domingo, 3 de outubro de 2010

Na foto sobre a mesa


Os dias são assim: muito quentes para negar o conforto da alma e nos fazer desnudar o próprio corpo para si mesmo. São quentes sem degelar o sentido doído que impele às buscas e nos retira da fantasia de estar dentro do alcance. Quentes para espelhar muitas águas e nos colocar bem distantes delas. Quentes para criar vácuos, para servir aos trópicos, embaralhar fome e sede, e marcar a vida de faltas sem defini-las. Quentes para evitar música poema literatura: o que se vê é uma foto sobre a mesa. Numa casa que um eu sozinho, paulatinamente, desabita. Quentes para repetir intensidade e desgaste e morosidade numa manhã morna de outubro naquela cidade que combate todas as perspectivas de melhoras. É aqui mesmo.
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Toda escrita que habita em mim reverencia Clarice Lispector

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