terça-feira, 29 de maio de 2012

Oásis de Bethânia


Oásis de Bethânia


POR MARLON MARCOS ( no blog Terra Magazine - 29/05/2012)


Para argumentar, inicialmente, este artigo sobre o novo trabalho fonográfico da cantora Maria Bethânia, Oásis de Bethânia, bastaria dizer que este nasceu da sua ação íntima como artista e pensadora e traduz a sua singularidade. É notável que toda obra da cantora baiana fundamenta-se naquilo que ela é para si mesma, ou seja, no que ela escolhe para dizer e para cantar e é fruto de um esteio estético orientado por sua consciência no mundo, viabilizado pela inteligência privilegiada, enriquecido pelas matrizes culturais das quais ela bebeu como criatura nascida no Recôncavo baiano.

Um disco que aponta uma leve reinvenção sem distanciar-se das principais características que deram vida a personagem Maria Bethânia no cancioneiro brasileiro. Ela canta dez canções escolhidas para comunicar lítero-musicalmente as transformações que ocorreram em sua vida desde os belos trabalhos Tua e Encanteria, lançados em 2009, pela gravadora Biscoito Fino. Para cada canção um arranjador e executor diferente, criando atmosferas mais diversas e acertando na ideia em alterar identidades sonoras antes mais homogêneas com as criações exclusivas do seu maestro (há quase 30 anos) Jaime Alem.

Numa primeira audição o disco pode parecer doído e noturno. Mergulhando mais um pouco, insurge-se contra isso, a luz solar do canto que, ao meio da dor, ainda assim, imprime esperança e bem estar auditivo. Um compósito do amadurecimento e da liberdade que definem os trabalhos feitos por Maria Bethânia, inclinando-se a novidades que não superam suas marcas expressivas e nem adulteram sua personalidade artística.

O violão e arranjos de Lenine, em Velho Francisco, de Chico Buarque, emolduram a força que a cantora deu a esta canção; surge a viola caipira em Fado, do baiano Roque Ferreira, arranjada e executada por Jaime Alem; Jorge Helder é co-criador geral da proposta estética do Oásis de Bethânia, junto com a cantora, e de novo com ela, cria os arranjos para um dos momentos mais líricos e delicados do disco, Casablanca, também de Roque Ferreira. Lágrima, de Cândido das Neves, é arranjada e executada com o primor de Hamilton de Holanda; tem Calmaria de Jota Velloso, adaptada por Bethânia e acompanhada nos berimbaus por Marcelo Costa e Marco Lobo.

Ainda nas canções: Barulho ( Roque ferreira), Calúnia ( Marino Pinto e Paulo Soledane), Salmo ( Rafael Rabelo e Paulo César Pinheiro) trazem respectivamente como arranjadores Maria Bethânia e Jorge Helder, Maurício Carrilho e André Mehmari. E costuram a paixão comum na interpretação da cantora e, ainda, alude a uma das suas inspirações, Dalva de Oliveira, marcada pela canção Calúnia.

A terceira canção do CD, Vive, com uma levada pop, é acompanhada pelo timbre do violão de Djavan, que a escreveu e a arranjou, e mostra ao Brasil, que se é possível tocar no Rádio algo de qualidade, leve, bem cantado e cheio de nuances que revigoram a noção do amor romântico e pode ser chamado de lindo.

Fernando Pessoa, no heterônimo Bernardo Soares, como indicação de Fauzi Arap, aparece em Não sei quantas almas tenho, numa récita que intercala Calmaria e Fado e desenha a inventividade da cantora, sua primorosa lição de intertextualidade, ligando a Bahia a Portugal, tocando fado à luz da viola caipira, juntando a poesia do sobrinho Jota Velloso à do mestre maior lisboeta.

É em Carta de amor, canção de número 9, que Maria Bethânia desfia, com intensidade, a sua grandeza comunicativa na cultura brasileira. De um texto escrito por ela com impressões sobre a sua vida, somando-se a trechos musicais criados brilhantemente por Paulo César Pinheiro, a cantora exorta a sua religiosidade, entre ensinamentos do catolicismo e das religiões de matrizes africanas, singularizando a sua presença no mainstream do nosso cancioneiro, com aspectos fundantes da sua condição sócio-existencial erguida pela junção do lusitano, africano e indígena, num diálogo de universalidade justaposto a isso, no CD Oásis de Bethânia. A canção fala de amor porque exprime fé e certezas que a cantora adquiriu em sua “territorialidade” de mulher pontualmente baiana.

Marlon Marcos é jornalista e antropólogo email: ogunte21@yahoo.com.br

domingo, 27 de maio de 2012

Gal em Recanto



DESBUNDEI:

Ele, Caetano Veloso, sobre ela, Gal Costa:


O que mais surpreende no show “Recanto” é a adequação de Gal ao novo repertório. Surpreende os outros, digo. Não a mim. Ouvindo o disco, não faltou quem achasse que Gal simplesmente cantava as canções que fiz para sua voz sem se comprometer muito com elas. A opção por estilo sóbrio, mais próximo do cool dos nossos começos do que do barulho do final dos anos 1960 ou (principalmente) do sentimental-dramático de anos posteriores, deu espaço para quem tenderia para esse equívoco. Claro que houve quem, de cara, ficasse tomado pela conexão imediata entre a cantora e o repertório, principalmente por se deixarem levar pela densidade de “Recanto escuro”, a faixa de abertura do disco. Mas muitos permaneceram desconfiados, sem saber como entender. Li manchete de jornal que dizia que ela era “mera vocalista” num disco de criações minhas e, pior, que ela “confundia ideias”. O show na Miranda desfez, num golpe, toda e qualquer ilusão a respeito do que de fato se dá no caso “Recanto”. E ontem (quinta-feira) à noite, aqui em São Paulo, os conteúdos que o definem se mostraram de forma exuberante, intensa demais, quase violenta, mesmo para mim.

Vim, por decisão própria (a produção não me requisitou ou convidou), ver a estreia do show numa casa de grandes proporções, procurando chegar a tempo de assistir à passagem de som. Na verdade, quase não consegui isso, embora tenha tomado um avião para chegar a Sampa em tempo hábil. É que os engarrafamentos na Pauliceia estão tomando dimensões de pesadelo. A cidade, vista do avião perto do fim da tarde, me pareceu tão bonita e vívida que me comoveu. Os prédios, sob a luz oblíqua e já amarelada da tarde, vinda de um sol que varava nuvens escuras, pareciam conversar, como observou John Cage quando esteve aqui (Cage é uma das pessoas que melhor viram São Paulo de primeira: a sensação de que os prédios conversam entre si — por estarem, à diferença dos de Nova York, onde eles aparecem enfileirados, como que se voltando, por caprichos individuais, para onde cada um vê sua atenção atraída; a presença das flores de cores variadas que surgem entre massas de concreto e tufos verdes, numa frequência surpreendente para quem tem tempo interno de atentar para isso, já que a maioria parece não imaginar que haja flores aqui e, por isso, apaga da mente as tantas que vê, abafando-as com as paredes duras que guardam na memória; a beleza única do vão livre do Masp; enfim, tudo o que há de bonito nesta cidade para ser visto ao primeiro olhar, sem falar nos mistérios, segredos e tesouros discretos desta terra tão difícil de aprender mas tão recompensadora para quem decide pagar o preço).
O trânsito não me impediu de ver algo da passagem de som e de ter uma ideia de como o show poderia ficar num palco grande. Gal estava saindo, ou começando a sair, de uma faringite- laringite que deixava sua voz muito vulnerável. O som do local, tratado do modo fino como Vavá Furquim o faz, resulta límpido. Como a banda de Domenico Lancellotti, Pedro Baby e Bruno Di Lullo é um milagre de economia e inspiração, tudo parecia excelente, e a voz de Gal se sentia quase em dívida com ela própria e com a oportunidade. Mas ela acreditava que a garganta ia aguentar. Na passagem, apenas três canções foram executadas.

Na hora do show, tudo o que me pareceu elogiável no teste se confirmou para um público grande (na Miranda, no Rio, tudo era sempre perfeito, mas é uma casa pequena, o que representa outro mundo para um show). Mas ao cantar “Divino, maravilhoso” a voz de Gal deu mostras de enfrentar grandes (possivelmente insuperáveis) problemas. E ela, ao fim do número, falou à plateia. Com firmeza e inteligência, até mesmo com humor doce, mas com uma ponta de incerteza de que seria capaz de ir até o fim. E até o fim, o que se viu foi uma Gal vencendo batalha após batalha. O que serviu, de modo arrebatador, para que todo o entendimento rico que ela tem do material com que trabalha se evidenciasse.
Às vezes ela não atingia com nitidez as notas que buscava, mas o jeito como encarava as palavras e as melodias revelava, mais do que em qualquer das noites na Miranda, os conteúdos que o show potencialmente sugere. Sua linguagem corporal se fez mais eloquente do que nunca. Toda uma história, toda uma tradição cênica que não deveríamos jamais deixar de associar à sua persona pública revivia com força tremenda . E , quando ela cantou “Autotune autoerótico”, a plateia inteira se pôs de pé para aplaudi-la ainda no meio da canção. Todas as caras e todos os gestos de mãos e quadris que lhe ocorriam vinham impregnados da cultura acumulada desde 1967, quando ela pela primeira vez buscou um estilo extrovertido para substituir a quietude cool de seus inícios. Muitas figuras do mundo do rock eram evocadas, mais ou menos conscientemente, em cada virada de corpo, em cada olhar ígneo. E sua sensualidade de juventude, tão fascinante nos anos 1970, voltava em comentários de mulher madura e dona de seu corpo.

Uma das coisas que mais me comoviam era que isso estivesse se dando exatamente em São Paulo. Onde tudo começou a ser o que é para nós, os baianos do tropicalismo. “Baby” soou como um tratado histórico vivido na carne por ela e pelas pessoas que a estavam vendo atuar. Eu próprio entendi melhor o que buscava quando quis produzir repertório novo para Gal cantar. Nossa vida recuperou grande parte de seu sentido. Como “Recanto” voltará à cidade do “Vapor barato”?

P.S.: Retirado do site Conteúdo Livre. 27/05/2012.

Mulher Gato

(Julie Newmar)


Era um tempo em que eu pouco sabia e me divertia à luz da televisão. Aprendia na mesma velocidade que imaginava. Relatava adorações, mitificava personagens, como toda criança, me misturava a elas. Sonho de ser através da educação frente à TV. Brilho e miudez - estar fora de si - para marca-se de prazer ocupando  os instantes da existência, no quadro da infância, mergulhado em confusões, nas quais, em muito, não se queria perceber. Mas foi. Uma gata miando e fascinando o lado mau do humano. Tão mau e tão humano: a cara linda da mulher. Livre e felina. Acesa no descontínuo que subverte as regras. Miau. Linda. Mulher e gato. Real.

Caixa de escrita


Porque ando sem saber onde me guardar para aguardar a mudança dos tempos. Para desenhar, entre ócio e estagnação, a vontade de me reinventar. Porque ando acima da leveza dos ares, sem me perguntar deveras, entre a primavera e o suicídio, o martírio e o orgasmo, indo para menos que a parte.

Ali, no gesto mais descritivo, à maneira da ilusão, na comoção do olhar que recebe e compreende o mundo, no sentido que orienta a vida, na caixa daquela escrita, eu, querendo me encontrar. Mergulho no efeito d'alma e elaboro tudo no silêncio que  lá está . No fundo da caixa que procuro. A caixa tesouro escritos dinamite vicejar. Obscuro quando me penso frente a esse espelho: o texto da escritora.

Conto instantes flutuando entre os urubus e purificando a Natureza. Minha incumbência, meu deslanchar que me separa de mim mesmo. Mesmo outro no quase agora não paro de doer. Nem de querer. Nem de viver. Confuso. Em cópias de entrelinhas que são dela. Minha criatividade rendida aos defeitos meus que não sanei. E condeno-me a ela para ter o que dizer.

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Gal Costa: "De amor eu morrerei"


Hoje, 25 de maio, acabando o mês em que nasci, posto aqui a voz intercontinental da grande Gal Costa em "De amor eu morrerei", pra mim, a forma mais legítima de. Aqui para pedir que tragam o show da diva para Salvador, que seu canto eterno reverbere-se pelo espaço sagrado do Teatro Castro Alves, e a gente frua Recanto, nas imaginações de Caetano na tela expressiva da voz mais doce que nossa música produziu. Venha Gal, para que seus discípulos de talento, como Claudia Cunha e Carlos Barros, renovem- se esteticamente e a Bahia, sua terra, tenha mais prazer.

Essa música me confunde e me funde a mim mesmo. Minha psicologia. Gal também é trilha do meu querer.

Estesia

Amor todo molhadinho é porque esqueceu o guarda-chuva.

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Sobras do quando não somos

Em algum tempo haverá assim:
Para antes e depois do sereno,
Inexatos movimentos lhe trarão aqui.
E eu estarei nos seus olhos carregados de si
E você estará em meus olhos carregados de sim.
Abrirar-se-á a conversa que nos faltou
E o tempo se recomporá no agora
Pois nada tardou...
O si que lhe traduz irá se diluir
No sempre lhe quis em mim
E tudo que não for nós dois,
Sobrará à eternidade.

Maria Bethânia

Eterna e inventiva. Protegida de Oyá.  Controle de qualidade em minha Vida.

terça-feira, 22 de maio de 2012

Tensão do apreço'

P/ Gibran Sousa


Do jeito que se recebe poesia. Alegoria do apreço na forma do abraço e a voz, quando tão dita, a voz precisa nos fazendo imaginar. Entremeio de azul no branco, perfume cítrico, menino instante, carinho estratégico, olhar desértico, mãos sem toque, distantes; a fala como penumbra, íntima, fugaz, aquecida, simples, voraz. Linguagem semi-masculina. O homem dita madrigais que renascem outonos: chuva e frio, a perda! O riso.

Lembra a dança dos sonhos virando literatura escrita com a voz. Lá atrás: a música rememorando, ora felicidade ora tristeza ora vontade de. Paisagens mil no palco vindas da leveza sensual. Brilho nos olhos numa verdade inventada. Récita primorosa subtraindo-se em carnaval. Semi-feminina no esmero pontual de um dizer abelha-rainha. Ouve-se e vê o moço dos ombros. Balançam para fornecer mais sentido ao dito feito poesia.

Queda mão, agita o peito, faz da vida harmonia. No palco. Entrega-se no quase abraço que ainda não sabe querer. E abre a voz entre noites e manhãs: no palco. Se diz no pós-português: será branca ou azul a camisa, ou não há camisa no que se ouviu daquela voz?

No palco. Lugar de tensão. No caso de algumas récitas, tensão do apreço.

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Maria Bethânia - Jeito de Amar



Para festejar mais um ano nesta minha caminhada do lado de cá. Na voz dela -  o aclive da minha existência que me alimenta de sonhos, de alegrias, de paixão, de amor. Obrigado, Bethânia!

A favor da arte na minha vida: ela, Maria, meu controle de qualidade!!!

domingo, 20 de maio de 2012

Aniversariar

não sei se mora dentro de mim o manancial das ilusões; se tento e não consigo pela precisa lei que me evita os sonhos; se escorro pelas ruas da alma sem corpo humano. tão necessário ao silêncio que nunca soube fazer, recortado como flor de papel no chão de um jardim de luxo, eu tão descartável e resoluto a navegar lembranças dos que me fizeram mal. não sei se me pergunto para piorar a consciência do mundo que não me sai. devo pronunciar verdades e encontrar tempo para ser. enlarguecer esse instante que me faz gritar aos montes, a gente que não me vê. devo seguir a trilha da persistência, abarcar  a hipocrisia em todos e me fazer valer. ter este sal que me tempera e imaginar. escrever de mim em mim por mim qualquer delação. ter a indecência de ser eterno num tempo que só me dói. mas eu tenho Fé.

Ricardo Darín



A mágica dos dias espraiada pela arte,
O sabor dos lugares inalcançáveis,
Uma tarde fria com leitura e café.
Encontro com o que não se pode,
O consorte da excelência,
O talento dentro do cotidiano,
E o conforto confronto com o mais belo.
Sonoridades de sax e violino no texto de Borges,
Para encenar um drama bruto da vida humana.
O espelho azul dos olhos do ator e a confusão
Do homem desejando o homem.

sábado, 19 de maio de 2012

Ornamentando meu sábado



Como tem que ser. Roupa integralmente branca.  Sorriso para a vida e a dança do querer encontrar. Do pensamento até ao centro do meu lugar. As águas. Sair para fazer. Saber desejar. É sábado e tem chuvinha do céu. Pensamento cinematográfico e narrativas do eu. Minha cor azul. Amor que restou. Vento da inspiração na gargalhada dos amigos. A emoção de estar vivo com sentido, utilidade, saúde e possibilidades de se exercer sendo. Eu amo sábado!

sexta-feira, 18 de maio de 2012

A fonte das mulheres


Sob a direção do romeno Radu Mihaileanu, as mulheres do mundo islâmico, situado ao norte da África, são tratadas numa bela narrativa com enfoques sócio-antropológicos acerca de gênero. Disseram que o filme é politicamente correto, num discurso feminista mostrando "evoluções" comportamentais entre os árabes daquela região.

Para além de elaborações acadêmicas e da crítica lugar comum, o filme entorna poesia numa possibilidade de costurar as relações entre homem e mulher de modo mais equânime. Exitoso no construir a ideia de mudanças geradas pela organização feminina. Atuação impecável de algumas mulheres e o lirismo do encontro, quando há encontro, entre pessoas que se amam.

Formulações da água como metáfora da vida advinda do feminino. O pensamento atiçando o desejo de liberdade, que se aguça pelo conhecimento adquirido através do exercício da leitura, do estudo, da procura e do confronto do eu com a opressão.

"A fonte das mulheres não é água. A fonte das mulheres é o amor. A fonte das mulheres é o amor". Estas máximas traduzem o percurso do filme apontando o amor como o sentido maior para a vida humana, tendo a mulher como ativista fundamental para a consolidação deste cenário.

Precioso sim. Aquece a gente de esperança e movimenta-nos a querer se lançar a favor dos sonhos e contra as dominações. E favorece o nosso abandono em nome do amor. Perfuma os olhos com o amor filtrado pela noção do feminino no mundo. Tem a mágica da idealização e permite ao espectador a delícia de ter, ali, na tela, um final feliz.

Nesses dias de muita intelecção: o filme é imprescindível.

Gilberto Gil: imensurabilidade baiana



Hoje, às 21 horas, no centro do mais sagrado veículo artístico baiano, o palco do Teatro Castro Alves, pousa Concerto de Cordas e Máquina de Ritmos, show comemorativo do amadíssimo Gilberto Gil pelos seus 70 anos de existência, com a participação da Orquestra Sinfônica da Bahia.

Gilberto Gil fará em 26 de junho próximo, 70 anos, sendo que quase 50 dedicados à Música Popular Brasileira. Um dos mais importantes músicos vivos do mundo, responsável pela irradiação planetária de vários elementos da cultura baiana, da inventividade negra, dos compassos de velhas tradições em diálogo aberto e criativo com o mais novo, em matéria de som e tecnologia, que apareceu entre os humanos nas últimas quatro décadas.

E poeta. O canceriano pai de muitos filhos, avô de alguns netos, senhor de temperos que deram raro sabor e revolucionaram a canção neste país. O agnóstico inserido no universo estético e religioso do candomblé, dividido entre Xangô e Logum Edé, entremeio das iyás Stella de Oxóssi e Mãe Menininha, seguindo os caminhos deste seu povo da Bahia, que ele também ajudou a educar.

Gil é um aceno para a sabedoria. O super homem que adoçou nossos sonhos cantando o amor pela mulher, sem deixar de defender o amor entre os iguais; cantou budas e orixás, santos e desumanos, num acordo reflexivo entre ciência e empirismo para a vida melhorar. Fez- se encanto em sua mágica presença no palco, a voz oriente de tanta fruição e aprendizado que pincelou, naquela musicalidade, uma nação mais feliz.

Rebelou-se e transgrediu. Altivo e convincente, ele transpôs a burrice violenta em vários períodos no Brasil. Renovador de si mesmo, condutor de belezas e alegrias que deram sentido à vida de muitos brasileiros. A linha e o linho desenhando uma das mais delicadas declarações de amor em nosso cancioneiro. O escultor do mistério que sempre pinta por aqui refrescando nossa alma.

Patrimônio precioso nosso refletindo-se em Caetano Bethânia Gal, animando a memória em Caymmi e Luiz Gonzaga, em paz com Bob Marley, eterno com a régua e o compasso que a Bahia lhe deu.

Marlon Marcos é jornalista e antropólogo  email: ogunte21@yahoo.com.br

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Coragem

Provavelmente uma tempestade. Dicas para sair se perdendo por aí. Quebra de sigilo e  muita velocidade para ver o sol se pondo. Tudo com fim, mas errático, ao longe, tocando, brilhando, molhando, sendo grito e sede, fome com força, abertura pé na porta, coragem.

Provavelmente um rosto menino em seu sorriso elegante e o mistério aceso embaixo do tecido. Um vinho e o disco de Dinah Washington penetrando. Alinhamentos das bocas para fazer ventania. E chuva. Outros líquidos. Aos montes se veem do espelho. Rasgo na agonia do prazer. Livro ensaiando anoitecer. Comecinho do que já era tão tarde. Ânsia vigorosa bem vinda todas as histórias mitos e fugacidade.

Provavelmente o ele não falta não se controla não pode mais negar. A lua banha. O mar emoldura. O sorriso acompanha feito paz frente ao desespero trazido pela tempestade. Quase paixão. O descrito pulou para amor e viceja como uma "flor brotando do impossível chão".

terça-feira, 15 de maio de 2012

Gil Planetário


Ele estará, nos dias 18 e 19, às 21 horas, no palco do Teatro Castro Alves, celebrando, com o show Concerto de Cordas e Máquina de Ritmo, seus 70 anos de existência! Que sábia e bela existência... Que exato cumprimento da dádiva de existir que o Universo lhe dera. Criação e amor, dores e superação: sábio! Patrimônio precioso da nossa Bahia e do nosso Brasil...

Vindo dele eu acredito:

"O melhor lugar do mundo é aqui,
 E agora bis
 Aqui onde indefinido
 Agora que é quase quando
 Quando ser leve ou pesado
 Deixa de fazer sentido
 Aqui de onde o olho mira
 Agora que ouvido escuta
 O tempo que a voz não fala
 Mas que o coração tributa
 O melhor lugar do mundo é aqui,
 E agora bis
 Aqui onde a cor é clara
 Agora que é tudo escuro
 Viver em Guadalajara
 Dentro de um figo maduro
 Aqui longe em nova deli
 Agora sete, oito ou nove
 Sentir é questão de pele
 Amor é tudo que move
 O melhor lugar do mundo é aqui,
 E agora bis
 Aqui perto passa um rio
 Agora eu vi um lagarto
 Morrer deve ser tão frio
 Quanto na hora do parto
 Aqui fora de perigo
 Agora dentro de instantes
 Depois de tudo que eu digo
 Muito embora muito antes
 O melhor lugar do mundo é aqui".
Gilberto Rei Gil

P.S.: Com licença a Carlos Barros

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Amor

Amor pelo que descreve
Intensifca os sentidos
Cria e tira o juízo
Faz respirar.

Amor à luz do destino
À maneira do imaginar
Besteira, correnteza, descansar.

Amor para além da China
Estando bem dentro aqui
Florindo de amarelo o cotidiano
De rosas o sonho
E de azul, o mistério.

Amor para parar de falar
Cantar na paixão da mulher
E ser mais verde
Nas memórias do mar.

domingo, 13 de maio de 2012

Do existir



E sempre será por esses horizontes de mim o impulso que me leva. O mar que me navega, a força que me orienta à luz dos meus sonhos: o canto profundo da minha Mãe Iemanjá.

Ficará inscrito como tatuagem na pele da minha memória, momentos de glória, a sorte que não vai me abandonar. Será outra representação de mim na sagração do jogo de Ifá me iluminando o destino.

Não serei eu sozinho. O corte contra a violência. A alavanca da prosperidade. Possibilidades e caminhos: desejos a realizar. Ogum que me proteja na forja da sua consagração. Que o negro de mim persista.

Que sejam muitos dias ainda, banhados da beleza da poesia e inclinados aos escritos que, de mim, alcançarão o mundo.

Sem muitas certezas, sem as desnecessárias perturbações, o número que me marca nesse aclive em minha existência. Subo sem solenidade e sem as máscaras da arrogância. Ganho. A coragem em seguir protegido pelo Universo que sempre cuidará de mim.


sábado, 12 de maio de 2012

Maio

Motivos para renascer. Ter sol em paisagens marítimas e finda esta dor que não me quer largar. Um tempo destas palavras que esboço dentro da esperança que alimento. Um tempo da fome por beleza e fazeres saudáveis. Um tempo na explosão do tempo fazer acontecer. Tempo tem. No corpo que é meu e me delato com coragem e encenação. Toco na mudança que fisga este momento. É tempo de renascer.

Olhares medo

Se me pergunto lhe vejo
E, ali, nebulosamente,
Com muito medo
Insisto encontrar o seu olhar
Que brinca de buscar o meu.

Três

Alguma coisa para ser dita. Dois filmes, um livro, Chico Buarque, Gil chegando, o aconchego da sobriedade, a verdade ventilando; os escritos, dois discos, sonora noturna, a lua maiúscula, olhares efebos em sala, cores, perguntas etnográficas, prazer das aulas, a imensa alegria por estar estudando.

Tudo no indício de que não pode haver desistência e o quanto vale sonhar. Caminhos. O poeta escrevinhando canções. Lembro da irmã límpida nobreza da realização em meus sentidos. Do meu ouvido abrigando a voz dela. Ter que recaptular. É noite.

A voz de Camelo na dança agradável de Amarante, o som daquela banda, a esperança amorosa da plateia, sonhos revividos, um tempo novo, consolo, o passado passou. A Concha Acústica da minha cidade no mundo, dizeres no muro, eu ainda querendo encontro.

Do lugar dos ônibus e o tombo maluco da vida processando. Outro livro, este risca marca insiste em deixar a saudade, mesmo no mudar das páginas, mesmo no acelerar das horas. Rush. Aprendo agora o que devo mas a preguiça ainda está. De olho em mim mesmo: valeram-me todos os sonhos e o seu.

domingo, 6 de maio de 2012

Indiozinho


Toda inocência que perfuma o humano em sua infância. Desenha -lhe a beleza  que deve ser protegida, assistida, amada em qualquer ressignificação cultural. A gente cresce e se expurga e se esquece que um dia também foi assim e precisou disso para que chegasse até aqui.

quarta-feira, 2 de maio de 2012

Quando ela diz...


Não sei quantas almas tenho
Cada momento mudei
Continuamente me estranho
Nunca me vi, nem olhei
De tanto ser, só tenho alma
Às vezes sou o Deus que trago em mim
E então sou o Deus, e o crente, e a prece,
E  a imagem de marfim em que esse Deus se esquece”.
Fernando Pessoa  (Bernardo Soares)

Irrefutável, senhor governador


Por um País, de fato, melhor. Dignidade salarial a nós professores!

Mãe Stella de Oxóssi


São 87 anos de vida: 02 de maio!
73 dedicados ao Orixá.
Caminhos difíceis trilhados com a destreza do Caçador.
Sabedoria, discrição, força e vontade de ser.
Mulher em múltiplas dimensões: a coragem que se lhe impele.
O amor como pouso e vontade de ter.
Ela em seu azul celeste, em seu mata verde, seu vermelho expressão.
Silêncio.
A Bahia vibra em si pela beleza dela.
Acordes de Atabaques, saxofones, trompetes
Thelonius Monk em Ederaldo Gentil,
O caminhar de uma bela dos dias ensolarados em Salvador.
A cor negra como alta resolução.
O Sagrado que nos ensina e engrandece.
Tudo porque o humano está e ela,
Stella de Oxóssi é !