terça-feira, 15 de julho de 2008

Agruras da aprendizagem

Qualquer aprendizado se erige de alguma ou muita dor. E ainda assim, aprender é a melhor das condenações humanas. E da correnteza que nos trazem dores e saberes, advém também, a consciência do que escolhemos ser como indivíduos e como coletividade; atuando ativa ou passivamente, de modo reflexivo ou aleatório, delicado ou belicoso, somos frutos de ações culturais e em todas as esferas de decisão em que somos colocados, é a qualidade do que aprendemos que garantirá a liberdade de expressão que tanto buscamos, evitando assim os embargos, as manipulações, as imposições verticais, o autoritarismo, as negligências e a vontade de muitos em nos tornar homogêneos a favor de seus modelos de sociedade.

A Bahia – esse eterno mote de louvações, às vezes vazias, outras amadianamente poéticas – rebate-se em propostas de intelectuais e artistas, políticos e populares, que tentam demarcar um perfil que configure um “rosto baiano”; muitos se alimentam da idéia de baianidade marcada de africanidades, de negritudes insurgidas e inventadas no seio do nosso povo, amalgamada de elementos lusitanos, que artisticamente ganhou texto e voz em Jorge Amado e Dorival Caymmi; outros reivindicam a baianidade sertaneja; outros pedem o diálogo entre as “bahias” do sertão, do recôncavo, do sul do estado. A tematização mais desgastante fica por conta daqueles que desejam uma Bahia “caymmiamadiana”, que ficou no passado, que vingou em Salvador e no Recôncavo e nas campanhas publicitárias e turísticas que nos venderam ao mundo na enterrada era carlista.
Na ânsia deste nosso aprendizado como povo, nós que quando não somos incensados com a nossa auto-estima, somos massacrados por olhares perversos e daninhos de intelectuais como Millôr Fernandes, que nos acusa de bárbaros narcisistas, e ainda “in loco” somos obrigados à algazarra de uma infrutífera discussão sobre cultura popular e cultura erudita da (?) Bahia, trilhada em grande parte pela “paladina” da alta cultura em nossas plagas, a senhora Silvia Athayde, diretora do MAB, cansada de viver em uma cidade “tragada pela cultura popular”.
Como é bom aprender mesmo que doa. Saber de Viena, Paris, Sevilha, Amsterdã, Lisboa; saber que a cultura circula e o conflito entre popular e erudito é mais sócio-econômico que funcional. E mais importante é saber da gente, da nossa vocação, do que aprendemos a fazer com maestria, sem desprezar e sem desaprender o que “los otros” ensinam. Como é bom saber das nossas contradições: Aninha Franco chamando museus de lugares mórbidos para sugerir (brilhantemente) um museu da música da Bahia, Ivete cantando para o mundo dançar e falando mal de leitura; Claudia Leite reinventando com o título de cantora o posto que foi ocupado por Carla Perez.
E se quiserem aprofundar os nossos escopos culturais, tão perto temos o criticado Caetano Veloso, eruditíssimo como poucos, e o melhor entre todos os populares. E como a vida é um porvir, na Bahia, temos Tiganá Santana e Virgínia Rodrigues, emblemáticos ao derrubar as fronteiras entre erudito e popular.

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