quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Convite


O que fazer para ter uma tardinha secreta com você 
e lhe escrever na pele poemas da minha língua?

Nos arredores de mim


Hoje já não saberia viver sem navegar. Mas navegar me liga aos arredores de mim e assim capto uma certa  poesia que me incita masturbação e cinema. A poesia que me são olhos e delicadeza me ofertando imensidão. Navego sem essa de rastros e caminhos: surto ao som de asas, ao cair de palavras, ao cheiro na memória da pele, à abertura do sorriso, ao silêncio que me faz lembrar. Surto querendo trazer pra mim. Numa tardinha de vinho e Hilst, de Billie e Angela, de Rosa e Bethânia, de outros onde nos possam ser prazer circulando... Uma tardinha como bateria contra a saudade e silêncio a favor da troca de olhares que eu  anseio tanto na velocidade da sorte.

Quero negar o barulho dessa sagração e tocar aquele rosto em segredo para mim mesmo: preciso reencontrar. No profano abandono de dois corpos sem muito tempo para estarem... dois corpos no escuro do quarto à luz deste sentimento que devora dando sentido à minha vida.

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Gal Costa - Recanto


Eu fui criado nisso e espero disso mais alegria e sentido em mim. Longe de querer fazer uma crítica lítero-musical do novo CD de Gal, Recanto, previsto para chegar às lojas dia 06/12/2011, eu só quero escutar e até aqui esperar para alcançar, talvez, a mágica daquela voz em novas disposições estéticas à luz da direção de Caetano e Moreno Veloso. Aliás, mais que isso, eu quero ouvir Gal cantar; minha brasilidade precisa de Gal cantando. Cantar, Recanto,Caetano no Hoje, com Moreno... Ser criado nisso me faz viajar por isso que tanto bem fez e faz ao nosso país. Isso de Gal cantar canções de Caetano; Isso me alimentando e dando expectativas - o som que me é tão dentro como a voz de minha mãe me chamando -, a Gal de todos os tempos, senhora de agora, eterna presença na hsitória da música popular no mundo. Gal. Cantando. E a gente se fartando de coisas que são da gente, saem da pele e das lágrimas da gente. Negras em todas as cores a voz azul e marítima do brasil que inventei em mim.

domingo, 27 de novembro de 2011

Minha maior desordem

Prefiro os instantes em delírio e poder me aprofundar. Instantes sinuosos silenciosos excitantes. Uma busca tão somente, sem mapas e sem necessidade de lugar. Um rosto lindo feito de palavras e um corpo vivo no vazio de mim. Algo a desatinar e perfilar e perfazer e reinventar. Comer no sexo. Domínio na cama ardente. Quentura acelerando e a cabeça rodando e inventando e querendo e negando e aceitando, delírio, a cabeça fudendo.

Prefiro. É destino. Entrega minha do amor que aprendi. Amor - minha maior desordem naquilo que mais me ofereci.

sábado, 26 de novembro de 2011

Sementes

Nada do que se incorpore ou que esteja para além de certa aproximação externa ou seja maior que impulso devido ou transgrida ou abrace de desejo ou assombre em nome do amor ou se queira película ou vença o impossível ou seja corpo como alma ou seja maior que casa ou tenha futuro ou que tenha presente ou que traga coragem ou que aconteça...

Nada como sementes escapando dos olhos enquanto o lábio beija o rosto e o corpo é todo espera e a vida intensa promessa à luz aquática do lugar.

Nada no espelho refletido e nem a linguagem pode criar.

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

domingo, 20 de novembro de 2011

O garoto da bicicleta


Da incondicionalidade do amor. Da entrega para e por alguém sem  se saber e nem se buscar motivos para tanto. O ato de fazer bem e o prazer de amar tão somente amar. O garoto da bicicleta, produção belga, dos irmãos Jean-Pierre e Luc Dardenne conta a história de Cyrill, interpretado lindamente por Thomas Doret, que foi abandonado pelo pai e aí surge em sua vida Samantha, nada menos e nem mais que Cécile de France, para recolocá-lo na atmosfera do afeto desejado e necessário para se ter sentido na vida. Ainda mais para uma criança, um adolescente.

O filme traz cenas que nos violentam, angustiam, desesperam, mas é uma ode à delicadeza, uma composição de uma busca tenaz de um humano por abrigo amoroso, por afetividade. O garoto da tenacidade e da coragem desenfreada de estar na vida à luz do amor. Algo que nos toca universalmente. O garoto que apanha e bate depois do abandono; cai e levanta, comete enganos e criminalidades, mas segue, para além das adversidades, ao centro da amorosidade que a vida, em compensação, lhe instituíra com a presença de Samantha.

Saí todo em delicadeza e feliz por saber que a história poderia ter sido recorrente tragédia, mas não foi.  Cécile de France, que eu adoro, e o magnetismo da interpretação verdade de Thomas Doret e a mensagem revelada de que sobre amor o melhor é simplesmente amar. Fazer o bem é melhor que fazer o mal.

Tardança

O olheiro escolheu o verso e o entregou
Para fora do peito e em vermelho
O publicou...
No dessentido investida do tempo
Mina daquela tardança
Feito criança
A esperar o amanhã.

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Félafétan

Estava no abrigo de si e nada diria de dentro da sua eternidade. Olhava das alturas, com o doce sorriso de sempre, e se divertia sem outras coragens; um pouco de lamento guiava seu barco nas águas de um mar mais salgado.

Havia ali ebulições de cenas novas e já vistas, marcas repetidas, dores estacionadas, um pouco de morte e, a vida em desenlaces sem curas para o amor maior.

Havia ali: o nascer do sol. A dança da tranqüilidade ansiada e a segurança perseguida. Mas ali, às escondidas, tinha o marulho amalgâmico e secreto que transformava a beleza no canto da sereia, também.

Tinha os ouvidos em silêncio em canções esculpidas na audição; o coração em emes, o medo da solidão. Ali tudo era infância rosa e azul, branco e destino, vermelho sem ação e o violão tocando-se, em duas notas, músicas da Legião.

Perfumes no ar, respingos do banho na memória como chuveiro quebrado. Nada prosseguiria sem as réstias, fendas, vestígios de uma história sem lugar sem nome sem pronúncia.

Havia o amor inventado que implodiu culturas. Passeio da sensação recôndita que obriga escrever delicadezas para depois dizer não.

Era o não na parede do teatro e a última encenação servia de cavalgadas em áreas urbanas de uma cidade fora dos mapas. Cidade inumana, enraizada no couro da cabeça, no ori, de um amar profundo que o tempo, no giro da precocidade, abortou.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Novembro negro no Brasil (IV)

Ver para inspirar a beleza e fazer aparecer: novembro negro no Brasil!

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Novembro negro no Brasil (III)

Iyá Stella ( com muita alegria)
Ver para inspirar a beleza e fazer aparecer: novembro negro no Brasil!

Claudia Cunha, puro prazer


Sob encantamento o ouvido tira perfume da música.
Uma voz de mulher narrando as sonoridades da doçura.
O que chega embriaga para o amor.
Mais que dança ela canta os sonhos que moram em mim.
A lindeza conjugada no feminino,
A seta musical atingindo a emoção.
Enquanto os olhos se perdem no que veem
Saindo do corpo artístico da fêmea,
Ela canta afinando a alma de quem a ouve;
Canta como risco e prazer,
Secreta evidência em notas precisas
Naquele sorriso que melhora o mundo.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Do depois

"Porque há desejo em mim, é tudo cintilância.
Antes, o cotidiano era um pensar alturas
Buscando Aquele Outro decantado
Surdo à minha humana ladradura.
Visgo e suor, pois nunca se faziam.
Hoje, de carne e osso, laborioso, lascivo
Tomas-me o corpo. E que descanso me dás
Depois das lidas. Sonhei penhascos
Quando havia o jardim aqui ao lado.
Pensei subidas onde não havia rastros.
Extasiada, fodo contigo
Ao invés de ganir diante do Nada."
Hilda Hilst

E habita em mim de todas as formas, dos jeitos entre segredo e delação, sobrevivendo ao tempo, sendo poema decorando o chão. Ilumina as fissuras do apreço e do afastamento e, sem razão, aprisona a alma calando o vigor do meu feitiço. E ocupa com dor memorando o raro prazer. Faz calor no terror do frio das noites sozinho eu  no ventilador do não achado. Perguntas. Respostas. Espelho quebrado. O retrovisor da canção. A estrada. A alma sem asas numa morte sem significação. Ode ao passatempo. Olhar para o nada. O mar secando. Do alto sem escada. Do baixo o pescoço quebrado. A decisão. Livros lançados à fogueira. Outra imagem, outra canção no desgaste da palavra...

E fodo contigo no princípio das entradas que permeiam meu sono: sonho contigo sem nunca extasiar. Moro nas madrugadas quando evito ervas e álcool e você sem roupa no parapeito da janela na caretice que há em mim: começo a devanear. Sou das ilusões... Meu escrito faz silêncio. Meus gemidos representam você aqui.

Depois, eu choro.

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Angela Ro Ro - Gota de Sangue


Houve. Nas controvérsias da entrega adolescente, mas houve. Revejo-me no corte apaixonado da voz de Angela e sangro também. Hoje, de beleza e paz. Revendo-me na ferida aberta do desejo. Nos olhos Maysa de Angela. Na presença do canto de Bethânia. Mas, na imprecisão e no absoluto terror ou dor que esta interpretação desenha. E houve. Agora, ouve comigo esta canção e mata a saudade de mim. Não, mata a saudade de nós.

sábado, 12 de novembro de 2011

Maria,

Você encena recomeços e flutua luz entre o céu e a terra; brinca de se reinventar a partir do seu projeto artístico, comanda suas singularidades e se eterniza por puro encantamento. É um mistério humano. Uma lógica estranha que se faz para trazer beleza. Hoje, uma senhora que sublinha a cultura brasileira para dar destaque ao que sua alma perfila. Artista das verdades e personagem de si mesma. Rainha de multidões e, no entanto, menina longamente sozinha.
Do seu olhar mil histórias que me fascinam e aprendo no intuito de re-criar; dos seus gestos imito o silêncio; da sua voz rezo pedindo amor, me alegrando, sonhando, chorando, sofrendo, mas sentindo paz. Seu corpo é seu palco extensivo onde você se narra e se nos atinge. Reflexo da ideia de vitória, de nobreza, de inventividade.
Quero ir para além do mito munido de palavras que roubo do seu repertório; quero dizer com o dizer de seus poetas para não ser invasivo nem menor demais; quero o querer da sonoridade sua que rasga nossa imaginação e, ali, livremente, entre aquelas palavras e este som, te fazer carinho.
Comovo-me com a imagem no jornal da mulher chorando. E choro solidariedade e esvazio-me através do pranto, rezando, de longe, te fazendo carinho.
Nós – encontros e despedidas... Ouço Pele para ter coragem de amar. Fagulhas da sua presença em mim – minha musa arredia, “fazedora de distâncias”, ciranda que insisto em dançar.
Ouço seu canto que me anima e atiça e fascina e faz continuar. Canto que me inspira a pensar antropologicamente este país. Canto que queima e ventila; signos das estações, ligação secreta entre a natureza e a cultura e nisso tudo: sua dor sozinha.
Ouço sem poder de apagar. Para finalizar o que é impossível agora. Para amainar a força das perdas. Ouço-lhe para saber dos seus antídotos e dar eles a você – tão intensamente humana.
Não fui eu quem inventou o amor que os artistas inspiram na gente; este amor que intimamente me faz, agora, sofrer contigo e lutar contra isso e pedir, mais uma vez, sua reinvenção.
Brava senhora dos tantíssimos exemplos: Deus é conosco!E tudo que lhe foi e é alicerce lhe continuará sendo. Tudo está intacto pelo privilégio do que foi vivido. Brava senhora dos tantíssimos exemplos: Maria filha de Maria – sua poesia lhe deve retroalimentar.
Tempo lhe ensina, por conta do seu merecimento, a perder sem perder de fato.
Guerreira Guerrilha do Brasil, voz que chama o carcará, precisamos da sua arte e amamos a sua humanidade. Sinta, mas sobreviva por amor e missão. Pois,
“Eu te sinto tão em mim
mas dói tanto a tua ausência”.
Reynaldo Jardim

Novembro negro no Brasil (II)

Ver para inspirar a beleza e fazer aparecer: novembro negro no Brasil!

Novembro negro no Brasil


Ver para inspirar a beleza e fazer aparecer: novembro negro no Brasil!

A paixão reinventou-se em mim

" Em minhas  muitas vidas hei de te perseguir.
Em sucessivas mortes hei de chamar este teu ser sem nome
Ainda que por fadiga ou plenitude, destruas o poeta
Destruindo o homem."
Hilda Hislt


Meu tempo é sem entendimento e o que me navega me oprime à espera do que não vai chegar. Tenho a clareza na mente das filosofias errantes, dos oráculos secretos, dos olhos lacrimejantes. Mas ardo nessa história e, assim, sinto a vida dançando para mim  como efeito poético. Olhando na cadeira vazia os traços do poeta adormecido no mais longe. O poeta sempre está, a falta é do homem no nome que não sei onde encontrar.

Meu tempo é oferecimento, entrega do melhor em mim. Pinto de palavras os olhos que idealizei, todas as noites, enquanto janto, contemplo-os aplacando minha  volúpia. Tenho fendas para uma psicologia do amor, mas sou só corpo em chama e palavra que clama o nome da minha invenção.

Supero a dor pela lente das filosofias errantes: sou o que nunca foram e pouso minha alma no dorso escondido do poeta. Espera. Alcanço o mundo com um livro nas mãos e canto canto canto dissonâncias entre o sol e a chuva de uma cidade. Minha imagem confunde-se eterna e as estrelas me perguntam, quando de noitinha, como se pode amar assim?

De amante para estrela: a paixão reinventou-se em mim.

Hilda Hilst: Presságio (Poema XXI)


Estou viva.
Mas a morte é música.
A vida, dissonância.
Minha alegria é como
fim de outono porque
tive nas mãos ainda flores
mas flores estriadas de sangue.

Há cristais coloridos
nos teus olhos.
Vida nos teus dedos.

Estou morta.
Mas a morte é amor.

Não fiz o crime dos filhos
mas sonhei bonecos quebrados
sonhei bonecos chorando.

P.S. - hoje cheio de alegria e  nesse deslumbramento, às vezes sem ternura, que a grande POESIA de Hilst dá. Veloz em mim mesmo com a cabeça rodando de ressaca. Pouco tempo muita espera. Mas hoje é sábado.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Chet Baker


Se eu viesse ao mundo para cantar eu cantaria assim. Inspirado em Billie Holiday e cantando para o amor assim. Doendo naqueles olhos que sabiam de tanta dor assim e eu lhe mostrava "I'm a fool to want you" para a gente sorrir. Mas bem dentro: eu chorava...

Eu canto como Chet... Parece que nele prescindem minhas explicações... Eu que já não me explico e emburrreço mais. Para não, ouço Chet. Sofro de saudade da casa que nunca estive; as paredes abrigando aquele nome lendo um poema de Lorca em nome do amor que lhe entreguei...

Chet Baker em "I"m a fool to want you" para uma nova tarde no chão da minha casa. Talvez, o amor nunca morra mesmo.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Mãe Zulmira e o candomblé congo-angola


Numa tarde quente de Primavera baiana, das 16 às 19:00, no dia 27 de outubro de 2011, na Biblioteca Pública do Estado, em comemoração aos 70 anos de iniciação da mameto kwa Nkisi Zulmira de Nanã, ocorreram palestras sobre o candomblé congo-angola na Bahia e no Brasil. As especificidades desta nação tão importante no cenário religioso brasileiro e, por vezes, tão invisibilizadas, incompreendidas, foram analisadas e historiadas para um público de 200 pessoas.
Foram palestrantes autoridades religiosas como Raimundo Nonato, o Tata Conmannanjy , Jaime Sodré ( Tata Monaizilê), Tiganá Santana (Tata Mukungoyala), todos xicarangomas (equivalentes aos ogans do ketu) que ilustraram a trajetória ancestral banto na Bahia, contando histórias, relatando casos, definindo especificidades, combatendo distorções. O evento contou também com a jornalista Cleidiana Ramos que noticiou sua aproximação com o congo-angola atuando como repórter e, depois de iniciada como filha de santo da nação ketu, continuou a nutrir admiração por esta nação que tem o nkisi Tempo como rei.
O ponto central das discussões foi reforçar a irmandade entre congo-angola, ketu, jeje e ijexá, mas também, fomentar reflexões sobre o preconceito sofrido pelo candomblé angola, negligenciado por intelectuais, artistas e, às vezes, o mais triste, subestimado por membros da nação de ketu – o candomblé de maior prestígio em grande parte do Brasil.
Mas o encontro não foi para choramingar. Foi para celebrar e mostrar a grandeza e força de uma nação religiosa advinda de uma cultura negra fundamental no processo civilizatório brasileiro: a banto. Foi para perfilar a trajetória religiosa de uma mulher de 77 anos de idade, 70 anos de iniciação no candomblé, com 60 anos de sacerdócio à frente do Tumbenci, hoje situado em Lauro de Freitas, a veneranda Mãe Zulmira.
Mãe Zulmira é um baluarte vivo desta nação que precisa contar sua história. O evento louvou nossos nkissis à voz serena de Carlos Barros e do doce violão de Zé Livera. Tudo como Tempo quis.

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Iyá Omi


Iyá Omi,
Protetora dos amores,
Aquela que guarda a Cidade da Bahia,
Traz a palavra arte pra mim,
Me faz cantá-la como Gerônimo o fez,
Me faz chamar meu amor como a Senhora faz...

Mãe Oxum,
No horizonte dos meus olhos nesse instante...
Mãe Oxum,
Presente dentro de mim...
Mãe Oxum,
Meu mimo que me faz enfeitiçar...

Traz pra mim
E cuida com zelo de ouro e doçura
Meu coração que é todo amor.

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Retorno


Foi em uma noite para o possível. Nos ríamos debaixo de muito frio e o amor estava ali. Eu lhe fazia perguntas quase eróticas vendo suas mãos sorrirem e sua boca me falava escritos de mim. A gente era um instante no feliz, aquecia nosso redor de beleza, da poesia cotidiana e extraordinária saída de duas almas que ali conviviam. Seus olhos eu navegava com o cuidado das mães perto da máquina do escritor amado. Os meus olhos você desafiava com o misto da inocência e o prazer da sedução. Eu sonhava. Você falava. Nós queríamos.

Ancoramos de cerveja à margem do rio morto. Ancoramos sem certezas no centro do nosso gosto. Palavras que nos ligavam aos nossos corpos. Palavras com cheiro de gasolina. Palavras alcunhadas de vermelho quando eram azuis e eu verde incolor nas águas de um amor sem fim. Palavras que voavam sobre todos os tempos...

E retornam sempre que preciso de você aqui.

Acontece

Ela disse:
- Ouço vozes.
Ele respondeu:
-Acontece.
Ela exasperou-se:
-Mas é sempre.
Calmo, ele falou:
-Acontece.
Ela odiosamente:
-Ouço vozes e estou ficando maluca.
Ele:
- Acontece, existem remédios, tratamentos, terapia...
Ela:
-Ouço vozes, sou maluca, sofro muito, sou sozinha e te amo...
Ele interrogativamente:
-Como?
Ela:
- Eu sou maluca e te amo.
Ele:
- Como? Você é maluca porque me ama? Se cure disso então.
Ela:
- Ouço vozes do além porque daqui sua indiferança se fez o silêncio que me enlouqueceu...
Ele:
- Sabia que sobraria pra mim...
Ela:
- Não mais; agora desligo-me do além e desse erro que foi você pra mim.
Ele:
- Acontece, né? Até, então...
Ela:
-Adeus.