quinta-feira, 31 de julho de 2008
Obrigado, ministro!
domingo, 27 de julho de 2008
Porto da Barra
Houve épocas em que no Porto aterrissavam vários artistas que lhe conferiam mais glamour, dentre os mais freqüentes estava Caetano Veloso. Considerada uma das praias mais bonitas do mundo, que consegue reunir em si a transparência de águas, em agradável temperatura, misturando-se ao clima quente do Atlântico Sul, e um tanto quanto preservada em relação à poluição presente em nosso litoral, não se pode conhecer a capital baiana sem visitar este local de inclinação bucólica e ao mesmo tempo, de forte expressividade histórica.
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quarta-feira, 23 de julho de 2008
Mãe Mar
Orixá ê
Eu vou ver onde ela está
Orixá ê
Orixá do mar
Orixá ê
Eu vou ver D. Iemanjá
Orixá ê
Agradecer-te a luz marítima que me impele,
A proteção que me orienta,
O consolo na alma que me indica caminhos,
O azul que me fascina.
Para me arrepiar de maresias e cânticos iorubanos
Fazer-me sonhar com Abeokutá,
Guiar-me a outros lugares,
Tirar-me daqui.
Para silenciar meu pensamento
A tua dança em minha alma
Ondas ondas ondas ondas
Acelerando-me de calma
Acometendo-me de prazer.
Para que me deixes, Rainha, em teu abrigo
Eu como teu filho dileto
Ouvindo teu canto de saúde.
Para quebrantar a inveja alheia
E me ver enxergar o horizonte em prosperidade
Seguir adiante, sonhar, gerar, fazer
Viver.
Para encarar a imagem negra da tua beleza
Desfiar palavras no alcance da poesia.
Para louvar-te Senhora Absoluta
Da minha história, do meu destino.
Para além de tudo do que vejo
Desejo, me lanço, desatino
Chegas a mim
Como Mãe fazedora da minha inspiração
Marcas da SORTE na minha pele.
terça-feira, 22 de julho de 2008
Memórias do Mar
Barato Total
Na voz de Gal Costa
Seria um desserviço cultural não destacar a interpretação de Gal Costa sobre a canção de Ana Coralina, Ruas de Outono, tema da novela Paraíso Tropical. Ana também gravou belamente sua canção. Mas, Gal...Sei não. A música é uma temática de esperança, ensaiada pelo encontro amoroso, uma balada, levinha, parecida com outras coisas já feitas por Ana. Mas, Gal...Sei não. É o frescor da voz de sessenta e um anos, aliás, o frescor de uma voz sem idade, só experiência...
E esta canção vai me condenar ao melhor de mim: esperança e amor!!!
P.S.: Meu queridíssimo cantor, senhor Carlos Barros, licença para falar da sua musa-inspiração, mais ainda, depois daquele texto, viu?
A voz doce dos ventos
Ela foi, junto com outros alguns, o 'boom' da nossa canção. Uma forma de desbunde, alicerçada em força criativa, em coragem, em contextualidade histórica, em talento natural. Sim, o canto, a voz, é o instrumento natural da baiana que evocou a cultura da Bahia e iluminou o Brasil com canções que marcaram o nosso destino como nação, como concidadãos, ou meramente, como amantes da Música Popular Brasileira.
Nos anos 70 do séc.XX, sua voz bravamente aguda em afinações cristalinas, transportou as mensagens que mais precisávamos para compor Arte e Protesto, inventando entre letras e comportamentos, uma forma mais fresca e vibrante de existirmos no Brasil durante a Ditadura Militar.
FATAL, CANTAR, CARAS E BOCAS e TROPICAL, podem representar o inquantificável talento de Maria da Graça Costa Penna Burgos, a nossa eterna Gal Costa.
Modelo- de muitíssimas críticas, excrachadas às vezes- mas ímpar na sonoridade divina do seu canto, motivo de orgulho profundo não só de baianos bairristas, mas de todos os brasileiros.
Em 26 de setembro de 2005, essa voz faz 60 anos existindo entre safras e entressafras, percorrendo uma trilha que fez dela um dos nomes mais importantes da canção brasileira em todos os tempos.
faz 60 anos relançando-se para os brasileiros através do cd HOJE, pela gravadora Trama, sendo dirigida e produzida musicalmente por César Camargo Mariano e cantando num formato que indica a jovialidade de sua voz somada aos anos de experiência de quem fez da vida uma sinfonia diária.
Maior que qualquer disco, exitoso ou não, é o nome e a presença de "Gracinha",
musa de qualquer estação reaprendendo a fazer ouro com a voz diamante que o Universo lhe concedeu.
Portanto, brava Gal sempre! canta, canta, canta sonorizando o percurso dos ventos com a doçura maior da sua VOZ.
segunda-feira, 21 de julho de 2008
Canção
Hilda
A sombra, o sonho, o labirinto, o caos
A vertigem de ser, a asa, o grito.
Que mitos, meu amor, entre os lençóis:
O que tu pensas gozo é tão finito
E o que pensas amor é muito mais.
Como cobrir-te de pássaros e plumas
E ao mesmo tempo te dizer adeus
Porque imperfeito és carne e perecível
E o que eu desejo é luz e imaterial.
Que canto há de cantar o indefinível?
O toque sem tocar, o olhar sem ver
A alma, amor, entrelaçada dos indescritíveis.
Como te amar, sem nunca merecer?
(Da Noite - 1992)
Um anjo sobre mim
e parecia ser o amor.
Era quimera.
...
figurava estar sentado.
A cabeça era magra
coberta de cachos
junquilhos
de onde o sol jorrava.
mantidas fechadas
tocavam o chão
longas emplumadas
o corpo intangível.
...
Seus olhos
castanhoverdecinzadourados
escarlates me olhavam
como se fossem
desde sempre
a límpida palavra.
...
e assim se apresentava.
Entre os ciprestes e o cedro
domingo, 20 de julho de 2008
Mar de amor
Hilda Hilst
Enquanto faço o verso, tu decerto vives.
Trabalhas tua riqueza, e eu trabalho o sangue.
Dirás que sangue é o não teres teu ouro
E o poeta te diz: compra o teu tempo.
Contempla o teu viver que corre, escuta
O teu ouro de dentro.
É outro o amarelo que te falo.
Enquanto faço o verso, tu que não me lês
Sorris, se do meu verso ardente alguém te fala.
O ser poeta te sabe a ornamento, desconversas:
"Meu precioso tempo não pode ser perdido com os poetas".
Irmão do meu momento: quando eu morrer
Uma coisa infinita também morre.
É difícil dizê-lo:
MORRE O AMOR DE UM POETA.
E isso é tanto, que o teu ouro não compra,
E tão raro, que o mínimo pedaço, de tão vasto
Não cabe no meu canto.
Canção para ninar Lorena
Só para te lembrar (em público):
Vamos chasquear o tempo:felizes,agora!
Vamos sim ao sim:escancarar a aceitação.
Vamos sóbrios de cerveja e chocolate.
Vamos por amizade: um selinho na boca.
Vamos absurdos,amorosos,fílmicos como em "PLATA QUEMADA".Amor marginal desmedido.
Vamos dizer porra ,eu quero você! Se não der. A gente espera.
Vamos de amarelo e azul.Flores no jarro e vela para Nossa Senhora. Fé.
Vamos até onde der...Quando cansarmos,Ana Carolina e Chico nos descansam.
Vamos crianças molhar 'de noite' os pés nas águas do Porto da Barra.
Vamos nos presentear,eu te dou 'Mônica Salmaso' e você me dar 'Lenine'.
Vamos aprender a tocar:piano ou violão,sax ou atabaque, nem que seja na imaginação. Vamos dar uma festa:guaraná,bolo,bom bom,chiclete (sem banana),chá, nescau, mingau e seresta.
Vamos ouvir com os amigos: Norah Jones, Joss Stones e Beatles.
Vamos levantar poeira:copiar um cd com as melhores de Ivete Sangalo.
Vamos construir uma mandala com as cores da nossa emoção.
Vamos caminhar 'maduramente' pelo dique sem pressa, sem corrida.
Vamos sonhar acordados,contando com a aparição do pássaro azul da sorte.
Vamos adentrar o mar:com frio ou não.
Vamos eu com seus olhos e você com os meus: a cena das palavras bonitas:SEDUÇÃO.
Vamos nos dizer "eu amo você" nas rádios na 'Hora do Brasil'.
Vamos desenhar casinha,dançar Madonna,ler Hilst e Lorca...ceder.
Vamos ser eu e você:conversas com a sorte!
Vamos,te espero.
Sorria... Hoje é dia da arrumação.
E nós,estamos lindamente vivos!!!!!!!!!!!!
COM MUITO AMOR
DURMA BEM...
Pôr- do-sol no Porto da Barra
quinta-feira, 17 de julho de 2008
Tiganá Santana: Porque é preciso chegar
Um trabalho vinculado à sinceridade de quem se dedica a pesquisar música, compor, cantar, inscrito em projetos conceituais que se apresentem à Bahia e ao Brasil, como possibilidade de uma estética que traduz parte do povo baiano e, ao mesmo tempo, segue dialogando com produções musicais outras, espraiadas pelo planeta, que tocam e inspiram a criação do artista aqui em questão.
(Publicado no Terra Magazine em 17.07.2008)
Caetano Veloso
"Atiro a rosa do sonho nas tuas mãos distraídas"
Quereria...
Olhar de frente o sol, sem franzir a testa, sem sentir agonia, sem temer o risco, sem ficar cego.
Olhar para o que é dia e de frente a mim alcançar a POESIA.
Olhar o translúcido estar das cores em todas as coisas que há e reinventar um nome para a idéia do que é tempo.
Olhar o vôo da águia na clareza das águas de um rio que passa na morada do sonho, e sob a égide da força, criar beleza tal como liberdade ou borboleta.
Olhar o rugido do leão em seu diminutivo, sancionar a pena do prazer no barulho repetitivo da canção.
Olhar o sorriso descrito no manuseio do violão, erguido na leveza daquele olhar a expressar na cara-menino o íntimo instante da alegria.
Olhar os caminhos de rugas seduzindo adolescências de quem precisa descobrir a vida.
Olhar acima do tombo dos anos passando, pensando no mágico charme da experiência.
Olhar o balanço do corpo-poema em dissonância percussiva; corpo à toa, molhado de imaginação, enxuto, guardado, usado... Solto porque carnavalizado.
Olhar do silêncio do pensamento a sombra do pensamento que não há.
Olhar a nascente daquelas palavras feito músicas, hinos, um país.
Olhar o todo e o quase-escondido, o desatino aliviando a racionalidade.
Olhar a destreza, mãos da delicadeza compondo a emoção e fingindo, fingindo pessoanamente.
Olhar de frente o medo, o perigo, o sumiço, o vazio na falta que já faz...
Olhar de frente a coragem, as conquistas, as marcas, a perenidade histórica na arte de uma nação.
Olhar o anonimato, o despir-se no banheiro, a nudez ao espelho, a quebra de segredos e o rosto a chorar.
Olhar a voz trazendo comoção.
Olhar o destino. A longevidade.
Olhar o abraço nos braços estendidos, na calma do encontro: desenho longínquo.
Olhar e mapear a vontade, em cada ponto, em cada canto, em toda extensão do que se faz o que se vê.
Olhar o desejo.
Olhar...
Viver.
Só Assumo Só
Ao som do Alujá
Afonjá: 97anos a serviço de Xangô
A iyalorixá faleceu em 1967. Em seu lugar veio mãe Ondina de Oxalufã, de nome religioso Iwintonã, que reinou naquela casa de 1968 até 1975, quando veio a falecer.
quarta-feira, 16 de julho de 2008
Vozes da memória
terça-feira, 15 de julho de 2008
Casa do silêncio
Agruras da aprendizagem
Luiz Melodia - meu Pérola Negra
Menino sem juízo
segunda-feira, 14 de julho de 2008
Menino Deus
Extraído do show Drama 3°Ato - 1973- Maria Bethânia
Acontece para além da presença: ele é um signo pronto para a minha compreensão.E me ocupa a sala.Toma conta do meu sofá, me rende ao instante, controla minha leitura, aborrece o meu livro, viola o cd que escuto, não me despe, mas me retira de outras memórias; domina meu pensamento.
Senhora dos Céus de mim
Mãe profunda dos Céus
Senhora do meu conforto e alegria
Aceno da esperança que não desiste de mim.
Rainha – que aquece e governa com amor.
Idéia maior do amor em mim.
Minha serenidade e segurança.
Abrigo das verdades que desejo.
Sossego inteiro, carícia certeira.
Grandeza do feminino e azul.
Minha noção de felicidade.
Doçura e liberdade.
És o que vejo na Senhora
Vidas em confiança
Prazer em existir.
Mãe do silêncio noturno
Vigor do amanhecer
Louvo-te com lágrimas
E vos sorrio assim:
Maria, baluarte nos meus caminhos!
domingo, 13 de julho de 2008
Bethânia celebra o mar e a poética portuguesa
Louvação a Oxum
Mãos
Turquesa
Mar Revolto
Lua
Ausência
sábado, 12 de julho de 2008
Dançar com você
E ter um pouco de luz vermelha
Fazer calor, ceder doçura
Amanhecer.
Para cantar junto do lado da janela
Opostos e unos - sermos
Únicos a ver o pássaro dos trópicos
Azular os olhos do querer...
Acontecer,
Maior que frio
Tão igual calor
Acontecer.
Da janela com os olhos do mar
Em nós!
Marlon Marcos
Amado
Vanessa Da Mata
Composição: Vanessa da Mata
Como pode ser gostar de alguém
E esse tal alguém não ser seu
Fico desejando nós gastando o mar
Pôr-do-sol, postal, mais ninguém
Peço tanto a Deus
Para esquecer
Mas só de pedir me lembro
Minha linda flor
Meu jasmim será
Meus melhores beijos serão seus
Sinto que você é ligado a mim
Sempre que estou indo, volto atrás
Estou entregue a ponto de estar sempre só
Esperando um sim ou nunca mais
É tanta graça lá fora passa
O tempo sem você
Mas pode sim
Ser sim amado e tudo acontecer
Sinto absoluto o dom de existir,
Não há solidão, nem pena
Nessa doação, milagres do amor
Sinto uma extensão divina
É tanta graça lá fora passa
O tempo sem você
Mas pode sim
Ser sim amado e tudo acontecer
Quero dançar com você
Dançar com você
Quero dançar com você
Dançar com você
Onipresença amadiana
Madonna
Réquiem para a saudade
Clara marca de algum silêncio. O meu pensamento a vagar pelas ruas de Porto Alegre, meus olhos a piorar o que vejo na Cidade da Bahia; menos o Mar. Clara marca de algum barulho e eu a me perguntar: o tempo esfriou de novo? Tantas coisas por dizer e até eu de coragem me calo... O amor nessa sua sombra de mim, martelando a vontade de outro lugar no corpo, na alma, no espaço. Prendo-me na tela da tv: novela das nove: Camila e Fred têm que ficar juntos: o que haverá de ser: um tipo de saída da realidade que me deixa na liberdade inócua desta minha cidade.
Quero-me na imensidão de uma canção do Djavan: Infinito. Perdido por alguém e sentindo o banho de alegria que a saudade faz existir, quando se sabe da proximidade deste alguém. Proximidade aérea e transacional. E melhor, marítima como água do sentimento que perpetua o encontro de dois. Um cheiro forte de pimenteira na minha janela e eu me perguntando: o tempo esfriou de novo? Beatles e essa minha incompetência, alhures estarei a sonhar nos cafés de Paris, ou quem sabe, em alguma sala de aula do Museu Nacional: o nome do que científico em mim só pode ser ANTROPOLOGIA. Olho no olho. Alegria. Encontro de dois. E minha memória chorando. Entradas para a pior das saudades. E escrevo no sentido da sedução.
E ela está aqui. O livro do Caio F. nas mãos, a fala gaúcha sem fala, uma conta de Ogum, os olhos na poesia Rabinovitz, o começo de uma nova caminhada, Salvador como acorde de esperança e abrigo. Um toque furtivo do braço e um vento diurno aquecendo o coração. Infinito: idéia e canção. Transmutação do corpo. Meu diário de gosto de tudo que foi a bordo da nossa viagem.
Clara marca de alguma saudade perfilando uma não despedida.Uma pintura menor, um filme maior, uma canção na voz de Billie; Marina Lima, meus cacos Renato Russo, minha salvação Bethânia, menos palavras, mais poesia, e tudo que se fala melhor do silêncio e da força do olhar. Hoje é dia.
Billie: réquiem para a saudade. O inglês que não tenho.O que sinto maior que linguagem. Fantasia: “a rosa mais linda que houver/para enfeitar a noite...”. O dia.
Meu coração é ensolarado, conserva-se em suas águas plácidas, ilumina-se de partículas de amor que sentiu por todos e todas, contempla a noite enamorando-a, mas é inteiro dia. Ensolarado em suas curvas e estradas e pedinte da constante poesia que cata ao chão da emoção que me traz vida.
O tempo esfriou de novo? Tudo que há em mim dialoga com a saudade?Até Salvador deixou de ser?Por que só tristeza me embala quando a maior cantora do mundo sibila sua dor em inglês?O Infinito do Djavan e Quase Sem Querer da Legião?
Meu mundo e minha cena são carinho! E me afago de mim para me dar com ternura e invalidar distâncias sem desrespeitar saudades que me inspiram de amor e bobagem e me ponho a escrever.
Queria saber dizer.Do lugar da minha infância por onde nada mudou. Intacto dizer. Das flores que carrego no jarro corpo meu de cor azul. Clarinho, clarinho. Dizer que a saudade não me consome, ao contrário, me alimenta a devolver fluidos de querer a tod@s que me arrebatam. Saudade me impele a persistir e a desenhar em mim os instantes, mesmo que só imaginários, de nada que se aparta e são “horinhas de descuido”. Minha felicidade.
O tempo esfriou de novo. E nada de degelos. Quero-me gaúcho abaixo de zero e estar lá para falar das entradas e saídas que esculpem a minha vontade de dizer: vem pra cá, viu? Meu coração é ensolarado e de maresia baiana. E Bethânia é a minha salvação.
HH
"Prelúdios-intensos para os Desmemoriados do Amor" - (Hilda Hilst)
I
Toma-me. A tua boca de linho sobre a minha boca
Austera. Toma-me AGORA, ANTES
Antes que a carnadura se desfaça em sangue, antes
Da morte, amor, da minha morte, toma-me
Crava a tua mão, respira meu sopro, deglute
Em cadência minha escura agonia.
Tempo do corpo este tempo, da fome
Do de dentro. Corpo se conhecendo, lento,
Um sol de diamante alimentando o ventre,
O leite da tua carne, a minha
Fugidia.
E sobre nós este tempo futuro urdindo
Urdindo a grande teia. Sobre nós a vida
A vida se derramando. Cíclica. Escorrendo.
Te descobres vivo sob um jogo novo.
Te ordenas. E eu deliquescida: amor, amor,
Antes do muro, antes da terra, devo
Devo gritar a minha palavra, uma encantada
Ilharga
Na cálida textura de um rochedo. Devo gritar
Digo para mim mesma. Mas ao teu lado me estendo
Imensa. De púrpura. De prata. De delicadeza.
II
Tateio. A fronte. O braço. O ombro.
O fundo sortilégio da omoplata.
Matéria-menina a tua fronte e eu
Madurez, ausência nos teus claros
Guardados.
Ai, ai de mim. Enquanto caminhas
Em lúcida altivez, eu já sou o passado.
Esta fronte que é minha, prodigiosa
De núpcias e caminho
É tão diversa da tua fronte descuidada.
Tateio. E a um só tempo vivo
E vou morrendo. Entre terra e água
Meu existir anfíbio. Passeia
Sobre mim, amor, e colhe o que me resta:
Noturno girassol. Rama secreta.
sexta-feira, 11 de julho de 2008
Maria Bethânia
Maria me vem na forma de água para criar vida. Depois queima e nos faz queimar. Caminha sobre a terra dominando este elemento; é um tipo de vento figurando as folhas – e quando canta, sua forma animal transmuta-se em estrela – e brilha.
Brilha para seduzir magneticamente o meu olhar – que se afeta e se enxerga na tradução não-linear que ela faz do nosso povo e nos inscreve no desenho multicor da sua emoção.