domingo, 31 de maio de 2009

Eu e dona Quelé


Eu me enfeitiço com o canto dela e rememoro...Por ali circula minha história e eu vibro sensações inexplicáveis. Misto de dor e força e as sementes religiosas e culturais que nossos ancestrais negros nos legaram naquela voz. D. Clementina de Jesus: marco de luta e vitória, registrada no fotograma do fundo pelo mágico Walter Firmo, embelezando a Sala de Arte Contemporânea do Palacete das Artes Rodin Bahia. E eu , deslumbrado, dentro de tudo isso. Fernanda Márcia foi quem me fotografou.

Blues

Caetano Veloso
Tem muito azul em torno dele
Azul no céu azul no mar
Azul no sangue à flor da pele
Os pés de lótus de Krishna
Tem muito azul em torno dela
Azul no céu azul no mar
Azul no sangue à flor da pele
As mãos de rosa de Iemanjá
Os pés da Índia e a mão da África
Os pés no céu e a mão no mar
Péricles Cavalcanti
Esta canção marca o inteiro de mim: é meu mantra. Uma espécie de oração que conduzo a Oxalá e a Iemanjá - meus baluartes maiores. E tem Azul. E tem a voz de caetano me alimentando e dantes, ele só me era ensinamento. E tem Azul. Minha alma na Rosa Azul de Iemanjá e na Flor de Lótus de Oxalá e minha vida mais que habitada. Esperança e Paz. Fé. Beleza escorrida dos sonhos que me fazem gente. Humana poesia que acredita que o amor sempre está. E tem Azul.

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Algumas gotas de poesia


Diuturnamente: hoje. Cheiro enfeitando meus olhos. Danço sobre o mundo com o sorriso que me chega das coisas que leio. Tudo tão miúdo e felicidade despeja-se. As coisas mais lindas são as coisas mais simples. Eu sobrevoando o mundo que não me tem: isso é leveza. Elaborado destino, canto o que não sei alcançar e meu trajeto puro é : alumbramento. Palavrinhas...

"Com vigor, com fescor selvagem,

soprava-me no rosto a ventura

como se um amigo, há séculos querido,

fosse sair comigo na varanda."

Anna Akhmátova


"Trilha sonora ao fundo: piano no bordel, vozesbarganhando uma informação difícil.

Agora silêncio; silêncio eletrônico,

produzido no sintetizador que antes construiu a ameaça das asas batendo freneticamente.

Apuro técnico.Os canais que só existem no mapa.

O aspecto moral da experiência.

Primeiro ato da imaginação.Suborno no bordel.

Eu tenho uma idéia.

Eu não tenho a menor idéia

.Uma frase em cada linha. Um golpe de exercício.

Memórias de Copacabana. Santa Clara às trêsda tarde.

Autobiografia. Não, biografia.

Mulher."

Ana Cristina César


"pus meu coração de molho,

em alto-mar, a absorver

céu e sal e infinito."

Karina Rabinovitz


"Eu que hoje acordei assim.

Lembrei que havia esquecido.

(Ou pensava que havia)

Mas, que ficam sempre, e de vez em quando...

as memóriasna pele.

Ainda assim. "eu já esqueci você. Tento crer"!"

Sueli Borges


escritas por mulheres porque preciso de água e alívio nesta minha memória que vibra dentro do mistério de uma delicadeza. E choro com o efeito de um olhar sobre o meu. Hoje não passa.

terça-feira, 26 de maio de 2009

Por um pouco de liberdade


E eu que acredito tanto, como efeito contrário, preciso desacreditar um pouquinho. Sair discretamente do chão e sobrevoar as ilusões que me adoecem, me aniquilam e me fazem estacionar. Eu quero o centro do movimento. A sensação mágica da flutuação; pairar sobre o velho de mim e ficar, hoje, do meu lado solar. Preciso de novidade. Um cântico de pajé num brado de orixá: sonhar de cima, vendo os lugares que não me cabem mais, e me retirar definitivamente de todos eles. Liberdade interna: eu suplico!
Amo sentir ternamente os sentimentos que iluminam minha existência. Sou todo carinho enfeitiçado pela ideia do amor profundo. Eu me iludo e nessa prisão me salvo do tédio do cotidiano. A prisão da ilusão é o primeiro lugar a ser esquecido. E o medo se instaura: qual será a minha outra condenação?
Suplico liberdade nem que eu tenha que durar vazio. Só peço um pouco de ternura, de abraço entregue, de mar à minha frente,de amigos amorosos, música e POESIA.
Liberdade: para que eu possa saber o que a força de um amor me privou de ser.

domingo, 24 de maio de 2009

"Perder-se também é caminho"


Minha vida e minhas palavras estão desencontradas. O caminho, como sempre, se me apresenta sem sentido mas, com coragem, eu sigo e vou além de mim. Vou em minhas releituras que trazem silêncio e sobrevivo assim: na dádiva da falta de qualquer barulho. Sigo perdido para evitar velhos pensamentos; faço muito esforço e sozinho tudo é mais difícil. O novo não chega. Como sou conservador e como ando lacônico e mentindo! Mentindo para me salvar: ter uma verdade inventada e que ela me ponha em pé de igualdade com a multidão que me é mais próxima.
Persisto nos livros que arrancam a solidão de mim. Continuo a gastar guardanapos com palavras e a entregar minha alma marcada de ternura e calma em nome do amor que me rasga neste tempo e eu envelhecendo já sonho com outra vida.
Acarinho-me neste meu estar perdido e sacralizo lições de uma literata. Sigo porque todo dia ocupam-me palavras sagradas que retiro de existências poéticas alheias. Elas , as palavras sagradas, não são bússola, são a água que me abastece contra o deserto que há mim.
Perder-se, como me diz Lispector, tem sido meu único caminho.

Motriz

Maria e Jaime Alem

Esta é uma das cenas mais bonitas de Pedrinha de Aruanda,naquela estação onde a cantora pegava o motriz para chegar à Cidade da Bahia, nossa Salvador. E dali, pungentemente, ela canta uma das suas interpretações mais memoráveis, despejando sua história de poesia intensamente sobre nós e das memórias dela surgem as nossas mais remotas e a arte ressignifica a vida; nossa vida na lindeza da canção Motriz, de Caetano Veloso, gravada por ela em Ciclo, de 1983.
Pequenos extratos do compósito imenso que traduz a beleza de Bethânia. No filme, tudo muito rápido, passa a ser lento porque nos acompanha e nos leva imaginar a força ouvida e vista naquele áudio-visual, conduzida pelo som do violão de Alem e da voz única de Maria Bethânia.

Para ilustrar, a letra genial de Caetano Veloso:

E, entre os dois, a idéia de um sinal
Traçado em luz.
Em tudo a voz de minha mãe...
E a minha voz dela...
E a tarde dói...
Que tarde que atravessa o corredor!
Que paz!
Que luz se(que) faz!
Que voz... que dor...
Que doce amargo cada vez que o vento traz
A nossa voz que chama,
Verde do canavial,
Verde do canavial.
Canavial.
E nós mãe:
Candeias, motriz!

Aquili que eu não fiz e tanto quis
É tudo o que eu não sei
Mas a voz diz
E que me faz,
E traz, capaz de ser feliz
Pelo Céu, pela terra
A tarde igual
Pelo sinal, pelo sinal
Nós mãe
E a penha - Matriz!
Motriz...
Motriz...

sábado, 23 de maio de 2009

Sem poupar coração/Nana Caymmi

Nana Caymmi

Ela tinha que ter lançado um disco assim na rota do outono; num período de chuvas descontroladas; num momento das tórridas lembranças, da vontade de hibernar, aconchegar-se e daquelas crueis perguntas: eu existo pra quê?

No dia em que ouvi o disco, na primeira audição, sequei um litro de vinho do porto e pior, sozinho...Chorei bêbado até de manhã.Não tive ressaca e ela naquele canto não saiu de mim; sofri mais do que já sofro; senti o mundo sobre mim e como posso eu gostar tanto de Nana Caymmi?

O CD celebra memória e amores doídos. Marcado daquela respiração que divide música e interpreta na gente que a ouve a dor dilacerante de existir e de gostar. Um disco feito para lembrar do melhor e do pior que a paixão dá ou deu e seguir adorando a estupenda cantora que nos empurra ao abismo desta decisão: lembrar do que se deve esquecer.

Mas a gente quer e Nana permite e alimenta nosso masoquismo e eu bebo e ouço e choro e canto e vivo e me masturbo pensando com o corpo no que seria a festa de um retorno. Bebo e depois de tudo, bem bêbado, leio os poemas de Hilst dedicando -os ao nada que acelera minha memória.

Sem poupar coração em mim desabando água de chuva pesada: frio, muito frio. E a beleza intensa que a desesperança da cantora perfaz - sua voz de arrasamento: fuzila oprime escraviza aponta lembra marca sangra sonha lacrimeja balança pertuba e isso tudo é a poesia do desespero e basta.

Sem poupar coração saiu pela Som Livre, nada muito novo, mas tudo necessário para se aprender que o talento de Nana de Caymmi não exige mudanças, ela canta e a gente sofre e a beleza se instaura acima dos vestígios que restaram do que fomos antes da audição.

Dentro do mar tem rio/DVD

Maria
E olhe ele aí: prontinho. Sai, em junho, direto para nossos aparelhos o mais que aguardado Dentro do mar tem rio - o DVD. Meu presente de aniversário. A linha discursiva deste trabalho perfila mitos que sempre estiveram perto de Maria: vento, rio, lama, mata, fogo,palavra, silêncio e MAR. Ela canta lindamente para Iemanjá e quando canta para Oyá-Iansã a sua beleza vermelha nos eterniza na precisão da estética peculiar desta artista maioral.
Da imagem acima já podem sair positivos diagnósticos do que foi este show antológico e de como vale a pena esperar os produtos saídos da entrega artística da Abelha Rainha.
Linda e dialógica: uma sacerdotisa da música esvoançando-se sobre nossos corpos e dentro do melhor da nossa imaginação. Poesia, pura poesia sonora desta mulher lindíssima! Avancem.

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Um bolo, um pedido e amigos...


Foto Ygas Eloy

Minha vida é azul e branco. Meus pedidos são vermelho. Meu caminho é verde-esperança. É Fé.
O ano é 2009. Minha natureza é água. Eu preciso de ar. Eu leio poesia. Amo o mistério. Reverbero emoção. Nem sei muito fazer silêncio. Amo o silêncio. Minha cama. Dezenas de CDs. Clarice me visita. A vista marítima de Salvador. Minha janela. Eu chorando. Meu sorriso é lindo. Amo flor e cor rosa. Amizade é amarela - aquece. Esse tal destino. Compasso da solidão. Tempo passou. Eu estou vivo. Insisto em ser uma minha composição. Estranho e torto. Eu. O risco da noite. Hoje é 21.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Um presente para mim

Maria
"A grande mãe me viu num quarto cheio d'água
Num enorme quarto lindo e cheio d'água
E eu nunca me afogava
O mar total e eu dentro do enterno ventre
E voz de meu pai, voz de muitas águas
Depois o rio passa
Eu e água, eu e água
Eu".

Eu me quero na intenção desta canção. Palavrear meus instantes em água para celebrar a minha vida. Flanar acima das coisas boas e das ruins e sentir, sentir-me vivendo. Em movimento e acordado não parar de acreditar. Quero-me nas coisas da minha e seguir esses rumos da minha natureza. Nesse segundo eu sou e agradeço. O mar total de mim; a febre que não cessa, a fome que instiga, o mundo que fascina e a gente que desafia. Agradeço. A água de mim. Vestes azuis e brancas. Poesia sem fim. Minha letra num papel perdido numa gaveta alheia de alguém que já me esqueceu. Minha voz certeira na falta de memória amorosa dos outros. Meus vinis que me tocam e meus CD's sangrando-se-me eternos. Eu sem escapar de mim no momento de agora - e escrevo agrafamente no não-lugar de quem pensa o amor fora do corpo nessas coisas do não-estar. Derramo minha água e misturo-me a tudo que significa viver. Sei muito pouco. Poesia ruim. Água salgada. Espada na mente e escudo na mão. Vivo.
Eu quero um presente para mim: a voz de Maria Bethânia me banhando na paz na alegria na paixão na sorte que ela me traz. E que um dia eu seja atendido.

terça-feira, 19 de maio de 2009

Los Hermanos / Celebração


P/ Chiquinho
Uma história para ser contada de dentro da emoção. Segurar nas mãos os CDs e lembrar de músicas que devassam a alma e , em mim, aumentam a solidão. Trilhar minha desistência inicial desta banda que me colocava no centro da minha agonia. É isso: com os Los Hermanos tudo de errado estava comigo. Eu não aguentava aquela tristeza que era minha e a falta de alguém tornava-se insuportável ao som dos "barbudos de Chiquinho".
Foi uma sonoridade que me invadiu e me fez amar e a vivenciar uma das imagens mais lindas da minha vida: um show na Concha Acústica do TCA. Ali eu vivi o amor a adoração de milhares de jovens por uma banda. Eu estava, em ressignificância, assistindo a um show dos Beatles e gostando mais porque era: Los Hermanos.
Hoje, tenho paixão e saudade deles. Tomara que retornem. E viajo na saudade do que nunca foi quando eles insistem assim:
Eu encontrei quando não quis mais procurar o meu amor
E quanto levou foi pr'eu merecer
Antes um mês e eu ja nao sei...
E ate quem me vê lendo o jornal na fila do pão sabe que eu te encontrei
E ninguem dirá que é tarde demais,
Que é tao diferente assim
Do nosso amor a gente é que sabe pequena...
Lá vai
Me diz o que é o sufoco que eu te mostro alguém a fim de te acompanhar
E se o caso for de ir à praia eu levo essa casa numa sacola
Eu te encontrei e quis duvidar tanto clichê deve nao ser
Você me falou pr'eu não me preocupar
Ter fé e ver coragem no amor
E só de te ver eu penso em trocar a minha tv
Num jeito de te levar a qualquer lugar que você queira
E ir onde o vento for
Que pra nós dois sair de casa ja é se aventurar
Me diz o que é o sossego que eu te mostro alguém a fim de te acompanhar
E se o tempo for te levar eu sigo essa hora e pego carona pra te acompanhar
Rodrigo Amarante ( Último Romance)
P.S.: Agora chorando, dedico inteira esta postagem a Chiquinho, meu amigo jornalista que mora em meu coração. 19 de maio, parabéns!

segunda-feira, 18 de maio de 2009

O delicado da vida


"Não quero faca nem queijo; eu quero fome". E dessa fome incontida alcançar o delicado da vida que eu sei que é o mais simples, o mais comum, o mais anônimo; o que é visto, mas de tão visto, é secreto a quase todos. Eu quero uma rosa pintada de AZUL e deixá-la à espera em minha janela para os olhos de quem entende o meu coração. Silêncio absoluto. Quero abraçar de olhos fechados quem decifrar parte da minha emoção. Ouvindo ao longe sons de poesia que deixem em mim palavras inexistentes íntegras da minha força amorosa. Para amanhã. Voar levemente sem medo da chuva. Quero acordar nu guardado pelas asas do meu maior encantamento. Quero música. A voz de João Gilberto regando minha rosa na janela e depois alguma coisa que me enfureça nesse meu excesso de desejo pelo delicado da vida. Meu olhar dentro de tudo aquilo. Eu absorvido pelo corpo gosto gesto cheiro calma luz e mais que tudo, mistério; é isso, eu quero o mistério de quem me trouxer a forma melhor da delicadeza.

Palacete das Artes Rodin Bahia

Jardins do Palacete das Artes
O Palacete das Artes Rodin Bahia, inicialmente projetado para ser o Museu Rodin entre nós, sofreu várias modificações conceituais, passando a funcionar com o primeiro nome a partir de 14 de agosto de 2007, com a exposição “Os filhos da Pele de Geia”. Em sua trajetória museológica já teve cinco grandes exposições em sua Sala de Arte Contemporânea, construída como um anexo ao prédio suntuoso e secular dos Martins Catharino (de 1912) para abrigar as exposições de caráter temporário.

O Palacete das Artes é geográfica e esteticamente um dos museus mais bonitos do Brasil, deverá abrigar, em regime de comodato, 62 peças de Auguste Rodin, numa data ainda a ser definida.

Em seu belo jardim, abriga quatro obras de Rodin compradas para a Bahia pelos governos anteriores. Nessa nova fase, o Palacete é um veículo de cultura, onde a própria história arquitetônica da sua principal construção, se faz uma atração à parte que atrai muitos espectadores.


sábado, 16 de maio de 2009

Fragmentos de uma coletiva (II)

BAHIAFLANEUR

Lá estava ele: o ídolo. Falante como sempre e eu duplamente atento. Feliz por vê-lo e impaciente com as leituras raciais dele em relação a negritude brasileira; sua insatisfação com a prática da negrada em desmitificar a figura de Izabel no episódio da Abolição e mais grave, sua não adesão a legítima política de cotas em muitas universidades brasileiras: " o movimento negro brasileiro quer ser americano; imitamos os americanos". Caetano é isso: importância desmedida para mudanças comportamentais neste País; luz estética realçando com sua arte nossas coisas mais bonitas mas, não tendo outras palavras, feroz polemista. Ele nunca está vazio e talvez seja este seu maior problema. Problema para ele mesmo. A coletiva foi para falar de música, do CD Zii Zie, shows e, descambamos em etnicidade, história da Abolição, em uma aula, um tanto truncada, sobre o Bembé de Santo Amaro da Purificação, sobre Princesa Izabel e sobre as discussões "atrasadas" das lideranças negras, intelectuais e políticas, no Brasil.

Ele mandou que eu ouvisse Lapa. Ouvi e adorei. Tem jeito não, com Caetano eu tenho um caso de amor indissolúvel. E olhe que eu tenho discordado muito dele, ultimamente.

sexta-feira, 15 de maio de 2009

O rei está falando

Malu Mader um dia disse que Deus era Bob Marley. Não tanto. Mas Marley nos movimenta ensinando e eu estou mergulhado naqueles dizeres. Silêncio, por favor!

Fragmentos de uma coletiva

Caetano Veloso

Para mim é sempre válido ouvi-lo falar; claro que o prefiro cantando, mas mesmo discordando de muita coisa que ele diz, ele é, em mim, um acontecimento. Verve e inteligência. Veio a Salvador participar das comemorações dos 120 anos do Bembé de Santo Amaro e também dar uma coletiva, no bairro do Rio Vermelho, sobre seu novo disco e seu novo show que acontecerá na Concha Acústica, dia 05 de junho de 2009, às 19h. A coletiva trouxe o Caetano anti-cotas, cansado de algumas atitudes dos movimentos negros brasileiros e ativo e alegre em função dos shows que já faz em cima do CD Zii Zie. Volto a falar sobre este evento.


quarta-feira, 13 de maio de 2009

Pra rua me levar

Maria

Não vou viver como alguém que só espera um novo amor
Há outras coisas no caminho aonde eu vou
As vezes ando só, trocando passos com a solidão
Momentos que são meus e que não abro mão
Já sei olhar o rio por onde a vida passa
Sem me precipitar e nem perder a hora
Escuto no silêncio que há em mim e basta
Outro tempo começou pra mim agora
Vou deixar a rua me levar
Ver a cidade se acender
A lua vai banhar esse lugar
E eu vou lembrar você(2x)
É... mas tenho ainda muita coisa pra arrumar
Promessas que me fiz e que ainda não cumpri
Palavras me aguardam o tempo exato pra falar
Coisas minhas, talvez você nem queira ouvir
Já sei olhar o rio por onde a vida passa
Sem me precipitar e nem perder a hora
Escuto no silêncio que há em mim e basta
Outro tempo começou pra mim agora
Vou deixar a rua me levar
Ver a cidade se acender
A lua vai banhar esse lugar
E eu vou lembrar você...
Ana Carolina/Totonho Villeroy

P.S: Algumas coisas passam; outras mais antigas se intensificam e nem a mais alta das sabedorias explicam o porquê. Quando é assim, recorro a voz dela para parar de pensar e só sentir, me emocionar e elaborar pensamentos que além de inteligentes sejam criativos e vívidos em dor e esperança e lembrar dos vestígios mais profundos que dão sentido a este cotidiano vagabundo que nós levamos. É nela. Artisticamente, rajadas de luz que despertam minha inspiração: Maria Bethânia, minha exata alegria e eu estou vivendo de saudades dela.

terça-feira, 12 de maio de 2009

Filho dileto de Iemanjá

Sou mesmo: inteiro, intenso, amoroso, fiel. Nada nem ninguém me separa Dela - conhecimento, sabedoria, adivinhação, nada. Ela sou eu como SIM ao mundo e sua água salgada me protege e adoça. Sigo em frente. Mãe que não desgruda de mim : Azulzinha e Verde. Força minha. Rainha somente. Iyá do meu destino. Vida em abundância em cores do meu fascínio. Amor. Amor. Amor. Amor. Odô Iyá.

Ao alcance do cuidado

Michelle Cirne
Do jeito real da entrega da luz que aconchega dos olhos que buscam das mãos que encaminham da fala que ensina do afeto que aquece da doçura que acalma do silêncio que assusta do corpo que lembra do espanto que anima da dança que sente e faz sentir a vida.
Do percurso de menina no dilacerante alcance da mulher: retinas... O olho vê por dentro do segredo e a vontade concretiza. Coisas do vermelho acontecimento no AZUL destino de juntar o que não pode mais separar - nem o ocaso da morte. Palavras que não se bastam e se revigoram no mistério sentido no melhor daquela existência.
Do jeito do olhar que descobre e socializa e a lição eterna de que só no amor a vida se confirma. Nada de novo à luz da menina mulher se revelando mistério: na esposa na mãe na amiga na irmã na sacerdotisa num ímpeto da Fé que traz estrelas para nós. Os quatro elementos que se juntam na perfilação de uma era futura que ela torna presente e vive-se-nos consigo. Outra espécie Bethânia. Lendo um livro.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Ouça depois me veja

Veja não, ouça. A minha voz que se levanta numa forma rara de canção. Uma voz que se transmuta velocidade da luz e que busca encontrar a sua salvadora audição. À distância interplanetária, num assombro de escândalo cultural, num precipício que é nosso paradeiro, numa rastreação que significa morte.
Ainda assim: ouça-me.
Na manhazinha dos melhores sonhos - meu canto que se esmera a dizer coisas que mais seduzem no aconchego de dois corpos se amando. Ouça na noitinha das lembranças, entre cartas, filmes, vinis, CD's, fitas, linhas, lápis, tinta, lágrimas, Fé, nosso mundo, palavras e silêncio. É isso: ouça no silêncio que nos habita e traduz.
Ouça por feitiçaria e encantamento - impacto sem explosão. Ouça melodicamente para que seja revelação, para que atraia, para que te guie, para que ilumine a estrada que te trará de volta.
Ouça sem misericórdia. Na ânsia de um chamamento, sem lamento, sem sono , sem cerração...
Ouça esta música imprecisa - sons saídos da eterna paixão.

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Saudade


Saudade, o quadro. 1899, autoria de José Ferraz de almeida Júnior, Pinacoteca do Estado de São Paulo. Uma grande historicidade como pano de fundo. Aspectos fundantes da civilização paulista. Arte em tons europeus no âmago do Brasil. Mas...
Não me quero desenhando análises racionais desta obra. Gostaria, e não sei como, de expressar a força do sentimento que ela me obriga a vivenciar. Não sou 'inteirado' em artes plásticas, não entendo de pinturas, mas sinto a demanda de tristeza na obviedade temática que esta tela postula e comungo com as vestes em luto, com a foto na mão da mulher( ou será uma carta?), com a ideia de passado, daquilo que não volta, com o silêncio intranquilo de um amor, é, eu vejo assim, um amor que passou e a saudade é que alimenta de presença as cenas da memória buscando rever aquilo da maior delicadeza de se ter a quem se ama. Eu vejo os olhos belíssimos em dizeres castanhos, minhas lágrimas que choram neles e a mulher do quadro são todos os amantes que sentem qualquer tipo de morte do ser que nos inspira e nos faz melhor viver.
Por enquanto: meu amor poesia. Esta pintura é minha.

Museu Afro-Brasil: Sala Oyá-Iansã/Olga do Alaketu

Oyá- Iansã
Olga do Alaketu

Nessa minha última ida a São Paulo descobri novos mundos dentro do que em mim é muito conhecido: o candomblé. Perpetuado no Museu Afro Brasil sob a batuta genial de Emanoel Araújo. Este espaço, por si só, me foi um grande acontecimento. Museus dentro de um museu que traz como eixo a cultura afro-brasileira e espalha a beleza e a civilização nossas pautadas nestas origens africanas.

Lá encontrei uma sala em homenagem à dona Olga. Rainha do Alaketu - Iyalorixá de Emanoel, uma das mais emblemáticas matriarcas do candomblé brasileiro no século XX, filha de Oyá e Iroko, que perfilou em vida e ainda perfila depois de morta, a majestade da mulher negra de santo no universo cultural baiano.

Nesta mesma sala um surto de reverência e alegria: Oyá- Iansã, mãe das realizações minhas, impávida imagem que transborda a força que tanto necessito para caminhar. Oyá que me levou para Sampa em seus doces ventos e me trouxe debaixo de chuvas torrenciais, trovoadas e relâmpagos exprimindo a sua vontade de me ver voar e seguir novos caminhos. Oyá Ô!

Museu Afro Brasil: negramente lindo. Fruto da genialidade de Emanoel Araújo.



quinta-feira, 7 de maio de 2009

Sampa



Cruzamento da São João com a Ipiranga ( Virada Cultural)




Alguma coisa acontece no meu coração



que só quando cruzo a Ipiranga e a Avenida São João



é que quando eu cheguei por aqui



eu nada entendi



da dura poesia concreta de tuas esquinas



da deselegância discreta de tuas meninas



Ainda não havia para mim Rita Lee, a tua mais completa tradução



Alguma coisa acontece no meu coração



que só quando cruzo a Ipiranga e a Avenida São João



Quando eu te encarei frente a frente



não vi o meu rosto



chamei de mau gosto o que vi



de mau gosto, mau gosto



é que Narciso acha feio o que não é espelho



e a mente apavora o que ainda não é mesmo velho



nada do que não era antes quando não somos mutantes



E foste um difícil começo



afasto o que não conheço



e quem vem de outro sonho feliz de cidade



aprende de pressa a chamar-te de realidade



porque és o avesso do avesso do avesso do avesso



do povo oprimido nas filas, nas vilas, favelas



da força da grana que ergue e destrói coisas belas



da feia fumaça que sobe apagando as estrelas



eu vejo surgir teus poetas de campos e espaços



tuas oficinas de florestas, teus deuses da chuva



Panaméricas de Áfricas utópicas, túmulo do samba



mais possível novo quilombo de Zumbi



e os novos baianos passeiam na tua garoa



e novos baianos te podem curtir numa boa.



Caetano Veloso

Maio Mar Marina

Marina Lima

Ao sabor dos instantes com o olhar preso em delícias. Maio já chegou! E todo maio, na Bahia, é feito de azul e branco para mim. É feito de canções e vozes que me adormecem no cotidiano e fazem a memória dançar. É feito o dia 21 e eu recebendo um disco de Marina Lima e nele: Para um amor no Recife me fazer sangrar...

Maio me espraia no cheiro da maresia e eu me oferto inteiro à alegria de viver. É isso! Teria que ser. O sabor deste mês é o íntimo da palavra vida. Vívido sentido que me faz escutar Marina. Acontecimentos. Que me faz receber o agrado do Universo e me alimentar na esperança de encontrar afeto e criação, de melhorar a cada dia, e de nunca perder a capacidade de sentir... O prazer de amanhecer o amor dentro de mim. Sempre à luz do mistério.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Simone por Montenegro: Beauvoir e Fernanda

Às vezes, a gente pode sim. Sim: a gente pode quando o assunto circula por dentro das nossas criações artísticas. Simone Beauvoir morreu em 1986 e foi uma pensadora que revolucionou o pensamento Ocidental no século XX. Foi a intelectual mais importante do século passado e a mais imprescindível para a mudança comportamental das mulheres que, mudando, mudaram também o modo de ser dos homens destes tempos. Ela é uma espécie de fascínio que incomoda; uma literata lotada de reflexões profundas sobre a nossa existência, que em sua construção como mulher aprendeu a se exercer em nome da liberdade que propugnou em seu "existencialismo"; ler Simone é ver-se sendo na ciranda das diferenças culturais entre homens e mulheres, questionando-se sempre sobre o que é masculino e feminino; e nem sempre isto traz prazer.
Agora, a mais importante atriz do Brasil, e sem dúvidas, uma das mais do mundo também, Fernanda Montenegro, leva para os palcos a saga marca escritura feminilidade de Beauvoir. Viver sem Tempos Mortos é um monólogo imperdível que traz uma atriz plena de quase 80 anos e que segue existindo, dizendo adeus e derrubando traumas estacionantes na vida de qualquer outro. Mas Fernanda não é só uma atriz, é uma lição de vida juntando talento à integridade e acrescentando vida às áreas inexpressivas que maculam de mediocridade este país.
Ela é capa da Bravo "Maio - 2009"( melhor revista do Brasil - http://www.revistabravo.com.br/) e o seu espetáculo é uma chance de se conhecer mais Beauvoir e de receber a grandeza que Fernanda despeja em tudo que faz. Assistam. De onde vocês estiverem.

São Paulo em mim

Foi tudo muito comum. De 01 a 05 de maio uma enormidade me absorveu sem tempo para sonho e nem reflexividade. Encontrei São Paulo. Encontrei em ruas antes não vistas, em atividades especiais, no aconchego de antigos e novos amigos, na onda cultural que não para, no pouquinho da Bahia no Patuá da Hélia, na livraria Cultura, na atmosfera frio-cinza, nas baldeações do metrô( que maravilha!) e na movimentação que mereço e preciso chamada de Virada Cultural. Tudo muito comum para a existência de uma cidade que é o centro das grandes economias brasileiras e que suporta em si a diversidade humana mundial. Até aqui a minha Nova Yorque. Encontrei um lugar que amo amo amo e sem mar...São Paulo daquele jeito e sentimento não carece do mar e nós marítimos precisamos da noção de cidade que São Paulo nos dá. Tudo muito real,nada dos meus deslumbramentos paisagísticos e eu também descobri São Paulo como cidade linda...A cidade ideal para o tamanho dos meus amores Michelle Cirne, Claudio Leal , Rominho... Meu jeito baiano de ser foi bem melhor em Sampa desta vez. Abrigo e alegria. Revelação: eu posso morar em São Paulo. Isso é possibilidade.