sexta-feira, 11 de julho de 2008

Como ungüento




Para B.




Meu hábito de escrever cartas espelhando o olhar alheio. E me vendo. Intrínseco ao seio do mistério que me rege - palavras sem mensagem - e me devolve à confusão de existir.




Escrevo-lhe uma carta. Assegurada de muitas perguntas e de muitos perfis a distância. E eu dentro de mim com você aí em silêncio. Imagens delicadas. Borboletas voando. Um poema de Verlaine. Uma récita de Rimbaud. Escopo da coragem. Meio saudade. Quase pegada. E gozo.




A carta. Paisagem de nossos dizeres sem mágoa e baixa luz na contínua esperança do reencontro. Pouco barulho na audição de uma música passada. Desejos em dor e a cor de Samuel Rosa, de madrugada, muito álcool, me dizendo "Dois Rios". Vejo-lhe assim: terceira margem e idade da alma. Límpida miragem da alta vontade de nos ter por perto. Inteiro experimento do que mais quero. O corpo, sem assombro, dançando acasalamento.




Ouço das linhas que escrevo o perfume que a memória guardou. E vago nessa sensação. Rodo de alegria com a pele arrepiada. Intenso. De olhos fechados com os seus olhos na minha cara. O líquido do nosso alívio como água refrescante. O renascer de cada dia existindo. Experiência a dois - alvorecer.




Como síntese do meu sobrescrito, o túnel do seu olhar numa música:




" Há no seu olhar algo que me ilude
como o cintilar da bola de gude
parece conter as nuvens do céu
as ondas brancas do mar
astro em miniatura
micro-estrutura estelar".
" Há no seu olhar algo de saudade
de um tempo ou lugar na eternidade".


P.S.: Seu olhar é água viva no meu coração.








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