terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Marcelo Jeneci - Clipe Felicidade


- Vai pesar menos; pesa muito menos com doçura, criatividade, música, cinema, poesia, beijo na boca, amor e Fé... Claro que pesa muito porque muito disso anda faltando. Então, 2012 à luz desta canção linda do lindo Jeneci. E já ouvindo estou achando tudo mais levinho. A Fé não posso perder. Eu amo você. Até.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Minhas tardes com Margueritte


Dois incômodos me acometeram, de início, ao assistir esta película: a claridade na legenda, lá na bela Sala de Arte, no Cinema do Museu, na Vitória (SSA-BA), e o peso pesado de Depardieu, me vi pesando como ele. Sem esperar muito, veio a vida prosaica do interior da França, comum em assuntos universais que encontramos em qualquer lugar do mundo; vieram as temáticas humanizadoras, veio ela, Margueritte, em seus 95 anos, a derramar doçura e sedução, tendo como aliadas a famosa elegância feminina francesa e a literatura. Fui marcado de profunda emoção pelo simples que compõe a vida; marcado por palavras e ensinamentos que nascem da arte e fazem a vida mais colorida e com sentido. O sentido de deslumbrar-se.

A beleza ali numa história de amor incomum. Um homem bem mais jovem, redimensionado por aprendizados literários ( livro salvando!), pede a uma mulher de 95 anos: "me dê um pouco mais da sua vida". E a gente chora, como estou chorando agora, e sai mais feliz mais reflexivo mais ciente de um filme como esse, do que como aqueles que prezam pelas inteligências robóticas.

Não, quero chorar, ler livros e ter minhas tardes com Margueritte. Por favor, não percam.

sábado, 24 de dezembro de 2011

Todo Sentimento


Foi assim,
apenas a delicadeza.
E o que estaria para bem longe dali,
feito agonia para se tornar cio.
Mas foi a delicadeza...
A beleza brotando em tudo
no livro funcionando como corpo.
Um amor amigo de dia então,
quando noite pura proibição,
e muitas poesias...
Foi assim,
a delicadeza a machucar
a desenhar a carinhar
aquele encontro etéreo,
transcendência no igual,
gozo na forma lúdica
de delicadas palavras
ansiando Poesia.

Maria Bethânia - Vida Real



Para Sérginho Guerra

Entre notícias, cenas, poemas, escritos, historiografias, dilemas... Eis que grita a vida pedindo ainda mais a ilusão. O amor batendo à porta, a dança dos sonhos, o azul do céu nos lençóis, a voz de Bethânia na música de Caetano Veloso; o desencontro no parapeito do tempo e a maresia como conforto.

Bravos os homens que amam na irrealidade de todos os dias sob a romântica inspiração.
O som que desalinha. Os recortes do coração. O fazer da fantasia como prosseguimento.
Eis a vida sem tormento: o tiro certeiro que brota da garganta da mulher cantora e fala melhor tudo que não podemos dizer. E é maior  que a Vida Real.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

A maior beleza entre todas


A vida deveria ter me feito mais inventivo e deveria ter me dado traços mais enigmáticos, palavras mais profundas, olhar mais focado, no meu jeito de baiano, deveria ter posto em mim a capacidade em traduzir o que recebo na forma da beleza que me chega quando estou frente ao mar. O da Baía de Iemanjá. Na cidade do Salvador. Em dias de verão escaldante, quando sol brilhante derrama esperança na gente. Esse branco total na nossa pele negra e o azul claro do céu enfeitando a todos deste lugar.

Orixás dançando na mente: instantes de fé e de felicidade... A vontade vibrante de ser. Os caminhos do mar. Meus olhos sorrindo para a maior beleza entre todas. Eu ainda estou aqui!

sábado, 17 de dezembro de 2011

Mameto Zulmira de Nanã

Foto de Solange Valladão
Não há nenhum desgaste em se falar da poesia que endossa o mistério do candomblé; em se anunciar a transcorrência dos diversos exemplos de sacerdotes e sacerdotisas que deram esteio aos fundamentos de uma religião inventada por negros africanos e brasileiros, e que sustentam muitas das noções de civilidade entre nós neste país.



Exemplarmente, neste mês de novembro, negro como tem que ser, Zulmira de Santana França, a mameto Zulmira de Nanã, faz 70 anos de iniciação na religião de inquices, voduns e orixás. Uma sacerdotisa devotada, com amor e profundo respeito, às energias que compõem a fé dos adeptos do candomblé; uma mulher de alentos e majestade no que muito sabe, de verdade, cumprir o papel de mãe nisso que o mestre Vivaldo da Costa Lima brilhantemente sistematizou como “família-de-santo”.


Mãe Zulmira é a Nengwa ( o mesmo que mameto ainda para os angolas, ou a iyalorixá dos ketus) do Unzó Tumbenci, fundado em 1937, pela saudosa Marieta Beuí, no bairro de Cosme de Farias, e que hoje funciona em Lauro de Freitas. Dona Zulmira – de simplicidade comovente – possui ligação profunda com o Huntoloji, terreiro de Cachoeira-Bahia, que pertenceu a lendária gaiaku Luiza e hoje é governado por gaiaku Regina.


Todos os registros à memória desta senhora – graças a Zambi, vivíssima!- porque dignidade e entrega, sacerdócio sem burocracia, respeito pelo outro, sabedoria litúrgica, simplicidade, grandeza espiritual, fé e amor pelos inquices, correção e honestidade, rigor e majestade sacerdotal, não se encontra toda hora em outra qualquer.


O candomblé deve ser uma religião de respeito e defesa das diversidades; uma religião que construa, no Brasil, as bases mínimas de uma verdadeira ética da coexistência, que combata o racismo, na medida do possível seja político, mas não perca seu teor de religiosidade, de transcendência, este que, no dizer da cantora Maria Bethânia, nos tira do cotidiano vagabundo que nossas dificuldades nos impõem.


Todos os louvores a Oyá, Nanã e Tempo pelas respostas que dão aos apelos desta grandiosa dama do candomblé brasileiro. A bênção, minha mãe.

(Publicado no Opinião, do Jornal A Tarde, em 28/11/2011)

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Uma porção do Brasil torce pelo fracasso de João Gilberto


Um texto de craque a favor da sensatez e do nosso maior cancionista: João Gilberto

Claudio Leal ( Terra Magazine, 15/12/2011)


A crônica dos ingressos "encalhados" da turnê 80 Anos, Uma Vida Bossa Nova, de João Gilberto, revela uma estranha incompatibilidade do maior artista popular brasileiro com seu País. Bem explicado, com uma porção cavalgadura do Brasil. Sabe-se que, por conta de uma gripe e de transtornos na produção, seus espetáculos foram adiados até o cancelamento final.

Como comprovam pencas de reportagens e comentários nas redes sociais, João Gilberto precisava fracassar. O confinamento, o desprezo à ordem das celebridades, a essencialização de uma arte e o radical sacerdócio, em mais de 50 anos de carreira, tornaram-no um inimigo da previsibilidade do show business e dos fervores justiceiros do jornalismo. João Gilberto precisa fracassar para que prevaleça alguma lógica, por vezes chamada de "respeito ao público". O que não parece faltar em suas criações rítmicas.

Em setembro, dois dias depois do início da vendagem dos ingressos da turnê (iam de R$ 500 a R$1.400), em quatro capitais brasileiras, trovejaram as primeiras reportagens sobre o "encalhe" e a "frustração" dos produtores.

Não se conhece, na imprensa brasileira, semelhante preocupação com o desempenho da bilheteria de qualquer outro artista popular vivo. E o fluxo de suspeitas sobre a viabilidade dos shows não cessou, seguindo a antiga tendência de folclorização, agora verificada no escárnio à sua gripe; meses antes, na torcida por seu despejo de um apartamento no Leblon, onde se negava a receber os operários de Madame Proprietária. Nem Roberto Carlos, hen-hen-hen, resistiria a tamanha urucubaca.

O próprio ato de falar de João Gilberto, sem apelar para o folclore, virou uma ofensa a certa nacionalidade ferida por sua recusa minimalista ao convencional. Acredita-se que, além de uma forma nova de tocar violão, ele inventou a excentricidade. O irascível Frank Sinatra, a quem se permitia ficar gripado, ao menos literariamente, não era dos mais dispostos a afagar a vizinhança. Fosse brasileiro, mereceria uma permanente avacalhação.

No lançamento do seu último disco, Chico Buarque ridicularizou a contento o ódio dos comentários anônimos na internet. Algumas mensagens ofensivas a João Gilberto, dirigidas a esta redação, não deixam de impressionar pelo tom dos relinchos:

1. "Não sei porque idolatram tanto esse cidadão, uma voz irritante, cheio de chiliques, se acha o ser supremo da MPB e nem é, realmente lamentável que esse pais de ignorantes ainda pague rios de dinheiro para alguém desse tipo, para mim ele nunca contribuiu em nada nessa vida, não faz a menor falta para ninguém, e agora mais um titulo para ele: CALOTEIRO. Não paga aluguel e não quer deixar o imóvel, um lixo esse homem".

2. "Esse João Gilberto é o maior enganador que eu já vi na vida... não canta nada, não toca nada, é um chato de galocha e ainda fica todo mundo endeusando ele... Ahhh...vai te catar!".

3. "Galera, não sei pq acham esse cara um artista... Sério, sempre que o vejo cantar me dá vontade de arrancar o violão da mão dele e arrebentá-lo na cabeça".

4. "Quem disse para o João Gilberto que ele canta e compõe? Acho que ele paga para ser gravado e visto".

5. "A bossa nova foi criada para aqueles que não sabiam cantar. Enchem muito a bola desse individuo que se acha um Deus."

Afinal, que mal João Gilberto faz ao Brasil?

Somente em 2011, recebeu propostas de shows em oito países, da Rússia à Argentina. Chato. Na última
turnê brasileira, o guitarrista inglês Eric Clapton revelou que sonhava em tocar com... João Gilberto. "Ele é fantástico. Mas também sei o quanto é difícil de ser encontrado", tietou. Que chato. Dúzias de artistas internacionais, como Frank Sinatra, já pediram para encontrá-lo. Ciceroneados no Brasil pelo romancista Jorge Amado, em 1960, Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir não tiveram a sorte de ouvi-lo na primeira encarnação. João não foi. E não deve ter havido outra chance, pois o casal não dava pelota para a vida póstuma.

Madonna, que costuma cobrar ingressos baratos, transmitiu o recado de que desejaria cantar "Garota de Ipanema" acompanhada do violão daquele brasileiro chato. Ela ficou vidrada em um disco: "João". Em 1994, no Rio de Janeiro, o cantor norte-americano Tony Bennett, certamente desavisado do refinamento da hidrofobia anti-João Gilberto, confessou: "Adoraria que ele participasse do meu show". "O comportamento intimista de João Gilberto foi fundamental para a divulgação da Bossa Nova no mundo", acrescentou Bennett.

Em 2008, no Carnegie Hall, em Nova Iorque, um público de 2.800 pessoas o aplaudiu de pé, antes do início do show e de ouvir sequer um "boa noite". Bem chato. Em 2004, João Gilberto não parou de reclamar das falhas técnicas do som desse mesmo templo da música americana, onde houve o histórico concerto da Bossa Nova, quatro décadas antes. "Somebody come for help!", implorava o cantor. Milhares de chatos aplaudiram o profissionalismo do chato-rei. Onde eles estavam com a peruca?

Falando na lendária sessão bossanovista de 1962, no Carnegie Hall, um trecho de "Chega de Saudade", de Ruy Castro, demonstra o quanto o baiano de Juazeiro chateava alguns dos maiores talentos do jazz: "O encerramento em grande estilo estaria a cargo - que dúvida! - de João Gilberto. Afinal, era para ouvi-lo que estavam na plateia nomes ilustres como Tony Bennett, Peggy Lee, Dizzy Gillespie, Miles Davis, Gerry Mulligan, Erroll Garner e Herbie Mann".

Ainda hoje, fora do Brasil, os Estados Unidos são a maior fonte de rendimento dos direitos autorais de João Gilberto. Em todo o planeta, dos elevadores aos restaurantes, da trilha do filme "Prenda-me Se For Capaz" (de Steven Spielberg) à da série "Sex and the City", suas canções são ouvidas por quem possui sensibilidade e alguma medida de poesia. Produtor musical do álbum "João, voz e violão", Caetano Veloso - e muitos de seus pares - o estima como "o maior artista da música popular brasileira de todos os tempos".

Para matar você aí de raiva, ou de amor, Miles Davis definiu: "Ele pode até ler jornal que soa bem."
Estranhamente, esse gênio celebrado por bípedes do mundo inteiro não frequenta as listas dos músicos mais tocados nas rádios brasileiras. O mundo deve estar errado - e o Brasil, certíssimo. Os espectadores do Credicard Hall, em São Paulo, que o vaiaram em 1999 pelas mesmas queixas técnicas, devem achar o Carnegie Hall um reduto de implicantes.

Por mais que seja atraente falar do "suicídio" do gato de João Gilberto (e não se deve perder o humor), não faltam perspectivas menos folclóricas para abordar a sua obra. Esta semana, depois de uma refrega judicial de 14 anos, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) acolheu, por maioria, o pedido de indenização de João Gilberto contra a gravadora britânica EMI, reconhecendo os danos morais provocados pelos erros na remasterização de seus discos.

Os álbuns clássicos "Chega de Saudade" (1959), "O Amor, o Sorriso e a Flor" (1960) e "João Gilberto" (1961) continuam fora do mercado fonográfico. Alguém aí falou em "respeito ao público"? Em 1992, à revelia do autor, a EMI reuniu os três bolachões e o EP "Orfeu da Conceição" num único CD, "O Mito". Apesar de sua relevância para a música brasileira, o julgamento do STJ ganhou uma repercussão discreta. A briga ainda deve durar, mas já percorreu boa parte do percurso jurídico.

João Gilberto nunca deixou de traduzir o Brasil, de modernizá-lo em suas recriações musicais, solitariamente entregue a um projeto irrealizado de País. Que não abra a porta, é outra história. Maravilhosa história.

Vaia de bêbado não vale.

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Oyá


Sob o sopro do seu querer. O fazer acontecer que me foi mais necessário. Raios, trovões, chuvas e ventos acima do meu Ori. Sob esse grito que me dá sem briga e me faz viajar para fora de mim, para eu ser e ser sem fim! Desde de criancinha, a Senhora a Outra Senhora de mim!

Tinha que ser reparação, porta aberta, em dezembro...Nos lagares 04 da minha alma e seu Acará na minha boca, no prato, no Trono dos seus Otás. Oyá ô! Nós dois - esse mistério que começa nas pernas e vai. Senhora das ventanias bravias que me encharcou hoje e que sempre, quando quer, traz...

Quantas realizações...

Quantas conclusões...

Até que nem tanto esotérico assim...

Oyá ô! Senhora vermelha de mim!!!

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

William Blake

O Jardim do Amor

O Jardim do Amor fui visitar,
E vi então o que jamais notara:
Lá bem no meio estava uma Capela,
Onde eu no prado correra e brincara.

E os portões desta Capela não abriam,
E "Não farás" sobre a porta escrito estava;
E voltei-me então para o Jardim do Amor
Lá onde toda a doce flor se dava;


E os túmulos enchiam todo o campo,
E eram esteias funerárias as flores;
E Padres de preto, em seu passeio secreto,
Atando com pavores minhas alegrias & amores.

William Blake, in "Canções da Experiência"
Tradução de Hélio Osvaldo Alves

P.S. Ir até ali, depois voltar a esse coração mesmo que sente tanta fome.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Beto Guedes: Luz e Mistério


Eu amo Beto Guedes. E nessa canção então. Dedico a você que se encastelou longe de mim. Você que sabe que eu amo e amo em luz e mistério. Aqui tem Caetano também. Mas não, só quero Beto para atingir o azul de você, sua delicadeza. Eu sou louco.

Chaya

Clarice Lispector é a representação do mar no deserto de mim. E ela ficou mais louca do que eu.

À Sorte

Meu coração marulha com força, anseia
Tem esta infinidade de sonhos guiando-se pelo vento.
Meu coração é matéria de sonho, desejo
Forte vasto vagabundo infinito.
Batuques e segredo, coragem de amar.
Meu coração se alia à luz azul do dia
Nessas manhãzinhas em que mais precisa de sorte.

P.S. Se tiver de ser será.

Clariceanas

Na órbita do esmero, entre tombos sonhos canções, eis que surge ela. Palavras que me alçam ao lugar de mim mesmo tateando prazer profissional. Sou-me naquela esperança que a escrita dela inventou; mas sou seu desespero também. Revisto-me vivendo da sua eternidade, amando seus livros, flertando com a coragem. Agora, preso ao calabouço da adoração, olhando para as estrelas, respingado de saudade por todos os lados, pronuncio seu nome e evito a hora de morrer.

Estou na hora de Clarice no âmago do nome da cidade, mas eu sou mar recebendo o rio. A dor inteira do Rio  na leitura profética do poeta frente à dor de Macabéa, sendo a hora de Clarice. Repito erros gravíssimos, estigmas e clichês, e sou livre justamente por causa disso. Componho uma reprodução que me põe central na alma da escritora; canto o rasgo da cantora para imprimir outra adoração. Minha vida de bar em bar e poesia sobre a mesa e a cama, debaixo da cadeira, na porta da geladeira, na tela do computador, na distância enigma de um deus infãncia que se tornou delicado poeta apartado das águas de mim.

Na órbita do esmero nesse desenho de amor. Reinvento-me nesse contexto d'arte. Sei que maior que literatura. Simbolizações da antropologia nascente mas que sempre esteve ali. Escreve. Escrevo. Faço mímeses sem talento ou pudor. Abraço o corpo morto da eterna e voo em minhas gargalhadas. Depois, choro baixinho na voz da cantora feito estrela de cinema e sobro em sons e palavras...

Deixa clariceana: poeta, cantora, desagua... Universal santoamarense no retrovisor pós-humano de uma escrita de sangue, drama, imaginação. Deixa nessa alucinação diurna - o sol na minha cara após as bancas de revista. Deixa no lugar escuro e no que se não pode alcançar.

"O tempo é como o rio onde banhei o cabelo da minha amada".

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

João Gilberto


Pra tirar da excelência.
Pousar os olhos no delicado.
Chamar pra fora o amor abafado.
E fazer silêncio por alguns dias.
Lembrar...

P.S. O gênio e não escapo. Mestre do meu, e exalto. O delicado, numa espécie de sábado, sentindo o cheiro do suor juvenil do poeta em sua espiral delicadeza. Kaváfis também está aqui.

Cool jazz


Ainda ouvindo o sentido mudo do destino
Catando alegorias em um canto mínimo
Que renova a paz do lugar.


Ainda subindo escadas
Rolando ladeiras na alvorada
Bêbado sem lar...


Ainda cool jazz
E samba regado à luz
Por trás do muro
Preso a uma parede negro-azul
Como escudo anti-amoroso.


Cintila a história da cantora
Na fonte áspera do grande poeta.
Eu subindo escadas na alvorada
Dentro de um recanto escuro.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Triângulo Amoroso: um filme alemão


Serve como uma grande solução amorosa vencendo os limites das banais expectativas. Parece que alguns, de fato os melhores, estão mesmo à frente. E parece que o amor para além das convenções tem sido pensado como real e oportuno ao meio de tanta tacanhice que ronda o mundo humano neste tempo, neste universo. Foi um alívio político, um alumbramento navegando a fala dura dos alemães, uma ação prática para estender os encontros, negociar relações, permitir-se à paixão. Foi uma facilitação visual, no plano da ficcão, melhorando a dor no peito e a falta de expectativa. É filme. Uma perícula que narra amor e que poderia assombrar, mas encanta.
Segue-se a ideia da imagem postada aqui, mas sem as anteriores banalidades tratadas filmicamente; este triâgulo ferve e expressa realidade. Convida a pensar e a sentir a experiência das personagens centrais e o humano sai ganhando mais crédito e brilho para sua vida cotidianamente vagabunda.
Um filme contra o tédio e a favor da coragem.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Recanto Escuro, Gal Costa


Pra tocar melhor na tristeza de agora, dialogar com a falta, com a dor de cabeça, com o medo de amanhã; para pedir ao sono o mesmo sonho da madrugada de hoje, para ler manhãs na virtualidade de quarta-feira, para ter esperança... Enfim, Gal é filha do Senhor dos Contrastes e a gente também é assim. Para Deus, peço mais amor em mim. E Gal cantando.

domingo, 4 de dezembro de 2011

Feito em película


Uma semana que se prolongou em imagens cinematográficas, trazendo tudo que acrescenta vida: lágrimas, risos, perguntas, respostas, sonhos, tesão, saudade, loucura, criatividade, emoção. Uma semana vinculada ao que mais interior pode ter em alguém que tenta encontrar. Surgiu Cinema Paradiso como recurso didático numa aula de antropologia, história e literatura; surgiu outra narrativa argentina pedindo coragem; a imagem de Zé Celso me pondo na oficina do ser, meu teatro como absurdo e por fim: Triângulo amoroso, ainda que em alemão, sob o impacto da frieza alemã, veio cheio de beleza numa espécie de história inusitada talvez, que eu gostaria muito de viver.

Tudo me sendo muito íntimo, num fora pra dentro, projetando, imaginando, riscando, eu querendo. Desdobramentos das histórias assistidas me mergulhando naquela saudade gigante mas que ainda pode ser vencida, ainda posso rever o castanho, ouvir a voz, silenciar junto, ler a letra e abraçar. Abraço feito película. Modos de contar o que mais profundo em nós habita. Narrativa fílmica roteirizada  a partir do amor que se inventou em mim.

Uma semana findando-se no vermelho de Santa Bárbara, num domingo de outra semana, nos fogos de Oyá, na bagunça dos infelizes, e na glória dessa esperança que não me deixa, do verde que acredito, o meu azul no dele, a beleza depressiva de Recanto Escuro no instrumento de Gal, a falta da água do mar no meu corpo, projetos que não sei mais, batidas na porta da frente, uma camisa como amuleto, o sonho mais verdadeiro, provas para disputar, cansaço, um CD tocando distância, o nunca como sempre e o rosto meu travesseiro.

O nome escarlate mancha de azeite na minha roupa branca - enfeite confete purpurina -, dígitos perdidos para o telefone sem fio; imagens cadafalso na tristeza bravia e o que seria um cinema novo Bahia na poesia de um encontro que essa semana passada encerrou nas págidas marcadas dos filmes que assisti, clama o beijo que não dei.

Mesmo a história sendo a mesma, remake cinematográfico, o século já é outro.

Iansã


Nelas. Em nós. No Brasil. Por 04 de dezembro. Por Santa Bárbara. Pela Esperança.