segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Alegria é assim!



Alegria
Pra cantar a batucada
As morenas vão sambar
Quem samba tem alegria!
Minha gente
Era triste e amargurada
Inventou a batucada
Pra deixar de padecer
Salve o prazer, salve o prazer!
Da tristeza não quero saber
A tristeza me faz padecer
Vou deixar a cruel nostalgia
Vou fazer batucada de noite e de dia
Vou sambar
Esperando a felicidade
Para ver se eu vou melhorar
Vou cantando fingindo alegria
Para a humanidade não me ver chorar
( Os autores da canção são Assis Valente e Durval Maia; a festa foi em comemoração pelos aniversários de Verinha e Nilmar).

Não se esqueça de mim

Setembro se vai. Misturado de alegria, mudanças, tristezas, sustos, realizações; cores, nomes, aulas, textos, formas, desejos; claridade na força que me impele; esperança minha em movimento. Muita coisa que, em mim, me vestiu de pensamentos. Trouxe-me uma canção nesta manhazinha que guardei pra lembrar. Roberto insistindo em canções de amor. Meu esquecimento em torno disso que se chama violência. O gosto do amor absoluto mais que tudo num pedido de, qualquer jeito, "eu quero ficar". Essa lembrança rascante e doce e lágrima e véu e festa e música e nada...Do nada que muito vejo e da voz de Roberto que me orienta, compartilho e peço:
Onde você estiver, não se equeça de mim
Com quem você estiver não se esqueça de mim
Eu quero apenas estar no seu pensamento
Por um momento pensar que você pensa em mim
Onde você estiver, não se esqueça de mim
Mesmo que exista outro amor que te faça feliz
Se resta, em sua lembrança, um pouco do muito que eu te quis
Onde você estiver, não se esqueça de mim
Eu quero apenas estar no seu pensamento
Por um momento pensar que você pensa em mim
Onde você estiver, não se esqueça de mim
Quando você se lembrar não se esqueça que eu
Que eu não consigo apagar você da minha vida
Onde você estiver não se esqueça de mim.
(Roberto e Erasmo Carlos).

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Saudades de Eller


Uma das coisas mais lindas que a canção popular do Brasil conheceu: Cássia Eller. Saudades,
As coisas tão mais lindas
Entre as coisas mais lindas que eu conheci
Só reconheci suas cores belas quando eu te vi
Entre as coisas bem-vindas que já recebi
Eu reconheci minhas cores nela, então eu me vi
Está em cima com o céu e o luar
Hora dos dias, semanas, meses, anos, décadas
E séculos, milênios que vão passar
Água- marinha põe estrelas no mar
Praias, baías, braços, cabos, mares, golfos
E penínsulas e oceanos que não vão secar
E as coisas lindas são mais lindas
Quando você está
Hoje você está
Onde você está
As coisas são mais lindas
Por que você está
Onde você está
Hoje você está
Nas coisas tão mais lindas
(Nando Reis)

Adorno de Oxum


Toma conta de mim Senhora de todo ouro e beleza.
Traz- me sorte inscrita pelas mãos de sua filha famosa,
Herdeira sua da inspiração, aparato estético dos seus domínios,
Fator de iluminação, brinde íntimo de todo mistério.
Toma conta de mim e me põe no centro do amor.
Mãe Oxum dourada das cachoeiras.
Faz-me inteiro para o amor que eu mereço.
Faz-me sossegar e dengar a mim mesmo.
Rosas amarelas num cesto,
Para enfeitar o centro da sua morada.
Princesa filha da minha Rainha
Me abrigue e me ensine a saber lidar com minhas paixões.

21 de fevereiro de 2008

Um outro dia de realização. Um derrame de felicidade gerado por uma meta atingida. Um trabalho inclinado a uma elaboração sócio-antropológica a favor de guardar dois símbolos da cultura brasileira: Oyá , um orixá, e Bethânia, a estrela. Feitos da vontade de fazer acontecer. Fruto do meu deslumbramento. Um título de mestre. E o sonho de ver tudo isso, a dissertação, Oyá-Bethânia: os mitos de um Orixá nos ritos de uma Estrela, se transformar em um livro. Axé!

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Parada dos simpatizantes rosa-choque






Parada dos Simpatizantes Rosa-Choque

Ou: Beber, cair e levantar

Ou: Os gatos pardos não saem durante o dia



No último domingo, 14. EsseEsseÁ assistiu a sua VII Parada do Orgulho dos Simpatizantes aos Gays, atualmente um tipo de evento mais que obrigatório no calendário das cidades que desejam ser vistas como "civilizadas" no mundo ocidental. É tipo super-tendência, entende? Por aqui, um número considerável de 400 mil pessoas, segundo a PM (mais de meio milhão, de acordo com o Grupo Gay da Bahia), participaram do desfile no centro da capital.
Digo considerável por Salvador ser a terceira maior metrópole deste país, com 2,9 milhões de habitantes. Mas, vá lá, nessa conta não poderíamos deixar de fora, obviamente, a multidão que veio em caravana de cidades da região metropolitana e de outros municípios próximos à capital, além dos turistas, claro.Depois do Carnaval, a Parada dos simpatizantes é o evento que reúne o maior numero de pessoas nas ruas de EsseEsseÁ. Minto. Acredito que a tradicional Lavagem do Bonfim está no páreo em termos de popularidade. Mas não vou fazer conta agora.
Digamos que, a depender a intenção de quem escreve, estão pau a pau, sem segundas intenções. Os trios - grande contribuição baiana para o divertimento da massa - desfilaram pelo circuito tradicional da folia momesca soteropolitana, no centro da cidade, e o que vi, me contaram ou minha inteligência imagina foi a participação de uma diversidade (?) de pessoas, com estilos e comportamentos completamente distintos, desde "bofinhos" e "periguetes" da periferia a mauricinhos entupidos de "bomba" e intelectuais da UNE, além dos cabos eleitorais de plantão. Um representativo arco-íris humano.Vi tudo da janela e entrei no pacote de camarote, assim como milhares de espectadores. Não tenho disposição de participar de passeadas nem de nada que envolva trio elétrico e muita gente bêbada. A não ser no Carnaval, do qual sou fã. Ainda no início da manhã, um imensa fila de vendedores ambulantes se formou, prenunciando a festa que Baco iria fazer. Céu azul, domingo... sabe como é, né? Nada para fazer. O clima foi perfeito este ano não só para as bees mais performáticas "fecharem" na avenida como também para o desfile de corpos semi-nus (malhados ou nem tanto).
A Bahia é gaaaaaaaaaaaaaaay!
Com o tema "Homofobia mata: seu voto vale sua vida!", o desfile, misto de passeata e Carnaval, passou ao som de música eletrônica e hits do axé, pagode e arrocha. "A Bahia é gaaaaaaaaaaaaay", gritava o polêmico e combativo Luiz Mott, fundador do GGB, em cima do trio. Acredito que muita gente se tremeu toda, nesse momento, do cóccix até o pescoço. Ui! Na verdade, ainda não compreendi o porquê dele iniciar os seus discursos com essas palavras. Isso porque a intenção não corresponde a realidade. A Bahia não é gaaaaaaaaaaaaay. Que o diga um senhor "de idade" indignado falando a um "amigo" num supermercado, no dia seguinte, naquele tom para quem quiser ouvir, que se sentiu discriminado com a declaração. "Um absurdo!", praguejava.Segundo dados do próprio GGB, no ano passado foram assassinados 18 homossexuais no estado e este ano já são 16 vítimas entre gays e travestis. A terra da felicidade é a líder no ranking Brasileiro da Homofobia. Não me pergunte como é feito esse ranking. Vá na página do GGB. “Vamos lembrar aos eleitores da parada: seu voto vale sua vida!, estimulando-os assim a votar em candidatos que defendam os direitos dos homossexuais.”, disse Mott no site do Grupo.
É época de eleição, diga-se.A Parada dos simpatizantes teve tudo o que está na cartilha do movimento de sexo: go go boys, muita fantasia, menina beijando menina, menino abraçado com menino, vovó assistindo a tudo entusiasmada, pais levando criancinhas de colo e pouca, mas muito pouca mobilização política. Não falo de panfletagem. Afinal, nem o governador Jaques Wagner nem o prefeito-candidato João Henrique participaram do evento. A presença dos candidatos a Prefeitura estava proibida pela legislação. Mas, a não ser o discurso do Mott, o release distribuído pelo GGB e uma bandeira da UNE, pouco vi de propostas. Era para ter? A Parada não é uma mobilização para alguma idéia ou causa? Ou é apenas um movimento daqueles que são simpáticos aos gays? Afinal, são poucos os homossexuais participantes que, fora o grande evento (com espaço e lugar determinados), têm coragem de se assumirem, por diversas razões que eu não tenho paciência de descrever.
A situação é diferente de alguns anos? É. Mas não acredito que seja fácil ou confortável. Não é, ainda mais em um país onde a sociedade se mostra mais horrorizada em imaginar ver dois homens se beijando na novela das 8 da Rede Globo do que ver alguma chacina ou escândalo no governo. Por isso, na noite calma e constelada, a lua cheia já se anunciava quando os gatos pardos, que obviamente odeiam a luz do dia, começaram a colocar a cara na rua.PS: Como posso me esquecer disso. Vale registrar a presença inenarrável do(a) candidato(a) a vereador(a), o dançarino(a) de uma banda de pagode, Léo Kret. Pelo que vi, em termos de popularidade, só perde para a cantora Ivete Sangalo, o Ivetão, como carinhosamente é conhecida. Eis que surge no desfile, dentro de uma gaiola devidamente vestido de onça para delírio do povo. Tosco.
( Dhan Menezes - jornalista baiano. Uma análise inteligente e bem humorada da nossa Parada Gay 2008).

Brasileirinho


Um dos mais importantes shows da história do cancioneiro no Brasil, Brasileirinho, concebido a partir do CD homônimo( 2003) da cantora baiana Maria Bethânia, será reeditado no dia 25 de setembro de 2008, às 21h., no palco nobilíssimo do Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Em apresentação única, voltada a prestar serviços a comunidades carentes da capital fluminense, este show simboliza a grandeza estética de uma obra fonográfica e cênica, cheia de requintes etnográficos sobre a religiosidade popular no Brasil, principalmente, as ligadas ao nosso catolicismo popular e às religiões de matriz africana. Um trabalho sublime. Dá um gosto imenso de ser brasileiro, e no meu caso, ser conterrâneo e contemporâneo desta artista maior: D. Maria Bethânia. Imperdível. Feliz de quem poderá estar lá. Bravíssimo.

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Para Lorena

Querida,

Me ensine a aprender a escrever.
A me organizar, a me vestir, a caminhar nas ruas,
A disfarçar minhas dores, instruir o talento sobre o trabalho,
A cantar uma música de Adriana Calcanhotto sem desafinar,
A rezar de fora pra dentro, a ter bons pensamentos,
A aprender a amar.
Me ensine a ser primavera.
A saber nascer em setembro.
A aumentar minha coragem.
A encontrar a sorte.
Me ensine os lugares do seu amarelo
Para que eu saiba crescer como você.
Me ensine.
Por onde anda a vida agora?
Numa canção na voz do Roberto,
Me perguntando: Como vai você?
Me ensine a ser belo e a ter frescor,
A saber aprender e a errar menos.
Devolve o gosto da chuva aos meus lábios,
Com a experiência mulher da sua existência.
Me ensine a refestejar.
A criar horizontes voando em suas asas,
A trazer o mar no brilho dos meus olhos,
Imitando o brilho dos seus.
Me ensine a não matar a minha criança,
A caminhar com esperança azulzinha,
A ter força para guerrear,
Sem perder o perdão que me habita.
Me ensine a me encontar nessas suas datas natalícias,
A reviver no íntimo da gente: um projeto de felicidade.
Me ensine a saber de você,
Mesmo você não estando,
E que eu pinte o mundo de alegria
Com as tintas da energia que vem de você
Me ensine o seu dendê,
O que nos dá sentido,
O que, de fato, faz viver.
Me ensine a claridade dos trópicos
De quando você nasceu,
E me explique este meu movimento de inspiração
Quando o assunto é LORENA.
Me ensine a preservar o meu mistério
E a gargalhar inteiro
Por este dia em que você floresceu.

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Djavan - Infinito

Tô perdido por alguém
Não consigo ver nada além
Do que eu digo nada sei
Compreender o amor
Não é de hoje
Já vai longe
E nem sinal
Hoje
Estou longe
Preso a você
Livre na prisão
Sem castigo
Faz chorar
Distraído rói devagar
É pedindo que Deus dá
Por falar no amor
Acho que vou buscar
Viver por você
Ou me acabar
Quem mandou me acorrentar
Fazer-me refém
Nas grades do amor
Te vejo lá no luar
Te espero lá no sol.

domingo, 21 de setembro de 2008

Do mar que mora em mim

Bravio.
Intensidade do meu desejo no mundo.
As cores que mais me ocupam: azul e branco.
Minha energia que me singra e me faz sonhar, me faz realizar.
Minha cabeça de guerra.
Minha alma atormentada.
Todas as escolhas que me fiz.
O mar que mora em mim,
É meu abrigo e afetação.
A espada que trago na mão
Minha essência que desliza e inunda,
Molha a vida, molha as flores
Faz-me um deus humano.
O mar que mora em mim
É a voz do meu orixá
Minha rainha segurando meu ori
Falando-me ao meu ouvido
Os caminhos que devo seguir.
Eu danço as cores
Guardo amores na memória
Amo a paz sem me afastar das batalhas,
Venço qualquer guerra
Pois sou inteiro em tudo que faço.
Do mar que mora em mim
Dobra em meu nome
Resistência e Fé
Águas da morada de minha mãe.
Odô Iyá!

sábado, 20 de setembro de 2008

D. Canô

Uma vida sob a égide da felicidade. Um jeito de gozo constante na fala de uma mulher que viveu flanando sobre o mundo sem sair de Santo Amaro. Hoje, uma senhora de 101 anos. Uma existência inclinada à festa. A alma de uma cidade. Reflexo do que mais se busca ser. E ter. A maior estrela dos Velloso.Exemplo do destino: daquele jeito é bom viver e envelhecer. Uma mulher criadora de criaturas notáveis. Um sonho acordado para a realidade do existir-se. Coisa linda. Marca da palavra êxito em tudo que se desejou. Uma senhora delícia. Prazer imenso em conhecer. Ela - musa íntima da poesia caetano, inspiração contínua da voz bethânia. E maior que tudo isso é Canô em seu cotidiano.

Marlon Brando

Para Diva Vieira Passos, minha mãe.

Como de costume: somos muito o que criam na gente. E mais ainda quando esta criação rima com geração de vida. A imagem acima é do maior ator que hollywood produziu, um dos mais bonitos, e o que minha mãe mais amava. E eu amo a memória e a imagem dele. Elas me trazem minha mãe e o que ela desejava para mim: beleza, sucesso, sorte, amor, talento!Marlon Brando de mim. O que em mim me fez gostar de cinema. Foi com ela, D. Diva, que também me ensinou amar a música popular do Brasil. Vivo de muitas lembranças...Compartilho uma esporádica, Brando e outra eterna e constante: minha Mãe!


sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Florbela Espanca



Pra sempre me sentirei assim, integralmente desenhado nas palavras do poema seguinte. E eu que estou doendo - também sinto muito orgulho de mim.


O meu mundo não é como dos outros.
Quero demais, exijo demais.
Há em mim uma sede de infinito,
Uma angústia constante que nem eu mesma compreendo,
Pois estou longe de ser pessimista,
Sou antes exaltada,
Com uma alma intensa, violenta, atormentada.
Uma alma que não se sente bem onde está
Que tem saudade ... Sei lá de quê.
Florbela Espanca

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Ethan Hawke (II)


"Mais uma vez: silêncio, por favor!"

Dama do Candomblé

Mãe Cleusa de Nanã( Iyalorixá do Gantois - 1989/1998)
Em 18 de outubro de 1998, a comunidade do Ilê Iyá Omin Axé Iyamassê, e por extensão, todo povo-de-santo da Bahia e do Brasil, perdia a iyalorixá Cleuza Millet, primogênita de mãe Menininha do Gantois (1894-1986), que a substituiu no trono sacerdotal daquela casa de 1989 até o já referido ano de sua morte. Iyá Cleuza pertenceu a grande dinastia de mulheres negras que compuseram um dos mais importantes legados religiosos de herança africana no Brasil: o Axé Gantois.
Desde criança, ela demonstrou uma forte personalidade e se construiu como mulher fora de muitos padrões seguidos e impostos a pessoas que tinham a sua condição étnica, sexual e social. Impressionava a todos com a força de suas decisões, determinação e de certa forma, com as transgressões que cometeu ao longo de sua vida, em nome de muitos avanços que gerou para si e para sua família consangüínea e espiritual. Ela nasceu na Cidade da Bahia, em 1923, e já em finais de 1938, aos 15 anos, chamou a atenção da pesquisadora estadunidense Ruth Landes, que viu na jovem uma outra possibilidade de exercício de feminilidade e de independência em relação ao forte domínio exercido pelos homens desta nossa terra naquelas épocas.
A sua trajetória de vida a fez morar por 18 anos no Rio de Janeiro, onde teve seus três filhos, só retornando a viver no Gantois no começo dos anos 60, quando começou ao lado da mãe Menininha , então já prestigiosa iyalorixá entre nós, a cuidar liturgicamente do complexo universo religioso daquele Candomblé. Além de ebomy e braço direito da mãe, obrigou-se a estudar fazendo o curso técnico de Obstetriz, na Faculdade de Medicina da Bahia. Trabalhou também como bancária, e foi, de fato, como havia previsto Ruth Landes em seu livro “A cidade das mulheres”, um exemplo feminino de independência e rigor litúrgico que deu continuidade aos ensinamentos ancestrais de D. Maria Júlia da Conceição Nazareth, sua bisavó e fundadora do terreiro do Gantois.
Mãe Cleuza corporificou a imagem das mulheres altivas e determinadas, circunscritas na esfera das religiões afro-brasileiras, inteligentes e políticas, estudadas, que levaram para o seu sacerdócio, suas experiências como cidadãs, impondo-se como mulheres negras do Candomblé, dialógicas e proponentes de outras práticas que negassem o forte racismo existente em Salvador e em todo Brasil. Ela se representa assim ao lado da grande Stella de Oxossi, e de sua própria irmã caçula, Mãe Carmem de Oxaguian, sucessora de Cleuza e atual iyalorixá do Gantois.
Neste mês de julho, precisamente no último domingo (dia 27), O Gantois festeja a orixá Nanã, senhora dos mistérios da vida e da morte, dos lamaçais, orixá que regia a cabeça de Cleuza, e ela como uma das damas soberanas daquela casa, na figura da sua orixá, também é relembrada e saudada por sua comunidade religiosa. Gente de santo não morre, sublima-se.
(Publicado no Opinião do A Tarde em 26/07/2008)

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Afirmação étnico sócio-cultural


O programa de pós-graduação multidisciplinar em estudos étnicos e africanos do Ceao/Ufba, que passou a funcionar desde agosto de 2005, com o intuito de formar especialistas em discussões sobre etnicidade, teorias das relações inter-raciais, fundamentos históricos da África em suas mais diversas etapas, dinâmica da cultura religiosa afro-brasileira, histórico sócio-antropológico dos movimentos sociais e das minorias étnico-culturais em nosso País, completa três anos de existência.
Aniversaria cumprindo o gratificante papel de lançar ao mercado científico e educacional brasileiros 15 mestres em estudos étnicos africanos que, como pioneiros, carregam a árdua tarefa de consolidá-lo como instrumento de investigação multidisciplinar em torno de questões que recontem a história de negros, índios, mestiços e que pensem, da maneira acadêmica, caminhos para que se exterminem racismos e outras formas de injustiças étnico-culturais.
Da primeira turma, a última a defender sua dissertação, temos Paloma Vanderlei da Silva, historiadora graduada pela Uefs (BA), que abordou a relevante temática sobre as negras ganhadeiras das ruas da Cidade da Bahia, na Primeira República, lendo as perspectivas sociais daquelas mulheres que seguraram famílias com o ganho de seus tabuleiros.
Da fateira à mítica baiana, símbolo desta Bahia amadiana, imortalizada nos versos da canção A preta do acarajé, do nosso patriarca Dorival Caymmi, que Gal Costa realçou a beleza, o trabalho Mamãe-bote, ganhadeiras e quituteiras: sociabilidades, identidades e representações nas ruas de Salvador (1900-1930) traz emblemas da força negro-feminina ultrapassando os desgastes e as injustiças geradas por nossa escravidão e pelas limitações da Lei Áurea, de 13 de maio de 1888, que libertou sem garantir a sobrevida da população negra escravizada no Brasil.
Pousar os olhos nesta pesquisa, que deverá ser ampliada e melhorada para se tornar um livro, é selar um encontro com nossa imaginação: mulheres negras e mestiças, ocupando as ruas centrais de uma cidade majoritariamente negra, vendendo, aos cânticos, as guloseimas e os quitutes que desenharam diacriticamente a idéia que se tem de baiano. E mais ainda, sendo o mais importante, narrando, através de aportes historiográficos, as maneiras de luta e resistência à pobreza, ao abandono social, ao racismo, ao sexismo, à intolerância religiosa, que estas nossas mães ancestrais construíram na terra de Dorival Caymmi.
Uma saga que se conta. E em mim uma abelha zunindo por quase quatro anos. Lembro da mulher que pesquisa sobre ganhadeiras. Um ganho. E o zunido da abelha insistindo: será que na Bahia vai se mapear terreiros e depois mandar derrubá-los? Será que candomblé sempre estará ligado a assuntos de saúde pública e à mercê de caridosos assistencialismos? Será que esta minha religião só será reconhecida como tal com uma outorga da Câmara Municipal de Salvador? Ave o pós-afro e as minhas, as suas, as nossas ganhadeiras.
(Publicado no Opinião do A Tarde em 31/08/2008)

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

As canções que você fez pra mim


Meu primeiro grande surto de saudade em setembro.
E eu trago a imagem de Bethânia numa canção do Roberto e Erasmo.
Trago como panorama interno meu sobre a única coisa que, de verdade, nos dá sentido.
Traço o percurso da memória lembrando: o amor!
A voz de Bethânia ao lado da voz de Roberto: meu coração cantando.
As canções que você fez pra mim.
Dedico a quem ama e se faz amar: por inteiro.
Dedico a uns olhos castanhos, molhados de lágrima doce, num sorriso infantil, voando sobre mim.
Dedico, como que de repente, a canção na voz rascante da minha Maricotinha:
Hoje eu ouço as canções que você fez pra mim
Não sei por que razão tudo mudou assim
Ficaram as canções e você não ficou
Esqueceu de tanta coisa que um dia me falou
Tanta coisa que somente entre nós dois ficou
Eu acho que você já nem se lembra mais
É tão difícil olhar o mundo e ver
O que ainda existe
Pois sem você meu mundo é diferente
Minha alegria é triste
Quantas vezes você disse, que me amava tanto
Tantas vezes eu enxuguei o seu pranto
Agora eu choro só, sem ter você aqui
Esqueceu de tanta coisa que um dia me falou
Tanta coisa que somente entre nós dois ficou
Eu acho que você já nem se lembra mais
É tão difícil olhar o mundo e ver
O que ainda existe
Pois sem você meu mundo é diferente
Minha alegria é triste
Quantas vezes você disse que me amava tanto
Quantas vezes eu enxuguei o seu pranto
E agora eu choro só sem ter você aqui

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Senhor dos mares luso-afro-brasileiros


Algumas mortes são, verdadeiramente, encantamento. E este se traduz não pela falta que alguns deixam e, sim, na força da presença insolúvel de alguém que a poderosa morte não apaga da história de um país.
Morreu, fisicamente, o maior maestro, orquestrador, da cultura popular do Brasil. Um músico nascido das entranhas do povo que, de tão genial e longevo, serve como síntese de outros nomes memoráveis como Chiquinha Gonzaga, Noel Rosa, Pixinguinha, Assis Valente, Lupicínio Rodrigues, Ataulfo Alves, Cartola, Mário Lago, Batatinha e Ari Barroso.
Morreu o inventor lítero-musical de um lugar chamado Bahia. Uma Bahia circunscrita no Recôncavo do estado onde nasceu Caetano Veloso. Morreu - no silêncio sofrido dos seus 94 anos, carregando no próprio corpo o peso da gratidão dos seus conterrâneos pelos desenhos de beleza que ele cantou em nome de sua mítica baianidade.
Morreu a voz dos recantos longínquos da negra Cidade da Bahia - aquela que, nos anos 30, pululava com suas quituteiras, ganhadeiras, fateiras; filhas-de--orixá, mulatas arrojadas, brancas disfarçadas, católicas macumbeiras. A cidade marcada de mar e de pescadores; cidade de tambores a misturar dor e alegria, prazer e insatisfação - e, mais que tudo, fé.
Cidade da palavra em disparada, do português cheio de expressão quibundo, quicongo, iorubá, árabe, tupi-guarani; dos discursos preciosistas, eloqüentes, inflamados, ininteligíveis, barrocos, cantados.
O FAVORITO DE IEMANJÁ - Morreu o poeta maior da celebração - o mar dos baianos e dos brasileiros. O poeta do canto grave e certeiro a iluminar os feitos da cultura amalgâmica entre negros e brancos e a narrar o cotidiano de uma Salvador que foi eternizada nas melodias e nos versos deste nosso cantador.
Morreu o aedo favorito de Iemanjá, o orixá feminino mais aludido e por ele decantado, ícone divino que, vinculado ao mar, mais apareceu em suas canções. Iemanjá - rainha das ondas verdes do mar, a mãe-mulher dos pescadores, que inspirou também Jorge Amado a escrever seu célebre Mar Morto.
Morreu o altaneiro inventor da baiana estilizada de Carmen Miranda, o fotógrafo melhor das belas pretas do acarajé; o homem da voz e do violão construindo histórias, consolidando a civilização da Bahia, imaginando com o coração o ser e o estar do povo do qual ele foi o patriarca.
Morreu o homem Dorival Caymmi. Encantou-se, em sua luz de eternidade, um dos artistas mais importantes da história da canção no mundo. O artista que se imprimia de um lugar, herdeiro de uma luso-afro-brasilidade, senhor de um trânsito universal pela qualidade sem fronteiras da sua inventividade.
O homem das canções simples e sublimes - ideólogo da práxis entre saber erudito e saber popular; artista extremo do êxito do popular entre os humanos que marcou a grandeza das vozes femininas: Maria Bethânia - a Maricotinha reverente e precisa do compositor; Gal Costa, monstruosa doçura que o homenageou com sua voz instrumental em um disco eterno; Jussara Silveira, primorosa cantora re-embalando o mestre; Adriana Calcanhotto - nobreza, destreza, limpidez, acenando para o marítimo caymmiano; Bete Carvalho - iluminando-se-nos com o viés sambista do compositor; Elis Regina - emprestando o enorme talento à música de Caymmi; Clara Nunes - expandindo fé e musicalidade na obra do poeta; Mônica Salmaso - luminescência na singularidade de Dorival; Stella Maris, das raias da Bahia, o canto lindo de sereia. E, por fim, sendo o começo, Nana Caymmi, produto inteiro do gênio, uma das maiores cantoras deste planeta, mítica intérprete do pai.
A saudade toma conta da Bahia. Sobre a perda de Caymmi nessa inexorável ação da morte, sentimos por ele o alívio de uma vida lindamente cumprida e entregue a relatar e a inventar os feitiços do povo baiano.
O velho marinheiro se foi, conduzido por Iemanjá, sua mãe (e nossa) consoladora; encontra-se com seu parceiro maior nesses assuntos de baianidade, o amado Jorge. E pra orar, lembrar, cantar Caymmi, a música e as palavras de outro mestre, Gilberto Gil, em Buda Nagô.
Adormeceu o nosso João Valentão nos braços da terra que ele ajudou a inventar: uma parte do Brasil que fica entre Minas, Pará, Maranhão, Pernambuco, São Paulo e, ainda mais, Bahia e Rio de Janeiro.
(Publicado no Cultural de A Tarde em 06/09/2008)

Stella Maris - canto de precisão!

A mais importante cantora em atividade no estado da Bahia, pra variar, nasceu em Santo Amaro da Purificação, e surgiu nos anos 90, trazendo-nos uma das vozes mais doces e afinadas já vistas no cenário musical baiano: Stella Maris. Um canto de precisão inclinado aos dizeres da alma e que se conduz, por falta de visibilidade e surdez de muitos, restrito ao pequeno universo de quem valoriza a diversidade e acredita em outras possibilidades estéticas além da exitosa experiência comercial da nossa “Axé Music”.
Dona de uma doçura que cativa e magnetiza qualquer interlocutor, Stella começou a cantar acompanhando Roberto Mendes, Alexandre Leão, Saul Barbosa e Belô Velloso; depois, lançou-se, individualmente, ao horizonte da sua expressão musical que traduz, como poucos, a força das canções acometidas de amor, de paixão, de sonho, encontros e despedidas. O seu timbre especial, localizado nas estruturas aquáticas da voz humana, a faz ser comparada a Rosa Passos, Sueli Costa, Fátima Guedes e Nana Caymmi.
A sua trajetória em Salvador acumula os mais importantes prêmios dedicados às artes musicais entre nós: em 2002, ganhou o Caymmi nas categorias de melhor show e de melhor intérprete; em 2005, foi escolhida como a melhor intérprete no Festival da Educadora. Navegou diversos ritmos musicais, sempre respeitando a coloratura da sua voz, dividindo o palco com Caetano Veloso, Flávio Venturini, Sueli Costa, Beto Guedes, Geraldo Azevedo e Jota Velloso.
O primeiro e único CD de Stella Maris, Dos Amores, é resultado da premiação do Troféu Caymmi. É um trabalho da alma posto a cantar o amor em encontros e desencontros, conseguindo uma unidade temática, interpretacional, que conjuga repertório e execução de modo inteiro, sem firulas, sem floreios. O disco é aquecido pela presença de grandes compositores locais e nacionais e se destacam, na voz Stella, a extraordinária canção Eu, de Luciano Salvador Bahia, a deliciosa Fax de Lua, de Eduardo Alves e uma leitura impactante da belíssima Você não gosta de mim, de Caetano Veloso. Todo o trajeto doído deste CD traz como costura temática a canção As aparências enganam, de Tunay e Sérgio Natureza, grande sucesso na voz de Elis Regina e que Stella canta como se fosse a primeira a nos apresentar esta canção.
Hoje, mais silenciada e preparando um segundo CD, a cantora cuida do espaço cultural Casa da Mãe, e assim, ajuda a trazer novos nomes de artistas musicais ao cenário baiano. Tê-la em atividade e vivendo de música em Salvador, seria a obrigatoriedade mercadológica, para garantir que Tiganá Santana, Juliana Ribeiro, Carlos Barros e Mariela Santiago continuem aqui abrilhantando as nossas esferas culturais.
Muitas cantoras cantam o mar como tema. Stella traz o mar na voz, e não pode deixar de cantar e nem deixar a Bahia.
( Publicado no Opinião do A Tarde em 08/06/2008).

Acontecimentos

Eu espero
Acontecimentos
Só que quando anoitece
É festa no outro apartamento
Todo amor
Vale o quanto brilha
E o meu brilhava
E brilha de jóia e de fantasia
O que que há com nós dois, amor?
Me responda depois
Me diz por onde você me prende
Por onde foge
E o que pretende de mim
Era fácil
Nem dá prá esquecer
E eu nem sabia
Como era feliz de ter você
Como pôde
Queimar nosso filme
Um longe do outro
Morrendo de tédio e de ciúmes
O que que há com nós dois amor?
Me responda depois
Me diz por onde você me prende
Por onde foge
E o que pretende de mim

Marina Lima


Esta moça é uma "virgem" de setembro. Foi uma explosão de beleza e movimento em minha vida. Toda vez que tinha, em mim, uma paixaozinha, um encantamento por alguém bem difícil: lá, ou melhor, aqui estava ela. São tantas canções e um jeito brasileiro de ser que me lembrava Billie Holiday. Marina me é puro prazer. Linda. Uma oração: "eu tenho febre, eu sei...É um fogo leve que eu peguei, do mar ou de amar, não sei, mas deve ser da idade". Intensidade e saudade em mim. Esta cantora, compositora, mulher;linda, gostosa, talentosa, bissexual, poeta, avante, à frente, debaixo, em cima, perto e longe. Tão necessária. Uma dávida com as canções feitas em parceria com Antonio Cícero. A imagem acima é do Cd de 1991 - o que eu mais gosto. Tem Acontecimentos - o que Marina desenhou como o melhor dela em mim. Ela está presente além de todas as suas dificuldades vocais. Três - lindíssima- ficou mágica na voz de outra paixão minha - Adriana Calcanhotto.
Dia 19 de setembro(2008), às 21h., ela canta no Bahia Café Hall, na Paralela, a convite de Jau. Setembro é uma pirraça e eu me lanço à esta idéia de felicidade. Com a música popular do Brasil, nas digitais de Marina Lima, eu consigo! Consigo! Consigo! Sim!

Marcelo Cerqueira - Vereador 43100


Salvador, outrora cidade da alegria, anda tão violenta e tão intolerante... Estamos todos acuados e perdendo a tranquilidade característica do nosso caminhar nas velhas e novas ruas da Cidade da Bahia. Cresce o número de candidaturas representativas à Câmara Municipal de Salvador. Pra mim, uma das mais legítimas e a mais necessária de todas, haja vista o olhar de naturalidade com que as autoridades , e parte da sociedade baiana, encaram os assassinatos a homossexuais em nossa terra e mais ainda, a violência constante sofrida pelos os travestis, é a de Marcelo Cerqueira. Ligado ao Grupo Gay da Bahia, professor e ativista humanista, conhecido internacionalmente, Marcelo é o nome para marcar e lutar por uma cidade mais diversa e respeitosa, digna de abrigo para toda diversidade que nos compõe como Bahia. O meu vereador e de muitos que desejam uma cidade "masculina ,feminina e plural".
Marcelo Cerqueira - 43100 (PV).

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

João em Salvador

Ele sempre me foi uma revelação. Aquela vozinha bem colocada dialogando com o elegante violão executando sambas. E jazz. E bossa. O gênio. Adorado por nomes que eu adoro desde criança - Caetano e Gal - , ele me chegou como luz e alegria, afungentou meu sono numa madrugada no Parque de Exposições, em Salvador, quando eu contava quinze anos de idade e daí: passou a ser uma das vozes que eu mais amo e eu me acho um luxo por reificar o mito que ele construiu sobre si mesmo.
Hoje, 05 de setembro de 2008, ele canta para uma imperdoável seleta platéia no TCA; eu que cheguei, no dia 26 de agosto, às cinco da manhã, e fiquei até às 13h., sem comprar nenhum, nada, não, de ingresso. Fiquei sem vê-lo nesses seus raros momentos sonoros e me perco doendo de raiva e desprazer por perder, talvez, a última chance de assistir o som dissonante de João ao violão, na vozinha que melhor conjuga a inventividade da música popular do Brasil. Não perdôo ninguém! Queria muito muito muito ter ido. Sonhei acordado com minha amiga Verinha as possibilidades de irmos juntos a este show. Ficamos para trás. Mas eu ouço Amoroso. E rezo pela longevidade de João e que o mesmo faça um show no Teatro Dorival Caymmi, no Parque da Cidade, sem nenhuma autoridade, sem nenhum governante, sem nenhum famoso artista, principalmente se nascido em Juazeiro; só nós povão embebidos na clareza musical deste senhor do mundo. O nosso João Gilberto.

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

A descoberta do mundo

Eu teria que, em setembro, postar aqui algo que deflagrasse a minha esperança, aludisse o meu aprendizado, consolidasse a minha admiração, demonstrasse o quanto a literatura miniminiza a nossa solidão, solidifica a tenacidade das nossas buscas, redunda prazer, rima dor e alegria, traz poesia, leveza, aspereza, susto e doce contemplação. Eu tinha que revelar um livro setembrino. Algo que renasce sempre em mim, impelindo-me a tantas (re) descobertas num mundo que me cabe cada vez menos e eu ainda amando gente, mar, flores, bichos, cidades, diferenças e poesia diluída em toda forma de arte.
A descoberta do mundo, de Clarice Lispector, traduz a idéia do chamado livro de cabeceira. É, de verdade inteira, a minha Bíblia, escrita por um profeta mulher, em seus desenhos de vida interior riquíssima, domínio da palavra criativa, fazedora de imagens para nos ensinar um tipo de vida que deveríamos ter: nem ela teve mas desejou em seus escritos.
Um livro alongado em primaveras, inspirado em doídos suspiros de viver e de morrer como lição de existência e máximas de inteligência para assistir o tempo passando.
Este livro setembrino. Saído das entranhas desta mulher. Os nossos olhos descobrindo um mundo que nós seguramos com as mãos. Uma prova cabal de que a leitura nos garante outras muitas vidas.
Descubram-nas e vivam.

Da maré

UMA MARÉ, É UMA AFIRMAÇÃO DE TEMPO,
CADA ONDA É UMA SEGUNDO,E SE FOR TÃO MAIS INTENSO,
CADA GOTA É IMENSIDÃO.
UMA MARÉ, É TÃO SÓ UM LEVE SOPRO DA DEUSA,
E HAJA ÁGUA PRA ESSE MUNDO, HAJA BARCO PRA CRUZAR O GRANDE MAR,
IMENSO MAR...EU FUI VER O MAR,
PEQUENINO QUE EU SOU PERTO D'ÁGUA,
MEU CORAÇÃO VIROU BARCO SOPRADO PRA FORA DA MÁGOA,
NUNCA MAIS FIQUEI SÓ...CARINHO DE MÃE, QUEM TEM,
TEM PRA NÃO SOFRER POR NADA E NINGUÉM,
O CORAÇÃO FICA GRANDE E FORTE PRA CABER O MAR...
ESSA HERANÇA, PRESENÇA DAS CORES DA VIDA,
CERTEZA DO SOM, BÚZIO MEU, RIQUEZA MAIS QUERIDA,
FOI AÍ QUE EU NASCI PARA A LUZ,DÁDIVA DO AMOR,
QUEM LHE TRAZ,NÃO VIVE EM VÃO, JAMAIS,
EU MORO NO MAR,
É PRA LÁ QUE MEU CANTO ME LEVA...

( do grande Eduardo Alves; inspirado compositor, belo intérprete, que aqui homenageia lindamente a Senhora da minha vida).

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Sol de Primavera

Quando entrar setembro
E a boa nova andar nos campos
Quero ver brotar o perdão
Onde a gente plantou
Juntos outra vez...
Já sonhamos juntos
Semeando as canções no vento
Quero ver crescer nossa voz
No que falta sonhar...
Já choramos muito
Muitos se perderam no caminho
Mesmo assim não custa inventar
Uma nova canção
Que venha nos trazer...Sol de primavera
Abre as janelas do meu peito
A lição sabemos de có
Só nos resta aprender
Aprender...
Já choramos muito
Muitos se perderam no caminho
Mesmo assim não custa inventar
Uma nova canção
Que venha trazer...
(Beto Guedes e Ronaldo Bastos)

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Setembro


Eis-me dentro de setembro. Vestindo-me da esperança que inscrevo em minha vida. Meus olhos caminham pelas ruas de Salvador cheios de sentido. Sinto-me um fazedor de significados, recheado pelas palavras dos literatos que alimentam a minha alma e colorem de imagens poéticas o meu destino. Nada me é menor. Cada detalhe compõe o desenho da minha solidão que cheira o pólen das flores, voa pelos ares, banha-se de mar, canta os amigos, bebe um pouco de cerveja, vai ao cinema, ouve Adriana Calcanhotto em Maré, espera de leve uma outra viagem, uma outra cidade, um outro amanhecer...
É setembro - os atabaques da Casa Branca louvando meu Pai Oxalá. As yabás dançando dengue e perigo: símbolos da face da mulher.É o mês do colorido, da poesia no pé do ouvido, dos discos singrando o coração, da permissão sagrada, da Sorte rodando e acertando, do Amor vingando, do novo espreitando, da fábula, da brincadeira, do caruru, das crianças, da saudade, da magia discreta, do sonho...
Mês que dedico a Iemanjá. Recebo das ondas brancas que vejo da janela da minha casa, as graças desta Orixá - e Ela me chega como fruto raro para minha fome de beleza e prosperidade. É setembro. Repito: dançam as yabás. Louvam-se Oxalá. Tudo é azul e Branco. Rosa, amarelo e vermelho. Tudo feito cor da esperança. Verde de Ogum e Iemanjá. Um mês para se gozar paz. Para se aprontar para outras guerras. Para se lembrar. Para escrever sobre a luz que traz a inspiração. Alguém.
Mês do encantamento das coisas que eu nunca vou esquecer.