sábado, 12 de julho de 2008

Onipresença amadiana


Em 10 de agosto de 1912, nascia o escritor grapiúna mais conhecido da literatura brasileira, o homem que se consagrou como o escultor da idéia mais promovida que se faz em torno das possíveis identidades baianas, o cronista de um tempo que, em sua linguagem poética e coloquial, derrubou fronteiras artísticas, e do âmago da sua escrita impôs o seu olhar traduzindo o que ele mesmo chamou de “a alma de um povo”. Seu nome é Jorge Amado.
Se estivesse vivo, Jorge teria completado 95 anos, com a marca de ser o escritor do Brasil mais traduzido em todo mundo. E de ter sido o responsável, no âmbito da arte, por despertar o interesse artístico, cultural e científico de importantes intelectuais espalhados pelo Ocidente, sobre o velho (hoje considerado por muitos como ultrapassado) mote da mítica baianidade litorânea, corporificada territorialmente pelas regiões que compreendem Salvador e o Recôncavo da Bahia.
Sua obra foi utilizada por outros meios comunicacionais, gerando novelas, películas cinematográficas, canções, esculturas, pinturas e estudos, exaustivos estudos crítico-literários voltados, em sua maioria, à tentativa de desqualificar o valor da obra amadiana como uma literatura à altura dos cânones brasileiros representados em nomes como Machado de Assis e Graciliano Ramos.
Jorge se consolidou como escritor ora íntegro ao título de grandeza, ora visto como o antecessor de Paulo Coelho, ou seja, popular, bem vendido, uma fábrica de palavras prontas a erigir “torpes estereótipos”, num texto vazio e repetitivo.
Mas ele foi e é maior que tudo isso. Um vetor de muitas comunicações que se espojou na cultura popular soteropolitana, pisando no chão, vivenciando uma realidade social nos anos 30, 40, 50, 60, 70, que muitos dos seus críticos não têm coragem de conhecer até hoje. Ele se abandonou ao mundo dos negros, e numa escrita simples, sem os ininteligíveis floreios, registrou num misto de poesia, etnografia, crônica jornalística, os meandros de um mundo saturado socialmente, mas promotor da identidade que perfila em hegemonia os traços diacríticos que nos diferem de outros lugares no Brasil: a herança cultural afro-baiana.
A força da sua literatura repousa na graça expressiva de um texto que pode ser alcançado por todos, numa linguagem que se inventa e nos invade por vias que se misturam à percepção e à intelecção, num entender que se define como corporal, inteiro, vivificante, e não meramente cerebral.
Cheio de estereotipias sim. Mas qual a literatura que não as tem? Será que Capitu além de imagens arquetípicas sobre a transgressão feminina, não serve também como o estereótipo atemporal da mulher como símbolo da traição?
O amado Jorge nos deixou em 06 de agosto de 2001. Até hoje guardo na memória o impacto de Capitães da Areia, que li nos meus doze anos e comecei daí a amar mais que tudo a palavra literária, descobri outras, mas ele se incrustou na minha memória afetiva, e como sentencia Adélia Prado: “o que memória ama fica eterno”.

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