domingo, 31 de outubro de 2010

Alfonsina Y El Mar



Por la blanda arena
Que lame el mar
Su pequeña huella
No vuelve más
Un sendero solo
De pena y silencio llegó
Hasta el agua profunda
Un sendero solo
De penas mudas llegó
Hasta la espuma.

Sabe Dios qué angustia
Te acompañó
Qué dolores viejos
Calló tu voz
Para recostarte
Arrullada en el canto
De las caracolas marinas
La canción que canta
En el fondo oscuro del mar
La caracola.

Te vas Alfonsina
Con tu soledad
¿Qué poemas nuevos
Fuíste a buscar?
Una voz antigüa
De viento y de sal
Te requiebra el alma
Y la está llevando
Y te vas hacia allá
Como en sueños
Dormida, Alfonsina
Vestida de mar.

Cinco sirenitas
Te llevarán
Por caminos de algas
Y de coral
Y fosforescentes
Caballos marinos harán
Una ronda a tu lado
Y los habitantes
Del agua van a jugar
Pronto a tu lado.

Bájame la lámpara
Un poco más
Déjame que duerma
Nodriza, en paz
Y si llama él
No le digas nunca que estoy
Di que me he ido.

Te vas Alfonsina
Con tu soledad
¿Qué poemas nuevos
Fueste a buscar?
Una voz antigüa
De viento y de sal
Te requiebra el alma
Y la está llevando
Y te vas hacia allá
Como en sueños
Dormida, Alfonsina
Vestida de mar.

Ariel Ramirez / Felix Luna

P.S.: Em algum lugar do mar profundo de mim: esta canção, esta história...

Naufrágios e emoção



E o mar cuida de mim.
Entre sombras e aquecimentos solares
E a mais fria das esferas.
Cuida e embeleza,
Faz azuis,
O mar ensina a navegar,
E cria em mim meu cais.
De onde nascem as melhores
sonoridades,
É do mar a voz feminina...
Naufrágio das emoções,
No mar começam e terminam
As grandes narrativas
Que eternizam o amor.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Como chegar à Fé

Mãe Stella e Gilberto Gil
Oração

"O ser humano é livre para abraçar qualquer crença. A fé não se impõe, não se chega a ela pelo intelecto. Chega-se ao Orixá pelo coração."
Mãe Stella de Oxóssi do Opô Afonjá

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Juliana Ribeiro


Dia 30/10 é o fim desta temporada "cantando com os compositores", projeto delicioso de Juliana Ribeiro, sucesso absoluto nas noites dos sábados de outubro em Salvador. Público lindo, banda fantástica e a cantora, íntegro deslumbre ( ou será desbunde). Corra, pois já está matando de saudade quem participou.

Bethânia



Meu controle de qualidade

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Eu ando assim...


Presentes na Casa da Rainha

Ê nijé nilé lodô
Iemanjá Ô
Acota pê lê dê
Iyá orô miô (bis)

Olhos-abraço


A forma plena da poesia

É a meninice aquática que sai do seu olhar.

Me deixa vagando na lua

Me solta pelas ruas

Louco querendo abraçar

Todo mundo.

Seus olhos são vitrines de um mundo

Que não tem deserto, é discreto

E ainda assim eu não posso entrar.

Seus olhos acastanham o muro que nos separa

E serve de abismo para o meu destino

Aventureiro.

Olhos-risco fitando-me dos céus...

Penumbra atrativa criando música

Que me mergulha sem luz

Na força memorial do melhor

Abraço que você me deu.


segunda-feira, 25 de outubro de 2010

À espera

Foi assim:
meu pensamento usava suas asas
e voava pela casa
acordando meu corpo
atormentando-me de desejos.

Domingo não tem perdão


Ontem foi um dia de inveja. Inveja das grandes inteligências deste País que bem sabem fazer avaliações políticas e escolher os rumos que confirmam ou que trarão nossa grandeza. Um dia bem domingo sem barulhos externos mas a confusão do meu pensamento pensando os caminhos desenhados em falas escritos valores gestos e teores de gente que sabe ganhar. Dora Kramer, Mirian Leitão, Renato Machado, sem dúvidas, me empurram para o desejo de viver como pescador na Ilha de Itaparica, se a minha falta de talento não me impedisse disso... Caetano Veloso, no domingão do A Tarde, é a leitura que me obrigo mesmo desgostando de muitas coisas, me fez correr para a audição de Transa - intervalo para um raro prazer nesse dia de vãs reflexões. Não tem jeito, meu amor por ele é incondicional mesmo sendo eu um dos milhões de burros que aprovam o governo Lula.
Enfrentando meu domingo sem paz, terminei bem tristinho a leitura de Depressões, de Herta Muller, presente do meu mestre da antropologia Cláudio Pereira, de quem eu desejaria um texto falando sobre esta disputa eleitoral. Em homenagem a Chico Buarque, assisti e torci para o Fluminense contra o Atlético de Curitiba. Aguentei a estridência do Faustão, para ver o rosto e a doçura de Reinaldo Gianecchini, minha alma coadunada.
Não consegui ouvi mais nada. Em minha memória, o show irretocável de Juliana Ribeiro, na noite anterior no Pelourinho, mostrando à Bahia o que nós precisamos e merecemos ver.
Nessa intensidade e diversidades de ações, percebe-se a minha luta contra o tédio deste dia insuportável, domingo não tem perdão, que nem paisagens amorosas me recordam da vida que posso ter.
Mas foi neste domingo, em seu finalzinho, que meu companheiro jornal A Tarde me trouxe a crônica do Gullar falando sobre a delícia dos acasos em nossa vida e aí dormi pensando em Clarice Lispector e desejando com a alma, para minha segunda-feira, aquilo que ela chamou de inesperado bom.
Não tem jeito, graças, aliás, por culpa de Iemanjá, eu sou um otimista incorrigível.

P.S.: A foto não ilustra nada, a não ser minha paixão pelo mar.

sábado, 23 de outubro de 2010

Do oculto que me revela

Apreensivamente,
não é minha face ao espelho.
São meus segredos invioláveis
que trafegam pelos ares e
desaguam-se em mar.
É a construção de uma alma, a minha
esculpida desde sempre em canções
e o que me pronuncia para além de
ontem hoje amanhã, ou seja:
sou eu
noutro perfil da eternidade.
Ali - uma espécie de delação
que salvaguarda o mistério;
caminhos para a conclusão
do eu mesmo;
signos em dispersão,
o feminino transmutável,
minha paixão indefinida,
não correspondida,
minha busca alcançada.
Ali - existir se ilumina
e o sentido é criar.
Tudo que não for dito
servirá como previsão do oculto
a formular os sonhos mais profundos
que só aquela voz poderá revelar.

Dilma e quem a referenda

Chico Buarque


Dilma 13

Eu quero continuar a ter um pouco de sentido vivendo no Brasil. Bastou-me viver expurgando minhas dores sociais só na grandeza de muitos segmentos artísticos produzidos, com muita honra pra mim, neste País. Já acreditei em projetos revolucionários que nos trouxessem uma coexistência respeitosa onde além de morar, comer, ter assistência médica e segurança, ter acesso real ao que seria por nós produzidos, pudéssemos amar com liberdade e diferença, exercer a fé religiosa, compreender do ponto de vista estatal nossa complexidade humana, sonhar e ser fruto desses sonhos. Também, é claro, me desgasto nessa ordem capitalista em seus exageros de consumo e individualismos; só me acostumei às lutas de quem tem urgência; de quem existencialmente precisa fazer do agora caminhos coletivos para de verdade alcançar futuros... Acostumei-me a desenhar a necessidade de cotas para negros, da expansão do ensino público de qualidade, da qualificação profissional dos indivíduos, das liberdades criativas e sexuais, do livre exercício da fé sem ser ridicularizada por esquerdas e direitas pensantes e materialistas, da união civil entre homossexuais, da valorização de culturas fundantes no Brasil( negros, indígenas e mestiços) que sempre foram socialmente minorizadas e secundarizadas a favor das heranças culturais e civilizatórias dos europeus e seus descendentes, ainda hegemônicos no mundo Ocidental contemporâneo...
Em contraponto, abomino os que querem fazer revolução com a fome e a miséria alheia; os que querem intensificar as crises para com elas instaurar "revoluções" e do lugar de alimentados, instruídos, iluminados, viajados e, bem servidos na conjuntura atual, marchar contra o diferente, negar também a complexidade humana, matar o destoante, o dissonante, o assustador acima, o poeta e o travesti.
Não quero as respostas fantasmagóricas de nomes como José Serra e nem quero existir no limbo produzido por esses proponentes esquerdistas de um mundo melhor.
Quereria a esquerda da esquerda, tipo Jesus Cristo e Mahatma Gandhy, onde houvesse espaço para a grande poesia de Caetano Veloso e a sua burrice política atual; algum estar onde a gente não se reatroalimentasse de nossas próprias destruições. Um lugar de ideias, devidos conflitos, problematizações mas respeito pela vida humana em seus perfis de riqueza por conta da diferença.
Queria tão longe quanto o íntimo da poesia de Ana Cristina César e uma tarde romântica como uma cena de um filme hollywoodiano... Queria a prosperidade de conviver com alguém heterossexual que é ateu e bendiz o beijo sexual entre dois homens e se comove com o excesso de fé religiosa de outrem.
A vontade é me perder nos meus desejos, mas não é isso que venho fazer...
Faço minha ação afirmativa em declarar meu voto em Dilma Rousseff e em dizer que me enjoa saber da possibilidade do outro candidato e entendo a necessidade do pleito. Afirmo, entre trancos e barrancos, ao meio de todos os riscos e negações, a minha satisfação por ter sido governado por Luís Inácio Lula da Silva - mesmo que os ideólogos de direita e de esquerda não queiram -, o melhor presidente do Brasil em toda história republicana deste País.
E como meu sentido verdadeiro existencial é outro, gostaria de sussurrar a alegria de me inspirar na integridade artística e social de Chico Buarque que espraia beleza por entre nós. E bem ingenuamente, ratificar: as pessoas do meu mundo abraçam árvores e amam pessoas, têm a força das águias e a doçura dos golfinhos, falam com Deus e com as pedras e ganham tempo sendo Natureza, nosso líder mestre presidente é Leonardo Boff.
E Leonardo Boff vota em Dilma Rousseff.

É Sábado,certo?



Todo dia é santo e eu agradeço.
Mas todo dia não é Sábado.
Sábado é único, é meu.
A maresia saindo de mim,
A pele se aquecendo de sol,
Um pouco de velocidade,
Um tanto de malemolência.
Um brinde de luz e chuva,
Tecidos que se remetem à fé.
Flores que compõem o estar do espírito.
Sábado tem cheiro de vida e descanso
E me é o dia mais produtivo.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Um beijo

Do começo ao fim, o filme

Um Beijo

que tivesse um blue.

Isto é

imitasse feliz a delicadeza, a sua,

assim como um tropeço

que mergulha surdamente

no reino expresso do prazer.

Espio sem um ai as evoluções do teu confronto

à minha sombra

desde a escolha

debruçada no menu;

um peixe grelhado

um namorado

uma água

sem gás

de decolagem:

leitor embevecido

talvez ensurdecido "ao sucesso"

diria meu censor

"à escuta" diria meu amor.

Ana Cristina César

Em pedaços

Ao longo de 30 anos de carreira, Zizi Possi encontrou no talento a força para superar as adversidades da vida
Marcus Preto (Revista Cult)
Quando, em 1980, Zizi Possi lançou seu terceiro álbum, ela incluiu um recado aos seus ouvintes no alto do encarte, antes das letras das canções. Dizia: “Este disco tem só o meu nome, pois, se o anterior é Pedaço de Mim, este sou eu toda!”. Era ainda uma menina de 24 anos e, graças à doce ingenuidade que é concedida apenas aos jovens, sentia-se completa. Mal podia imaginar por quantas ainda teria de passar até tornar-se, de fato e integralmente, Zizi Possi.
Cantos e Contos, os DVDs irmãos que a cantora lança agora, tratam exatamente desse tema. Gravados há dois anos em 12 shows no pequeno palco do Tom Jazz, em São Paulo, recolhem o essencial das muitas Zizis que, tendo percorrido um longo caminho artístico de mais de 30 anos, formaram, enfim, a Zizi “eu toda”. A anfitriã recebeu em cena colegas de profissão que, de alguma forma e em algum momento, participaram de sua jornada: Alceu Valença, Alcione, Ana Carolina, Edu Lobo, Eduardo Dussek, Ivan Lins, João Bosco, Luiza Possi, Roberto Menescal e Toninho Ferragutti. “Este trabalho tem mais cara de reintegração do que de fechamento de um ciclo”, concorda a cantora. “Ele unifica o momento presente, as possibilidades do futuro e minha história passada”.
Capítulo 1
Zizi tinha 7 anos quando se apresentou em público pela primeira vez. Era a festa de fim de ano da escola no Teatro Arthur Azevedo, em São Paulo, e todos os pais estavam sentados na plateia, a fim de ver o que seus pequenos haviam aprendido nas aulas de educação artística. Ao piano, tocou Beethoven: “Pour Elise”. “As meninas todas ficavam nervosas, choravam, tinham piriri”, lembra. “Eu não tive problema nenhum. Me senti tão à vontade…”
No ano seguinte, lá estava Zizi de volta àquele palco, sentada ao mesmo piano. Desta vez, escolheu uma partitura mais complicada: “Galope do Diabo”, de G. Ludovic. Foi muito bem até mais da metade da execução, mas, lá pelo meio da segunda parte, errou uma nota. E seu mundo desabou em choro. Continuou tocando, mas não conseguia segurar as lágrimas que explodiam sobre o teclado. Quando terminou, foi aplaudida pelos pais dos colegas, que nem sequer tinham notado o erro. Saiu emburradíssima para a coxia e a primeira coisa que fez foi pedir para a professora, dona Gracinha, deixá-la voltar ao palco e tocar novamente o número. Ela tinha errado e nada lhe doía mais do que aquilo.
“Hoje em dia, se eu estiver insegura em relação a um arranjo, fico tensa. Mas, quando entro em cena, rezo para Deus me proteger de mim mesma, da minha vaidade. Tenho de esquecer de mim mesma, parar de pensar se minha roupa está boa ou ruim. Quando fico nervosa é porque estou presa a alguma coisa do ego. Peço sempre para Deus me ajudar a não ficar nesse lugar, porque é um lugar muito desconfortável, onde todas as paranoias passam pela cabeça; a voz não sai direito, tudo trava”.
Capítulo 2
Em meados dos anos 1970, José Possi Neto, irmão mais velho de Zizi e hoje consagrado diretor teatral, foi convidado a dar aula na Escola de Teatro da Universidade Federal da Bahia. Aceitou e mudou-se imediatamente para Salvador. Como a relação dos dois sempre foi muito estreita, Zizi sentiu-se “meio manca” sem a presença constante dele. “Zé sempre foi pai, irmão mais velho, às vezes namorado’ não por nada sexual, mas pelo cuidado, carinho, atenção”, ela diz. Mas a separação dos dois não durou muito tempo. Zizi descobriu logo que a mesma universidade em que Zé Possi ensinava teatro tinha também uma das melhores escolas de música da América Latina. Nada mais conveniente. Prestou vestibular, passou e mudou-se de São Paulo, cidade natal, para a Bahia.
Nesse período, ela ainda acreditava que sua relação com a música se daria exclusivamente pelo piano. E talvez tivesse mesmo se tornado apenas uma instrumentista, não fosse o acaso. Como suas aulas terminavam cedo, Zizi ia para a escola de teatro esperar o irmão. Ficava lá com os atores, ensinando técnica de aquecimento vocal em um velho piano que havia no teatro. Foi se aproximando da turma e, quando se deu conta, já fazia parte do elenco. “Foi ali que minha voz começou a chamar a atenção das pessoas”, recorda. “A partir dos comentários dessas pessoas, minha afinidade com a música foi sendo levada para um lado que até então eu desconhecia: o do canto.”
Zizi costuma dizer que o piano foi seu maior professor de canto. Ela transferiu para seu aparelho vocal todas as noções de dinâmica e nuances de interpretação que usava no instrumento. Era, enfim, uma cantora. Ainda na Bahia, estreou seu primeiro show-solo, Taí. A boa repercussão rendeu um convite para gravar um programa inteiro na TV Aratu, uma emissora local. E a coisa ia bem quando, em 1977, José Possi ganhou uma bolsa de trabalho e se mudou para Nova York.
Zizi lembra-se do dia em que foi levá-lo ao aeroporto: “Quando vi o avião sumindo no ar, entendi que minha vida estava por minha conta. Me deu uma solidão… E percebi que a Bahia já não fazia mais esse sentido todo para mim. Meu irmão já não estava mais lá e, profissionalmente, eu já tinha feito tudo que podia”. Vendo que não tinha mais para onde crescer, decidiu mudar de cidade. Próxima parada: Rio de Janeiro.
Capítulo 3
Mas por que o Rio de Janeiro? Zizi sabia que, se voltasse para São Paulo, teria, de novo, de morar com os pais. E, depois da vida livre que levara na Bahia, repressão era tudo que ela não queria naquele momento. Não conhecia nada do Rio de Janeiro. Chegando lá, foi morar em um apartamento com outras sete meninas, em esquema de vaga. Alugou lá seu colchão e ficou por cerca de seis meses. “Era interessantíssimo porque eu não tinha nada a perder; então era uma liberdade impressionante”, lembra. “Tinha de escolher se ia comer ou andar de ônibus. Então, comprava uma maçã e andava a pé.”
Sobrevivia, no começo, fazendo traduções do italiano para o português. Como ganhava por lauda traduzida, aumentava o número de palavras na versão em português para o cachê aumentar. Também fez backing vocal em shows do cantor Walter Queiroz – autor de “Filho da Bahia”, grande sucesso de Fafá de Belém dois anos antes.
Até o dia em que apareceu, debaixo da porta, um bilhete de Roberto Menescal, então produtor da gravadora Philips. “Olhei o bilhete e pensei: ‘Esse cara não é da bossa nova? Será que ele quer que eu também faça backing vocal para ele?”, conta. Como não tinha telefone em casa, foi ao orelhão da esquina. “Quando atenderam e a secretária disse ‘Philips, bom dia’, eu pensei: ‘Ué, o autor de ‘O Barquinho’ trabalha em uma loja de departamento?” Mas Menescal não estava precisando de uma backing vocal. Tinha visto o programa de Zizi na TV Aratu e queria contratá-la para gravar um disco. Ela só precisava ir à Barra da Tijuca, onde ficava a gravadora, para assinar o contrato. Um amigo emprestou o dinheiro do táxi.
Capítulo 4
Flor do Mal foi gravado em 1977 e lançado no comecinho do ano seguinte. “Cinco pessoas me disseram o que eu teria de gravar e eu só obedeci. Pediram um tango, eu cantei. Um rock, eu cantei. Mas, na real, o que tinha da Zizi ali? Apenas a função”, ela diz. “O disco não pintava o retrato da minha personalidade ‘até porque, àquela altura, nem eu mesma sabia o que era. Estava lá a serviço de cantar”.
Nenhuma das canções de Flor do Mal chegou a fazer grande sucesso. Ele só veio depois, e bem devagar. De Pedaço de Mim (1979), chamou atenção, além da faixa-título de Chico Buarque, a belíssima “Luz e Mistério”. Zizi Possi (1980) trazia “Meu Amigo, Meu Herói”, de Gilberto Gil, e versões em português para “Home Again”, de Carol King, e para “God Bless the Child”, de Billie Holiday e Arthur Herzog Jr. Um Minuto Além (1981) emplacou “Caminhos de Sol”, de Herman Torres e Salgado Maranhão, uma releitura menos roqueira de “Agora Só Falta Você”, de Rita Lee e Luiz Sergio Carlini, e “Engraçadinha”, de Tite Lemos e Sergio Saraceni.
O salto quantitativo começou em 1982, quando chegou às lojas o LP Asa Morena. Ali, Zizi começava a valer a pena ao bolso da gravadora. O trabalho seguinte, Pra Sempre e Mais um Dia (1983), deu prosseguimento à boa fase comercial da cantora. “Eu quis ser pop – muito”, assume.
“Enquanto o mercado estava sendo abduzido por leis quantitativas, nós artistas estávamos respondendo a essas demandas acreditando que nosso valor artístico era numérico. Eu sabia que tinha uma direção: ou me tornava uma vendedora ou seria descartada pelo mercado. Então, quis sim ser uma grande vendedora. Quis sim ser popular. E fui. Até que, no final dos anos 1980, não aguentei mais esse pique. Nem era final de contrato, mas pedi pelo amor de Deus para sair.”
Capítulo 5
Ao mesmo tempo em que rompia com a gravadora, Zizi terminava também um casamento, inclusive profissional, com o compositor, produtor e guitarrista carioca Líber Gadelha – que rendera aos dois uma filha, Luiza. Não que a relação dos dois estivesse completamente deteriorada. “Eu sabia que estava me separando não por falta de amor, mas porque precisava de um espaço para mim, precisava de um par de ouvidos que me ouvissem com outra profundidade”, rememora. “Por um lado, tinha de sair daquele lugar. Por outro, estava deixando a pessoa que mais amava. Tinha me apaixonado por outro cara, mas sem a menor ilusão de me casar com ele. Sabia que isso era simplesmente uma carona pra sair da relação com Líber. E, no meio disso tudo, tinha uma filha pra criar. Achei que estava enlouquecendo. Foi um dos momentos mais difíceis da minha vida.”
Zizi estava vivendo uma crise existencial profunda. Para piorar a situação, Líber descobriu, poucos meses depois, que estava com câncer. “Tem aquela história de que nada é tão poderoso a ponto de despertar o câncer numa pessoa. Mas dá uma culpa horrorosa. Entrei em parafuso”, conta.
A crise a levava a ficar acordada madrugadas adentro, fazendo passeios periódicos à geladeira. Abria latas de leite condensado, que tomava como se fosse Coca-cola, às vezes misturado com Ovomaltine. Engordou 17 quilos. Foi esse o passaporte, ela diz, para entender profundamente o que diz a música de Gonzaguinha “O que É, o que É”, e cantá-la da forma como canta. “O que é viver? A gente estava vivendo? Um diz uma coisa, outro diz outra. Mas como é isso? Fui fundo para entender que, seja lá o que signifique viver, os argumentos não interessam”, diz.
Foi quando decidiu voltar a São Paulo. Chegou à cidade com uma mão na frente e outra atrás, e a filha no colo. Foi quando surgiram três apresentações no Teatro Paiol, em Curitiba. “Eu chorava e ria, porque não tinha dinheiro pra pagar músico, mas tinha um novo começo”, diz. “Tinha uma Zizi se dando conta das perdas e do buraco, e outra entendendo que esse buraco era a subida pruma outra história”. Ali, foi reconstruindo a vida. Mesmo sem dinheiro para pagar os músicos antecipadamente, montou o show, que rendeu outros e outros. E um álbum – “talvez o mais importante de sua história: Sobre Todas as Coisas”.
Capítulo 6
A estética camerística de Sobre Todas as Coisas (1991), calcada em piano, violoncelo e percussão, regeu quase tudo que Zizi faria dali para a frente e vale até hoje. Ela não tinha mais o sucesso dos tempos de “Perigo”, mas ganhou prestígio. Gravou, na sequência, Valsa Brasileira (1993) e Mais Simples (1996), outros dois álbuns que davam prosseguimento ao conceito musicalmente sofisticado da nova Zizi.
Recontratada pela Philips (então rebatizada de Polygram), teve uma ideia um tanto ousada para o trabalho seguinte: produzir, acompanhada por uma grande orquestra, um disco de músicas italianas. O conceito seria o mesmo de uma ópera: uma história com começo, meio e fim, contada por meio das canções. “No meio da pesquisa do disco, pensei: “Estou louca! Isso não vai vender nada! São Paulo e Rio, até pode ser. Mas o que vão achar disso em Goiás? O que estou fazendo aqui? Tenho uma filha tem 12 anos que preciso terminar de criar!”.
Per Amore saiu no finalzinho de 1997, com direito a música na novela Por Amor, que Manoel Carlos escrevia para o horário nobre da Globo. Ninguém apostava muito no sucesso comercial do disco. Em crítica para a Folha de S.Paulo, Paulo Vieira terminou assim seu texto: “Na estapafúrdia hipótese de uma boa acolhida do disco pelas rádios, Zizi seria responsável pelo primeiro verão brasileiro em andamento de adágio”. A hipótese não era tão estapafúrdia assim. Zizi nunca vendeu tanto disco em toda sua vida.
Capítulo 7
Financeiramente, Zizi estava estabilizada. O sucesso comercial de Per Amore gerou outro álbum em italiano, Passione, logo no ano seguinte. E mais sucesso. Para não se aprisionar na personagem da cantora italiana, lançou na sequência Puro Prazer, em 1999, regravando, sobretudo, clássicos da música brasileira, acompanhada apenas de piano acústico.
Outra depressão invadiu sua vida depois do disco posterior, Bossa (2001). “Um dos meus irmãos estava quase morrendo. Quando ele finalmente saiu do coma e do risco de morte, eu relaxei e deprimi”, lembra a caçula de três irmãos. “Fiquei um tempão muito mal”. Para voltar à vida, precisou fazer um grande esforço. Foi ajudada pela música. Ela costuma dizer que o álbum Pra Inglês Ver… e Ouvir (2005) a curou. Trazia apenas canções em língua inglesa, como “Fly Me to the Moon”, “Moon River” e “Love for Sale”. “São músicas gostosas e aconchegantes. Eu não tinha muita energia em mim. Cantar músicas em português ou coisas intensas como ‘O que É, o que É’ estava fora de questão”, diz. “Os standards norte-americanos eram uma zona de conforto e de beleza. Fui melhorando, me relacionando melhor com os remédios, fui saindo dessa dependência química que é barra-pesada.”
Quase caiu de cama novamente quando Luiza, que já era uma mulher e construía sua própria história na música, resolveu sair de casa. “A síndrome do ninho vazio existe mesmo e é muito doido”, afirma. “É uma experiência de morte. E, recém-saída de uma depressão, vou te dizer que isso não foi muito confortável”. Ao mesmo tempo, Zizi viu na filha repetições de sua própria vida, relembrou a menina que se descobriu cantora na Bahia, a mulher que estourou nas rádios e viveu intensamente a vida no Rio de Janeiro, a cantora que passou por renascimentos inacreditáveis em São Paulo. E agora, finalmente, pode dizer, sem a doce ingenuidade que é concedida como um presente apenas aos jovens: “Eis aqui, eu toda!”.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Mário de Sá-Carneiro


Epígrafe
"A sala do castelo é deserta e espelhada.Tenho medo de Mim. Quem sou? De onde cheguei?...
Aqui, tudo já foi...
Em sombra estilizada,
A cor morreu --- e até o ar é uma ruína...
Vem de Outro tempo a luz que me ilumina ---
Um som opaco me dilui em Rei..."

Roberto Piva





Fragmentos. Intertextualidades. Amor em brasa. Coragem. Terras Rimbaud Kaváfis. Escritos para um 21 de outubro. Presente e contudo. Separação.


Libelo
Não mais trarei justificações
Aos olhos do mundo.
Serei incluído
"Pormenor Esboçado"
Na grande bruma.
Não serei batizado,
Não serei crismado,
Não estarei doutorado,
Não serei domesticado
Pelos rebanhos
Da terra.
Morrerei inocente
Sem nunca ter
Descoberto
O que há de bem e mal
De falso ou certo
No que vi.
P.S.: Querendo que fosse assim, entrego ao verde-mar mais fragmentos de mim. E alguma festa se fará verde e cumprirá a homenagem que se queima no meu corpo.




Depois do sono


Além do inóspito da vida,
o lugar do merecido descanso.
Repouso diurno do corpo
no marulho salgado do encontro.
A pele sendo tocada, calma!
Tudo vale o instante!
Até o sono em seu abandono.

Marina Lima, psicografia


Venho passear entre a ousadia e o mistério. Ocupar vários lugares que estejam de acordo com a palavra acontecer. Venho sublinhar o charme e poder ter o outro do sexo que desejar. Venho me inscrever em entrelinhas que me delatam dentro dos sons que me fazem assustar o mundo. Minha marca fêmea coragem, além de mãe e de saudades: venho ser a mulher que sempre quis ser e ter: eu mesma.



Fatos e acasos menores do que eu vou... Nada retilíneo e sem brio; em todos os instantes esteve fé e o meu feitiço embriaga a mim mesma. Meio narciso e dama do alumbramento; uma canção que seduz pássaros e crianças e leva pra cama o adulto que mais desejo.Venho sonorizar o mundo vestindo-me de branco e ainda sendo rocker. Um blues de Billie Holiday. Gata ferina e menina domando instantes a favor das minhas descobertas.


Pássara numa paisagem bethânica - voz do meu eu mulher - tudo sem cessar dentro de mim: poetisa guitarrista bailarina. Tudo sem cessar dentro de mim: flores enfeitando a varanda como numa narrativa de Roberto Carlos.



Tudo que me fulmina e está para além do tempo... Meu destempero, meu palco cheio de razão, minha voz que na verdade nunca falhou, meu álbum de amigos amores família, minha emoção que insiste em me fazer cantar compor sonhar e mais que tudo: amar.



Do meu melhor lugar. Frente ao mar: Hotel Marina.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Angolão Paquetan:livro faz preâmbulo de uma história que precisa ser contada


A história da chamada nação de Candomblé angola,ou mais amplamente congo-angola, sempre foi negligenciada pela maioria dos pesquisadores das religiões de matriz africana. Agora, numa acertada parceria entre a Fundação Palmares/ Ministério da Cultura e membros do Terreiro Mutá Lambô ye Kaiongo, nasce o livro A casa dos olhos do tempo que fala da nação Angolão Paquetan e que já pode ser considerada uma obra preambular a serviço da memória do povo-de-santo de origem banto.

O trabalho reúne as belíssimas fotografias de Aristides Alves (fotógrafo, coordenador editorial do projeto), um artigo etno-histórico do antropólogo Renato da Silveira, um memorial sócio-antropológico da jornalista e mestra em Estudos Étnicos e Africanos, Cleidiana Ramos, uma análise etnobotânica dos biólogos Aion Sereno Alves da Silva e Ana Paula de Sales A. Alencar, além das belas ilustrações do professor Marco Aurélio Damasceno.

Cânticos litúrgicos

O livro é uma ação a favor do registro historiográfico da nação de candomblé denominada Angolão Paquetan, da qual os principais representantes estão ligados ao tatá de inquice Jorge Barreto dos Santos, conhecido pelo nome religioso, ou dijina, como se diz entre os angoleiros, de Mutá Imê, sacerdote supremo do terreiro. Ele foi responsável pela publicação e supervisão do projeto que deu origem à obra, que também é acompanhada de um CD com fonogramas litúrgicos, sob direção musical de Tuzé de Abreu.

Congo-angoleira

O artigo de Renato da Silveira abre a publicação reivindicando mais estudos que possam demarcar, em complexidade e grandeza, o candomblé de angola -; rotula, numa avaliação militante, de antropologia maldita as pesquisas pioneiras de Nina Rodrigues e de seus seguidores mais imediatos, denunciando nomes como Edison Carneiro, como responsáveis pela recorrente inferiorização dos negros bantos e dos seus costumes religiosos que, no Brasil, deram origem ao calundu colonial, uma espécie de culto ancestral que são as mais remotas raízes das religiões de matriz africana em nosso País.

Pronto a conferir a real complexidade litúrgica da angola, Silveira investigou documentações e textos de antigas missões católicas na África, exprimindo as primeiras inferiorizações comparativas entre os negros sudaneses e os da África central, conhecidos como bantos e tidos como atrasados em relação aos primeiros. Esse material literário ajudou a construir entre nós um imaginário distorcido e pouco tradutor das especificidades comportamentais e religiosas do povo estrangeiro que mais alterou o português falado no Brasil com empréstimos de palavras fundamentais à nossa comunicação cotidiana: o banto.

Calundus

A riqueza do texto de Silveira concentra-se em suas exposições sobre a importância dos calundus na era colonial, citando o crescente diálogo religioso entre angolas e os índios tupinambás nos idos do século16, 17, ressaltando a existência das chamadas “santidades”, espécie de organização religiosa que abrigava costumes congoangolas e ameríndios.

As reflexões do reconhecido antropólogo baiano nos empurram a projetar pesquisas sobre o candomblé congo-angola que possam preservar sua memória, revelar a grandeza religiosa e combater de vez, tomando emprestada a exaltação de Silveira recorrente em seu artigo, a imbecilidade do chamado nagocentrismo.

No segundo texto, A casa que vela por uma nação, Cleidiana Ramos, com maestria e didatismo, conta uma história ancestral, que, começada na Bahia, com uma personagem mítica, a Mariquinha Lemba, baluarte do Angolão Paquetan entre nós, começa por despertar nossa curiosidade por este ramo religioso e nos enche de orgulho com a história familiar e espiritual de Mutá Imê.

Alguns relatos são transpostos para o texto com a habilidade poética de uma jornalista experiente, que navega com destreza os mares da etnologia do candomblé baiano. A leveza do texto nos faz percorrer uma história religiosa, com termos e sentidos difíceis num primeiro momento, mas que Ramos, comdomínio conceitual e da escrita, nos insere, sem dores, na riqueza da história contada.

Os biólogos Aion Alves da Silva e Ana Paula Sales, amparados em seus domínios profissionais, encerram a publicação com uma leitura eficiente sobre a espacialidade do Terreiro de Mutá Imê, fazendo análises culturais e biológicas do uso das ervas no universo do candomblé. O livro é uma bela homenagem que deve se expandir para outras casas de matriz congo-angola na Bahia e no Brasil.

( Publicado no Caderno 2+ do Jornal A Tarde, em 19 de outubro de 2010).

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Los Hermanos implodindo-nos na Concha de Salvador


Não, eu não fui. Mas aqui dentro é como se estivesse ido. Há tempos que esta ex-banda, que eu detestava, me traduz em vários sentidos. Nasce daquela musicalidade, com efeito em vozes comuns, que faz versos íntimos ao horizonte de qualquer alma amorosa. Uma festa que dói. Lugares de uma única procura. Junção de influências exprimindo novidades. Eu estava lá na euforia juvenil de alguém descobrindo o mundo e ansiando pelo bom que a vida dá... Ao meio de música e poesia, da beleza se espraiando, e o amor movimentando todos os acontecimentos. Los Hermanos é assim. Ainda mais na Concha Acústica do TCA, em Salvador da Bahia.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Julia Roberts


Fonte de agradecimento ao cinema. Sem maiores explicações: eu adoro esta mulher. Quando quero entender isso de carisma, beleza e feiúra ao mesmo tempo, penso nela. Adoro Julia Roberts e assim, me associo ao star system.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Marina Lima: Charme do Mundo

"Eu tenho febre
Eu sei!
Fogo leve que eu peguei
Do mar, ou de amar, não sei
Deve ser da idade..."

Tem coisas que não nos deixam, exemplos: a voz de Marina nesta canção símbolo da minha fome e sede juvenis... Marina faz uma falta intraduzível. Sua sedução e musicalidade me eram a tradução de Charme do Mundo, e bem adolescente eu ansiava e sonhava com coisas que nunca chegaram; e Marina sumiu da grande cena musical brasileira mas nunca me largou e eu adoro revisitar a obra dela, à espera de novas canções, shows, CD's, DVD's, entrevistas, falares e a imagem dela, sempre linda, em silêncio. Mistério: meu jeito de amar, a quem amei amo amarei, dança no meu pensamento ao som de Marina, são meus Acontecimentos; na música dela repousa minha vontade de gozar e tresloucadamente adentrar o mar castanho de um sonho amoroso que não me larga. Coisas de louco, de corpo, de Marina Lima. Saudades dos dois.

Sem insônia

Outro gatinho

Ferreira Gullar (E) e seu Gato

Para vencer minhas noites de insônia
Tenho feito o que o gato do Gullar
Me ensinou...
Nego a cama, me espreguiço
E deito sobre o poema.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Das lembranças em azul

The River (Um monet)
Sim, eu sei que sou deslocado e vejo o mundo sob impressões. E sou romântico também. Guiado por uma infantilidade que quer pintar o mundo de azul. Além de uma necessidade, pintar o mundo de azul faz parte do egocentrismo que toma conta da minha mente desocupada. Hoje vi as ruas da Bahia como viria um quadro de Monet, qualquer qualquer, no Louvre, em Paris; a Bahia do azul celeste do céu e azul-esverdeado do mar: um retrato pincelado por meu coração sob a inspiração do mestre francês. Eu vi ruas e pessoas idealizadas em roupas brancas como ondas para iluminar minha tela querida. Evitei o tema saudade. Abracei meus sonhos remotos fazendo da escrita dança; dançando com tintas e acreditando.
Vi Monet azeitando-se na terra de Caymmi. Ouvi o canto de sereias e quis reviver tudo sem medo e sem preguiça. Tive pressa paulista e fitei a mim mesmo me desafiando como criação. Reinvenção na recorrência de tintas azuis na escritura que brota de mim.
A Bahia de Monet sendo canção na voz indo-europeia de Caymmi e eu, mergulhado no mar de mim mesmo almajendo estar na rota de todo mundo. Mise en scène cosmopolita de um soteropolitano que só conhece rios. O de janeiro também.

domingo, 10 de outubro de 2010

Cruzada na Cidade da Bahia

Foto de Gal Costa

"Não quero ter mais sangue
Morto nas veias
Quero o abrigo do teu abraço
Que me incendeia
Não há sinal de cais
Mas tudo me acalma no seu olhar"


Caminhos sem muito sentido, tudo se faz esperar e para além do verde-mar que vejo: só solidão sem cais. Barulho-me em repetições fugindo do perigo. É um instante desenhado em abandono e me pergunto sobre o tempo que nunca tive navegando a saudade voraz que sinto por ele: o tempo que não tive. Uma cidade quente em seus conhecidos caminhos e nenhum cais à minha frente. Nenhum lugar onde pousar e falta vento nesta tarde quente. Quente - sem perguntas e com algumas vãs respostas -, esse instante me lança a miragens que tenho frente ao mar da Bahia. Sem cais e sem paz. Uma música na voz de um cantor mineiro é o candeeiro que escolhi, agora, para navegar. Ou caminhar? Estacionar na voz até esta cruzada interna cessar.

Inscrição

"Quando eu morrer voltarei para buscar
os instantes que não vivi junto do mar"
Sophia de Mello Breyner

Luz e Mistério ( um dos meus hinos)

MAIS
MISTÉRIO
EM
MIM

Os quatro cantaram lindamente...

Oh! Meu grande bem
Pudesse eu ver a estrada
Pudesse eu ter
A rota certa que levasse até
Dentro de ti

Oh! meu grande bem
Só vejo pistas falsas
É sempre assim
Cada picada aberta me tem mais
Fechado em mim

És um luar
Ao mesmo tempo luz e mistério
Como encontrar
A chave desse teu riso sério

Doçura de luz
Amargo e sombra escura
Procuro em vão
Banhar-me em ti
E poder decifrar teu coração

És um luar
Ao mesmo tempo luz e mistério
Como encontrar
A chave desse teu riso sério

Oh grande mistério, meu bem, doce luz
Abrir as portas desse império teu
E ser feliz

Beto Guedes/ Caetano Veloso

Alinhar ao centro

Djavan: Luz e Mistério

"Oh grande mistério, meu bem, doce luz
Abrir as portas desse império teu
E ser feliz"

Os meninos dançam



A partir dessa euforia , agonia, orgia que nos fez transformar... Amanheci ouvindo Cinema Transcendental que dos CD's de Caetano é o que eu mais gosto e lá, a canção Os meninos dançam, feita para Os novos baianos já sem Moraes Moreira, e que me traduz e filtra tudo que sinto em relação aos voadores meninos do saudoso grupo. Uma obra que nos faz visitar outra obra na história riquíssima dessa música popular brasileira que nos enche de orgulho. Uma delícia:

Pinta uma estrela na lona azul do céu
Pinta uma estrela lá
Pinta um malandro
E no malandro outro malandro flutua angelical
Um por um, um por um, um por um, um por um, um por um

Agora a moça esboça um salto, vai mas não vai
Todos sabem voar
Baby, Boca, Charles
A tribo blue, nomadismo, tenda templo, circo trancendental
Jorge, Pepeu, Bola, Didi

A história do samba, a luta de classes, os melhores passes de Pelé
Tudo é filtrado ali
Naquele espaço azul
Naquele tempo azul
Naquela tudo azul

Eles dançam, eles dançam, eles dançam
Todos eles dançam
Dança-moenda, dança-desenho, dança-trapézio, dança-oração
Moenda-redenção

Caetano Veloso

sábado, 9 de outubro de 2010

Maria Bethânia: Pletora de Beleza

Maria
Acordado, de manhãzinha, num dia de sábado, na Cidade da Bahia, ouvindo baixinho a voz de Maria em canções de Erasmo e Roberto Carlos; silêncio ideal para evitar os pesados pensamentos e sonhar acordado. Sonhar com o que se mais quis e se perdoar pelos desencontros. Ouvindo de uma paisagem vocal em sua beleza absoluta a resposta de que o amor mora em você, e sem delongas, a constatação: a vida melhora pelos intensos desenhos que a alma faz na esperança do amor exercitar e se entregar e ser feliz...
Ouvindo Maria assim, pletora de beleza que traz muitos sonhos pra mim:
"Você que eu não conheço mais
Os beijos que já não lhe dou
Fui tanto pra você
E hoje nada sou".

No mar passa


"No mar passa de onda em onda repetido
O meu nome fantástico e secreto
Que só os anjos do vento reconhecem
Quando os encontro e perco de repente"
Sophia de Mello Breyner
P.S.: Por este começo de sábado, eu mergulhado em uma gostosa saudade à beira da Baía de Todos os Santos - a casa que me principia e será minha derradeira morada.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Tiganá


Música pela fé, poesia como revelação

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Fernando Pessoa

"Não se acostume com o que não o faz feliz, revolte-se quando julgar necessário. Alague seu coração de esperanças, mas não deixe que ele se afogue nelas. Se achar que precisa voltar, volte! Se perceber que precisa seguir, siga! Se estiver tudo errado, comece novamente. Se estiver tudo certo, continue. Se sentir saudades, mate-as. Se perder um amor, não se perca! Se o achar, segure-o!"


(Fernando Pessoa)

Maria Bethânia: abrindo caminhos

A beleza na força que é fonte acesa: a voz que orienta.
Aquelas horas em cima do palco...
Vidas se reinventando de baixo.
O jeito de fazer nascer para além das repetições.
O ninho da mulher leoa, dos humanos olhos da águia.
Bússola contemporânea de uma cultura.
Assinatura artística que o Brasil precisa aprender a merecer.

Peruano Mario Vargas Llosa é o vencedor do Nobel de Literatura


O escritor peruano Mario Vargas Llosa, premiado nesta quinta-feira com o Nobel de Literatura, afirmou que este é um reconhecimento da literatura da América Latina e em língua espanhola, em uma entrevista à rádio colombiana RCN.

"Não pensava que sequer estava entre os candidatos”, disse o escritor de 74 anos em Nova York, na primeira reação após receber a notícia do prêmio. "Acredito que é um reconhecimento à literatura latinoamericana e à literatura em língua espanhola, e isto sim deve alegrar a todos”, acrescentou. "Vocês foram os primeiros, que bons jornalistas, que me encontraram”, disse.

Vargas Llosa nasceu no Peru em 28 de março de 1936 e obteve a nacionalidade espanhola em 1993, sem renunciar à nacionalidade peruana, três anos depois de ser derrotado nas eleições presidenciais do país. Entre as principais obras do escritor estão "A Casa Verde", "Lituma nos Andes" e "A Cidade e os Cachorros".

Além do Nobel de Literatura, o peruano recebeu o Prêmio Cervantes em 1994 e o Prêmio Príncipe das Astúrias de Letras Espanha em 1986, além de outros. Atualmente, é membro da Real Academia Española e é considerado um dos maiores nomes da literatura de língua espanhola.

Premiados - Nos últimos 15 anos, os premiados foram: Herta Mueller (Alemanha), em 2008; Jean-Marie Gustave Le Clezio (França) em 2007; Doris Lessing (Grã-Bretanha), em 2006; Orhan Pamuk (Turquia), em 2005; Harold Pinter (Grã-Bretanha), em 2004; Elfriede Jelinek (Áustria), em 2003; J.M. Coetzee (África do Sul), em 2002; Imre Kertesz (Hungria), em 2001; V.S. Naipaul (Grã-Bretanha), em 2000; Gao Xingjian (França), em 1999; Gunter Grass (Alemanha), em 1998; Jose Saramago (Portugal), em 1997; Dario Fo (Itália), em 1996; e Wislawa Szymborska (Polônia), em 1995.

( Retirado do Cultura On Line do jornal A Tarde)

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Ária, Djavan

Hoje foi um dia para recuperação e compensação de alguns exageros que ainda insisto. No meio de duras reflexões houve um intervalo para escutar Djavan. E levitar na certeza de que a beleza que sai da arte é que faz valer a vida. E amar, é claro. E escrever sendo lido. Ária é um disco concisamente lindo. A voz do cantor já entrega tudo, o que tem de repetitivo é estilo, o repertório é alavanca para memórias saudades buscas equívocos... Tudo humano e lindo nesse passeio musical que o novo CD do grande Djavan traz para quem só tem feito sentido na audição música, leituras, assistência cinematográfica: eu. Em Ária não há eleição e nem o risco de eu viver num País que tem José Serra como presidente.

Oxoguian

Senhor da Consagração
Aquele chega para avisar
E afasta da opressão.
Senhor da Guerra
Que luta a favor da Paz
E ilumina minha vida
Me vestindo de branco
Ornamentado de azul claro.
Nas nuvens, na areia, nas águas
Nunca me abandone,
Meu Pai,
Seu escudo e o alfange de minha Mãe
São as armas que me guiam.
Epa Babá!

Água para purificar

Lanço luz sobre a sede e caminho tranquilo para o copo com água. Toda imagem me faz sentir saciado e eu agradeço ao Universo por este elemento que me traduz por inteiro.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Maria Bethânia, Gilberto Gil: lugares de criação no Brasil

Maria e Gil

Pela poesia fotográfica e pela reverência que me ocupa quando alcanço essas imagens: Bethânia e Gil. Meu peito todo agradecido. A memória do passado e do presente esperando que no futuro, eles juntos novamente, alimente na gente o sentido da diversão criativa. Esse músico maior vivo de todo o mundo; esta mulher, a cantora, pesquisadora, a escritora vocal do Brasil. Adoro quando eles se juntam, parece que a ideia de Bahia, em mim, renasce.