sábado, 28 de fevereiro de 2015

O instante é pra dançar

(Foto Dôra Almeida)


O instante é dança
O que me balança
Até o riso festejar.

O brilho da lua
Gangorra coração
Meus olhos cerrados.

Vida em sereno
Cantorias d'alma
Da janela minha...

{ Chuva no pensamento}

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

sem aspas

tantas figurinhas que recorto
e colo no branco papel
mas a poesia nunca me vê.

***

me comove,
e impele,
minha vontade de ser.

Em Igor Kannário: a velha forma carnavalesca de sempre!



Não tem jeito.
Essa esfuziante apologia à FAVELA SHOW de Igor Kannário não me convida. Pergunto-me se esse ocupar as ruas do povo baiano através do barulho gerado pelo gritador pode nos conduzir a tipos de diversão mais edificantes. Lembro-me do Chiclete com Banana atraindo as massas como rolo compressor e depois Bell Marques voltando para sua mansão na Graça...Tudo restando igualzinho. É careta se pedir por educação e se querer produtos musicais carnavalescos que nos façam um povo mais exigente?" Tire a camisa, tire a camisa - quem for FAVELA tira a camisa". Ele é um "fenômeno" porque é guiado pelo desejo catártico e começa a ser apropriado por parte dos empresários e políticos que assistem e se interessam pela força do seu discurso ideologicamente filiado às "favelas". Já entra o mercado e a voz de Kannário nos será representacional a favor de uma ordem social mais justa e menos violenta e menos desigual e mais instruída? Instrução educacional não conta? Quem defende aquilo livremente e pensa sobre o assunto ocupa lugares mais dignos e fora das ruas sujas de Salvador. Não acho que ele deva ser desconsiderado, nem tem como, mas me assusta ouvir Giberto Gil falar da legitimidade histórica dos Camarotes ( "sempre foi assim") e dizer que o melhor do Carnaval foi Tomate... Assusta-me o público antenado da Baiana Sistem com cara de: eu bebo água na casa de pobre, eu uso conta de orixá, eu falo e ando com gay, tenho muitos amigos pretos do gueto e se perfilarem como sabidos e exigentes...Mas o som da banda é lindo, resultado da presença doMicroTrio Carnaval em nossas ruas, mesmo que Gil e Caetano Veloso não consigam enxergar. Assustam-me a gritaria dissonante e as constantes ações de violência na caminhada do Kannário. Deve ser a REVOLUÇÃO que se aproxima e não será pela educação que tanto se estima. Deve ser. Um Carnaval da Baiana Sistem com um público insuportavelmente classe média e, do outro lado, o Kannário com outro público arrebentando-se violentamente, gerando um novo endinheirado que vai alimentar a indústria branca do Carnaval com a nossa estupidez nacional.
Como bom passadista que sou: me comovem as letras históricas do Ilê, o Ijexá do Gandhy, o trânsito socioeducativo do microtrio, a beleza da Rumpilezz, a força do Muzenza, a marca do Olodum, a trajetória do Malê de Balê, as perguntas gostosas da Mudança, a voz de Marcia Short, o avanço dos Negões, a presença criativa de Daniela, as invenções do Brown, a Timbalada sem cordas, Gerônimo e Luiz Caldas, Xanddy e o Harmonia Do Samba, a sofrência de Pablo, sei lá...
Não tenho a capacidade visionária de Caetano Veloso e nem a musical do mestre Gilberto Gil - mas se tratando de acompanhar Igor Kannário pelas nossas ruas, evito até do Camarote de Flora Gil, de onde certamente nossos idolos celebram o tempo da FAVELA SHOW, quando nem favelas deveriam mais existir.

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Billie Holiday e Maria Bethânia: grandezas do cancioneiro mundial!!!



É 2015...
E as paixões da minha audição:
Uma faz 100 anos de existência!

Outra faz 50 anos de carreira!
Ambas gigantes do nosso tempo.
Enlaçadas em Negritude...
E seladas pela eternidade!!!

abraço faltando

Abraço faltando

por enquanto,
minhas palavras
sem asas ao vento
e sem direção...


imersas nos olhos de lá
como alguém , ninguém
que tento segurar...


escritos volatéis
que se alimentam
de paixão,
e me afogam...


faço filme sem imagem
profunda narrativa encanto
para menino que foge


e danço...


feito filme autoral
do qual muitos falam
entendem mas
não me alcançam...


tempo da palavra vã
vagando como saco
em calçadas do desgaste...

naquele olho dele
o nosso sorriso
ralo como abraço
faltando.

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

disso

disso que tenho desenhado interno mas visível. disso que é mistério em delação. a coisa que é mas não funciona. oposições do sublime que só entardece. o toque etéreo, a imensidão. disso que grita quando eu quis silêncio. disso que é meu medo e eu cheio de coragem. disso que é abundância sem esperança e minha voz no outro sem voz em sonhos. disso que é sonho e eu sonho sonhos como sim. disso primavera e forte estio no frio fora de mim. disso blue em inglês na ponta do desejo. à espera. na ponta da língua que lambe discreta. disso que só sabe morar em mim. amor

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

O tempo de ouro de Maria Bethânia

(Foto: Margarida Neide/ Jornal A Tarde)



O vento


De lá, 1965, o grito do carcará; daqui, 2015, o doce entoar em pronúncias perfeitas sobre etnias indígenas que civilizam o território nacional. Hoje, o Brasil celebra os 50 anos de carreira da matriarca da canção brasileira. A senhora franzina que pauta beleza e simplicidade no cenário cultural deste país. A mulher que ensina com o canto minucias e delicadezas que estão em nós e, muitas vezes, bem esquecidas.

Hoje a Iara dança desguarnecida, livre, desatenta, em nome da festa que a canção popular nos traz. E sem vontade de ser destemida. Hoje é um tempo vermelho dourado da beleza nascida em Santo Amaro, na Bahia, mas que na forma de raio e pássaro conquistou o Brasil. As águas remontam uma história que revigora o estar de um mito. Um gênio feminino atirado ao campo artístico, ao educativo, ao antropológico.

A memória negríssima no poema de Fernando Pessoa, nos estimulando a ler, nos convidando a ver, nos fazendo agir, nos permitindo gozar. A memória guarida da palavra eleita para os sonhos que, como fogo, se obriga a transformar este país. E pra melhor. A história do impossível sonho que rasga o chão para que brote a rosa vermelha do deserto.

50 anos de esmerada carreira movida à paixão. Do teatro show Opinião até o centro do nosso Castro Alves, Maria Bethânia é o ouro que faz amanhecer este país, como se ela fosse a rosa do deserto de Cecília: “Eu vi a rosa do deserto/ainda de estrelas orvalhada/ era a alvorada”.

A alvorada é Bethânia recomeçando. Frente ao disco Ciclo dedicando a Seu Zezinho. Ela tocando o chão para saudar mãe Menininha. Ela reaprendendo Pessoa aos cuidados de dona Cléo.  Ela sendo analisada em um congresso todo seu feito pela Associação Rosa dos Ventos Bahia. Ela vista menina irmã mulher artista nas narrativas de Mabel. Ela derretendo-se de saudade de dona Canô, de Nicinha, de Fauzi Arap. E nunca desistindo.


Marlon Marcos é jornalista e antropólogo  email: ogunte21@gmail.com

( Publicado em Opinião do A Tarde, 13 de fevereiro de 2015)

Mais poesia:

Bethânia em dourado vermelho: 50 anos de arte!


Ela é uma voz ordenada a celebrar as belezas que criou.
Acenos para a música em canções que somos nós.
Dicção que formula sonhos e cala nossas agitações.
Mas ela não é e nem pode ser só paz.
É-lhe todo o belo o mais certeiro,
Dança baiana em dourado vermelho
Entre Oxum e Iansã ela rasga como ninguém
O céu quente do Rio de Janeiro.
Quase um canto francês à luz
Deste idioma a se melhorar.
Ela inflama plateias
E o seu voo é de águia
Mesmo que aquática seja
Esta mulher fenda dos ares,
Ela é água: rios e mares...
Sua guerra me assiste
Seu perfume sonoro absorve
Minha percepção
Controla o que ouço
Silencia-me a favor da temperança.
Um Brasil eterno se eleva ali
Na bravura daquele canto
Que eu também quero azul...
A sereia que dança
Lado da mesma criança
Sendo-me a senhora rainha
Que me acolhe no lugar da arte
Onde sempre eu quis existir.

Rio de Janeiro, 11 de janeiro de 2015

Há 50 anos nascia o canto universal de Maria Bethânia



Um dia, em uma entrevista, ela me disse: “obrigada por gostar do meu trabalho, um simples ofício de cantora popular. E que você se expresse com sensibilidade e inteligência, Deus o abençoe sempre”. Havia ali a presença toda sã de uma das maiores artistas que este país viu nascer e permanecer, falando com alguém que engatinhava, aos 33 anos, buscando a expressão como acadêmico entre a história, o jornalismo e a antropologia, usando como tema de pesquisa o talento fulgurante da cantora em associação às narrativas do orixá Oyá-Iansã.

A partir da pesquisa começada na Faculdade de Comunicação da UFBA, e ainda continuada no Programa de Pós Graduação em Estudos Étnicos e Africanos, no CEAO, passei a centralizar em mim os exemplos estéticos e intelectuais dados por ela. Tornei-a meu controle de qualidade para as coisas que me atrevo a fazer.

Maria Bethânia Vianna Telles Velloso faz nestes 13 de fevereiro 50 anos de oficializada e luminosa trajetória artística no principal cenário lítero-musical brasileiro. Uma cantora popular nascida na Bahia que ensina ao Brasil a ser brasileiro, que brada ao som da inconfundível voz possibilidades estéticas, saídas políticas, memórias, trajetórias religiosas, convivências étnicas, melhoras sociais. Ou seja, uma voz que escreve belezas e educa a favor de uma plateia nacional que seu talento merece conhecer.

São 50 anos desfiando os lugares mais límpidos da poesia, usando o som e a palavra para expressar a sua dilacerante inteligência que colore o seu comportamento e define a sua arte.  Inteligência e sensibilidade que alicerçam sua caminhada embasada em autodidatismos e a levam a fazer uma espécie de etnoantropologia deste país, que custa a se transformar em um lugar mais humano e igualitário no sentido das questões econômicas.

Bethânia é a beleza que esmigalha opiniões, pois transpõe as favoráveis e as desfavoráveis – a sua força inventiva somada à autopreservação e à vontade missionária por expressão, a conduziram ao posto de artista feminina mais importante do cancioneiro no Brasil. O amadurecimento do seu canto, aos 68 anos de idade, confere a nós brasileiros o privilégio de termos viva uma das maiores cantoras do mundo em atividade. A sua recorrência estética embeleza o mundo com as coisas mais simples e mais necessárias que temos no nosso cotidiano, e que podem nos traduzir identitariamente.

Inexplicavelmente, ela é poesia transfigurada em fêmea, mulher, cantora, brado, projeto, elucidação, silêncio... A artista que gera congressos, que atrai Omara Portuondo, que inspira poetas, desequilibra intelectuais, e melhor, singularmente canta o que se pede pra cantar.

Nota nítida é o estar desta menina que, dos seus quintais, elabora sonhos e paisagens e nos convida a participar. Uma mulher aquática destemida, dona dos ares, brincante, entreposto da emoção que dialoga com a razão de quem sabe ser gente e águia, esta sereia negra da voz matricial da Purificação.

A diva que diz: “ Chegar para agradecer e louvar o ventre que me gerou, o orixá que me tomou, a mão de água e ouro de Oxum que me consagrou”; e sai pelos palcos, clariceanamente, desafiando: “ tropece aonde eu tropecei, e levante-se assim como eu fiz”.

É esta a rosa do deserto de Cecília, a destemida Iara do amado Caetano, a principal discípula de Fauzi, a filha mais exemplar da minha majestade Oyá, o manancial da diversa beleza que trago para dentro da antropologia que faço.

Musa e mestra numa carreira longeva que está sempre recomeçando. 

Marlon Marcos é poeta e pesquisador aficionado da obra de Maria Bethânia.



segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Chegada



Disso feito homenagem de poeta: Indyara Ribeiro. Meu poema feito fotografia.

De olho nela


eu quero um poema de bolso

a voz de bethânia na cebeça

me fazendo ir a qualquer lugar.