segunda-feira, 7 de julho de 2008

O mar dobra em meu nome

Para Fernando Pessoa

Vaticino a felicidade. Aponto a paisagem deste dia ensolarando-se. Ouço, sem diagnósticos, sons de folguedos para alguma festividade. Alma vestida de azul, o corpo de branco, os olhos lacrimejando, o sorriso de leve, um frescor de alegria, a cabeça quase sem pensamento, o mundo em silêncio e eu flanando. O mar ventando para espraiar na gente que passa mais beleza...

Permito-me à fantasia. Um livro me aquece de poesia e eu recito palavras entre o azul do céu e o azul do mar. Palavras na forma de anestesia impedindo que a dor aconteça. A precisão do meu corpo sozinho no espaço da minha imaginação e nada de intrusos no meu caminho. O meu destino excedendo-me de meu próprio olhar. As coisas com o cheiro da certeza. O meu olhar. O meu estar nas estradas ao horizonte marinho. As coisas com o jeito do infinito. Um colorido de amigos e uma canção para o amor que vai chegar. Meu corpo sorrindo agradáveis sensações. Cenas de gozo. Sentido. Muitas rotas redobrando-se para instar a vida que se quer. O tempo parado para me projetar a mim mesmo num “eu sem pensamento”. Uma espécie de transe propício ao crescimento. Vastidão da minha consciência que sonha. A Fé que me acompanha. A Divindade protegendo. A febre que acontece na forma da calma.

Entrego-me ao que há. E sou como água deslizando e que vai encontrar. Água abrindo peitos e portas; batendo-me em mim com minha própria vida em festa. Água tranqüila – senhora do tempo e do espaço. Água para muitas configurações, para muitas desconstruções. Água tão somente.

Atendo as minhas demandas. Sou-me o que se intriga consigo, sem barulho, sem pergunta. Leve diante das próprias descobertas. Nada de respostas, inteiramente sensação. Demandas sem pressa e sem definições. Hoje é um dia de manhãs e clareira aos olhos; flores em amarelo e vermelho e laranja; um perfume adocicando a memória do futuro e o castanho do outro olhar ansioso refletido no oceano.

Hoje me intriga doer de palavra para vaticinar a felicidade. Doer saudade coração perdão permissão ultraje vazio risos olhares falares bocas beijo silêncio encontro desordem apreço canção dança percepção vida morte eternidade poesia.

Tudo se refletindo em água límpida. E os olhos confirmando que o mar dobra em meu nome. O mar inventor da minha morada e aconchego dos meus sonhos e que me priva de pensamentos e me impele à mera e exata sensação de existir. É o que basta.

MARlon MARcos .

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