sábado, 17 de dezembro de 2011

Mameto Zulmira de Nanã

Foto de Solange Valladão
Não há nenhum desgaste em se falar da poesia que endossa o mistério do candomblé; em se anunciar a transcorrência dos diversos exemplos de sacerdotes e sacerdotisas que deram esteio aos fundamentos de uma religião inventada por negros africanos e brasileiros, e que sustentam muitas das noções de civilidade entre nós neste país.



Exemplarmente, neste mês de novembro, negro como tem que ser, Zulmira de Santana França, a mameto Zulmira de Nanã, faz 70 anos de iniciação na religião de inquices, voduns e orixás. Uma sacerdotisa devotada, com amor e profundo respeito, às energias que compõem a fé dos adeptos do candomblé; uma mulher de alentos e majestade no que muito sabe, de verdade, cumprir o papel de mãe nisso que o mestre Vivaldo da Costa Lima brilhantemente sistematizou como “família-de-santo”.


Mãe Zulmira é a Nengwa ( o mesmo que mameto ainda para os angolas, ou a iyalorixá dos ketus) do Unzó Tumbenci, fundado em 1937, pela saudosa Marieta Beuí, no bairro de Cosme de Farias, e que hoje funciona em Lauro de Freitas. Dona Zulmira – de simplicidade comovente – possui ligação profunda com o Huntoloji, terreiro de Cachoeira-Bahia, que pertenceu a lendária gaiaku Luiza e hoje é governado por gaiaku Regina.


Todos os registros à memória desta senhora – graças a Zambi, vivíssima!- porque dignidade e entrega, sacerdócio sem burocracia, respeito pelo outro, sabedoria litúrgica, simplicidade, grandeza espiritual, fé e amor pelos inquices, correção e honestidade, rigor e majestade sacerdotal, não se encontra toda hora em outra qualquer.


O candomblé deve ser uma religião de respeito e defesa das diversidades; uma religião que construa, no Brasil, as bases mínimas de uma verdadeira ética da coexistência, que combata o racismo, na medida do possível seja político, mas não perca seu teor de religiosidade, de transcendência, este que, no dizer da cantora Maria Bethânia, nos tira do cotidiano vagabundo que nossas dificuldades nos impõem.


Todos os louvores a Oyá, Nanã e Tempo pelas respostas que dão aos apelos desta grandiosa dama do candomblé brasileiro. A bênção, minha mãe.

(Publicado no Opinião, do Jornal A Tarde, em 28/11/2011)

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