sábado, 29 de setembro de 2012

Da alegria

Dizem que a alegria é árida e improdutiva. Talvez. Mas ela é em si. Força renovadora e cultivadora de sentidos que significam a vida. Ela nos deixa na gente em comunhão com outros, favorece a recepção do mundo sem os ácidos cotidianos que nos tornam só árduos pensamentos. Alegria é transbordo sem causar alagamentos; venta em direção do mar e lá, faz brisa para que sonhos aconteçam.

Alegria  é perfume e prescinde até de poesia, pois ela é em si, isso de ser: alegria. Um sorriso profundo até lágrimas nos olhos, um abraço no susto apertando a alma, o estar do amor, banho marítimo à luz do sol, sorvete depois do cineminha...E amigos, alegria é conviver com amigos, é saber da generosidade como elo, como mágica para a aproximação. Alegria  enluara as noites e nos faz música. Condiz com esperança e impelindo-a do mais fundo que há: a fé. Alegria é ter fé e sentir amor pelo mundo.

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Dentro de mim

Entre igarapés e águas do mar da Bahia, deslizo a favor do sentido de querer existir. Secou  a pressa, mas insiste a promessa de escrever viajar aglutinar sorrir chorar criar amar e crer. Tudo mora em mim. E transvejo, fazendo silêncio, a mais importante possibilidade. Transvejo, dali, meus braços no parapeito da janela, uma vida verde-azulada em comunhão com alguns sonhos. Amor dentro de mim. Sereno banho que limpa e aquece. Renovo pedidos e no melhor de tudo: agradeço. Fé em mim. No âmago da água.

Profecia

Para transformar de vez os instantes das lamentações:
ergo todo carinho no banho matutino que cuida de mim,
escolho os pensamentos e esqueço memórias doídas;
sei muito pouco e nunca mais saberia,
mas ardo em sentimentos e vento
a alegria de ainda estar por aqui.

Tenho a fantasia da infância,
aguardo chegadas  cantando,
fazendo a roda da esperança,
viajando por onde não há impedimentos.

Transformo-me aos meus próprios olhos,
arqueio-me ao encontro do que mereço;
seu amor me resguarda e amanhece,
à noite, o desejo nos define,
nesses instantes, seguimos entre feitiço e felicidade.

Seus olhos sobre mim,
como sempre quis o mistério.

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

entre flores e sorte

deixei o desnecessário do lado de lá. abri as comportas da imaginação para me assegurar do impossível, lotado no sentido da esperança que pressinto frente ao estar de uma rosa amarela. formulei-me no mais simples, no minúsculo da escrita, fronte viva do meu silêncio, porque hoje é dia de sorte.

deixei avalanches de dizeres para ser à margem de um córrego sem rumo a solução do que encontro serenando no olho puro do amor brotando. desenhei flores e dia, sol bem manso, chuvinha,  o som da risada, caminhada ao largo do tempo, veneno e desejo, carinho inimaginável, tremores, timidez, mais silêncio nesse risco que tanto corro quando lhe escrevo.

voltei.

as arestas aparadas das palavras que aprendi contigo.

voltei.

seco de sede de poesia, sendo- me homem e mulher, o mais delicado, para o amor que quer nascer.

volte também. para dentro do inexplicável que muito entende eu e você.

setembro, flores e sorte.

sábado, 8 de setembro de 2012

Violeta Parra: tamanha é a minha dor



 
Não seria só para constatar: a pobreza desaloja a gente. E a vida é mais forte que um poema, uma pintura, um desenho. A vida, às vezes, nos arranca do que nunca fomos, sangra nossos sonhos, e nos deixa até sem vontade. E a imagem é uma índia chilena cantando. Solta como um rio em vermelho pelas ruas do mundo. Imundo. O mundo. Rio lavando as desigualdades, mas silenciando. O tiro que dispara desde o nascimento, mas só se sabe após a criação. A arte quase salva até mesmo do sucesso.

A falta da palavra na pesquisa que faz o som. A vida minha que é dos outros. O outro entremeio da dilaceração – espúrio capitalismo -; confuso socialismo dos revolucionários enricando. O poder martelo esmigalhando o direito de ser. A voz da índia se matando. O corte em nome do povo. A lírica da pobreza vencendo a genialidade. Genialidade como negação. O risível que se alonga virando eternidade. A música paisagem da história latina na América. Índios, negros, mestiços e animais. Árvores e crianças. Galinhas e gaviões. Mordaça no silêncio gritando a transformação.

O amor. Esse esteio que tanto falta. Essa couraça da imprecisão. O amor por todos, pelo mundo. Imundo. O amor cerração. Frio andino. Mundo imundo sem lados em ampla descrença. Sujeitos-capital, sujeitos alaranjados e vermelhos: o feio que não possui significação.

Amor na voz de dor da índia eternizada. Sons e palavras. Sem nada a constatar.

Pela luz dessa Água que me habita






Ainda que muito difícil: eis-me à guisa do que me faz continuar.
Eis-me nessa oração aos ventos frente ao mar da minha existência.
Eis-me no mais profundo sentido: agradecido.
Indo por todo lugar,
Seguro na mão branco azul dos céus
No colo verde azul do mar.
De Abeokutá a Paris,
Subindo as ásperas ladeiras da Bahia,
Desaguando dor e alegria,
Esta força me faz sonhar.
Entre a pomba e o peixe
A nuvem e a onda,
No centro desta luta
Que venço ao corte do meu alfanje,
Dentro da presença divina de Oxoguian,
Da música maioral da minha Mãe,
Rainha de todas as águas,
Razão da fé que me conduz.