segunda-feira, 7 de julho de 2008

Sob a chuva de Salvador?

O vento abre a porta trazendo chuva e lamento para as faíscas gastas da memória. Amplia o olhar de solidão sobre a idéia de solidão que se tem. O céu travestido de cinza – um estado de mornidão pior que sepultamento – desmagnetizando a vontade e a coragem de prosseguir. A natureza explicando o sentido dos invernos. E chuva. Vento frio. Calmaria e banho morno.

Desgosto. O tempo como transposição da alma, reflexo de um interior humano. Cansaço e preguiça. Um nome visto a distância para formular uma união. Corpos separados numa mente que junta esperança e escrita. Linhas diárias como fios invisíveis de aproximação. A marca do nada na tradução da chuva caindo lá fora.

Vozes sem música e sem identidade aprimorando o vazio de se existir... Pensamentos incongruentes, mas vorazes, reluzindo a esperança que está morta. Um olhar sisudo da janela sem foco nem direção, batuque sem dança e a fala criança ansiando resposta em um celular. O corpo tenso, estagnado, sem frio nem calor; coisas da paisagem do quase que nem saudade sabe sentir. As horas que não passam e batem forte, alavancam para o desespero e este, também não vem. Tudo é sofreguidão e lento munido de sim à espreita do não. Tudo é quase – o mundo visto por fotografia. Restos de café sobre o papel e sobre a atenção. Uma camisa cinza de botão o cheiro do olhar no gosto do toque da boca que ri sem mim. Trancar a vida – chique – Ronnie Von. Desaparecimento sem despedida. A noção de vida sem abrigo no próprio corpo. Inverno é assim?

O vento, sem tempo, agora, fecha a porta e piora o pensamento. Tempestade cruel que não mata, só fere em dígitos de muitas perguntas que nunca terão respostas e tem que ser assim. Monólogo sem inspiração. Invalidade do bem fazer. Fugacidade. Essa tarde há de passar. A camisa molhada de chuva e sem lágrima. Mágoa? Vazio. Destino de alguém posto a caminhar no glacial do próprio pensamento. A mais bela cor é cinza areia e revela a tristeza com sabor. O vento de dentro piora tudo e não escapa. Não consegue. Marulho de chuva batendo na janela fechada. Opacas sensações de antigas e inúteis felicidades. Risadas como trovoada. Rasgos da memória e espelhos quebrando. Fogos de festejos juninos. Deve ser nordeste e Brasil. Marcas de tecido africano. Tem maresia. O cheiro do suor na camisa cinza molhada de chuva e de desejo. Então há? Desejo.

Outros escritos se esfarelam sobre o colchão: “Minha alma tem o peso da luz”, “Minha alma pesa como pesa uma ausência. E a lágrima que não se chorou tem o imaterial peso da solidão”. E mais chuva ventando estagnação e o tortuoso cinza de fora incrementando o límpido cinza de dentro. Farelos da grandeza alheia. Sonoridades da chuva. Conta-tempo. Contra-gotas. Água queimando em letargia. Reflexos sem imagem à luz do melhor castanho. Idas sem vindas em uma vida trancada, pela chuva, num apartamento.

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