos atinge, nos degrada, denuncia a fragilidade de nossos planos de sermos uma potência mundial.

É preciso que os cidadãos de todas as regiões do Brasil pressionem, manifestem sua indignação. E que a Justiça, o Ministério Público, os governos estadual, municipal e federal, juntamente com a Funai, os próprios índios e outras instituições representativas, se empenhem mais na busca por uma solução definitiva.


Pois, é evidente, o que quer que tenha sido feito até agora não é suficiente e nem leva em conta que os índios não têm mais tempo para esperar por algo que parece nunca chegar: justiça. O que significa acesso aos recursos naturais, à preservação de sua cultura, além de direitos básicos à saúde, educação, segurança. Uma vida digna.


Afinal, sem respeito às suas populações tradicionais e uma atitude de proteção aos mais vulneráveis, não há país que possa se considerar desenvolvido. Isso é parte indissociável do verdadeiro desenvolvimento.

Marina Silva é professora de ensino médio, senadora (PV-AC) e ex-ministra do Meio Ambiente.

Ainda sobre beleza


"Meu caminho é cada manhã"

No seio da ancestralidade

Foto de Pierre Verger
Sob o silêncio do que habita o infinito Ori.
Linhas do mistério: a beleza como manancial e início da vida.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Cantiga vem do céu: anunciação


Maturação artística: o canto doce e afinado de carlos barros, acompanhado de sua banda do céu, chega ao mercado fonográfico baiano, com o belo e expressivo CD Cantiga Vem do Céu, um projeto amadurecido ao longo de dez anos, inspirado no melhor produzido pela música popular deste país, especialmente no trabalho dos Doces Bárbaros, tema da dissertação do também sociólogo e cantor aqui em questão. O moço é um ativista musical - canta com a alma e insinua, para qualquer um, a força de suas interpretações personais, altivas e inteiras. De novo: voz que se anuncia num trabalho de leveza, poesia, ritmo, talento e melhor, encantamento. Alcancem , vocês vão gostar!

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Tua


Pra'ocê
Como cartão postal anunciando um lugar. O peito na expectativa de uma viagem sem igual; sempre mais poética, sonora, física, intensa e lenta; dizeres de um mundo que dá certo. Viagem nova nos olhos antigos castanhos à música que liberta escravizando. Sempre a melhor forma da palavra que alivia no som que conduz. Fruições. Feitiço e mimo. Dança criativa das emoções.A força marcada na cor dourada da senhora das realizações artísticas. Tardes em audição amorosa. A eletrola ventando imagens noturnas de uma paixão inconclusa. Tudo em si se perdendo e já perdido. O único sentido: a voz de vitória na arte da mulher em produtos milagrosos. Depois de ouvi-la: precisa-se prosseguir neste exercício de não deixar doer de saudade. O eu como Tua.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Bethânia, Gal e Elis: síntese feminina da canção brasileira

Maria Bethânia

Gal Costa


Elis Regina



O Brasil é o país das cantoras. Emblematicamente temos a genial Carmem Miranda inicializando o estrelato de nossas musas da voz. Em seguida, nomes como Dalva de Oliveira, Maysa, Elizete Cardoso, Angela Maria, Isaurinha Garcia, Silvia Telles, Nora Ney, Alaíde Costa, Marlene, Emilinha Borba,Elza Soares, Clementina de Jesus, entre outras mais antigas e, entre as mais novas, Baby Consuelo, Rita Ribeiro, Jussara Silveira, Ná Ozetti, Monica Salmaso... Paixões como Adriana Calcanhotto e Marisa Monte; balanço como Daniela Mercury; a grande Virgínia Rodrigues; as novíssimas Mariana Aydar, Vanessa da Mata, Céu, Maria Rita e Dhil Ribeiro. O fenômeno Nana Caymmi, passando por Clara Nunes, Alcione, Angela Roro, Zizi Possi, Zezé Motta; chegando à minha Marina Lima encontrando-se com a eterna saudosa e única Cássia Eller. Também tem, na Bahia, Stella Maris, Juliana Ribeiro, Mariela Santiago, Ana Paula Albuquerque, Mariene de Castro, Cláudia Cunha, Rita Braz e a necessária Márcia Short - sem palavras! Todas na gigante expressão do canto feminino.
Aludindo tudo isso, reiterando, iluminando, fazendo nascer novas possibilidades, estão as três maiores cantoras deste país em todos os tempos. As vozes sintéticas da criação cantada no Brasil. As musas do alongamento musical em nós; as três que mais herdeiras geraram; as cantoras símbolo de nossa epifania musical:
o rasgo Maria Bethânia - a matéria viva da minha inspiração, minha tradução inteira e legítima! o maior artista do Brasil contemporâneo.
a voz Gal Costa - embalo doce do canto sagrado em minha memória; a voz mais delicada - diamante musical desenhando emoções.
Elis Regina - minha sofreguidão. Musicalidade e afinação absurdas. O canto mais criativo deste país.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Gal em Mãe, de Caetano Veloso

Gal
Esta voz - minha infância,adolescência - relembrando-me tudo o que eu quis ser:
Palavras, calas, nada fiz
Estou tão infeliz
Falasses, desses, visse não
Imensa solidão
Eu sou um Rei que não tem fim
Que brilhas dentro aqui
Guitarras, salas, vento, chão
Que dor no coração
Cidades, mares, povo, rio
Ninguém me tem amor
Cigarra, camas, colos, ninhos
Um pouco de calor
Eu sou um homem tão sozinho
Mas brilhas no que sou
E o teu caminha e o meu caminho
É um nem vais nem vou
Meninos, ondas, becos, mãe
E só porque não estais
És para mim que nada mais
Na boca das manhãs
Sou triste, quase um bicho triste
E brilhas mesmo assim
Eu canto, grito, corro, rio
E nunca chego a ti
Caetano Veloso
- Ninguém jamais cantará esta canção deste jeito, nesta dor, neste brilho saído de Gal Costa.

Mãe Stella: 70 anos de Axé!

FOTO: XANDO PEREIRA AGÊNCIA A TARDE


por Marlon Marcos*
Ela é neta de Aninha de Afonjá e filha de Mãe Senhora de Oxum. Por pouco não foi iniciada na liturgia do candomblé por Mãe Menininha do Gantois. É regida pelo senhor da fartura, patrono dos caçadores, o altivo orixá do azul turquesa: Odé, mais conhecido como Oxóssi. Maria Stella de Azevedo Santos nascida em Salvador, em 2 de maio de 1925, enfermeira de profissão, é hoje a sacerdotisa da religião dos orixás mais prestigiada no mundo.
A história desta mulher dialoga, representa e acende nossas memórias acerca dos principais acontecimentos sobre as práticas do candomblé na Cidade da Bahia. Mãe Stella foi consagrada ao seu eledá, orixá principal, em 12 de setembro de 1939, aos 14 anos de idade, no Ilê Axé Opô Afonjá, pela já lendária Mãe Senhora de Oxum. Neste mês da Primavera, Iyá Stella faz 70 anos de iniciação nos fundamentos religiosos desta religião civilizatória no Brasil: o candomblé.
E a Bahia para e reflete sobre a importância de se ter uma mulher negra no comando de uma espiritualidade ainda tão atacada, incompreendida e vilipendiada pela presença do racismo e da intolerância de ordem religiosa. Uma mulher que se escreveu na história do seu país afirmando a sua religião, organizando e ampliando a sua comunidade, educando, escrevendo livros, preservando nossa ancestralidade, respeitando os rituais sagrados que lhe foram confiados por suas “mais velhas” e, politicamente, exercendo seu sacerdócio dignamente sem abdicar de suas demandas existenciais.
Uma história que se conta para marcar as conquistas femininas no século XX, e mais ainda, referendar a força das mulheres negras da Bahia que, através do candomblé, deram identidade cultural ao nosso povo, nos livrando assim, da esquizofrenia social.
Hoje, aos 84 anos, Mãe Stella serve de modelo e imagem de movimento. Ao iniciar novos filhos, sob a égide sacerdotal das filhas de Obá Biyi, Mãe Aninha, ela amplia com qualidade o número de adeptos de nossa religião e nos faz crescer e permanecer lutando a favor do culto amoroso e sério a nossos orixás.
Toda vez que olho para ela, Mãe Stella, lembro-me de Simone de Beauvoir e do orgulho que a filósofa teria por pertencer a esta construção cultural chamada mulher, a qual a iyalorixá baiana tão bem representa. Sua bênção, Iyá Stella.
*Marlon Marcos é jornalista e antropólogo
(Artigo transcrito da página de Opinião do jornal A Tarde, 12.9.09 e do blog Jeito Baiano, de Jary Cardoso, em 13 de setembro de 2009).

O que esperar

Os dias para além daqui. Flores no caminho. Um cheiro de macaçá e manjericão aliviando a dor. As roupas reluzindo o branco sem lamento, límpido para o está de setembro em mim. Relato absoluto do que passeia refazendo a alma. Mudança. Novas cores, como o verde e o rosa, iluminando novas perspectivas. A letra se inscreve no sentido da escrita. Sobram palavras e a voz as cantam. Bem manhazinha. Sol banhando-se na Baía e o peito feroz em agradecimento. Setembro. Estar vivo. Escrevendo. Ternura no que me vejo com as flores do caminho agora em minhas mãos. A alegria ao meio e um vasto sabor de satisfação. Eu faço a minha diferença e dou carinho ao mundo. Bem manhazinha. Palavrinhas para não assustar e afugentar o novo. Minha força que não se me perde. As formas do encantamento.
É isso: há em mim a matéria do tudo especial. Eu sou um desenho de coisas matutinas esperando àquela noite sem morte. Recito meus versos secretos, peço, rezo abaixo do sol fitando o verde azul do mar em mim. Vivo. Carinhos e desejo. Festejo no corpo que percebe e faz outros perceberem. Escrevendo. Para ter sentido e munido do que me chega: escapar de dores e solidão.
Cada dia tem música, tem água, tem gente, tem filme, tem desenho, tem flores, tem nomes, tem perfumes, tem cansaço, tem trabalho, tem sono, tem aulas, tem textos, tem representações, tem orixás, tem luz, tem Nossa Senhora, tem Iemanjá... Tudo inclinando-se à poesia, razão maior do meu viver.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Adélia Prado/Elisa Lucinda

Elisa Lucinda
Adélia Prado

Sem ter muito o que dizer, o que fazer, só querer:

"A uns, Deus os quer doentes, a outros quer escrevendo".

Adélia Prado

P.S.: Para conferir na voz de Elisa Lucinda visite: http://www.saraivaconteudo.com.br/Artigo.aspx?id=100

De um mundo ao outro - Pierre Verger nos anos 30 : Palacete das Artes Rodin Bahia


Palacete das Artes Rodin Bahia apresenta exposição inédita de Pierre VergerO Palacete das Artes Rodin Bahia juntamente com a Fundação Pierre Verger, Cultures France, Aliança Francesa de Salvador e Secretaria de Cultura da Bahia apresenta: De um Mundo ao Outro – Pierre Verger nos anos 30. A exposição retrata o grande momento de transição pessoal e profissional do artista, responsável por influenciar a sua entrada definitiva no mundo da fotografia. Cerca de cento e oitenta fotos, 30 documentos originais, 11 reproduções grande formato e um audiovisual mostram como era o ambiente cultural-artístico vivido por Verger nos anos 30.
A mostra, que será exposta no Palacete das Artes Rodin Bahia e na Aliança Francesa, será inaugurada com um coquetel no dia 15 de setembro, e permanece aberta ao público entre os dias 16 de setembro e 18 de outubro. Já na Aliança Francesa, serão apresentadas algumas fotografias de Paris feitas por Pierre Verger especialmente para a Exposição Universal de 1937.A montagem da exposição, produzida pela Capim Rosa Chá, faz parte das comemorações do Ano da França no Brasil, celebrado em 2009. Esta celebração é uma das iniciativas dos governos do Brasil e da França, com o objetivo de aprofundar as relações nas esferas cultural, econômica e acadêmica entre os dois países, além de homenagear a ligação forte entre estas duas nações.
EVENTO: De um Mundo ao Outro – Pierre Verger nos anos 30
DATA: 16/09 a 18/10
LOCAL: Palacete das Artes Rodin Bahia e na Aliança Francesa de Salvador
ENDEREÇO: Rua da Graça, n° 292
HORÁRIO: terça a domingo das 10h às 18h (Palacete das Artes Rodin Bahia) e segunda a sábado das 8h30 às 21h e domingos e feriados das 14h às 21h (Aliança Francesa de Salvador).
VALOR: entrada gratuita
MAIS INFORMAÇÕES: 3117-6910
( Release produzido pela Texto & Cia, jornalista Camila Anjos)

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Doutora Stella de Oxóssi

Mãe Stella
Diplomada como Doutora Honoris Causa
A Bahia amanheceu ensolarada para fazer as nossas vidas mais azuis. Azuis em nome de algumas conquistas que são do nosso povo negro e de candomblé que vem, ao meio de tanto luta, desenhando uma nova história. Agora, pela Universidade do Estado da Bahia, Maria Stella de Azevedo dos Santos é Doutora Honoris Causa. A sacerdotisa que pesa em sabedoria , em senso político e que nos alimenta de Fé em nossos Orixás. Brava filha de Oxum Miwa, a lendária Mãe Senhora, e neta de D. Aninha de Afonjá, alta dinastia que tanto orgulho dá a todos nós.
Mãe Stella, filha de Odé, oriente azul turquesa, já era doutora nesta modalidade pela UFBA, acumula mais esse pela UNEB e garante reconhecimento intelectual a outras ramificações sociais. Ou seja, a partir dela, a Academia confere saber notório a intelectuais femininas não circunscritas no universo científico. A outorga foi lindíssima - pura emoção para quem , como eu, nasceu no candomblé. Ainda tivemos as presenças nobres da comunidade e do mestre Vivaldo da Costa Lima.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

09/09/09: Setembro

Eis que é chegado o encantamento. Um dia de balanço positivo no Universo e a mente apontando para a esperança. Vida brilha os olhos do querer e do fazer. Um tempo de iluminuras descrevendo o prazer de estar sendo. Duendes pela sala. Sereias no banheiro. Pássaros sobrevoando o céu do quarto. Da janela, unicórnios, besouros verdes, um colibri azul. Harpa tocada pela deusa Saudade. Vento leve dando asas. Fadas abençoando o pedido do coração. Flores amarelas e laranjas; crianças trazendo sorte. Um golfinho eu na palma da mão. Dança da orixá marítima mãe maior do eu pescador. Cantos caymmianos numa Bahia idílica, imperdível, adorada. Dança alva e azul do orixá da guerra em gotas de perfume amor. Oyá ventando cuidados na cena do trazer pra mim. Lua sobre rio, sol sobre mar: Oxum menina. Um pouco de paz. Luz na imaginação. O sabor de estar vivo. Beijo de desejo. Fome de arte. Paisagem desconhecida e linda. Uma camisa azul. Carta de amiga. Cerveja banhando a certeza da mais esperada chegada. Trem das Cores na voz de Bethânia. Búzios dando norte. Sextas-feiras e sábados. Maresia poética. Palvras escritas à caneta em papel. Fé. Manto de Nossa Senhora. Livro publicado.




terça-feira, 8 de setembro de 2009

Palacete das Artes: O engenheiro que virou maçã

Construções Compartilhadas


A partir do dia 10 até 13 de setembro de 2009, acontece a instalação cênica "O engenheiro que virou maçã", um espetáculo de linguagem múltipla que discute a coexistência humana e os possíveis sentimentos que nascem do convívio da gente. As visitações ocorrerão sempre das 18:30 às 21h., de quinta a domingo, no segundo pavimento da antiga mansão dos Martins Catharino, no atual Palacete das Artes Rodin Bahia. A entrada é franca e o espetáculo belíssimo!

Mãe Stella: Doutora Honoris Causa pela UNEB

Iyá Stella de Oxóssi


Depois da Universidade Federal Da Bahia, agora é a vez da Universidade Estadual da Bahia, a UNEB, reconhecer o valor intelectual de Mãe Stella de Oxóssi, iyalorixá do Ilê Opô Afonjá, que no dia 12 de setembro de 2009, comemora 70 anos de iniciação no Candomblé. O povo-de-santo em festa. No site da instituição:
"A líder religiosa e incansável defensora da preservação da cultura africana, Maria Stella de Azevedo Santos, conhecida como Mãe Stella de Oxóssi, receberá da Universidade do Estado da Bahia (UNEB) uma das mais raras honrarias da instituição: o título de doutor honoris causa.
A solenidade de concessão do título, aberta ao público externo, acontece no dia 10 de setembro, às 9h30, no Teatro UNEB, no Campus I da universidade, em Salvador."

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Uma noite



Era o quarto vulgar e miserável,
escondido no andar de cima da taverna
suspeita. Da janela avistava-se o beco,
um beco imundo e estreito. Lá de baixo,
vinham as vozes de alguns operários
que jogavam às cartas, divertindo-se.
Ali, num leito reles, ordinário,
eu tive o corpo do amor, desfrutei-lhe dos lábios
rosados e sensuais toda a ebriez -
tal ebriez dos lábios róseos, que ainda agora,
ao escrever, tantos anos depois,
nesta casa vazia, eu de novo me embriago.
Konstantinos Kaváfis

Das saídas

No intervalo entre o eu e o nada e o barulho da consciência. Melodia das constatações. Um dia com tanta gente na rua; data cívica e patriotas da violência. Armas em verde branco azul. Em terra em céu em mar.O livro demarcando a primeira fuga. Kaváfis doendo de amor na lembrança que não traz de volta algo melhor na vida. O miasma das calçadas ainda mais sujas: cocô de cavalos; eles mais leves e apreciáveis. Sorriso de crianças: um pouco de luz nessa manhã quase inferno. Tudo fechado e invasivo. Réstia das ordens que não se deve cumprir. Licença ninguém ouve, ninguém atende. Calor insuportável num jeito de ressaca sem bebida na noite anterior. Mal cheiro atacando a asma. Sem vento e sem notícias. Intelectuais chatíssimos dando o "Grito dos Excluídos", depois de algumas viagens, bebedeiras, gastos desnecessários, homofobia, sexismos, pilhagem, desrespeitos, corrupção, violência física, deslealdade, verborréias, infanticídio e... bobagens, muitas bobegens na órbita dos fedorentos da direita.
Outra fuga: ao longe olhos musicais trazendo As vitrines, de Chico Buarque, na voz de Gal Costa. Um pouco de soluço e a mão querendo fazer carinho. A imaginação mais poderosa do mundo. Tambores de uma cansativa civilização: a militar. Tudo que já se sabe. Nada que desaloja. Este dizer para dentro. Esta ousadia podada. As praças tomadas de indecência. Infantaria para proteção. Frugalidade analítica. Poder entorpecendo. Festa sem diversão. Muita gente. Embaralhos na historicidade. Intelectuais chatíssimos.
A terceira fuga é sempre a paisagem: Sol sobre o mar da Bahia com gente pouca banhando. Uma mulher pura poesia caminhando a favor das visões. Sereias da Bahia. Agora pouco barulho. A palavra Bahia assinalando a pobreza fora e dentro do texto. Tédio e agonia quando nos falta esperança. Escritos para nada. Falta no peito cantando. Tudo quase sem respiração. E a assertiva pede um tratado epistemolar. Cartas à mão. Pedidos desenhados com a alma das palavras. Sangue feito assinatura: corte da quarta fuga. Agora tudo sem velocidade.
O que era alma virou lama. A morte como derradeira saída.

sábado, 5 de setembro de 2009

Oxaguian,meu pai!


Cobre-me com suas vestes brancas e azuis e me põe certeiro nessa guerra da vida para que eu tenha Paz: Senhor de Mim.
***
Meu caminho é a duplicidade. Ambivalência e fragmentos que me fazem inteiro. Estas águas totais que me invadem. O ser Yemoja e Guian nos reflexos do ser que sou. Eu, filho de dois numa cabeça de Luz!
***
Ogum no meu destino: caminho de solução; partituras de todas as conquistas. A guerra e a paz! O que mata e proteje a vida. Espada na mão do meu Pai! Ogum, azul no branco do meu Pai!
***
Guian da minha vida, suas águas são as águas de minha mãe. Junção de energias; eu sou o misto de uma combinação equânime de forças naturais. Senhor da peleja que traz êxito e cria, fertiliza e dá ao mundo o alimento inhame - contínua energia que dança cortando os ares e me alivia e me refaz. Epa Babá !

Sábado

Da maior imagem da minha vida.
Águas fluidas limpas azuis.
Serenização na canção que não me sai.
O mundo se ventila e Nela,
Minha melhor comoção.


Traz


O sábado em instantes de conforto e paz
Dança na minha imaginação
E eu tenho e eu ofereço
Um mundo novo.


Fica


Guiando sua filha irmã Iansã
Para que Ela cumpra o destino
Do amor pousado nas mãos.


Maravilha


Vejo-Te da minha janela e o peito se aquece
Choro de alegria e beleza.
O mundo azul que me entorpece
É a segredação da Sua presença inteira
Nos pedaços da minha existência.

Mãe


Continuação divina de dona Diva,
Rainha do seu dia na minha semana,
Imagens que pinto com palavras
Memória da esperada vitória
Merecimento que nem sei em mim
Mas por ti
Me chega.


Rainha


Que dança com seus braços d'água
Nas marés floridas de setembro
No Porto da Barra.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Mais setembros: alma

Rubem Alves
" A alma, no seu lugar mais profundo, é uma cena de felicidade. Amamos um rosto ao ter a impressão de já havê-lo visto, muito tempo antes, 'antes de haver o mundo'( Fernando Pessoa). A vida é uma tentativa de completar a cena".

Mais setembros



É setembro. Então, só me resta a obrigação de acordar banhado de esperança. Criar um mundinho secreto e azul para que a beleza não me deixe. E minha alma voe na direção dos olhos que melhor a espelham. Olhos de ontem eternos no meu caminho. Olhos de flores por onde eu me derramo em lágrimas pedindo que volte. Olhos distantes e eu clamando presença. Renascendo a cada instante de trinta dias desenhados no carinho que me perfila.

Jura

Konstantinos Kaváfis

Neste poema, um muito da minha prática ( quero assim não):

A cada pouco jura começar vida nova.
Mas quando a noite vem com seus conselhos,
seus compromissos, com suas promessas;
mas quando a noite vem com sua força
(o corpo quer e pede), ele de novo sai,
perdido, atrás da mesma alegria fatal.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Por dentro da cultura


Deveria existir um Centro Cultural Banco do Brasil na Bahia, em Salvador. Para que tivéssemos acesso a tantas peças, recitais, shows, exposições e quando pagos, fossem baratos e democratizassem as manisfestações artístico-culturais. O da foto acima é do meu Rio de Janeiro, cidade que tem muito de difícil mas também, tem muito de possibilidade. Neste dia, 23 de agosto de 2009, estava indo assistir Simplesmente eu. Clarice Lispector, com Beth Goulart, e parei pra pensar a falta que esses lugares fazem a pessoas como eu. Loucas por arte. Apaixonadas e motivadas por criação. O mais que humano em mim. Igual ao amor transcrito de Ceatano Veloso. Um espaço grande assim, com gente, com povo frequentando. Clarice para todos e já!

No movimento da retroaprendizagem

O antropólogo Cláudio Pareira( meu mestre)
Antropólogo Marlon Marcos
Existem aulas, atividades pedagógicas que são verdadeiras festividades: alimentam a alma dando sentido ao que se quer exercer. Cheiro de liberdade. No dia 02 de setembro de 2009, no Solar do Unhão, de tardinha, eu e o professor Cláudio Pereira demos "aulas" às nossas "americanas" e nos reinventamos falando de identidades e identificações em nomes da MPB. Foi uma delícia. Aquela ambiência. As meninas atentas. As memórias da nossa música popular. O mar de aconchego. O corpo flanando. Teorias se praticando. A vida em mim no formato maior da antropologia. Mais que tudo: eu aprendi. Simples assim: conhecer nunca será melhor que pensar, ter ideias, inventar. Nunca. Eu me digo sim.

Oxum em setembro: amores dourados!


Para ter tempo de guardar e grudar em mim imagens da delicadeza: rosas amarelas perfumando a intacta memória do meu coração. Minha melhor. Olhos que não saem de mim.

Gonzaguinha


" Por favor,
Eu só peço que vocês que gostam de mim,
assim como eu aprendi a gostar de mim,
assim como nós devemos aprender a nos gostar e nos respeitar,
me ajudem no sentido de que,
eu não perca jamais aquela sujeira
da minha simplicidade"
Gonzaguinha
P.S.: Meu Deus, meus amigos e amigas, faço das de Gonzaguinha, as minhas palavras no sentido de oração. Amém.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Sobre Gil ( Música Falada)

Gilberto
É certo que, muitas vezes, o discurso de Gilberto Gil, cantor e compositor baiano, fica acima das recepções medianas e, outras vezes, confunde em seu "manuseio" verbal inusitado, numa mescla entre racionalismo e percepção comum aos grandes poetas. Ontem, a partir das 21:10, na Sala Principal do TCA, o bardo da Bahia, no Projeto Música Falada, desfiou a sua importância na cultura brasileira ao longo de mais de 40 anos, magnetizando seus espectadores com música e um discurso reflexivo bem acertado.
O senhor Tempo conferiu, de verdade, sabedoria à existência de Gil, e, ontem, o público presenciou outro grande momento na história do mestre. É isso: a noite de ontem foi histórica! Inesquecível. Dentro daquelas experiências que deixam na gente vontade de fazer a vida melhor acontecer; deixam na gente o movimento da criação.
Ao meio de tantos erros, perdas, ridicularizações, o nosso mestre canceriano, deixou sua marca maior: uma vida de realizações e impactos na história do seu país, tornando -se hoje, um dos maiores artistas vivos da música no mundo. Gil cala, em sua energia anciã, aquática, sábia, qualquer detrator. Simplesmente: mestre.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Gosto de Vida

Maria


É quase primavera e sempre brota gosto de vida nesse vento. Vento de esperança numa trilha sonora do coração. Vento afim da emoção que não pode cessar. Vento africano, iorubano: mãos abanando atiçando o ar e varrendo os desagrados. Voz rasgando o pensamento sem dor: o sol de toda manhã. Manhã de setembro na musicalidade de Maria Bethânia. Palavra apontada para aonde se quer chegar. Centro de um canto que traz Flores:



"Anima de vida o seio da floresta

O amor empresta a praia deserta zumbe na orelha, concha do mar

Ó abelha, boca de mel, carmim, carnuda, vermelha".




Sol e Mar nos dias daqui.