segunda-feira, 14 de julho de 2008

Menino Deus



"Mora comigo na minha casa
Um rapaz que eu amo
Aquilo que ele não me diz porque não sabe
Vai me dizendo com o seu corpo
Que dança pra mim
Ele me adora e eu vejo através de seus olhos
O menino que aperta o gatilho do coração
Sem saber o nome do que pratica
Ele me adora e eu gratifico
Só com olhos que eu vejo
Corto todas as cebolas da casa
Arrasto os móveis, incenso
Ele tem um medo de dizer que me ama
E me aperta a mão
E me chama de amiga."
Extraído do show Drama 3°Ato - 1973- Maria Bethânia

Acontece para além da presença: ele é um signo pronto para a minha compreensão.E me ocupa a sala.Toma conta do meu sofá, me rende ao instante, controla minha leitura, aborrece o meu livro, viola o cd que escuto, não me despe, mas me retira de outras memórias; domina meu pensamento.
Se chega munido de confusão e sem razão se atormenta na minha falta e se ilumina na minha fala, e se fala nos meus olhares enquanto insisto. Absorve as minhas palavras,toma de mim as minhas convicções, se faz minha religião, me ensina o desapego escravizando o meu coração.É um teorema calculado em emoção, virilidade prescrita na mais rara delicadeza, incerteza, beleza; a mim, solidão.
Um cheiro das águas que se chega nas lágrimas que externa, um sorriso feitiço para dominar a minha imaginação, impregnando-se na tv, sabotando a mágica das novelas, apartando-me da diversão, esvaziando as notícias que não me informam quando não tratam do universo que é dele. E sem saída, enlouqueço no silêncio da sua boca, sustentado na leveza do seu corpo...a -diando para amanhã, com o marulho das suas asas, o que me crepita de hoje a alma e vai assaltando-me a visão e o futuro quando de súbito me fala nas mãos estendidas:" Que falta, amigo".


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