terça-feira, 29 de outubro de 2013

eu e você

um pouco de poesia pra mim
um muito pra você

alguns lugares pra ir
outro pra ficar

ver você sorrir
a me imaginar

beijo doce em você
no ritmo quente
do alvorecer

sem espera
sem pressa

eu e você
maiores que o mundo

e tão pequenininhos.




sábado, 26 de outubro de 2013

Chagall: outro planeta azul



Tão somente porque me acusam
E eu confesso meu deslumbramento.

Antevejo as formas
Plagio as cores
Cultuo o nome.

Mora o peixe em mim
Guiando-me ao Universo
Meus sonhos noturnos.

Confesso o efeito celebridade
Abarco pesadas paisagens
Para quando outro ser

Ser Chagall
Desvairadamente bobo
Surreal

Desenhado num escrito
De Clarice Lispector.

E eu,
Autor de muitos crimes
Contra o cerco literário

Sou-me criança voadora
Condenada
A outro planeta azul.

domingo, 20 de outubro de 2013

Estar vivo

Manteiga num pão francês bem quentinho,
café com leite acompanhando,
um poema de Pessoa
ou texto antropológico sobre candomblé...

Só isso aí
já me faz adorar e agradecer
estar vivo.

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Vinicius, 100 anos!



Vinicius,


Toda vez que, quando criança, ouvia seu nome, quase sempre diziam que você era o poeta que amava as mulheres. Depois, adulto, com as mulheres que eu andava, e com alguns homens também, você era o poeta que objetificava as mulheres, as tornava coisas, como bibelôs.


Pensava na sua capacidade profunda e leve de falar de amor. No texto inteligível alcançando a todos sem perder a graça e a grandeza poéticas... Você sempre existiu pra mim. Acho que por conta disso de fazer canções e de ligar-se a tal da MPB, poderosa forma de educação e formação de opinião no Brasil a partir dos anos 60, você se tornou o mais querido e conhecido poeta brasileiro, mais querido que o segundo mais conhecido Carlos Drummond de Andrade.


Sua poesia me tomou pelas vias da minha força de gostar de amar. E a sua história me comovia: o homem dos bares, à luz do Rio de Janeiro, amante da Bahia, filho fluido de Oxalá, protegido de mãe Menininha e todo amor ao falar de amor.


Grande, muito grande mesmo, poeta de todos nós. Por inteiro. Sem precisar ser mais ninguém, a não ser: o boêmio Vinicius de Moraes.
Agora, 100 anos! E Itapoan na minha corrente marítima. A voz de Maria Bethânia a entoar as precisas palavras suas... Saudade do que mais amo, na voz dela, embalando Primavera, me fazendo sonhar.


Sua história de tantas glórias também foi muito doída. O fim para sempre. A candura alcoólica, o homem humano com asas de poeta.


E esta eternidade acesa no coração de um país: você é assim. A gente lhe pensa com o coração e lhe sente na voz entoando suas canções ou recitando seus poemas.


Este sábado está impregnado de sua mágica presença. Nada de sentenças sobre perfeição; muito menos considerações irregulares sobre a sua condição de poeta. A sua condição de poeta lhe tornou o melhor poeta entregue ao viver. E a gente lembra bebendo e chorando frente à maresia, num misto de medo e de coragem pelos temporais que nos chegam pelas rotas da memória sangrando.

Hoje é alegria porque sua eternidade está durando na ontologia dos brasileiros. Porque a palavra nos veste e nos deixa mais bonitos à brasileira Vinicius; esta forma, por vezes sem forma, a guardar nossos sonhos de beleza.


Quereria ter o fazimento.
Ancorar em baías desconhecidas
E aplacar memórias minhas com sal
Cerveja olhares tesão e sua poesia.
Ouvir frente ao mar suas canções
Sair talvez sem sair da Bahia.

Esteja conosco, poeta. Esta casa, que abriga mais de duzentos milhões, é sua. O Brasil é um pouco invenção sua também; e eu te abraço, mesmo confuso frente à morte, porque sei que nada nos é mais vivo do que o seu testemunho. Como Neruda, você poetinha nos confessou que amou e viveu. Apaixonadamente.


E não esqueceremos  você. 

domingo, 13 de outubro de 2013

Vinicius,



Saudades, poeta:

das letras e energia
da vontade depressa
amar

desta sua cara
álcool e doçura
tantos defeitos

da beleza palavras
da coragem
incompreendida

das fórmulas
em desajustes
o poema

as idas
as vindas
o adeus

saudade
da Bahia descrita
na sua voz

e do Rio
nem se fala
sua vida

do jeito
menino Olufã
aos pés de Menininha

da fonte
na canção Primavera
toda possível saudade

do testemunho
da entrega
poeta ultra verdadeiro

erros
perdão o coração
em brasa

da sua luz
e da sua escuridão
as marcas

da contradição
entre Bethânia
e Elis

whisky
cerveja
aruá

vinho
sobremesa
canções

da líquida fé
das vestes brancas
das tardes em Itapoan

mas
mais que tudo
da sua paixão.




sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Em busca

estou sob o risco de mim mesmo

para fora do dentro que não há

vivo de sede e de fome

por tudo que ainda posso encontrar.

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

memórias profundas


À flor da pele
em saudades
que machucam.

Isso de mexer
em velhos baús
álbuns de fotografia

no dessentido
da bossa nova


é foda!

Do menino que não sai de mim



Ele me habita ora desabrigado ora me abrigando.
É a minha face mais eterna.
Louva os desertos naqueles olhos deles
Que só sabem espelhar o mar.

Triste e sereno
Escrevinha horizontes para si
E para os outros ele mesmo.

Seu sorriso é ferramenta
E testemunho;
Sempre soube pouco da vida
Mas inscreveu-se nas maneiras
Do amor.

Um menino d'alma
Uma criança d'água
Um infante do ar.

Entre tanta esperança
Nesse silêncio daqui,
Ele vibra e grita
Acordes dissonantes
Por onde afina-se
Com a cor do dia
Do lugar onde nasceu.

Um negro azul
Na tez que embranqueceu.

O castanho dos olhos
Fulgura sua graça à sedução,
É o mimo lançado
Para quem conquista o seu carinho.

Menino de muitas paradas
No trânsito dos sozinhos:
A multidão o persegue.

E ele segue com o rosto
Da fotografia escondida
Sorrindo com esta brincadeira
Nomeada viver...

Venta porque ar
Adequa-se porque água,
E no labirinto da sua dor
Acha o caminho da felicidade
Porque se fez livre
E eternamente menino.


segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Da consciência


Consciência minha: obrigado por saber onde dói em mim, onde tenho alívio e onde sou puro prazer. Obrigado por clarear minhas imperfeições e aprender com a dureza do necessário convívio. Obrigado por me confrontar com minha vaidade, certa arrogância, violência ora física ora verbal; obrigado por me fazer ver e, mais que tudo, por me deixar sentir.

Cansado dos semi-deuses espiritualistas ou dos super- humanos materialistas, quero a agência da pedra do vento da areia e escorrer sem os alongados discursos de quem teoriza ou da prática vazia de quem se esconde: ser, eu quero, mesmo que pesando sobre mim mesmo.

Lendo-me no Poema em Linha Reta, sendo eu o clamante daquela oração.

domingo, 6 de outubro de 2013

Aos pés do Pacífico

(Foto: Iuri Bob Ramos)


Estou alinhado ao agradecimento
molhado na beleza do mar
em sua forma Pacífico.

Canto por 04 de outubro
e sonho transversais alegres
que me tiram destas retas
que se repetem.

Tristinhas.

Contudo,
sempre Iemanjá comigo.

Fora do rascunho





Quem dera me fizesse melhor

E pudesse sem pressa

Acertar minha poética

Feito língua querida

No mamilo do seu peito

E, assim,

Fora do rascunho,

Escrita definitiva correta,

Me levar ao seu coração.

Antropologia da beleza



Faço sentido quando escrevo. É como se desenhasse imperfeições que me traduzem. Faço silêncio quando escrevo. É como se orasse do pensamento entre rotinas sagradas e profanas. Faço barulho quando escrevo: é como se gritasse. Um grito desiludido com o que assisto sem entender e sem saber explicar. Só não gosto porque me artificializa demais, adoça demais meu tempero que gosto mais sal que açúcar. 

Escrever é o dessentido que me faz viver para além da ordem de querer ganhar dinheiro, ou quem muito sabe, fazer outros sistemas com outros fetiches que garantem poder. Escrever me é a transformação que domino de mim para outrem, na língua que me obrigo a querer e com a qual recupero minha vontade de falar: para estar e para ser frente a essa máquina de artificialidades chamada humanidade... Centrado no que não me é humano também. Banhado na ilusão da escrita, sem o sentido dos fetiches capitalistas ou socialistas, indo desbragadamente ao encontro da beleza.

Faço sentido quando poesia erguida a favor de uma antropologia da beleza.

No resto: não estou e não sou. 

Pisco

Pisco,
o pensamento canção em disco
chiando entre alegria e saudade...

Pisco,
na vontade de reter
a beleza que passa...

Pisco,
à espera do que me faz beber
dançando o saber que se anuncia.

Pisco,
porque melhor não podia ser.

terça-feira, 1 de outubro de 2013

Marlon e Neruda


Estive lá:
La Chascona
E a poesia se fez
O vigor de mim.

Choro para além
E me perco no
Olho vesgo do meu sonho.

Aquático
Lunático
Estagnado

O que  vejo 
É Neruda me ensinando
O Chile que jamais
Sairá de mim.