sábado, 12 de julho de 2008

Réquiem para a saudade


Para Michelle

Clara marca de algum silêncio. O meu pensamento a vagar pelas ruas de Porto Alegre, meus olhos a piorar o que vejo na Cidade da Bahia; menos o Mar. Clara marca de algum barulho e eu a me perguntar: o tempo esfriou de novo? Tantas coisas por dizer e até eu de coragem me calo... O amor nessa sua sombra de mim, martelando a vontade de outro lugar no corpo, na alma, no espaço. Prendo-me na tela da tv: novela das nove: Camila e Fred têm que ficar juntos: o que haverá de ser: um tipo de saída da realidade que me deixa na liberdade inócua desta minha cidade.

Quero-me na imensidão de uma canção do Djavan: Infinito. Perdido por alguém e sentindo o banho de alegria que a saudade faz existir, quando se sabe da proximidade deste alguém. Proximidade aérea e transacional. E melhor, marítima como água do sentimento que perpetua o encontro de dois. Um cheiro forte de pimenteira na minha janela e eu me perguntando: o tempo esfriou de novo? Beatles e essa minha incompetência, alhures estarei a sonhar nos cafés de Paris, ou quem sabe, em alguma sala de aula do Museu Nacional: o nome do que científico em mim só pode ser ANTROPOLOGIA. Olho no olho. Alegria. Encontro de dois. E minha memória chorando. Entradas para a pior das saudades. E escrevo no sentido da sedução.

E ela está aqui. O livro do Caio F. nas mãos, a fala gaúcha sem fala, uma conta de Ogum, os olhos na poesia Rabinovitz, o começo de uma nova caminhada, Salvador como acorde de esperança e abrigo. Um toque furtivo do braço e um vento diurno aquecendo o coração. Infinito: idéia e canção. Transmutação do corpo. Meu diário de gosto de tudo que foi a bordo da nossa viagem.

Clara marca de alguma saudade perfilando uma não despedida.Uma pintura menor, um filme maior, uma canção na voz de Billie; Marina Lima, meus cacos Renato Russo, minha salvação Bethânia, menos palavras, mais poesia, e tudo que se fala melhor do silêncio e da força do olhar. Hoje é dia.

Billie: réquiem para a saudade. O inglês que não tenho.O que sinto maior que linguagem. Fantasia: “a rosa mais linda que houver/para enfeitar a noite...”. O dia.

Meu coração é ensolarado, conserva-se em suas águas plácidas, ilumina-se de partículas de amor que sentiu por todos e todas, contempla a noite enamorando-a, mas é inteiro dia. Ensolarado em suas curvas e estradas e pedinte da constante poesia que cata ao chão da emoção que me traz vida.

O tempo esfriou de novo? Tudo que há em mim dialoga com a saudade?Até Salvador deixou de ser?Por que só tristeza me embala quando a maior cantora do mundo sibila sua dor em inglês?O Infinito do Djavan e Quase Sem Querer da Legião?

Meu mundo e minha cena são carinho! E me afago de mim para me dar com ternura e invalidar distâncias sem desrespeitar saudades que me inspiram de amor e bobagem e me ponho a escrever.

Queria saber dizer.Do lugar da minha infância por onde nada mudou. Intacto dizer. Das flores que carrego no jarro corpo meu de cor azul. Clarinho, clarinho. Dizer que a saudade não me consome, ao contrário, me alimenta a devolver fluidos de querer a tod@s que me arrebatam. Saudade me impele a persistir e a desenhar em mim os instantes, mesmo que só imaginários, de nada que se aparta e são “horinhas de descuido”. Minha felicidade.

O tempo esfriou de novo. E nada de degelos. Quero-me gaúcho abaixo de zero e estar lá para falar das entradas e saídas que esculpem a minha vontade de dizer: vem pra cá, viu? Meu coração é ensolarado e de maresia baiana. E Bethânia é a minha salvação.

Um comentário:

Michelle disse...

"Marlon Marcos Vieira Passos, nosso MarlonMar, aquele baú lotado de ouro e pedras preciosas que só os abençoados encontram no fundo do Mar, e eu fui abençoada por ele! Minha vida, meu norte em Salvador. A presença das coisas mais bonitas, tudo que ele ofertou aos meus sentidos aqui. Alma gêmea? Não sei, só sei que o nome dele é AMOR DE MAR. Por ter me apresentado, além de tudo e tanto, uma doçura chamada Carlos Barros. Por ter me colocado na roda, por ter sorrido e cantado pra mim. Pelos infinitos abraços que são um só. Pelo Azul, pelo Amarelo, Vermelho, Verde e Lilás. Pela maresia, pelo mel, flores, frutas e folhas. Por todas as melodias e fonemas, por tudo que gostamos de ver, ouvir, sentir e falar. O homem que me perfilou por todos os recantos da nossa cidade, que traduziu a Bahia pra mim do modo mais perfeito e belo. Um Amor de Mar, é o Amor Maior."