terça-feira, 31 de março de 2009

Olhar etnográfico


Já disseram: o olhar inventa o mundo. Apreende o que vê se misturando naquilo que é visto. Capta as diferenças nos arredores do eu e demarca o horizonte do que sabemos como nós. O olhar se faz poesia vendo a poesia que compomos cotidianamente e de súbito: susto. Que coisa intrigante e maravilhosa é viver. No centro das diferenças; nas riquezas do que o outro deixa na gente e na era da "busca pelas compreensões", interpretar as culturas é um prazer etnográfico que só a ANTROPOLOGIA dá. Em fotos. Em filmes. Em desenhos. Em estampas. Em textos. Em danças. Em cultos. Em rostos. Em peles. No humano. Meu prazer antropológico.

segunda-feira, 30 de março de 2009

Amada Amante

Esse amor demais antigo
Amor demais amigo
Que de tanto amor viveu
Que manteve acesa a chama
Da verdade de quem ama
Antes e depois do amor
E você amada amante
Faz da vida um instante
Ser demais para nós dois

Esse amor sem preconceito
Sem saber o que é direito
Faz as suas próprias leis
Que flutua no meu leito
Que explode no meu peito
E supera o que já fez
Neste mundo desamante
Só você amada amante
Faz o mundo de nós dois.
Roberto Carlos/Erasmo Carlos

Post scriptum:

Esta canção paira sobre a vontade maior dos amores. É a íntegra publicação daquilo que mais se quer: amor amigo amante. Um relato da alma dos Carlos que tão simples e verdadeiros cantam o amor em nosso imaginário. É uma canção invenção da cultura amorosa entre nós brasileiros e invade o peito atemporalmente. Uma louvação do encontro de dois segurando-se juntos ante o torpor da vida, da dureza da vida, o desgaste da vida...O amor única salvação nesses dias e noites de prejuízos e solidão. Amor- canção de um homen entregue à sua mulher.

Âmbar//Michelle Cirne

Para Michelle Cirne
Hoje tinha que ser assim: festejar com o absurdo da beleza para tocar no coração sutil de uma mulher feroz e me fazer vermelho. Me fazer barulho. Mas não esgotar o mistério. Tinham que ser a cantora e a canção que revelam encontro em mim. Emoção. Frases da paixão. Amor contínuo. Tocar o ventre da mulher que cuida e busca: em mim, eterna semente. Mi, Betha para você nesta canção Calcanhotto...Você sabe, melhor que ninguém, destes significados. Minha Maria em seu ouvido luminoso... Parabéns, viu? Ouça Âmbar por nós dois...Aquele Rio de Janeiro, que pode ser qualquer lugar. Beijos de amor:
Tá tudo aceso em mim
Tá tudo assim tão claro
Tá tudo brilhando em mim
Tudo ligado
Como se eu fosse um morro iluminado
Por um âmbar elétrico
Que vazasse dos prédios
E banhasse a Lagoa até São Conrado
E ganhasse as Canoas
Aqui do outro lado
Tudo plugado
Tudo me ardendo
Tá tudo assim queimando em mim
Como salva de fogos
Desde que sim eu vim
Morar nos seus olhos

Adriana Calcanhotto*

P.S.: Viva o Rio Grande, Tchê!!!


domingo, 29 de março de 2009

Sob o signo desta cidade

(Foto retirada do site Klaus Tourismo)
A Cidade da Bahia faz hoje 460 anos. Lugar de muitos sonhos e de desgastantes ilusões. Primor de beleza alicerçada pela cor verde-azulada do seu mar e é isso, entre dois, o seu primeiro elemento de sedução. O segundo é sua gente. A gente criativa negro-mestiça de Fé e musicalidade, ritmo festeiro, de calmaria, de força e coragem; cidade de sobreviventes. Essa entrada poética da Baía de Todos os Santos. Cruelmente descuidada e apartada da realização de coisas elegantes que atingiriam todos os seus habitantes. Cidade inscrita na força das águas, no poder elemental da terra, luz feito fogo, brisa de constante Primavera e nada a tem feito vicejar.
Desencontros da política dos coronéis antigos e emergentes; saga de uma deseducação em nossas escolas públicas; destrato com a salvaguarda da nossa memória; a pobreza e a violência crescentes; o emburrecimento visto nas síncopes de intolerância religiosa; o trânsito caótico piorado pelo degradado sistema coletivo de transportes; o despreparo da segurança; a saúde pública centrada na lama; as poucas alternativas de políticas culturais; a ideia de ação cultural voltada para a mão única da Axé Music - detentora do que somos como carnaval; o elistismo grassante de intelectuais que resistem ao tombamento de patrimônios imateriais como o acarajé; o saudosismo paralisante e pior, os modernosos desmemoriados, como os da Facom- UFBA, que insistem por uma Salvador reflexo de São Paulo e Nova Iorque, onde o idioma oficial seria o inglês;uma TV local cheia de imundícies como Bocão, Na Mira e similares; uma cidade que cresce sem planejamento e sempre defende os interesses dos abastados; uma Academia - representada pela UFBA - distante da comunidade e reprodutora de saberes que vêm de fora; uma Academia colonizada e refratária, sustentada mais em posturas arrogantes do que em critiavidade e invenções.
Salvador - esta cidade desigual e racista e que fica cada vez mais dividida pelas leituras rasteiras de alguns movimentos sociais que se alimentam pelo espraiamento do ódio interracial; A Salvador dos homens que mijam nas ruas, em qualquer tempo e a qualquer hora; A Salvador que ainda não se esgostou e ainda tem seus encantos...
A poesia da sua arquitetura colonial que ainda resiste. Olhar de cá a ilha de Itaparica, antes da construção da ponte destruidora; ver os orixás dançando no Afonjá, na Casa Branca, no Gantois, no Bate Folha...Ler sem pressa e sem ideologismos a grandeza literária do maior cronista que a Bahia já teve: meu Jorge Amado. O pôr-do-sol no Porto da Barra. Um show - tipo Los Hermanos- na Concha Acústica. Maria Bethânia no Teatro Castro Alves. A voz de Lazzo, Márcia Short, Gerônimo, Luis Caldas, Stella Maris, Mariela Santiago,Carlos Barros, Juliana Ribeiro, Claudia Cunha, ecoando de nossas rádios. Tiganá Santana e Virginia Rodrigues em todas as cenas da Cidade da Bahia. A igreja do Bonfim lotada na sexta-feira com todos de branco; missa na igreja de Nossa Senhora da Conceição - manhã de sábado; cervejinha gelada na Pedra Furada; caminhar no calçadão de Itapoan. O mar da Cidade da Bahia - maior poesia não há neste lugar que não pode ser só o mar...
460 anos de um lugar tão inspirador e lindo, mas tão injusto e ingrato. Não quero pedir o tombamento da canjica, apenas peço que deixem o acarajé em paz. Sobre a construção da ponte Salvador - Itaparica, deixo que comente, com mais propriedade, o mestre João Ubaldo Ribeiro.
Enfim, nossos últimos aniversários de Salvador em Salvador tem sido mais que dessemelhantes. Cristo, ressuscite Gregório de Mattos, em nome de Nossa Senhora!

sábado, 28 de março de 2009

Sidney Santiago

Prestei atenção nele, quando ele fez o travesti do ótimo "O signo da cidade". A beleza dele é gritante e tudo fica mais especial com o talento que esbanja em sua trajetória de luz no teatro, cinema e televisão. Premiado, diplomado pela Escola de Arte Dramática da USP, membro da importante companhia teatral "Os crespos", o rapaz agora pagina as boas cenas da razoável "Caminhos das Índias", na pele de um esquizofrênico e tão bom ator quanto, o também belo, Bruno Gagliasso, que trama sofre da mesma doença. O filme que tem roteiro de Bruna Lombardi, O signo da cidade, me foi apresentado por meu amigo Carlos Barros e eu adorei. Gostei do roteiro e muito da música tema interpretada por ela, Maria Bethânia, e das cenas em que a personagem travesti de Sidney aparecia. Bom de ver pelo talento. E mais uma possibilidade de constatar a beleza humana negra dentro das telinhas, telonas e palcos: Sidney Santiago. Marca da grande revelação.

sexta-feira, 27 de março de 2009

Sob o olhar de Maria Sampaio

( foto Maria Sampaio)

Mais um registro. Tantas coisas boas, edificantes para serem ditas aqui. Uma noite, um show, em que reencontrei minha amiga-irmã Paulinha Janaína, estive com Tiganá e Veridiana, vi Edu O. ao longe-perto cheio de beleza; revi Jana e Rejane e fui "com" Néo e Paulinho, encantados com a musa Jussara Silveira. Só há chance de continuação com essas paradas de saúde e alumbramento. E eu trago o olhar da grande fotógrafa para nos inspirar a sempre rever Jussara - que é uma espécie de controle de qualidade na música brasileira, ao qual eu sempre recorro. Maria Bethânia e Jussara Silveira me dão a dimensão do que é o talento coadunado com o exercício competente de um ofício.

Viajar

Talvez me seja uma grande decepção que me devolva com força à cidade em que eu nasci. Talvez, menor que a beleza, Paris me seja a grande confusão. Eu sonho com ela nesse meu lugar comum de ser. Sonho ganhando ela e até aprendendo francês e vivendo sem mar azul, sem terreiros, sem o cheiro do azeite que me faz sentir em casa e bem nascido. Eu quero conhecê-la, é o meu sentido de viagem: Paris. A cidade que guardo e aguardo desde criança e que, junto com Salvador e Rio de Janeiro, forma a tríade sagrada das cidades em que eu moraria. Ah! Também tem Cachoeira da Bahia - poesia que não sai de mim.
Quero viajar. Quero ir a Paris. O mais rápido possível!

Meu coração só

(Foto de Ana Oliveira)

Existem coisas intraduzíveis em minha vida. Continuam porque me alimentam de mistério. Porque me tornam eu mesmo na obra e na arte de outro sem minha aparência. Coisas à beleza. E acontecem na realização de um show musical num teatro. Dão sabor emergencial à vida de quem ama arte com o corpo e dela precisa para respirar...Ontem, Jussara provou, sem precisar, que é uma das nossas cantoras mais firmes e criativas; linda, naquele canto de sereia, moça de jeitinho mineiro, dominou a plateia da sua Bahia. Ela e Luís Brasil me levaram, com Morena do Mar, para o colo de minha mãe Iemanjá e muitos minutos de música me fizeram estupidamente feliz!
Eu queria, e peço a ela sempre, ouvir a voz de Ju cantando um CD com o repertório de Adriana Calcanhotto - seria um acontecimento na vida das duas artistas e a gente lucraria a beleza em seu desenho de perfeição.
Para mostrar isso, minha canção favorita do CD "Entre o amor e o mar", "Meu coração só":
Meu coração não quer acreditar
Não quer me ouvir
Não quer saber
Quer só querer
Quer só lembrar
Quer só você
E para onde quer que eu vá ?
Meu coração só quer voltar
Pra aquilo que fomos
Você e eu
E para tudo o que o amor nos deu
Meu coração só não quer ser só meu
Só quer sonhar
Só quer gostar
Só quer fazer
Com que as noites voltem a passar
Quer disparar em marcha ré
Meu coração só não perde a fé
Meu coração não quer saber o que sabe
Meu coração da escuridão
Quer milagres
Meu coração não quer saber
O que sabe
Adriana Calcanhotto

quinta-feira, 26 de março de 2009

Música e Poesia: Jussara Silveira

( Foto retirada do blog oficial da cantora)
Hoje é dia de música e poesia na Cidade da Bahia, cidade imaginária de Dorival Caymmi. Pela "Semana da Água", pela preservação da água, e pela força vital que a água tem, canta no TCA, às 21h, uma das mais importantes cantoras brasileiras, a voz afinadíssima, nossa sereia Jussara SIlveira.
De verdade, quando ela canta meu coração fica em festa na ânsia dos meus ouvidos e meus olhos preparam-se para ver a beleza de uma mulher que gesta poesia! Hoje é dia. Algumas coisas ficam melhores diante do tema : "Entre o amor e amar". Há melhor lugar? O repertório belíssimo do último CD de carreira da cantora, sua voz de navegação, e a gente entre o amor e o mar. O mar da Bahia... A poesia de Jussara...E minha mente pronta pra se firmar no centro momentâneo do alívio e do prazer que só essa tal música popular do Brasil me pode trazer. E hoje vem com Jussara. Iemanjá minha mãe: Odô Iyá!

quarta-feira, 25 de março de 2009

Do invisível


Para o que era além mas sempre esteve aqui. Pertinho. Gotejava seus odores frente à minha respiração e me olhava de dentro do mais real dos carinhos. Segurava-me com as mãos em cremes e eu assustado, deslizava. Vestia-se de cinza rosa azul - era flores no nome da rosa. Amarela. Dançava comigo. Sorria por sobre minhas lágrimas, enquanto me abraçava. Eu sorria de alegria naquela tristeza que brilhava sementes de inspiração. Dos olhos castanhos mais belos na ternura que olha absurda para o lado interno da gente: o amor é assim. Dali me vinham as palavras mais doces, os desenhos mais belos, pouca música; uma,que me é secreta, foi a mais longa das sinfonias embalando o sutil maravilhoso dos encontros. O corpo era o aperto do delicado e me impelia a singrar o desejo, que eu tocava e me encaixava inteiro na fome que a paixão, de noitinha, a dois, sempre traz. Tudo esteve ali, descrito no tempo que acontece, era invisível e assim, eu não via. O além de mim que me acompanhará eternamente.

Uma poesia:

"No céu dessa tarde quente,
as estrelas existem. Presente.
Mas ninguém vê.
No fundo do meu peito quente,
o amor existe. Presente.
Mas ninguém vê"
Do invisível, Karina Rabinovitz

Ser cosmopolita

De lá onde ninguém me apanha. Nem meu pensamento barulha. Nada se faz hesitação, se faz oferta, se faz confusão. Sou eu rodando o meu silêncio entregue ao silêncio da Natureza... Sou eu sem busca no centro daquilo que nos habita como encontro. O mais profundo. O verdadeiro. Você com você bem menor do tudo que lhe é externo, mas bem melhor em tudo que se faz elo na luz do seu viver. Sou eu singrando a água no rastro do sol. Palavra não dita para que não haja invenção. Sou eu no estado primário das coisas... Notas de uma transcanção... Vida nativa das coisas primeiras: coisas pré-humanas, ou melhor, transumanas... Sou eu sem mim na existência correta do termo eterno. Meu umbigo me abriga abrigando-se no mundo. Eu, um ser cosmopolita.

segunda-feira, 23 de março de 2009

Mudança


Ele abriu os olhos para tudo que deixou de fazer. Ela esqueceu de lembrar das coisas boas que viveram. Ele se viu sem saídas, sem palavras, sem músicas perfeitas, sem desculpas, só lágrimas. Ela já vacinada: entregou o lenço sujo dele, esquecido na gaveta do criado mudo, por ele; aquele lenço imundo pela indiferença dele e que ela tantas vezes enxugou suas próprias lágrimas. Ela olhou para o vazio dele, para o desatino dele, para sua distância e sem nenhuma mágoa viveu a sensação de liberdade, quando o amor naufraga e alguém escapa pela inteireza da entrega.
Ele - mera desilusão do seu mundo masculino - ficando à toa pairando sobre o que tinha de mais vivo em sua vida de disolvições e aparências... Ele fruto abortado em uma incompreensão histórica. Ele olhares perdidos por dentro do dessentido gerado pelo amor que abandona. Ele criança de si mesmo sem a esperança de se reencontrar maduro. Ele, ao seu espelho, inútil. Vaga confusão na explicação das suas possibilidades de acerto. Ele - novelo das enrolações mais cotidianas, primárias, masculinas, físicas, racionais,pragmáticas... Ele zonzo no adeus dito por ela.
E ela - sua ressonância quando corta os laços, queima os escritos, apaga boas memórias, inventa destino, limpa-se de perfumes e lugares, abre mão de livros, busca novos filmes;se traveste, se reanima, se promete; retoma seus projetos mais íntimos e por estes, perde o medo de enfrentar a solidão momentânea e cônscia de tudo que foi mergulha, femininamente, em sua mudança que garantir-lhe- á a vida que até ali, daquele jeito, não lhe foi possível.
Ela - um rasgo em si mesma. E o que sangra alimenta sua nova vida.

O circo

P/Joaquim
Maria
Todo mundo vai ao circo
Menos eu, menos eu
Como pagar ingresso
Se eu não tenho nada
Fico de fora escutando a gargalhada
A minha vida é um circo
Sou acrobata na raça
Só não posso é ser palhaço
Porque eu vivo sem graça
Batatinha

P.S.: Esta canção é um manifesto contra a exclusão social sofrida por negros e pobres na Cidade da Bahia, nos anos 40, 50,60, 70... A ouvi pela primeira vez na voz dela, Maria Bethânia; Maria dá a ela, a canção, a tônica dramática necessária para expressar a grandeza poética e, ao mesmo tempo, denunciar, protestar, doer-se, como queria o gênio do povo, o senhor Batatinha. Esta postagem é uma homenagem ao fã n° 1 de Bethânia, meu amigo Joaquim.


Batatinha - O Poeta do Samba

Oscar da Penha ( nosso Batata)


Foi lançado, em primeira mão, há um pouco mais das 18h., do dia 22 de março(2009), no Cine Unibanco Glauber Rocha, o excelente Batatinha - O Poeta do Samba, de Marcelo Rabelo. Uma bela, precisa e importante homenagem a favor de outro grande artista injustiçado pela Bahia e pelo Brasil.
Batata é o poeta perfilador da nobreza do nosso samba. O homem das canções doídas, das letras ultra-tristes destinadas ao carnaval. Morreu em 1997, mas deixou uma obra significativa que pode ser preservada e divulgada através de uma Fundação. É bom que se conheça Batatinha, e se reforme o bar Toalha da Saudade, nos Aflitos. Recuperemos a grandeza de um produtor de pérolas, nascido do povo como Cartola, Nelson Cavaquinho, Assis Valente, entre outros. Viva Batata!!!

domingo, 22 de março de 2009

Ver e ouvir ( através de Marilena Chaui)

Marilena Chaui

Depois de uma tardinha antropológica, esperando o documentário de Batatinha,eis que me chega ela, e ainda por cima, com mãos esvoançantes me lembrando Maria...Que filósofa, heim? Que mulher:

"Ver, lança-nos para fora. Ouvir, volta-nos para dentro. Porém, mais importante do que essa diferença é a afirmação platônica de que a verdadeira causa pela qual recebemos a vista e a audição é estarmos destinados ao conhecimento. Voltando-se para o interior, a audição nos faz começar ali onde todo saber deve começar, interpretação socrática do Oráculo de Delfos: 'Conhece-te a ti mesmo'."

Encontra-se em:

CHAUI, M (1989). " Janela da alma, espelho do mundo". In: NOVAES, A. (org.). O olhar. São Paulo: Companhia das Letras, pp. 31-63.

Vestígios da travessia


O que será fazer 50 anos ininterruptos de Jornalismo? Formar opinião, noticiar, fazer ativismo cultural, fundar a ECA-USP, ser nordestino e ganhar São Paulo como um dos mais importantes intelectuais do reduto comunicativo brasileiro? Coordenar projetos de aplicação do método Paulo Freire, travar diálogos educacionais e antropológicos com Darcy Ribeiro? Analisar, substancialmente, o jornalismo opinativo, ensinar a levas e levas de grandes jornalistas do país e depois de muito muito muito trabalho, continuar em plena atividade docente?
É isso: parte destas perguntas e outras mais profundas e melhores poderão ser respondidas com o livro récem lançado do professor Marques de Melo, em comemoração aos seus 50 anos de carreira comunicativa. Leitura imperdível.

Marques de Melo, José - Vestígios da travessia: da imprensa à internet – 50 anos de jornalismo - São Paulo, Paulus / Maceió, Edufal, 2009, 303 p.

"I have a dream"

Martin Luther King (1929-1968)
Maior que a prática real da morte é o alimento utópico da vida. O aceno seguro de quem luta contra injustiças étnicas e sociais, se valoriza enquanto grupo humano, mas se apega à ideia da solidaridade entre as "raças" e se marca como um homem de profunda sabedoria a favor da vitória da coexistência entre as diferenças em relação aos desmandos torpes do "racismo" atemporal. Lembranças deste negro estadunidense que tinha um sonho e que assim dizia:

"A maior tragédia deste período de transição social não foi o estridente clamor dos maus, mas o terrível silêncio dos bons"

sábado, 21 de março de 2009

Senhora das Águas

Teresa Cristina
Por hoje, este 21 de março de 2009, sábado, água salgada sobre mim: ouve-me Mãe, na bela e chorosa voz de Teresa Cristina:
Final de caminho
Começo do mar
Eu vim de tão longe
Sem poder parar
Ouve minha prece
Senhora das Águas
Secai o meu pranto
Molhai minha mágoa
Ouve minha prece
Senhora das Águas
Secai o meu pranto
Molhai minha mágoa
Vagando sozinho carrego ao luar
Um barco de flores para lhe ofertar
Ouve minha prece, Senhora Rainha
Que eu ouço o teu canto do fundo do mar
Se eu ouço teu canto, Senhora Rainha
Ouve a minha prece do fundo do mar
Tua estrela já vem me guiar
No mar, qual uma lua a clarear
Me ponho a teus pés a implorar
Valei-me, minha mãe Yemanjá

Teresa Cristina/ João Callado


sexta-feira, 20 de março de 2009

Anjo Exterminado


Adoro esta foto. Ela traduz Maria como a "menina do interior" que a mesma tanto fala. E nela, a capa do LP Drama: Anjo Exterminado, a doçura da cantora veicula essa meninice interiorana em sinais diacríticos que revelam a cultura religiosa de matriz africana, enraizada no Recôncavo baiano. Sempre bela, este trabalho traz também a famosa foto que revela a beleza esfíngica da irmã de Caetano Veloso, que fez o perfil mais bonito e intenso que Bethânia teve até hoje. Como muitos dizem, este é um disco misterioso. Mas o interesse aqui é a imagem: Maria linda doce menina com seu dente de javali em homenagem a Oxóssi. E o vestido,heim? Mais simplicidade de"interior" não há! Esta moça sempre foi assim: sem medo de expressar nossas raízes e de se fazer ponte entre o povo e o topo da chamada MPB clássica; desde lá, 1972. Por isso, acusam-na de repetitiva, quando na verdade ela é uma memorialista em seu formato de atriz e cantora.

quinta-feira, 19 de março de 2009

Meu negro gato canta no Porto

( Foto retirada da página Último Segundo do IG)
O negro gato Luiz Melodia vai esticar ainda mais o verão da Bahia. Canta, a partir das 22h, na Barra, Playa do Porto, a mais bonita em nossos mares, dia 21 de março, em pleno sábado de Iemanjá. Isso não é imperdível. É obrigatório. A voz negra mais linda do Brasil; um dos nossos maiores cantores de todos os tempos; compositor exemplar; homem sensualíssimo! Não é imperdível, é obrigatório. Todos lá e, se possível, preservando a natureza do espaço.
P.S.: Maria Sampaio, comecei na tentativa de creditar todas as fotos...Poeta Carmezim, obrigadíssimo pela NOTÍCIA em primeira mão deste show do meu Melodia. Seu blog é mais que útil. Abraços aos dois artistas que me visitam: Sampaio e Carmezim.

Jussara Silveira no TCA

Minha Ju

No dia 26 de março, às 21 horas, cantará na Cidade da Bahia, na sala principal do TCA, Jussara Silveira. Trazendo seu precioso show Entre o amor e o mar, baseado no CD homônimo que ficou um tanto desconhecido pelos apreciadores da boa MPB, mas como sempre, representa bem o talento, o requinte, os conceitos, e o afiado repertório desta que está entre as maiores cantoras brasileiras. Uma artista especialíssima.Uma mulher que aquece com sua beleza madura os olhos dos seus ávidos espectadores.
A sereia Jussara - outra paixão minha- canta em homenagem ao dia da água ( Salve Oxalá e todas as Iyabás, principalmente minha Rainha-Mor, Iemanjá), numa iniciativa do governo do estado da Bahia, da Embasa e das Voluntárias Sociais( tinha que ter d. Fátima Mendonça!).Já vi este show algumas vezes e é imperdível.
Os ingressos já estão sendo trocados na bilheteria do TCA por produtos de higiene pessoal: um sabonete, um creme dental e um shampoo; quem quiser leva mais. De domingo a domingo, das 12h. às 18h.
Lotemos o TCA pela preservação das águas e pelo alimento luminoso que a voz de Ju traz para nossas almas. Nos vemos lá.

Do que é triste mas é alegria em mim



Adoro ( ainda) gente. Transadoro artistas. Comovo-me com as histórias daqueles que pousaram no âmago da genialidade e que, apesar de mortos, nunca morreram. Sempre revisito em meus escritos a presença eterna e magistral da maior cantora do mundo de todos os tempos e vislumbro, em ânsia e orgulho, a sua trajetória de muita dor e de singulares realizações. A mulher da voz curta e mais autoral que o jazz conheceu; que a canção popular da Terra recebeu; a mulher tosca e entegue aos seus vícios que serviu, e ainda serve, de melhor exemplo da beleza vocal que uma cantora pode imprimir... Billie realça-se entre Sarah Vaughan, Ella Fitzgerald, Nina Simone, Dinah Washington, Aretha Franklin, entre outras.
Ela materializa-se no mote de que grandes obras, no âmbito das artes, só nascem da mais profunda tristeza. Sua voz e a sua biografia são componentes inesquecíveis na representação da história do século XX. Ela que nasceu em 1915 e morreu em 1959. Jovem e dilacerada, mas aprontada para ingressar no rol inabalável dos mitos da canção mundial.
Ela dona de toda beleza: voz, corpo, rosto. Negra. Inventora do novo canto. Caminho de sonoridades tortuosas ( e insinuosas) que leva seus ouvintes ao manancial das agonias, ao lugar frugal da torrente melancolia. Mas ali, habita na voz tudo que pode significar absoluta lindeza.
Ela que inspira Gal, Elis e Nana. Mas no Brasil, pelo grau de importância em mim, pelo excesso de entrega, pela singularidade da presença, a sua igual é Maria Bethânia.
Do que é triste mas é alegria em mim: Billie Holiday é mais um pólo da minha inspiração.

quarta-feira, 18 de março de 2009

Convocação aos baianos ( por Cláudio Leal)

Milton Hatoum
Povo bahieense,

O escritor Milton Hatoum lançará amanhã (19) seu primeiro livro de contos, "A cidade ilhada", em Salvador, na livraria Tom do Saber, às 19h.

A visita promete aprofundar sua relação literária e afetiva com a Bahia. Nascido em Manaus, Hatoum constrói uma obra sólida de romancista, sem apegos ao tempo agalopado. Matura a memória para reinventá-la. Comprovam seu rigor os livros Relato de um certo Oriente, Dois Irmãos, Cinzas do Norte e Órfãos do Eldorado. Em 2010, Dois Irmãos vira minissérie, sob direção de Luiz Fernando Carvalho.
Em agosto de 2008, o jornal Le Monde fez uma série com 15 escritores e o escolheu para representar a literatura brasileira.

Palpite: ao correr as ruas apertadas e ver os casarios de Salvador, Milton se sentirá invadido pelo desejo de Manuel Bandeira, ao visitar essas plagas em 1927: anotou a vontade doida de comprar dois sobradões "de 4 andares e sotéia". Um pra ele, outro para Mário de Andrade.

Apesar de andar em uma metrópole que insiste em negar uma vocação histórica, dirigida por alcaides pequenuchos, aposto que o escritor relembrará passagens da obra de Jorge Amado, a quem conheceu em Paris. Guarda uma saborosa história.
No início da década de 90, Hatoum lamentou a Jorge:

- É difícil viver de literatura e formar leitores no Brasil.

Hatoum lançara, em 1989, "Relato". Alma generosa, ainda mais numa mesa parisiense regada a vinho, Jorge ensinou o caminho das pedras:

- Ah, é fácil. Basta escrever 30 livros. Lança um livro, cata uns leitores, no segundo mais outros, e vai juntando todos eles. Depois de 30 livros, você vende bem.

Milton fez as contas:

- Então só faltam 29 livros!

Jorge piscou o olho:

- Mas é!

O romancista amazonense não chegou a concretizar o desejo de visitar o autor de "A Morte e a Morte de Quincas Berro d’Água" na casa do Rio Vermelho. Mas os rápidos encontros revolvem nessas águas de março. Amado segue a ser sua medida afetiva da Bahia de quase todos os pecados - e alguns santos, entre os quais não nos encontramos.

Abraços, e compareçam ao lançamento!
Claudio.
( E-mail enviado por Cláudio Leal, que exige nosso presença lá: os amantes da boa literatura brasileira).

Oyá-Iansã


Hoje Ela me veio travestida de azul, em mais uma investida Sua de me fazer feliz. Veio soprando liberdade para que eu criasse e desenhasse na realização todos os meus sonhos combustíveis da vida que quero para mim. Ah, sim! Eu tenho dezenas de sonhos que preciso realizar. Muita coisa ficou para trás; outras deflagraram minhas incompetências e eu desisti, sabiamente. Há algumas que são a respiração da minha alma...E nesta alma minha, Oyá é oxigênio; Oyá é a presença do milagre que me comanda a desejar e a organizar as edificações fruto-mor desta força propulsora que é o desejo. Oyá é caminho de clarezas e eu a descrevo com criatividade em nome da beleza e da liberdade que Ela inscreve em mim.
Hoje: os raios em minha mente clarificando a essência dos milagres que me acompanham.
Hoje: a palavra a me dizer das realizações que já tenho.
Hoje: meu perfume saúda Oyá-Iansã e a busca para trazê-la em mim em seu formato borboleta, vestida de Azul, e assim, me garantir à sorte que preciso para continuar a existir!

terça-feira, 17 de março de 2009

Encontros comigo

Tela de Van Gogh

Vasculhando o blog Inéditos e Dispersos, de Vitor Carmezim, belíssimo por sinal, deparei -me com um fragmento de um dos contos que mais marcaram minha alma: A terceira margem do rio, de Guimarães Rosa, e arranquei do peito a vontade de postar aquela passagem lá descrita, envolto numa intertextualidade que designa a ideia de solidão e a sensação de abandono que perfilam, em muito, nossas vidas. Foi um flash da rememoração; algo sibilado pelo pensamento para afirmar que aquilo é maior que minhas certezas e que eu ainda, mesmo sem esperança, acredito no inesperado bom que pode chegar na forma da delícia. E afora isso, o conto pagina as loucuras que cometi como professor de história e me ensina a viver o mais profundo prescindindo das vãs explicações. O fragmento:
"Sofri o grave frio dos medos, adoeci. Sei que ninguém soube mais dele. Sou homem, depois desse falimento? Sou o que não foi, o que vai ficar calado. Sei que agora é tarde, e temo abreviar com a vida, nos rasos do mundo. Mas, então, ao menos, que, no artigo da morte, peguem em mim, e me depositem também numa canoinha de nada, nessa água que não pára, de longas beiras: e, eu, rio abaixo, rio a fora, rio a dentro — o rio".
Segundo encontro:
Ao ler a Carta Capital desta semana(18/03/2009), fiquei louco de vontade de reassistir Grande Hotel, para rever Greta Garbo em sua cara exuberante; rever aquele drama pontual, que quase nos salva pela possibilidade da paixão. Mas, ao final, fica a frase que eu não quero, quero, não quero, quero, não quero... dizer: I want to be alone. O mundo pode não ser assim?
Terceiro encontro:
Continuo a ouvir, repetidas vezes, as Três meninas do Brasil. Ouço sem parar. Levo na memória, cantarolo errado, volto pra casa ansiando "re-ver re-ouvir". Tem Jussara, Teresa e Rita. Tem a vida brasileira desfiada por estas grandiosas cantoras..Tem meu peito espectador de um país que poderia ser melhor e de uma vida mais acesa, mais poética, mais musical. Ali tem Maiusculo na intraduzível interpretação da mega Rita Ribeiro que se tornou sacerdotisa de vários transes a que sou submetido quando ouço aquela canção, cantada daquele jeito:
Como é maiúsculo
O artista e a sua canção
Relação entre Deus e o músculo
Que faz poderosa a sua criação
Pensando bem
É um mistério
Como é misterioso o coração
Como é minúsculo
O olhar de quem vive no escuro
Um sujeito malvado e burro
Alguém machucado como não ter um bem
Não tem porém
Mas tem um tédio
Não ser vítima do assédio de ninguém
Quase não dorme
Vive ao avesso
Medo conhece bem
Sem endereço
Como é que pode
Não fazer mal também
Tenho meus vícios
Vivem dentro de mim esses bichos
São o pai e a mãe dos meus lixos
E às vezes me levam de mal a pior
Pergunto quem
Não sabe disso
Os momentos em que a vida não tem dó
Solto meus bichos
Pelas músicas quando me aflije
Mas um homem sem esse feitiço
E sem um carinho a que recorrer
Pode matar
Querer morrer
Pois perdeu todo sentido de viver
Sérgio Sampaio
P.S: Como é longa a audição desta canção. Com Rita, mulher de voz precisa, a condução se faz na gente em absoluto prazer. Doi, como tem que doer as grandes revelações...

segunda-feira, 16 de março de 2009

KarinaMar


Este é um dos antebraços mais poéticos que eu conheço. Traz as cores da minha Iyá e pertencem a poeta que deixa em mim palavras do amor...Um risco judaico que faz da poesia instrumento gerador de leveza entre nós seres humanos. Aqui, de pertinho, um banho de beleza registrado em "De tardinha meio azul" - satisfação poética que começou a ser erguida da sala da minha casa e cheinho de borboletas que voam da inspiração. No gênero, De tardinha meio azul é um dos meus livros favoritos: eu o vi nascer.
A poeta se chama Karina Rabinovitz; tem um blog chamado Sussurros; é professora de Yoga; toca violão; como eu, adora o mar; é do signo de peixes;uma mulher linda formada em jornalismo... Eu a amo muito e ela é minha amiga! Foi ela quem me chamou de MarlonMar e é ela quem se auto-define KarinaMar, visitem-na:

A leoa


Esta é a verdadeira rainha do lar. Bela, implacável, feroz, devastadora e carnívora-mamífera; doce, protetora, saudável,felina, maternal, frágil, organizada, educadora e fêmea. A leoa - traz em si o mote para diversos poemas e acresce ao imaginário humano míticas lições de sobrevivência e da presença do feminino no mundo. A leoa é um discurso preciso para afinar as concepções de como o mundo deve "receber" e "acolher" esta parte imprescíndível dele: a "mulher".

Do azul que vem das águas


Apego-me naquilo que vem do lado de lá; está solto ao vento e me chega pelos olhos; me chega pela percepção e me deleita sem que eu saiba o porquê. Meus dias só têm sentido se diante de paisagens aquáticas cromatizadas de azul clarinho, me guiando pelos caminhos dos sonhos mais bonitos que ainda tenho e também, pelos caminhos do sonho melhor que já perdi.
Apego-me nisso, de ser comum, amar o zul, amar a água, adorar o mar, me vestir de branco em nome da Fé, desenhar palavras amorosas no horizonte que visito oniricamente, beber a favor da poesia para suavizar a saudade e ser notívago, para em segredo, falar das paixões contínuas e inconfessáveis.
Escapo da morte prematura nisso: azul velocidade que guarda o sentido da beleza. Em mim, é mentira quando digo que Bethânia é vermelha. Em mim, Maria é azulzinha como a poesia que nunca falta: brava palavra que me salva e mais ainda saída da boca desta cantora.
Sobrevivo: o azul está aí rodando o mundo e eu o seguindo com os olhos rasos d'água de alegria e inspiração. Amor me valha!

Ana Terra - o livro


"Sempre que me acontece alguma coisa importante, está ventando". Essa frase resume as mulheres dos Terra Cambará na saga O tempo e O vento, de Érico Veríssimo. Era dita pela matriarca maior, a mística e espetacular Ana Terra, protagonista de uma das trilogias, que de tão independente no desenrolar da história, tornou-se um livro à parte, que tem uma narrativa magnetizante contando a vida desta mulher iluminadíssima... Reli Ana Terra numa sentada e fiquei com gosto de quero mais. Ela é outra personagem feminina que merece destaque em nossa literatura. Na TV, foi vivida por Glória Pires e encurto com isso meus comentários. O livro e o seriado, Glorinha como Ana, me foram presentes existenciais e eu cresci tanto e agradeço tanto a essas coisas da literatura misturando-se em nossa televisão. Como foi bom reler Ana Terra. Érico, obrigadíssimo!

domingo, 15 de março de 2009

Imagens da solidão


" Por sobre a alma o adejar inútil
Do que não foi, nem pôde ser, e é tudo".
Fernando Pessoa

Na terra do coração ( fragmento)

Caio Fernando Abreu
"Meu coração é um poço de mel, no centro de um jardim encantado, alimentando beija-flores que, depois de prová-lo, transformam-se magicamente em cavalos brancos alados que voam para longe, em direção à estrela Vega. Levam junto quem me ama, me levam junto também."
( Pequenas Epifanias, Editora Sulina, Caio fernando Abreu; Crônica: Na terra do coração.)
Eis-me aqui diante deste escrito. Esvoançantes palavras de uma dor desenhando esperança para mim, numa tardinha de domingo. Nada que me espelhe agora: palavras que voam me são muito perigosas, falam demais, alcançam quem eu não quero, e o que eu realmente quero é escrever silêncio. Domingo dia de manter a TV desligada, de ouvir músicas dançantes, de almoçar na rua, de apagar a memória, de ir ao cinema em várias sessões, atender todos os telefonemas, evitar elevadores e escadas, tentar não ficar só, tomar sorvete, não ler poesia, olhar e banhar-se no mar, vestir roupas claras, negar o álcool, tomar muito café, contar piadas e, se possível, deitar-se bem cedo...
Eis-me aqui negando tudo isso: já tomei uma cervejinha; preferi minha companhia como única nesta tardinha de hoje; liguei a TV(Arre! como eu gosto de sofrer); li Hilst, Pessoa, Vinicius, Affonso Romano de Sant'anna e despenquei em Caio Fernando Abreu para ligar cruelmente minha memória. Como eu gosto de sofrer. Contudo, vou ao cinema e já tomei café...
Com as palavras que voam de Caio F. , imaginei-me sendo transportado para outro tipo de estrela, que não tivesse tanto destaque e me abrigasse no seio da coragem junto a quem eu queria que me amasse e os Alados trouxeram comigo. Mera paisagem de uma fuga dominical, pois então, o tempo me venceu.
O tempo sempre me vence e eu de domingo, vestindo rosinha( bermuda e camisa), indo sozinho ao cinema com a mente ligada pelo fio da saudade. Eu, em mim mesmo, nunca tomo jeito. Coisas da terra do coração.

sábado, 14 de março de 2009

Maria - espécie de semente


Eu sei que essa semente que me chega se transforma em uma espécie de culto em mim. Chega-me acrescendo de beleza esses dias cotidianos, confusos, desencontrados e, às vezes, imundos. Mas ela está lá em sua insuperável presença de força e arte. Presença de mulher que encanta na voz insólita que traz noites solares e alivia-nos desta vida tão presa a obviedades e aquele canto brota na forma das mãos que ensinam no corpo delgado que baila e da boca pronúncias sagradas que eu imagino sobre-naturais.
Seu nome Maria é o início da poesia que não tiro de mim. Meus olhos seguram-na cantando em sua cena de transmutação. As contas consagram nossa Fé. As vestes reluzem o incomum palco que ela quer. E o palco sobre seus pés é a expectativa de uma união humana coletiva que sempre dá certo.
Uma fêmea de muitos trajetos que abarca a realização em si. Mulher da mítica vontade que criou
a ilha de Lesbos. Mulher do límpido ofício de cantar e assim gerar lugares que descartem na gente a ideia do perverso. Mulher que se desfia em artisticidades.
Paisagem do grave canto profundo: amar é o melhor remédio. E ela em seu desmando de nos fazer apaixonar. Canta como oração. Dança vitoriosa sobre o mundo. Instaura -nos a vontade de sempre sonhar. Semente que vinga de composições realçadas em sua voz maioral. Música feita pela melhor atriz. Mulher da esfíngica sedução. Quando ela chega, no palco, em nenhum reduto de humanos, ninguém consegue se fazer mais bonito. O mito em carne e osso descrito nas memórias de um Orixá. Ela, a fêmea que é vento fogo e ar. Narra o Orixá que comanda a vida dela. E canta. Lindamente canta. E por instantes serenos de música e poesia: Maria, hoje, melhor que você, nenhum espetáculo musical existiria.

sexta-feira, 13 de março de 2009

Por dentro do meu mistério

"Meu coração eu não dou
Porque não posso arrancar
Arrancando eu sei que morro
Morrendo eu não posso amar ".
Por diversas vezes eu me dilacerei em minhas ofertas existenciais. Invalidei o mistério que me impele a seguir em nome da vontade de agradar e de alcançar o amor que eu persigo; e me desgastei na minha infância persistente, nas minhas fixações ilusórias, nas minhas entregas infrutíferas. Eu sou um instante sem tempo ancorado onde não há espaço e nem lugar. Venta.Tem mar. Areias do meu deserto. Mas eu estou sem estar. E tudo que sai de mim pronuncia ao mundo os segredos que penso guardar e que meus olhos minha respiração meu vicejar denunciam. Eu, um não-lugar. Algo que vaga como sorriso sem muita habilidade para permanecer. Algo facilmente descritível. Algo que gosta de louvar deuses e gente. Eu, palavra errante. Seguidor das sonoridades que esculpem almas maculando a minha. Eu, masoquista. O homem altaneiro das conquistas repartidas. Eu, um homem-coragem. Íntegra seta que insiste em seu voo solitário o centro do alvo tocar. Fincar. Adentrar. E de lá, centro do alvo-desejo, saber da única coisa detentora do verdadeiro sentido da vida: amar. Porque só depois disso a Fé se nos irrompe e nos leva ao outro destino advindo com o silêncio da morte.

quinta-feira, 12 de março de 2009

Toni Garrido

Toni Garrido
Não por uma questão meramente musical.
Muito por instantes que quebram ridículos paradigmas trazendo novas formas da beleza.
Por mais um dia em que a diversidade garanta a riqueza do desejo poder escolher sem as rusgas impositivas dos ideológicos padrões. E o rapaz também canta muito bem. Eu acho.

quarta-feira, 11 de março de 2009

O lado quente do ser

Maria( Essa Fêmea)
Eu gosto de ser mulher
Sonhar arder de amor
Desde que sou uma menina
De ser feliz e sofrer
Com quem eu faça calor
Esse querer me ilumina
E eu não quero, amor
Nada de menos
Dispense os jogos desses mais ou menos
Pra que pequenos vícios
Se o amor são fogos que se acendem
Sem artifícios
Eu já quis ser bailarina
São coisas que eu não esqueço
E continuo ainda a sê-las
Minha vida me alucina
É como um filme que faço
Mas faço melhor ainda
Do que as estrelas
Então eu digo, amor
Chegue mais perto
E prove ao certo qual é o meu sabor
Ouça meu peito agora
Venha compor uma trilha sonora
Pra o amor
Eu gosto de ser mulher
Que mostra mais o que sente
O lado quente do ser
E canta mais docemente.
Marina Lima/Antonio Cícero

Georg Simmel

Simmel(1858- 1918)
Para uma leitura sócio-antropológica e necessária a mundanças comportamentais em relação ao conhecimento:
"Culto é aquele que sabe encontar aquilo que não sabe"

Sobrevivendo à luz do sol


Minha cara exposta ao vento, rachando com o tempo, enfrentando o mundo, à toa, sem silêncio, gritando pela vida que se deve ter, em respeito, coletivamente nessas plagas daqui. Minha cara formulações de respostas sem perguntas; tudo muito óbvio e pouco sereno à quentura do sol preciso nos lugares inóspitos deste balneário contínuo: uma Salvador - gente - pedindo socorro por está cada vez mais atrasada e cada vez mais desumanizada e cada vez mais excludente.
Minha casa única que se veste do fogo solar: o mar de mim mesmo; eu peixe fora d'água sobrevivendo assim: à luz do sol.

terça-feira, 10 de março de 2009

Abraços na Arte: Brasil/ Japão

Manabu Mabe

A exposição Abraços na Arte: Brasil - Japão, em homenagem ao Centenário da Imigração Japonesa no Brasil, com curadoria e também exposição de Roberto Okinaka e Yugo Mabe, continua aberta ao público até o dia 12 de abril. É mais uma oportunidade para baianos e turistas conferirem as obras de nomes importantes para a arte Nipo-Brasileira, a exemplo de Manabu Mabe e Tomie Ohtake.


Abaixo um pouco do pensamento do artista plástico Manabu Mabe e a influência do Brasil em suas obras:
"Dentro da chama da paixão cristaliza-se algo: Eis a Arte Nas telas registro a minha própria vida" Mabe - 1985Perguntado se o Brasil influenciou a obra dele, Mabe responde:"Sabe, desde criança eu vivo no Brasil. Então, personalidade para mim é brasileiro, né? Mas rosto, nem adianta né? Cada vez ficando japonês, cada vez japonês. Mas sou criado no Brasil, então costume e pensamento muito brasileiro. Agora, a cor forte, essa cor forte é também o sol do interior do Brasil, do Noroeste. Sol quente e céu muito azul. Agora, lá não tem montanha, é um pampa, vai até cem quilômetros a mesma coisa, não tem montanhas, sempre mato. E fruta, por exemplo: gostoso, doce e colorido. Então, desde criança, terra vermelha, céu azul, frutas, passarinhos, papagaio, essas coisas. Muito sentimental e muito vida colorida também."


Serviço:

Mostra: Abraços na Arte/Brasil – Japão

Local: Palacete das Artes Rodin Bahia

Curadoria: Roberto Okinaka/ Yugo Mabe

Período: 12 de dezembro a 12 de abril de 2009
Horário: das 10 às 18h. (sempre das terças-feiras aos domingos)

Endereço: Rua da Graça, nº 284, Graça

Entrada Franca

segunda-feira, 9 de março de 2009

Malu Mader ( sempre)

Para Edu O.

Meu caro Edu,

Essa moça principiou minhas confusões e confesso: é a menina (hoje com 42 anos) dos meus sonhos. Coisas inexplicáveis que o mundo business faz com a gente. Achei lindo seu encantamento com ela e sempre, de algum modo, trago pra mim a imagem dela que me fazia esperar e ter esperança. Anos Dourados me ocupa inteiramente, já reassisti o seriado várias vezes e comprei o DVD para rever sempre que a imagem de Malu, inocência e beleza, me falta e eu preciso sonhar. Um seriado que tem como trilha Maysa cantando Franqueza e Dinah Washington embalando What's a diference a day makes - primor da TV Globo. Foram muitas malus e eu sei que a de fora de cena é bem difícil. Mas a menina cênica, em muitas personagens, se eternizou em mim... Vai, agora, aqui: em homenagem à nossa alegria e fantasias infanto-juvenis. Malu é coisa da gente, né? Você me entende.


Alaíde Costa canta Milton - Amor Amigo

Um disco para ser sentido. Perfaz o caminho de uma justa homenagem ao grande Milton Nascimento na voz de ressonâncias da não menos grande Alaíde Costa - emprestando-se com alma a canções como Cais ( de morrer e viver ao mesmo tempo), Canção do sal, e com o próprio, em Viola violar. Talvez muitos atestem questões de idade e superação pelo fator tempo...Bobagens, meus filhos e minhas filhas, corram e comprem o disco...Ele me deu uma alegria de criança ao ouvir Alaíde ali no tempo dela cantando certeiramente. Sei que vou ouvir Bethânia sempre grandiosa até o fim e nas paradas do sucesso. Então, coloquem Alaíde nas paradas porque ela nos é um sucesso eterno.

Alaíde Costa


É só para falar em afinação e intensidade. Depois desfiar lembranças que nos inscrevem no universo sereno e belo de uma das maiores cantoras brasileiras, ultraveterana, e que ainda está em atividade e iluminando-nos com seu canto elegante e certeiro: Alaíde Costa. Uma voz de muitos significados, referências musicais históricas que tem no tempo o trunfo da consagração gerado pela experiência de uma senhora que começou a cantar aos 13 anos, nasceu em 1935, e ainda produz raridades sonoras com a voz de 74 anos. Mágica mulher deste lugar chamado Brasil.

Clara Nunes


Manhã de março chuvosa e um pouquinho depois: muito sol e calor. Na minha cabeça uma canção: ô areia, ô areia...ô areia, ô areia; Canta Juliana Ribeiro. O telefone toca: mãe Zulmira me liga e me abençoa: mais sol, só que agora o do equilíbrio, o da proteção. O telefone toca novamente: Stella Maris aos meus ouvidos: Iemanjá ratificando-se em mim, no meu Ori, no meu destino... Um início de tarde azulzinha e outra voz na minha cabeça: a de Clara Nunes.
A limpidez de uma força que nós não esquecemos e só agradecemos pela beleza que dela se nos espalhou pela sonoridade que saía dela... O impacto da saudade permanente: Diva Vieira Passos.
Clara rodando no Mar serenou. E esta vontade de ser brasileiro, esse orgulho de ser brasileiro na rota musical dos sambas reinventados por Clara. Minha infância me visitando nesta manhã de março e eu só escapo pelas vias da poesia; sem muito esforço: Clara sambando A Deusa dos Orixás, Guerreira, Coração Leviano. Esta música inscrita na minha memória me empurrando para um ideal de brasilidade que me alenta e nela, eu sinto vontade de ser eterno existindo no Brasil. Vive Clara Nunes.

sábado, 7 de março de 2009

A menina do sonho

Malu Mader

Hoje a menina do sonho não veio me acordar
Quem sabe até tenha vindo e eu não soube sonhar
Quem sabe até tenha tentado me descobrir
Em meio ao sono pesado a dormir, a dormir

Quem sabe até tenha vindo visitar meu sono
E quem sabe era só o abandono da alma dormida na vida
O que havia no fundo de mim pra se ver
Que ela, menina do sonho, ficou comovida
E não fez nada mais que sorrir
Partindo logo em seguida a buscar por aí
Outra morada pro sonho, por ser ela fada
Fadada a viver, com seu corpo no nada
O instante, o espaço, o abraço real da ilusão de existir
Quem terá tido essa noite
O sonhar visitado por ela ou por um querubim
Já que a menina do sonho não veio pra mim?
Gilberto Gil

Azul


Essa cor não sai de mim. O mais eficaz alimento visual espraiado em água marítima, em céu ensolarado, lençois na cama, na parede do quarto; na tela-pintura que imagino; numa camisa que me veste de sonho; no sentido do meu corpo percorrendo a vontade de amar. O azul signifca, em mim, a cor real do amor. Assim, como Djavan, "o amor é azulzinho". Eu o quero em mim me integrando ao infinito do planeta Terra; inspirando-me a estar debaixo do céu e perto do mar...Piegas, o azul em todos os lugares da minha consciência e saúde para que eu o possa sempre encontrar.

Sem razão nenhuma


Por isso eu te falei. Te assustei. Te perdi. Me perdi. Mas me eternizei no desejo que me esculpiu a querer dizer: eu amo você... E nada mais surgiu.

Tincoãs

Jangada - 1973

Eles trouxeram para o centro da MPB o mistério, o ritmo, a beleza e a leveza da música feita, principalmente na Bahia, à luz da tradição afro-brasileira. Foram emblemáticos ao espalhar por nosso país sonoridades sagradas e profanas de teor negro e mestiço e alcançaram as rádios com elegância e talento, ocupando um espaço de destaque que representa, em verdade, o povo brasileiro; ou mais reduzidamente, o povo baiano.
Vieram de Cachoeira e quando esta cidade surge, alongandas explicações se fazem desnecessárias. Redescobram Tincõas - e deixem a beleza em suas vidas.

Mananciais do poder feminino


Talvez a antropóloga Ruth Landes tenha exagerado ao chamar Salvador de “A cidade das mulheres”, em 1938, destacando o matriarcado exercido pelas damas do candomblé jeje-nagô da capital baiana. Exagerado por fazer crer a muitos incautos ou leitores precipitados, que na Bahia o poder de ordem política, em toda nossa sociedade, era exercido por mulheres.
Contudo, a experiência religiosa no universo afro-brasileiro, garantiu a muitas mulheres, entre elas as chamadas negras do Partido Alto, endinheiradas através de atividades comerciais, e as líderes espirituais que ficaram (e são) conhecidas como mães-de-santo, o exercício do poder comunitário e a preservação da ancestralidade e da geração de sobrevivência para muitos humanos negros, que se viam apoiados e socializados nos espaços destinados ao culto aos orixás, o terreiro.
Não se pode pensar em candomblé, essa religião criada por nossos irmãos africanos no Brasil, sem destacar-se a figura feminina, sem priorizar, no interior desta religião, o poder inalienável da mulher. O candomblé baiano é uma seara de feminilidades e feminilizações; a natureza deste culto, voltado à possessão e a todos os elementos naturais que regem a vida em nosso planeta, finca-se numa conformação sócio-existencial, na qual o feminino é fundamental na tarefa de religar o humano aos seres etéreos do Orun (o céu do povo-de-santo) e assim realizar, entre os vivos, a satisfação espiritual.
Destas mães brotam mananciais de poder personificado em sabedoria litúrgica. O sentido agregador daquilo que o mestre Vivaldo da Costa Lima chamou de família-de-santo, se estruturou melhor nas zonas de domínio sócio-espiritual onde o comando era exercido por uma mulher, reconhecida por sua iniciação no culto jeje-nagô.
É claro que grandes mães-de-santo também representam o modelo congo-angola na Bahia; não se pode esquecer Mirinha do Portão; nem atualmente ocultar o nome da grandiosa Zulmira, em Lauro de Freitas, que teve como uma de suas iniciadoras Gaiaku Luiza. Nem se deve desprezar o masculino no candomblé, jamais. A harmonia desta religião centra-se no equilíbrio entre feminino e masculino, onde cada papel de gênero deve ser exercido ritualisticamente de acordo ao “sexo” que define humanos e divindades.
E dessa luz-mulher que jorra dos nossos terreiros, alguns nomes não podem ser esquecidos: mãe Aninha, mãe Pulchéria, mãe Senhora, Gaiaku Luiza, e mãe Menininha, entre as mortas; realçando as vivas, mãe Stella de Oxóssi, íntegra representação do poder feminino; mãe Tatá de Oxum, mãe Cutu de Ogum, mãe Lelu de Iemanjá Ogunté, rainha no Pau Miúdo; mãe Val de Airá, a nobreza do Terreiro do Cobre; mãe Helenice de Oxum, mãe Gitolu, mãe Zulmira de Nanã e Carmélia de Oxaguian. As poderosas da Bahia.
(Publicado no Opinião do A Tarde em 06/03/2008)

quarta-feira, 4 de março de 2009

Só para ver

Maria, linda !
E basta.

Pele

Maria
Esta canção( Pele) me transporta para o centro da ideia que tenho do amor, do cuidado que devemos ter com o amor, da beleza de ter a quem doce e livremente cuidar... Vem na voz de Maria - sob a medida do canto profundo desse veículo de cor e paixão que é a garganta de Maria, e da pronúncia de Maria eu revivo o drama feliz e cruel de amar repetindo os versos lindíssimos do meu muso Caetano Veloso. Uma festa de pele e memória nos meus ouvidos e deve ser publicado aqui como se estivesse se decretando uma eternidade. A canção:
Deus deseja que a tua doçura
Que também é a dele
Se revele, mais pura, na tua pele
E que eu pouse a tua mão sobre o teu colo
Lua na noite escura
E a brancura do pólo se descongele
Essa pele de criança
Essa rima pra esperança
Tão antiga e nova
Que põe tudo à prova
Esse repouso, essa dança
Que me impele, que me lança
No meio da vida
Pra uma outra trova
Pele, pétala calma
Pele, parte mais clara da alma
Que o mistério se desvele
E outra vez mistério seja
Sobre tua pele
É o que Deus deseja
Tua pele luminosa
Madrepérola animada
Mensagem da rosa, enfim decifrada.
Caetano Veloso
P.S.: Encontra-se no disco Talismã (1980), de Maria Bethânia.

A origem das saias


"Perde-se nos tempos a origem do uso da saia, que foi, inicialmente, e durante muitos séculos, vestimenta masculina. Mas as mulheres, por motivo não explicado, adotaram-na como sua. Devido a isso, os homens foram abolindo o seu uso,restando alguns povos orientais,como os beduínos e os mandarins,certas castas da Índia e do Japão, que continuaram adotando-as. Também os escoceses e certos regimentos do exército grego. O problema agora é que as mulheres modernas resolveram adotar também o uso de calças. Como vai ser então? O que é que fica para os homens usarem, afinal?"
Clarice Lispector