quinta-feira, 17 de julho de 2008

Caetano Veloso



"Atiro a rosa do sonho nas tuas mãos distraídas"


Quereria...

Olhar de frente o sol, sem franzir a testa, sem sentir agonia, sem temer o risco, sem ficar cego.

Olhar para o que é dia e de frente a mim alcançar a POESIA.

Olhar o translúcido estar das cores em todas as coisas que há e reinventar um nome para a idéia do que é tempo.

Olhar o vôo da águia na clareza das águas de um rio que passa na morada do sonho, e sob a égide da força, criar beleza tal como liberdade ou borboleta.

Olhar o rugido do leão em seu diminutivo, sancionar a pena do prazer no barulho repetitivo da canção.

Olhar o sorriso descrito no manuseio do violão, erguido na leveza daquele olhar a expressar na cara-menino o íntimo instante da alegria.

Olhar os caminhos de rugas seduzindo adolescências de quem precisa descobrir a vida.

Olhar acima do tombo dos anos passando, pensando no mágico charme da experiência.

Olhar o balanço do corpo-poema em dissonância percussiva; corpo à toa, molhado de imaginação, enxuto, guardado, usado... Solto porque carnavalizado.

Olhar do silêncio do pensamento a sombra do pensamento que não há.

Olhar a nascente daquelas palavras feito músicas, hinos, um país.

Olhar o todo e o quase-escondido, o desatino aliviando a racionalidade.

Olhar a destreza, mãos da delicadeza compondo a emoção e fingindo, fingindo pessoanamente.

Olhar de frente o medo, o perigo, o sumiço, o vazio na falta que já faz...

Olhar de frente a coragem, as conquistas, as marcas, a perenidade histórica na arte de uma nação.

Olhar o anonimato, o despir-se no banheiro, a nudez ao espelho, a quebra de segredos e o rosto a chorar.

Olhar a voz trazendo comoção.

Olhar o destino. A longevidade.

Olhar o abraço nos braços estendidos, na calma do encontro: desenho longínquo.

Olhar e mapear a vontade, em cada ponto, em cada canto, em toda extensão do que se faz o que se vê.

Olhar o desejo.

Olhar...

Viver.

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