sábado, 12 de novembro de 2011

Maria,

Você encena recomeços e flutua luz entre o céu e a terra; brinca de se reinventar a partir do seu projeto artístico, comanda suas singularidades e se eterniza por puro encantamento. É um mistério humano. Uma lógica estranha que se faz para trazer beleza. Hoje, uma senhora que sublinha a cultura brasileira para dar destaque ao que sua alma perfila. Artista das verdades e personagem de si mesma. Rainha de multidões e, no entanto, menina longamente sozinha.
Do seu olhar mil histórias que me fascinam e aprendo no intuito de re-criar; dos seus gestos imito o silêncio; da sua voz rezo pedindo amor, me alegrando, sonhando, chorando, sofrendo, mas sentindo paz. Seu corpo é seu palco extensivo onde você se narra e se nos atinge. Reflexo da ideia de vitória, de nobreza, de inventividade.
Quero ir para além do mito munido de palavras que roubo do seu repertório; quero dizer com o dizer de seus poetas para não ser invasivo nem menor demais; quero o querer da sonoridade sua que rasga nossa imaginação e, ali, livremente, entre aquelas palavras e este som, te fazer carinho.
Comovo-me com a imagem no jornal da mulher chorando. E choro solidariedade e esvazio-me através do pranto, rezando, de longe, te fazendo carinho.
Nós – encontros e despedidas... Ouço Pele para ter coragem de amar. Fagulhas da sua presença em mim – minha musa arredia, “fazedora de distâncias”, ciranda que insisto em dançar.
Ouço seu canto que me anima e atiça e fascina e faz continuar. Canto que me inspira a pensar antropologicamente este país. Canto que queima e ventila; signos das estações, ligação secreta entre a natureza e a cultura e nisso tudo: sua dor sozinha.
Ouço sem poder de apagar. Para finalizar o que é impossível agora. Para amainar a força das perdas. Ouço-lhe para saber dos seus antídotos e dar eles a você – tão intensamente humana.
Não fui eu quem inventou o amor que os artistas inspiram na gente; este amor que intimamente me faz, agora, sofrer contigo e lutar contra isso e pedir, mais uma vez, sua reinvenção.
Brava senhora dos tantíssimos exemplos: Deus é conosco!E tudo que lhe foi e é alicerce lhe continuará sendo. Tudo está intacto pelo privilégio do que foi vivido. Brava senhora dos tantíssimos exemplos: Maria filha de Maria – sua poesia lhe deve retroalimentar.
Tempo lhe ensina, por conta do seu merecimento, a perder sem perder de fato.
Guerreira Guerrilha do Brasil, voz que chama o carcará, precisamos da sua arte e amamos a sua humanidade. Sinta, mas sobreviva por amor e missão. Pois,
“Eu te sinto tão em mim
mas dói tanto a tua ausência”.
Reynaldo Jardim

Nenhum comentário: