domingo, 27 de julho de 2008

Porto da Barra


O cenário de águas calmas e mornas, com vistas para a ilha de Itaparica, centralizado na Baía de Todos os Santos, ladeado por construções históricas datadas do século XVII, expondo, às tardinhas, um belíssimo pôr-do-sol, indica a praia do Porto da Barra como o tesouro natural mais apreciado por baianos e turistas, neste balneário chamado Salvador.
A prainha é considerada por muitos “uma piscina de águas salgadas”, e sempre foi motivo de orgulho, em décadas, dos moradores do bairro da Barra, que viam no Porto um tipo de conforto e status, ao freqüentar as delícias de banhos marítimos nos dias de semana, longe da lotação que sempre ocorria, e, ainda ocorre, nos dias de domingos e feriados, quando na leitura dos “nativos” brancos da região, a praia é invadida pela negrada periférica e empobrecida desta nossa cidade.
Houve épocas em que no Porto aterrissavam vários artistas que lhe conferiam mais glamour, dentre os mais freqüentes estava Caetano Veloso. Considerada uma das praias mais bonitas do mundo, que consegue reunir em si a transparência de águas, em agradável temperatura, misturando-se ao clima quente do Atlântico Sul, e um tanto quanto preservada em relação à poluição presente em nosso litoral, não se pode conhecer a capital baiana sem visitar este local de inclinação bucólica e ao mesmo tempo, de forte expressividade histórica.
Foi no âmago desta praia que surgiu a Cidade da Bahia, quando Américo Vespúcio encontrou a nossa baía, em 1501, e nesta região foi fundada a Vila do Pereira, centro político de domínio de Francisco Pereira Coutinho, o donatário da chamada Capitania da Bahia, que é considerada como a verdadeira raiz de Salvador, além de ter sido o Porto o local onde Tomé de Souza desembarcou, em 29 de março de 1549, na função de primeiro Governador Geral do Brasil.
Além dos nos representar paisagisticamente, o Porto da Barra funciona como síntese social da população soteropolitana, agregando os mais diversos tipos sociais: a dondoca decadente, a prostituta, os branquinhos da Classe Média, os meninos de rua, os michês, o público gay escolarizado, artistas locais e nacionais, intelectuais, os negros periféricos em busca de lazer dominical, os vendedores ambulantes, a baiana do acarajé, atletas da natação, pescadores, os chamados “discudistas”- aqueles que cometem roubos e furtos ao longo da praia-, sem falar nos agenciadores do propalado turismo sexual baiano voltados aos turistas embevecidos com a beleza deste ponto da cidade.
Afora todo o ecletismo que nos invalida como população, por conta da presença vergonhosa da criminalidade no Porto, ali se perfila um público diverso que dá cores ao ambiente combinando beleza humana à paisagem de águas azuladas, de céu ensolarado, de brisa e de prazer sócio-existencial.
É vital que existam políticas de conservação ambiental dedicadas a cuidar mais de patrimônios como esta praia, e que haja da parte dos seus freqüentadores, um movimento de respeito e de educação em função da sua preservação.

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